sábado, 24 de outubro de 2009

FERNANDO PESSOA - NÃO MEU, NÃO MEU É QUANTO ESCREVO



NÃO MEU, não meu é quanto escrevo.
A quem o devo?
De quem sou o arauto nado?
Por que, enganado,
Julguei ser meu o que era meu?
Que outro mo deu?
Mas, seja como for, se a sorte
For eu ser morte
De uma outra vida que em mim vive,
Eu, o que estive
Em ilusão toda esta vida
Aparecida,
Sou grato Ao que do pó que sou
Me levantou.
Ao de quem sou, erguido pó,
Símbolo só.

11/1932


JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org

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