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OS TRATAMENTOS SUGERIDOS NÃO DISPENSAM A INTERVENÇÃO DE TERAPEUTA OU MÉDICO ASSISTENTE.

ARTE

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

MEDITAÇÃO



A MEDITAÇÃO
É A ÚNICA COISA QUE VALE A PENA
SE É COM ELA QUE TERMINA
O SOFRIMENTO PSICOLÓGICO




A Prática da Meditação, foi publicado online como síntese do nosso livro O Eterno Agora e a Revelação da Consciênciaver em
www.homeoesp.org.
Teve como objectivo iniciar o leitor na prática da meditação, do modo que consideramos mais correcto, menos dificultoso e condizente com os objectivos que aquela prossegue.
São muitos os que recorrem nas livrarias a obras catalogadas como de auto-ajuda. A maioria apresenta-se de forma arrazoada ou extensa, por vezes verdadeiras fraudes conscientes ou inconscientes, por provirem de espíritos acossados de patologias psíquicas, inviabilizando a sua prática.
Programas rígidos, aceitação dogmática de asserções de mestres, cursos de comunicação com o além ou com Jesus, milagres de encomenda; tudo é possível a troco de dinheiro... Trágico!

Meditar não é cumprir um programa espiritual, não se compadece com retiros, não tem horas marcadas. Não é um procedimento racional que visa atingir uma verdade específica. É atenção global e constante de todas as ocasiões sejam elas quais forem.
Implica solidão, a libertação do conhecido, a extinção da dor, para que o novo, o Desconhecido surja, sem mestres ou orientadores que, tais cegos, pretendem conduzir outros cegos, que o são porquanto não querem ver.

É pela meditação, pela observação pura e simples, que podemos descobrir o que está para além do pensamento, do espaço-tempo. É o único modo.

Para além de pressupor autoconhecimento, pressupõe também isenção de condicionamentos. A observação do pensamento, de todos os seus subtis movimentos e de tudo o que nos rodeia, sem comparação ou julgamento.
Não implica controlo, mas atenção, que não desvirtua a realidade do que é observado.



Necessitamos de Paz neste mundo bélico e maltratante.
Mas, não é só a paz exterior, a que nos isenta de guerras, agressões, fome, ignorância, a dos prémios Nobel ou a apregoada por políticos falaciosos e amorais; é a interior, a própria, que é revolucionária no verdadeiro sentido do termo.

A sociedade transformar-se-á quando cada um de nós se transformar, transformando-se a cada transformação, por ínfima que pareça. E a nossa transformação ocorrerá espontaneamente, quando nos limitarmos a ser o que efectivamente somos, sendo apenas aquilo que somos e tendo plena consciência desse facto.

A mesma consciência deveremos reter de que a impermanência é tudo o que temos.

Autoconhecimento e sentimento de impermanência são os nossos primeiros passos.

Meditar é ver, ouvir, sentir, cheirar, saborear as coisas como elas são. Meditar é atenção global, não é concentração, fruto de exercícios mentais obnubiladores e de práticas torturantes.
Ouço o canto dos pássaros, o vento na vegetação, a água corrente, os que me falam, vejo as nuvens no céu, o despontar do Sol, o brilho das pedras humedecidas pelo orvalho da manhã, os rostos dos camponeses. Observo os meus pensamentos e toda a minha consciência descendo até aos mais recônditos e obscuros lugares. Saboreio os frutos e demais alimentos, inalo os mais variados aromas.
Sentir o vento, a chuva e o sol no rosto e nas espáduas, no seio da natureza sem o alvoroço do raciocínio é meditação.
Tudo de uma vez só, de forma total, como a própria vida.
Com esta atenção vigilante, que é sensibilidade à existência, o pensamento silencia-se.

Onde houver sofrimento não está a Verdade, a Paz, a Beleza e o Amor.
E apenas a Meditação pode fazer findar o sofrimento.

E meditar é apenas:

Observar o pensamento e o seu movimento, numa vigilância passiva, e tudo o que nos rodeia, sem comparar ou interpretar, em atitude de constante aperfeiçoamento dos sentidos.
“Ser”, sem nada buscar, intensamente, com paixão.




Necessitamos de observar o pensamento, e de autoconhecimento, que não é aprendizagem. A introspecção, que é análise realizada pelo próprio indivíduo relativamente ao conteúdo da sua consciência, é perniciosa por separar o observador do observado.

A meditação começa com o autoconhecimento. Temos de observar todos os nossos pensamentos, emoções, sentimentos. Esta vigilância levará ao silêncio. Neste, o inconsciente projecta sugestões, carências, o que conduz ao conhecimento do indivíduo na sua integralidade.

Pela observação do pensamento fazemo-lo cessar, e como o pensamento é tempo, este também cessa.
Só na extinção do tempo surge a inocência, o novo. A essência da eternidade é a negação do tempo.

Quando observamos o pensamento e o seu movimento, numa vigilância passiva, sem condenar, justificar, interpretar, sem fugir dele, recalcando-o ou sublimando-o, este tende a parar.
E nesse estado de escuta passiva, se observamos o que nos rodeia, sem a sua contaminação, transcendemos os limites temporais e espaciais, porque só existe o instante, o “agora”.



Para além da observação precisamos de entender o movimento do pensamento; compreender a sucessão de pensamentos, levar esse entendimento até às suas origens.
Compreender o movimento do pensamento é mergulhar nas profundezas da mente, aniquilando naturalmente os mecanismos de defesa que o impedem. É a mente que se penetra a si mesma.

Se compreendemos quem somos, levando esta investigação às últimas consequências, despontará a sabedoria e quem sabe o amor, que é sensibilidade e paixão por tudo e por nada.



Se nos libertarmos do pensamento, libertamo-nos de tudo o que nos relativiza, que nos condiciona. E a libertação do pensamento passa pela sua vigilância passiva, momento a momento.

O cérebro necessita de estar sensível. A sua visão não pode de modo algum distorcer a realidade. Se sensível, e com uma vigilância não-interpretativa, ou seja, passiva, observa com clareza e acuidade o mundo interior e exterior.
Observando o que somos, não há querer ser e em consequência, não há contenda interior.

A constante vigilância dos nossos pensamentos, estados de ânimo, emoções, sentimentos, é uma forma de apaziguar a mente.

Também não podemos terminar com os desejos sem mais, reprimindo-os. Só a escuta passiva os pode fazer cessar.

Observamos um milhafre na sua caçada implacável, o voo gracioso de uma ave, o olhar terno de uma criança, a passagem de um comboio na gare, um deslumbrante pôr-do-sol e ficamos apenas com o facto. Compreendemos o que se está a passar imediatamente. Não há pensamento, mas compreendemos. O cérebro está tranquilo, sem tagarelar, pleno de energia e entende sem pensar.
O mesmo se passa com qualquer problema. O entendimento é libertador.

Vou no comboio. Estou atento às sensações corporais, à conversa dos passageiros ao meu lado e ao rumor da fala dos mais afastados, ao ruído das rodas que deslizam nos carris, ao deslocamento do vento. Vejo as hortas, as árvores, os túneis, as casas, as pessoas e seu afã, a névoa que abraça os vales, os animais que pastam. Estou sensível aos balanços e impressões que corporalmente me causam, à alteração dos sons, ao apito, aos múltiplos verdes e ocres, às nuvens escuras no céu, às gotas de chuva na janela. Observo as expressões dos outros viajantes e os meus pensamentos quando surgem.
Que quietude advém de tudo isto.
E quanto maior a atenção, maior a quietude.



Para além dos momentos que exigem concentração – e são muitoshá que estar vigilante ao que se passa em nós e a tudo o que nos rodeia, em especial à natureza. Estar atento aos pensamentos, às nuvens no céu, às estrelas, aos reflexos do sol nas águas, à montanha, aos rios e regatos, tarefa que se impõe para sempre.
Nesta atitude não há tempo ou oportunidade para prantearmos o passado, que é a origem do que hoje somos. Devemos falecer para a sua lembrança.

Quando não há “eu”, a realidade é o que é: verdade, beleza, paixão e amor. Quando não somos isto ou aquilo, somos todas as coisas.
Quando se vive na realidade, há paz, não há conflito. O “ser” é o que é, e nessa simples existência não germina a litigância.

A atenção diverge da concentração. Nesta, evita-se ou não há dispersão. Contrariamente, a atenção tudo engloba, mesmo a distracção.
Na atenção não há tempo, mas um estado de acção altamente sensível na sua intemporalidade.

Quando o pensamento termina, entramos em contacto com a morte psicológica sendo a visão daí resultante renascimento e eternidade, podendo então a mente penetrar num mundo que em muito a excede. Inexistindo pensamento, não há tormento, não há medo ou aflição. Observar o sofrimento, o medo ou qualquer problema é fazê-lo cessar, como consequência da cessação do pensamento.



Quando formulamos juízos enunciamos o que deve ou não ser, quando o que é, é um facto indesmentível e irredutível a qualquer visão limitadora. Sem comparar ou interpretar a observação é inocente e límpida. Ela exclui juízos valorativos ou explicativos.

Quando morremos para o passado, começamos sempre de novo, imaculadamente.



O constante aperfeiçoamento dos sentidos é pressuposto do desenvolvimento da vigilância do cérebro.
Quando não há pensamento e os sentidos estão plenamente actuantes, há beleza, cuja essência íntima não admite contraste.

Precisamos de desenvolver os nossos sentidos. A audição e o tacto como se fossemos cegos, a visão como surdos, o olfacto, o paladar.

Em suma, precisamos de um cérebro lúcido, vivo. Para isso concorre a observação com o concomitante desenvolvimento dos sentidos, a percepção não interpretativa do desespero, da angústia, do desejo, do sofrimento.



Basta-nos ser; ser sem mais.
A mudança que se pretende pressupõe esforço. O esforço é contenda e a contenda padecimento.
Todo o esforço para se ser algo diferente daquilo que se é tem de terminar de forma natural e espontânea, o que ocorre quando se vive no presente e se nega a fantasia e a imaginação.
Ser-se o que se é, não querer ser, é a base da mudança que surge espontaneamente.

Aquilo que é, não é fonte de prazer ou de dor.



É bom viver sem mais. Não querer nada, não querer ser nada. Ser, sem nada buscar.

“Que difícil ser próprio e não ver senão o visível.”

Nesta sociedade tudo se faz visando um resultado, uma recompensa.

Quando agimos na mira de um resultado, de um prémio, da aprovação, do lucro, do prestígio, estamos a estimular o conflito. A própria fantasia também o gera. Sempre que somos algo e desejamos ser outrem ou queremos esforçadamente modificar uma parte do nosso ser, ele nasce.
A criação só existe na liberdade integral, quando se está livre de tudo, até da própria busca dessa liberdade.

Da luta travada pelo ser para vir a ser, da contradição íntima, nasce invariavelmente um problema, que é um desperdício de vitalidade.
Da mortificação para atingir Deus, o Absoluto, a Verdade, nada frutifica. Se o buscares não o encontrarás, se implorares não o acharás. Ele é liberdade absoluta que se manifesta no não condicionamento, na ampla abertura de espírito daquele que apenas é e nada procura ou quer vir a ser. Jorra gratuita e espontaneamente nos pobres em espírito.

O pensamento criou as religiões, os livros sagrados, deus. Este não pode ser buscado nem encontrado.
O Absoluto prescinde do limitado e só nos atingirá quando nos libertarmos das teias do espaço-tempo, que apenas se torna possível com a cessação do pensamento e consequente aniquilação do “eu”.



Ser, intensamente e com paixão, é experimentar a essência das coisas.
A paixão pressupõe uma mente quieta, atenta e sensível, vigorosamente sensível a tudo o que a rodeia.
É sensibilidade e intensa afeição que não se apega nem tem qualquer motivação particular. É amor que dispensa a reciprocidade.

Só ama quem é livre.
Por isso, o Amor é forte como a Morte.
A morte psicológica é uma experiência fantástica. E o renascer algo de mais fantástico ainda.
Para viver é necessário morrer. No renascer está a paixão, o amor.


“No dia em que se sentir feliz sem nenhuma razão aparente, no dia em que sentir prazer em tudo e em nada saberá que encontrou a terra da alegria interminável, chamada Reino.”



Este artigo é uma síntese do livro online “A Prática da Meditação”.
Ver: homeoesp.org LIVROS ONLINE » A PRÁTICA DA MEDITAÇÃO.



JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org/

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