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OS TRATAMENTOS SUGERIDOS NÃO DISPENSAM A INTERVENÇÃO DE TERAPEUTA OU MÉDICO ASSISTENTE.

ARTE

sábado, 15 de novembro de 2008

FÁBULAS DE ESOPO IV




XXXVI



O CERVO, O LOBO E A OVELHA

Demandava o Cervo à Ovelha falsamente certo trigo, que dizia haver-lhe emprestado. A Ovelha pudera negar-lho, mas receou, porque estava um Lobo, de companhia com o Veado, e assim com dissimulação lhe disse: - Rogo-te por tua vida, que esperes alguns dias, e então averiguaremos nossas contas, que eu te pagarei quanto te dever. Foi contente o Cervo. Porém tanto que ambos se encontraram sem o Lobo estar presente, a Ovelha o desenganou, que nem lhe devia trigo, nem lho devia de pagar.





XXXVII



A CEGONHA E A RAPOSA

Sendo amigas a Cegonha com a raposa, a Raposa a convidou um dia a jantar. Chegado o tempo, preparou a Raposa ardilosa uma comida líquida, manjar como papas e a estendeu por uma lousa, e importunava a Cegonha a que comesse. Mas como ela picava na lousa, quebrava o bico, e nada tomava nele, com que se foi faminta para o ninho. Mas por se vingar, convidou a Raposa outra vez e lançou o manjar em uma almotolia, donde comia com o bico, e pescoço comprido. E a Raposa não podendo meter o focinho, se tornou para sua casa, corrida e morta de fome.





XXXVIII



A GRALHA E OS PAVÕES

Fez-se a Gralha bizarra e louca vestindo-se de penas de Pavões, que pediu emprestadas e desprezando as outras Gralhas, andava com os Pavões de mistura. Porém eles lhe pediram as suas penas, e começando a depená-la, todos lhe levavam penas e carne no bico. Depois querendo chegar-se às outras, ainda que com temor e vergonha, diziam elas: Quanto te valera mais contentares-te com o que te deu a natureza, que quereres mudar de estado; para vires a este em que estás, pelada, ferida e vergonhosa.





XXXIX



A FORMIGA E A MOSCA

Entre a Mosca e a Formiga, houve grande altercação sobre pontos de honra. Dizia a Mosca: - Eu sou nobre, vivo livre, ando por onde quero, como viandas preciosas, e assento-me à mesa com o rei, e dou beijos nas mais formosas damas. Tu mal-aventurada, sempre andas trabalhando. Respondeu a Formiga: Tu és douda ociosa. Se pousas uma vez em prato de bom manjar, mil vezes comes sujidades e imundícias, aborrecida de todos; se te pões no rosto das damas ou à mesa com o rei, não é por sua vontade, senão porque tu és enfadonha e importuna.





XL



A RÃ E O TOURO

Andava um grande Touro passeando ao longo da água, e vendo-o a Rã tão grande, tocada de inveja, começou de comer, e inchar-se com vento, e perguntava às outras se era já tão grande. Responderam elas que não. Torna a Rã segunda vez, e põe mais força por inchar; e desenganada do muito que lhe faltava para igualar o Touro, terceira vez inchou tão rijamente, que veio a arrebentar com cobiça de ser grande.





XLI



O CAVALO E O LEÃO

Viu o Leão andar comendo o Cavalo em um outeiro, e cuidando em que maneira faria que lhe esperasse para o matar, chegou-se com palavras amigas, dizendo que era médico, se queria que o curasse. O Cavalo, que o conheceu e entendeu, disse com dissimulação: - Em verdade, vens, amigo a bom tempo, que tenho neste pé um estrepe de que estou maltratado. Chegou-se o Leão a ver-lhe o pé; e o Cavalo o levantou e lho assentou nas queixadas, em modo que ficou embaraçado; e tornando em si, vendo era ido o Cavalo, disse: - Por certo que fez bem em me ferir e ir-se, pois eu queria comê-lo e não curá-lo.





XLII



AS AVES E O MORCEGO

Havia guerra travada entre as Aves e outros animais, que, como eram fortes, andavam as Aves maltratadas e vencidas. Temeroso disto, o Morcego passou-se do bando contrário e voava por cima dos animais de quatro pés, posto já de sua parte. Sobreveio a Águia em favor das Aves, e alcançaram vitória. E tomando o Morcego, em castigo de traição, lhe mandaram que andasse sempre pelado e às escuras.





XLIII



O CAVALO E O ASNO

Indo o Cavalo com jaezes ricos de seda e ouro de muito preço, encontrou no caminho um Asno carregado, e disse-lhe com muita soberba: - Animal descomedido, porque não me dás lugar, e te desvias para que eu passe? Calou e sofreu o pobre Asno. Mas daí a poucos dias emanqueceu o Cavalo, e puseram-no de albarda para servir. Acertou o Asno de o achar carregado de esterco, e disse-lhe: - Que vai, irmão, onde está vossa soberba, porque não mandais agora que me arrede, como fazias em outro tempo?





XLIV



O FALCÃO E O ROUXINOL

O Falcão uma manhã se apossou do ninho onde o Rouxinol tinha seus filhos, e quis matá-los. Começou o Rouxinol com muita brandura a rogar-lhe que não os matasse, e que o serviria. Disse o Falcão, que era contente, se cantasse de modo que o satisfizesse. Começou o triste Rouxinol a cantar muito sentido, e suave. Porém o Falcão mostrando-se descontente da música, começou a comê-los. Chega nisto por detrás um caçador e lança ao Falcão um laço em que o prendeu e o levou arrastos, e o Rouxinol ficou livre.





XLV



AS ÁRVORES E A MACHADA

Um machado de aço bem forjado, faltando-lhe o cabo, sem ele não podia cortar. Disseram as Árvores ao Zambujeiro, que lhe desse o cabo. E como o machado esteve encavado, um homem com ele começou a fazer madeira, e destruir o arvoredo. Disse então o Sobreiro ao Freixo: - Nós temos a culpa, que demos cabo ao Machado para nosso mal; porque a não lho darmos, seguras pudéramos estar dele.





XLVI



O ASNO E O MERCADOR

Um tendeiro caminhando para a feira levava um Asno carregado de mercadorias, que de mui fraco, andava devagar. O Mercador cobiçoso com desejo de chegar, dava tanto no Asno, que não podia bulir-se, que caiu no caminho com a carga e morreu. Depois de morto o esfolaram e da pele lhe fizeram um tambor, em que andavam de contínuo rangendo e batucando.





XLVII



O RATO E A DONINHA

Uma Doninha, como de velha e cansada, não pudesse já caçar, usava esta manha: Enfarinhava-se toda e punha-se mui queda a um canto da casa. Vinham alguns Ratos que cuidando ser outra coisa, chegavam por comer, e ela os comia. Por derradeiro veio um Rato velho, que tinha já escapado de muitos trances, e posto de longe disse: - Por mais artes que uses, não me colherás. Engana tu a esses pequenos; mas eu, conheço-te bem, não hei-de chegar a ti. E dizendo isto, foi-se.





XLVIII



A RAPOSA E AS UVAS

Chegava a Raposa a uma parreira, viu-a carregada de uvas maduras e formosas, e cobiçou-as. Começou a fazer suas diligências para subir, porém como estavam altas e íngreme a subida, por muito que fez, não pôde trepar; pelo que disse: - Estão uvas em agraço e botar-me-ão os dentes, não quero colhê-las verdes, que também sou pouco amiga delas. E dito isto se foi.





XLIX



O PASTOR E O LOBO

Fugiu um Lobo de um caçador que vinha em seu seguimento, e diante de um Pastor se escondeu em umas moutas, rogando-lhe que se o caçador lhe perguntasse, dissesse era ido. Ficou o Pastor de o fazer. E chegado o caçador, perguntando pelo Lobo, o Pastor lhe dizia que era ido, mas com a cabeça lhe acenava para onde estava; não atentou o caçador nos acenos, e foi-se. Saiu o Lobo e disse-lhe o Pastor: - Que vai amigo, muito me deves, bom valedor tiveste em mim. Valeu-me a mim minha ventura, (respondeu o Lobo) e não te entender o caçador; pelo que nada te devo, antes se bendigo a tua língua, amaldiçoo a tua cabeça, que tanto fez por me descobrir.





L



O ASNO E A CACHORRINHA

Vendo o Asno que seu amo brincava com uma Cachorrinha, e se alegrava com ela, e a tinha à mesa, dando-lhe de comer, porque o afagava vinda de fora e saltava nele, creio que se o outro tanto lhe fizesse, também seria estimado; e com essa inveja se vai ao senhor em entrando de fora e pondo-lhe as mãos sobre os ombros, começou a lamber-lhe o rosto com a língua. Espantado o amo, brada, e acodem os criados e a poder de muitas pancadas tornaram a meter o Asno em sua estrebaria.





LI



O LEÃO E O RATO

Estando o Leão dormindo, andavam uns Ratos brincando ao redor dele, e saltando-lhe por cima, o acordaram. Tomou ele um entre as mãos, e estava para o matar, mas pelo ter em pouco, e pelos muito rogos, com que lhe pedia, o soltou. Sucedeu daí a pouco tempo cair o Leão em uma rede, onde ficou liado, sem poder valer-se de suas forças. E sabendo-o o Rato, tal diligência pôs, que roeu brevemente os laços e cordéis, e soltou o Leão, que se foi livre, em paga da boa obra que lhe fez.


JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org

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