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OS TRATAMENTOS SUGERIDOS NÃO DISPENSAM A INTERVENÇÃO DE TERAPEUTA OU MÉDICO ASSISTENTE.

ARTE

sábado, 15 de novembro de 2008

FÁBULAS DE ESOPO V


LII



O MILHANO E SUA MÃE

Estando o Milhano enfermo e receando a morte, que via já chegada, rogou de propósito a sua mãe que fizesse, por sua saúde, romarias aos Santos. Respondeu ela: De boa vontade, filho, as fizera, mas temo que não te prestem; porque como gastaste a vida toda em males e sempre com teu esterco sujaste os Templos dos Santos, receio que não me queiram ouvir, ainda que os rogue por sua saúde.





LIII



O PORCO E O LOBO

Estava uma porca com dores de parir, e um faminto Lobo se chegou a ela, dizendo que era seu amigo, e tinha dó de a ver desamparada, que queria servir-lhe de parteira. Bem entendeu a Porca que vinha ele por lhe comer os filhos; e dissimulando disse: Que não pariria enquanto ele ali estivesse, que era mui vergonhosa, e que se pejava dele, que era seu afilhado; portanto, que se fosse e a deixasse parir, e que depois tornaria. Fê-lo o Lobo assim, mas em se desviando dali, a Porca também se foi buscar um lugar seguro em parir.





LIV



O VELHO E A MOSCA

Repousava à soalheira um Velho calvo, com a cabeça descoberta, e uma Mosca não fazia senão picar-lhe na calva. Acudia logo o Velho com a mão, e como ela fugisse mui depressa, dava em si grandes palmadas, de que a Mosca gostava e se ria.. Disse o Velho: - Ride-vos, embora, de quantas vezes eu der em mim; que isso não me mata, mas se uma só vez vos acerta, ficareis morta, e pagareis o novo e o velho.





LV



O CORDEIRO E O LOBO

Andava um Cordeiro entre as cabras e chegou o Lobo, dizendo-lhe: - Não é este o teu rebanho, vem comigo, levar-te-ei a tua mãe. Respondeu o Cordeiro. – Não quero; porque esta cabra me quer muito, e me faz mais mimo que a seu próprio filho. Contudo (replicou o Lobo) melhor estarás com tua mãe. Bem estou aqui (disse o Cordeiro) não quero provar ventura, que por bem que me suceda, não deixará o pastor de me tirar o velho, e ficarei morrendo de frio.





LVI



O HOMEM POBRE E A COBRA


Um homem pobre costumava afagar e dar de comer a uma Cobra, que em sua casa trazia; e enquanto assim o fez, tudo lhe ia por diante. Depois, por certa agasta dura, fez-lhe uma grande ferida. E vendo que tornava a empobrecer, com muitas palavras e humildade lhe pediu perdão. Respondeu a Cobra: - Eu de boamente te perdoo, mas não te há-de isto prestar para deixares de ser pobre; que esta ferida sempre me há-de doer, e sempre há-de estar pedindo vingança de ti.





LVII



O BUGIO, O LOBO E A RAPOSA

Querelou o Lobo da Raposa, dizendo que fizera um furto. Era juiz o Bugio. E a Raposa negou fortemente, disputando ambos diante do juiz e cada um descobriu quantas maldades sabia do outro. Depois de o Bugio os ouvir, pronunciou a sentença, dizendo: que o Lobo não provara bem ser-lhe feito furto: mas que ele entendera que a Raposa tinha furtado alguma cousa; portanto, condenava a ambos que ficassem entre si sempre desavindos, e suspeitosos.





LVIII



A FAIA E A CANANOURA

A Faia alta e direita não queria dobrar-se ao vento, antes vendo a Cananoura que se meneava facilmente, a aconselhava que estivesse tesa, sem dobrar-se. Respondeu a Cananoura: - Tu podes resistir e eu não, que não tenho raízes compridas, nem sou forte como tu és. Dizendo isto, veio um pé de vento com braveza, que arrancou a faia com raízes e tudo; mas a Cananoura, que se dobrou, ficou em pé.





LIX



A FORMIGA E A CIGARRA

No Inverno tirava a Formiga da sua cova a assoalhar o trigo, que nela tinha, e a Cigarra com as mãos postas lhe pedia que repartisse com ela, que morria à fome. Perguntou-lhe a Formiga: que fizera no Estio, porque não guardara para se manter? Respondeu a Cigarra: - O Verão e Estio, gastei a cantar e passatempos pelos campos. A Formiga então, perseverando recolher seu trigo, lhe disse: - Amiga, pois os seis meses de Verão gastaste em cantar, bailar é comida saborosa e de gosto.





LX



O CAMINHANTE E A ESPADA

Achou um Caminhante uma Espada bem guarnecida em meio da estrada, e perguntou-lhe quem a perdera, e deixara ali. Calou-se ela e esteve queda. Depois, sendo outra vez perguntada, respondeu: - Ninguém me perdeu a mim, ainda que me vês lançada neste chão, antes eu fiz perder a muita gente; que dando ocasiões a brigas, matei alguns homens de que resultou ficarem perdidos os matadores, e os mortos mais perdidos se não estavam em graça; porque caminharam para o Inferno.





LXI



O ASNO E O LEÃO

Encontrando-se em um caminho o Asno com o Leão, lhe disse: - Subamos a um outeiro, que quero que vejas os muitos animais, que hão medo de mim. Riu-se o Leão e foi com ele. Zurrou o Asno, e fez fugir grande número de lebres, coelhos, zorras e outros semelhantes. Disse-lhe então: - Que te parece? Vês este medo com que fogem de mim? Fogem de ti (respondeu o Leão) os fracos, que são os que cobram medo de ouvir bradar; mas eu sem brados desfaço às mãos os mais valentes; pelo que de nenhum, nem de ti tenho temor.





LXII



A GRALHA E A OVELHA

Uma Gralha ociosa pousou sobre o pescoço da Ovelha, e ali a repelava, e lhe tirava a lã, picando-a por entre ela. Virou a Ovelha o rosto, dizendo: - Esta manha ruim e antiga havereis de deixá-la esquecer, que podeis ir picar um rafeiro no pescoço e matar-vos-á levemente. Respondeu a Gralha: - Já sou velha, e muito feia e conheço a quem posso agravar e a quem devo afagar. Não temas que me ponha no pescoço do cão, senão no teu, que me não podes fazer mal.





LXIII



O BOI E O VEADO

Por fugir o Veado de um caçador, se acolheu à vila, e entrando medroso em uma estrebaria, achou o Boi, a quem perguntou se podia esconder-se ali. Disse o Boi, que era muito certo o morrer e que antes devera tornar-se ao mato, e contudo o escondeu, e o cobriu de palha. Veio o dono da estrebaria e olhando por ele, viu as pontas do Veado. Foi descobri-lo, e achou o que era. Mas disse-lhe: Já que de tua vontade vieste à minha casa, não te quero matar, senão defender e fazer muitos mimos.





LXIV



O HOMEM E O LEÃO

Andando o Leão à caça, meteu um estrepe no pé, com que não podia bulir-se. Encontrou um homem e mostrou-lhe para que lho tirasse. Fê-lo assim o homem, e o Leão em paga partiu da caça com ele. Dali a muito tempo foi tomado este Leão para certas festas e nelas se lançavam homens para que os matassem. Entre eles lhe lançaram este que o curou, que estava preso por alguma culpas. Porém o Leão não só o não matou, antes se pôs em sua guarda, e o acompanhou toda a vida, caçando para ele.





LXV



O LOBO E A RAPOSA

O Lobo se aparelhou e proveu sua cova muito bem de mantimento. A Raposa chegou e disse, que obrigada de amor andava atrás dele, por vê-lo e servi-lo. Não quero o teu serviço, (disse o Lobo) que tua intenção não é senão roubar-me e comeres-me o que eu tenho. Vendo-se a Raposa alcançada, buscou quem matasse o Lobo, e meteu-se de posse da sua cova, e de quanto estava nela, mas sobrevindo uns caçadores, foi achada dos cães e feita em pedaços.


JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org

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