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ARTE

sábado, 15 de novembro de 2008

FÁBULAS DE ESOPO I


O Fabulário mais antigo que se conhece é o de Esopo, havendo quem se lhe refira como “pai” das fábulas. No entanto, estas, quer na Grécia clássica quer noutras culturas, nomeadamente orientais já tinham uma existência marcante.
O Livro de Esopo, é um manuscrito do século XV, que foi encontrado numa biblioteca de Viena de Áustria, pelo etnógrafo Leite de Vasconcelos.
Posteriormente, um outro fabulário surgiu em Portugal, no ano de 1643, dado à estampa na cidade de Évora: o de Manuel Mendes, da Vidigueira, “Vida e fábulas do insigne fabulador Esopo, de novo juntas e traduzidas com breves aplicações morais a cada fábula”.
As Fábulas de Esopo que a seguir se transcrevem foram vertidas do grego pelo mencionado Manuel Mendes. A sua importância prende-se entre outras, com a marcante influência que exerceu nos contos e histórias tradicionais da cultura ocidental, permitindo-nos comparar ainda que um tanto superficialmente a diversidade ética destas e das histórias de origem puramente oriental.







I
O GALO E A PÉROLA

Andava o galo esgravatando no monturo, para achar migalhas, ou bichos, que comer, e acertou de descobrir uma pedra: disse então: - Ó Pedra preciosa, ainda que lugar sujo, se agora te achara um discreto Lapidário, te recolhera; mas a mim não me prestas; mais caso faço de uma migalha, que busco para o meu sustento, ou dous grãos de cevada. Dito isto, a deixou, e foi por diante esgravatando para buscar conveniente mantimento.





II



O LOBO E O CORDEIRO

Estava bebendo um Lobo encarniçado em um ribeiro de água, e pela parte de baixo chegou um Cordeiro também a beber. Olhou o Lobo de mau rosto, e disse, reganhando os dentes: - Porque tiveste tanta ousadia de me turvar a água onde estou bebendo? Respondeu o Cordeiro com humildade: - A água corre para mim, portanto não posso eu torvá-la. Torna o Lobo mais colérico a dizer: - Por isso me hás-de praguejar? Seis meses haverá que me fez outro tanto teu pai. Respondeu o Cordeiro: - Nesse tempo, senhor, ainda eu não era nascido, nem tenho culpa. – Sim tens (replicou o Lobo) que todo o pasto do meu campo estragaste. – Mal pode ser isso, disse o Cordeiro, porque ainda não tenho dentes. O Lobo, sem mais razões, saltou sobre ele e logo o degolou, e o comeu.





III



O LOBO E AS OVELHAS

Havia guerra travada entre Lobos e Ovelhas; e elas, ainda que fracas, ajudadas dos rafeiros, sempre levavam o melhor. Pediram os Lobos paz, com condição que dariam de penhor seus filhos, e as Ovelhas que também lhe entregassem os rafeiros. Assentadas as pazes com estas condições, os filhos dos Lobos uivavam rijamente. Acodem os pais, e tomam isto por achaque de ser a paz quebrada; e tornam a renovar a guerra. Bem quiseram defender-se as Ovelhas, mas como sua principal força residia nos rafeiros, que entregaram aos Lobos, facilmente foram deles vencidas, e todas degoladas.





IV



O REI DOS BUGIOS E DOIS HOMENS

Caminhavam dois companheiros tendo perdido o caminho, depois de terem andado muito, chegaram à terra dos Bugios. Foram logo levados ante o rei, que vendo-os lhes disse: - Na vossa terra, e nessa por onde vindes, que se disse de mim e do meu reino? Respondeu um dos companheiros: - Dizem que sois rei grande, de gente sábia, e lustrosa. O outro, que era amigo de falar verdade, respondeu: - Toda vossa gente são bugios irracionais, forçado é que o rei também seja bugio. Como isto ouviu o rei, mandou que matassem a este, e ao primeiro fizessem mimos, e o tratassem muito bem.





V



A ANDORINHA E OUTRAS AVES

Semeavam os homens linho, e vendo-os a Andorinha disse aos outros pássaros: - Por nosso mal fazem os homens esta seara, que desta semente nascerá linho, e farão dele redes e laços para nos prenderem. Melhor será destruirmos a linhaça, e a erva, que dela nascer, para que estejamos seguras. Riram as Aves deste conselho e não quiseram tomá-lo. O que vendo a Andorinha, fez pazes com os homens e se foi viver em suas casas. Eles fizeram redes, e instrumentos de caça, com que tomaram e prenderam todos os pássaros, tirando só a Andorinha, que ficou privilegiada.





VI



O RATO E A RÃ

Desejava um Rato passar um rio, e temia, por não saber nadar. Pediu ajuda a uma Rã, a qual se ofereceu de o passar, se se atasse ao seu pé. Consentiu o Rato, e tomando um fio, se atou pelo pé e na outra ponta atou o pé da Rã. Saltaram ambos na água, mas a Rã com malícia trabalhava por se mergulhar, por que o Rato se afogasse. O Rato fazia por sair para fora, e ambos andavam neste trabalho e fadiga. Passava um milhano por cima e vendo o rato sobre a água, se abateu per o levar, e levou juntamente a Rã, que estava atada com ele, no ar os comeu ambos.






VII



O LADRÃO E O CÃO DE CASA

Querendo um Ladrão entrar em uma casa de noite para roubar, achou à porta um Cão, que com ladridos o impedia. O cauteloso Ladrão, para o apaziguar, lhe lançou um pedaço de pão. Mas o Cão disse: - Bem entendo que me dás este pão por que me cale, e te deixe roubar a casa, não por amor que me tenhas; porém já que o dono da casa me sustenta toda a vida, não deixarei de ladrar, se não te fores, até que ele acorde e te venha estorvar. Não quero que este bocado me custe morrer de fome toda a minha vida.





VIII



O CÃO E A OVELHA

Demandou o Cão à Ovelha certa quantidade de pão, que dizia haver-lhe emprestado, ou dado na sua mão em depósito. Ela negou havê-lo recebido. Dá o Cão três testemunhas, convém a saber: um Lobo, um Buitre e um Milhano, os quais todos já vinham com o Cão subornados, e apostados a jurar em seu favor, como com efeito juraram, dizendo que eles viram receber à Ovelha o pão, que se lhe pedia. Vendo a prova, a condenou o Juiz a que pagasse; e como ela não tivesse por onde, lhe foi forçado tosquiar o pêlo, e vendê-lo ante tempo, do que pagou o que não comera, e ficou nua padecendo as neves e frios do Inverno.





IX



O CÃO E A CARNE

Levava um Cão na boca um pedaço de carne, passava com ela um rio, e vendo no fundo da água a sombra da carne maior, soltou a que levava nos dentes, por tomar a que via dentro na água. Porém como o rio levou para baixo com sua corrente a verdadeira, levou também a sombra e ficou o Cão sem uma e sem outra.


JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org/

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