quarta-feira, 2 de junho de 2010

MÁRIO BEIRÃO (1890-1965) - ENLEVO



Porque esse olhar de sombra e de temor
Se perde em mim, às horas do sol-posto,
Quando é de âmbar translúcido o teu rosto,
E a tua alma desmaia como flor;

Porque essas mãos, ardidas de fervor,
Ampararam minha vida de desgosto,
Pobre que sou, Mulher, eu hei composto
Harmonias de prece em teu louvor!

Dei-te a minha alma para ti nascida,
Meus versos que são mais que a minha vida;
Por Deus, perdoa ao mísero mendigo!

Perdoa a quem, ansioso de outro mundo,
Implore à Morte o sono mais profundo,
Só pela graça de sonhar contigo!

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