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OS TRATAMENTOS SUGERIDOS NÃO DISPENSAM A INTERVENÇÃO DE TERAPEUTA OU MÉDICO ASSISTENTE.

ARTE

sábado, 15 de novembro de 2008

FÁBULAS DE ESOPO III

XXIII



O GALO E A RAPOSA

Fugindo as Galinhas com seu Galo de uma Raposa, subiram-se em um pinheiro, e como a Raposa ali não pudesse fazer-lhes mal, quis usar de cautela, e disse ao Galo: - Bem podeis descer-vos seguramente, que agora acabou-se de assentar paz universal entre todas as aves e animais; portanto, vinde, festejaremos este dia. Entendeu o Galo a mentira; mas com dissimulação respondeu: - Estas novas por certo são boas e alegres, mas vejo acolá assomar três cães; deixemo-los chegar, todos juntos festejaremos. Porém, a Raposa, sem mais esperar, acolheu-se dizendo: Temo que o não saibam ainda, e me matem. Assim se foi e ficaram as galinhas seguras.





XXIV



O BEZERRO E O LAVRADOR

Tinha um Lavrador um Bezerro, forte e mimoso e pô-lo no jugo, com outro boi manso; mas como o Bezerro o não quisesse tomar nem sofrer, com pancadas e pedradas, trabalhava o Lavrador para o amansar. E disse ao Boi manso: - Não te tomo com este para que lavres, que ainda não é para isso, senão para o amansar de pequeno, porque depois que for touro madrigado não haverá quem o amanse.





XXV



O LOBO E O CÃO

Encontrando-se um Lobo e um Cão em um caminho, disse o Lobo: - Inveja tenho companheiro, de te ver tão gordo, pescoço grosso e cabelo luzidio; eu sempre ando magro e arrepiado. Respondeu o Cão: - Se tu fizeres o que eu faço, também engordarás. Estou em uma casa, onde me querem muito, dão-me de comer, tratam-me bem; e eu tenho cuidado só de ladrar quando sinto ladrões de noite. Por isso, se queres, vem comigo, terás outro tanto. Aceitou o Lobo, e começaram a ir. Mas no caminho disse o Lobo: - De que é isso companheiro, que te vejo o pescoço esfolado? Respondeu o Cão: - Porque não morda de dia aos que entram em casa, estou preso com uma corda, de noite me soltam até pela manhã, que tornam a prender-me. – Não quero tua fartura; respondeu o Lobo: A troco de não ser cativo, antes quero trabalhar, e jejuar livre. E dizendo isto se foi.





XXVI



OS MEMBROS E O CORPO

As mãos e os pés se queixavam dos outros membros, dizendo – que eles toda a vida trabalhavam e traziam o corpo às costas, e tudo redundava em proveito do estômago que comia sem trabalho; portanto que se determinasse a buscar sua vida, que eles não haviam de dar-lhe de comer. Por muito que o estômago lhes rogou, não quiseram tomar outra determinação, e assim começaram a negar-lhe a comida: e ele enfraqueceu. Mas como juntamente enfraquecessem os pés e mãos, tornaram depressa a querer alimentá-lo; mas como já a fraqueza fosse muita, nada lhes valeu, e morreram todos juntamente.





XXVII



A ÁGUIA E A COREIXA

A Águia tomou nas unhas um Cágado para cevar-se, e trazendo-o pelo ar, e dando-lhe picadas, não podia matá-lo, porque estava muito recolhido em sua concha. Embravecia-se muito com isso a Águia, sem lhe prestar, quando chega a Coreixa, e diz: - A caça que tomastes é em extremo boa, mas não podeis gozar dela senão por manha. Disse a Águia que lhe ensinasse a manha e partiria com ela da caça. A Coreixa o fez dizendo: - Subi-vos sobre as nuvens, e de lá deixai cair o Cágado sobre alguma laje, quebrará a concha e ficar-nos-á a carne descoberta. A Águia assim o fez; sucedendo como queriam, comeram ambas da caça.





XXVIII



A RAPOSA E O CORVO

O Corvo apanhou um queijo, e com ele fugindo, se poisou sobre uma árvore. Viu-o a Raposa, e desejou de lhe comer o seu queijo: e pondo-se ao pé da árvore, começou a dizer ao Corvo: - Por certo que és formoso, e gentil-homem, e poucos pássaros há que te ganhem. Tu és bem disposto e mui galante; se acertaras de saber cantar, nenhuma ave se comparará contigo. Soberbo o Corvo destes gabos e desejando de lhe parecer bem, levanta o pescoço para cantar; porém abrindo a boca, caiu-lhe o queijo. A Raposa o tomou e foi-se, ficando o Corvo faminto e corrido de sua própria ignorância.





XXIX



O LEÃO E OS OUTROS ANIMAIS

Estava um Leão doente e fraco de velho, e vindo um Porco-Montês, que lhe lembrou ser maltratado dele noutro tempo, deu-lhe uma forte trombada, e passou. Veio um Touro e escomou-o, e outros muitos animais por se vingarem o maltrataram. Por derradeira veio um asno e deu-lhe dous couces, com que lhe derrubou as queixadas. Chorava o Leão, dizendo: - Tempo sei eu que todos estes só de meu bramido tremiam e nenhum havia tão forte, que não fugisse de se encontrar comigo, agora que me vêem fraco, todos querem vingar-se, e não há quem não se me atreva.





XXX



AS RÃS E JÚPITER

As Rãs, no outro tempo, pediram a Júpiter que lhes desse rei, como tinham outros muitos animais. Riu-se Júpiter da ignorante petição, e deferindo a ela, lançou um madeiro no meio da lagoa. Começaram as Rãs a ter-lhe respeito, porém desde que entenderam que não era cousa viva, de novo tornaram a Júpiter pedindo rei. Agastado Júpiter da importunação, deu-lhes a Cegonha, que começou a comê-las uma a uma. Vendo elas esta crueldade, foram-se com queixas, e por remédio a Júpiter, mas ele as lançou de si, dizendo: - Andai para loucas: já que vos não contentastes do primeiro rei, sofrei este, que tanto me pedistes.





XXXI



AS POMBAS E FALCÃO

Vendo-se as Pombas perseguidas do Milhano, que as maltratava de quando em quando, e buscando como poderiam livrar-se, quiseram valer-se do Falcão. Tomou este o cargo de as defender; mas começou a tratá-las muito pior, matando-as e comendo-as sem piedade. Vendo-se sem remédio, diziam: Com razão padecemos, pois não nos contentando do que tínhamos, soubemos tão mal escolher cousa que tanto nos importava.





XXXII



O PARTO DA TERRA

Em certo tempo, começou a Terra a dar urros, e inchar, dizendo que queria parir. Andava a gente mui pasmada, e cheia de temor, e receosa que nascesse algum monstro proporcionado com a mãe, que pudesse destruir o mundo todo. Chegado o tempo do parto, estando todos juntos suspensos, pariu a Terra um Murganho, e ficou sendo riso o que antes era medo.





XXXIII



O GALGO VELHO E SEU AMO

A um Galgo velho, que havia sido muito bom, se lhe foi uma lebre dentre os dentes, porque quase já os não tinha. O amo por isso o açoitou cruelmente, e lançou de si, como cousa que nada valia. Disse o Galgo: - Deves, senhor, lembrar-te como te servi bem enquanto era moço, quantas lebres tomei, e quanto me estimavas: agora que sou velho, e estou posto no osso, por uma que me fugiu, me açoutas, e lanças fora, devendo perdoar-me e pagar-me bem o muito que te tenho servido.





XXXIV



AS LEBRES E AS RÃS

Vendo-se as Lebres corridas dos Galgos e espantadas de todos os animais, assentaram por não passar tanto sobressalto, de se matarem afogadas em um rio; e querendo dá-lo à execução, como corressem com ímpeto para se arremessarem na água, chegando à borda dela viram grande número de Rãs saltarem com medo na ribeira. Reportaram-se as Lebres um pouco, e mudando o conselho, disseram: - Pois que vivem estas Rãs, havendo medo de nós e de todos os que no-lo causam, soframos nós a vida, que já há outros mais acossados e medrosos.





XXXV



O LOBO E O CABRITO

Uma Cabra, indo pastar ao campo, deixou o filho em casa e mandou-lhe que não abrisse ao Urso, nem Lobo, que ali viesse, porque morreria. Ida ela veio um Lobo, e fingindo a voz de Cabra, começou a afagar o Cabrito, dizendo: - Que lhe abrisse, que era sua mãe. Ouvindo isto o Cabrito, chegou à porta e por uma fenda olhou e viu o Lobo, e sem outra resposta virou as costas e recolheu-se em casa. O Lobo foi-se, e ele ficou salvo.


JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org

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