terça-feira, 30 de junho de 2009

VASCO GRAÇA MOURA (1942) - BALADA DO BOM CAVAQUISTA


que eu sempre fui bom cavaquista
nem é preciso repeti-lo:
anos depois já só se avista
tanto canário, tanto grilo,
tanto gorjeio, tanto trilo
que de promessas se guarnece:
um mundo e outro, isto e aquilo,
e o povo tem o que merece.

vi engrossar de boys a lista,
vi saltitar mais do que esquilo,
de galho em galho ser artista,
e armar o estado em crocodilo.
voracidade? era do estilo.
economia? ai que arrefece!
vi Portugal vendido ao quilo
e o povo tem o que merece.

vi muito pássaro na pista
já de asa murcha e intranquilo,
já sem alface nem alpista
e já sem grão dentro do silo,
secou a teta e o mamilo,
chegou a hora, chega o stress.
há vários anos que eu refilo,
e o povo tem o que merece.

senhor, na entrada deste asilo,
mordeu-se a isca da benesse
e o povo tem o que merece.


VEJA-SE EM
www.homeoesp.org
LIVROS ONLINE » ANTOLOGIA DA POESIA PORTUGUESA

Sem comentários:

Enviar um comentário