sábado, 15 de maio de 2010

AMARU (séc. VII) - POEMAS DE AMOR





ELE:
Quando embriagada pelo doce vinho
viu os arranhões de amor
que ela mesma me infligira
partiu ofuscada pelo ciúme
Tomando-a pela franja do se sari
detive-a... Como esquecê-la
quando me disse: «Deixa-me, deixa-me!»
olhando para trás
os olhos cheios de lágrimas
os lábios tremendo de despeito

O POETA:
Os amantes
arrastados pela torrente do seu amor
e contidos pelo dique
das pessoas mais velhas da casa
estão ainda juntos
mas não podem satisfazer os seus desejos
Imóveis como se tivessem sido pintados
bebem o néctar da paixão
com que os brindam os negros lótus dos seus olhos

ELA A UMA AMIGA:
Quando o meu amante se deitou a meu lado
por si só se desprendeu o meu cinto
e mal suspenso da cintura
o vestido deslizou-me pelos quadris
É a única coisa que sei
pois mal senti o contacto do seu corpo
de tudo me esqueci:
de quem era ele
de quem era eu
de como foi o nosso prazer

ELE:
Esmagados contra o meu peito
os seus seios estremecem. Entre as suas coxas
flui a seiva doce do amor...
«Não, outra vez não... Deixa-me descansar...»
E aos sussurros sucedem-se
as súplicas e às súplicas os suspiros
e aos suspiros o silêncio...
Terá adormecido? Estará a agonizar?
Ou serei eu que estou a sonhar?

Tradução de Jorge Sousa Braga

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