sábado, 3 de abril de 2010

FERNANDO PESSOA - DINIS DA SILVA - EU





Sou louco, e tenho por memória
Uma longínqua e infiel lembrança
De qualquer dita transitória
Que sonhei ter quando criança.

Depois, maligna trajectória
Do meu destino sem esperança,
Perdi, na névoa ou noite inglória,
O sonho e o arco da aliança.

Só guardo como um anel pobre
Que o tê-lo herdado só faz rico,
Um fim perdido que me cobre

Como um céu dossel de mendigo,
Na curva inútil em que fico
Da estrada certa que não sigo.

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