quarta-feira, 16 de setembro de 2009

NEU YANG-SIU (1007-1072) - "OS MANDARINS"




Os aldeãos plantam e colhem o arroz,
o mandarim destila-o
para fabricar o vinho,
e deixa apodrecer o sarro.
Ele vende o vinho muito caro.

Os aldeãos que plantam e colhem o arroz
têm a panela vazia
Compram ao mandarim o sarro
e comem-no.

O mandarim diz:
«Eu bebo o vinho,
vocês, o sarro.»



Foi isto a que assisti enquanto criança. Criança que apenas devia brincar...
Foi o que assisti na “minha” pobre aldeia beirã. Lembrança que não se desvanece, que não desaparece.
Foi isto que me fez Homem e revolucionário. Revolucionário de uma revolução sem partido, ideologia, crença. Apenas revolucionário de uma revolução interior. Candeia que não ilumina a floresta, mas que a quer incendiar... Gota de orvalho que molha os lábios do naufrago na sua desesperança...
E, volto sempre à “minha” aldeia. A essa aldeia tão pequena, que tem a grandeza do padecimento do mundo.
Volto para que o desassossego aí não cesse, para que o fogo da revolta se não extinga, para que não se deslembre o sofrimento dos desvalidos.
Volto sempre.
Voltarei sempre.
Vivo ou morto voltarei.
E mesmo morto estarei à mesa dos mendigos comendo do seu pão e bebendo o seu vinho azedo. Mesmo morto estarei no leito dos agonizantes sofrendo as suas dores.
E amarei, nunca deixarei de amar, a serra, o rio, a nuvem, o mar. Amar-te-ei a ti e à minha gente. Essa gente que amargava e amarga sem pão, sem paz, sem instrução.
Essa, a verdadeira revolução. A única.
Túnica aconchegante dos que padecem.
E volto... volto contigo amigo, para que sejas o exemplo vivo das minhas palavras.


JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org



Haverá um dia em que um crime contra um animal será um crime contra a humanidade.

LEONARDO DA VINCI

7 comentários:

  1. Muita humanidade no seu relato, Zé-Maria!
    Muita Intensidade.

    E...
    'Haverá um dia em que um crime contra um animal será um crime contra a humanidade.'

    Quando? Quando?

    Um abraço sincero da Coruja

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  2. ALÉM DA TERRA, ALÉM DO CÉU


    Além da Terra, além do Céu,
    no trampolim do sem-fim das estrelas,
    no rastro dos astros,
    na magnólia das nebulosas.
    Além, muito além do sistema solar,
    até onde alcançam o pensamento e o coração,
    vamos!
    vamos conjugar
    o verbo fundamental essencial,
    o verbo transcendente, acima das gramáticas
    e do medo e da moeda e da política,
    o verbo sempreamar,
    o verbo pluriamar,
    razão de ser e de viver.

    Carlos Drummond de Andrade

    Abraços...

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  3. Boa tarde "Coruja"

    Leonardo fez a mesma pergunta a si mesmo.

    Eu faço-a a mim próprio, tão consciente quanto ele, de que a natureza humana não sofreu alterações substanciais nos últimos dez mil anos de "civilização".

    Quando, quando, pergunta a comentadora...

    Para quando, para quando, quando os "mandarins" são os mesmos?...

    Um dia, que já não será o nosso. Mas, para nós já é um crime, como muitos outros permitidos por esta sociedade de criminosos e cúmplices encartados, alguns com mestrado, outros doutorados (estou a sorrir; poderá alguma coisa ser séria se ninguém dela se rir?!).

    Um abraço para si do

    Zé Maria e do João Pestinha, meu amigo de 4 patas.

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  4. Olá Maria Helena

    Se Amor houvesse, não teríamos "mandarins".
    Se na Terra, no Céu, no casamento eterno das galáxias, o homem fosse um-ser-para-o-Amor, um-ser-para-Amar, não saberíamos o que são "mandarins".

    Não havendo mandarins, inexistiriam outrossim os seus "lacaios", bastas vezes mais monstruosos que seus "donos".


    Um abraço

    Zé Maria

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  5. Não podemos nunca desistir de pregar o Amor.

    "Ainda que eu falasse
    A língua dos homens
    E falasse a língua dos anjos
    Sem amor, eu nada seria"...

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  6. Boa tarde Helena

    Paulo... Paulo, o apóstolo por vocação.

    Por vezes, o seu "amor" parece-nos estranho, como se consequência de um profundo sentimento de culpa - quem sabe se da morte de Santo Estevão.

    Paulo, é uma figura tão controversa, mas tão "poderosa", que nos levou em determinado momento a denominar Paulinismo o que deveríamos apelidar de Cristanismo. Coisas da Crítica da Razão Crítica... (estou a sorrir)

    Mas, essa é a verdade - julgo eu -: sem Amor nada seremos e não valerá a pena viver; aliás já estaremos mortos em vida.

    Um abraço

    Zé Maria Alves

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  7. DOutor, definitivamente eu não sou Páreo, para o senhor(estou a sorrir), vou me recolher a minha insignificancia . Abraços Helena*

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