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ARTE

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

ANTÓNIO BOTTO - ANOITECE DEVAGAR






Anoitece devagar.

No terreiro,
Vão-se os pares
Ajustando para a dança.

- Quem é que baila comigo?

Bailarei eu!,
Grita uma linda Maria
De rosto largo e trigueiro.

E o harmónio
Murmurando,
Dá início ao movimento
Que é todo ligeiro e brando.

Agora –
Apertam-se mais
Os corpos
Nas voltas lentas e bruscas
Da toada musical.

Vá de roda, quem mais ama?
Quem mais quer ao seu benzinho?
Quem mais ama mais padece;
Eu hei-de amar poucachinho.

Ao redor do bailarico
Já se vai juntando gente
Que andava um pouco dispersa;
E a minha linda cachopa,
Balanceada,
Contente,
Parece dada a um sonho...
- Nem eu sei o que ela sente!

Paro. Mas o meu braço descansa
Nas espáduas do meu par..

A noite cobriu
De sombras a natureza.

Ah!, se eu pudesse cantar
- E dar luz aos corações!

Fico a pensar e a olhar...

- Já se acenderam balões!

Foi aquele moço! Aquele
Que traz um cravo na boca
- Escarlate
Como a cinta
Com que ele envolve os quadris.

E a olhá-lo me ponho
Na graça quente e flexível
Dos seus aspectos viris.

Ai, a vida!,
É tão enganosa e fria,
Tão outra da que nós temos,
Que é bem melhor desejá-la
Como coisa que flutua
Para lá da que nós vemos...

Vamos descansar ali...
Deixemos...
- Digo ao par que me acompanha.

E ouvindo a voz do harmónio,
E contemplando
Esvaído
Os pares em desalinho
Sinto a mesma sensação
De ter bebido algum vinho.


JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org

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