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ARTE

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

SANTO ARSÉNIO - PADRES DO DESERTO

 


SANTO ARSENIUS


Dizia-se do pai Arsénio que ninguém conseguia compreender a sua forma de vida.


Nasceu no ano de 354 em Roma e morreu entre 434 e 450, em Troe, perto da cidade egípcia de Mênfis.

Arsénio era membro de uma nobre família romana de senadores, tendo vivido na época em que o cristianismo deixou de ser motivo de perseguição para se tornar na religião oficial do império. Foi educado na fé cristã e foi ordenado padre. Era um homem culto e um profundo conhecedor da literatura grega. Por isso, foi nomeado no ano de 383 tutor imperial dos filhos do Imperador Teodósio, cargo que exerceu por 11 anos na cidade de Constantinopla, sede do Império Romano do Oriente.

Durante este período gozou de todas as comodidades e do luxo da corte. No entanto, Arsénio sentia uma enorme inclinação para renunciar ao mundo.

Tudo o que fizera até aí poderia parecer muito, mas para ele não era nada.

Dizia-se que no palácio ninguém vestia roupas mais finas e que feito monge ninguém vestia roupas mais miseráveis do que ele. 


Orou durante muito tempo para que fosse esclarecido quanto à decisão a tomar.

Um dia orou deste modo: “Senhor, conduzi-me ao caminho da salvação”. 

Ouviu então uma voz que lhe disse: “Arsénio foge dos homens e serás salvo”. 

Depois de ter ouvido a voz, embarcou para Alexandria e, apressando-se para o deserto de Cétia, região localizada ao Noroeste do Delta do Nilo, pediu para ser admitido entre os solitários que aí residiam. Tornara-se eremita.

- A vida eremítica teve no abade Antão o exemplo mais imitado por todos os que se dirigiram ao deserto para que no isolamento, silêncio, oração e sacrifício pudessem alcançar a iluminação.


Foi conduzido para a cela de S. João o Anão. Este, embora tivesse conhecimento de quem era Arsénio, testou-o não lhe ligando nenhuma e deixou-o em pé, sozinho, enquanto convidava o resto dos monges para a mesa. Quando a refeição terminou, S. João, com ar de total indiferença, atirou-lhe um naco de pão. Arsénio pegou humildemente no pão, comendo-o sentado no chão. 

S. João apreciou a humildade de Arsénio e teve-o com ele, instruindo-o.


Depois de se ter feito monge, repetiu a oração: “Senhor, conduzi-me ao caminho da salvação”, tendo voltado a ouvir a voz que lhe disse: “Arsénio, foge, cala e repousa (pratica a hesíquia). São estas as raízes para não pecar”. 

O novo monge solitário foi o mais exemplar de todos eles.

Costumava dizer que um monge peregrino num país estrangeiro, não deve imiscuir-se em nada e respeitar a paz. 

Segundo o abade Daniel, Arsénio passava a noite em vigília e quando chegava a aurora, assoberbado pelo sono, dizia: “Vem cá, servo mau!” e repousava por um curto período para logo se levantar.

Na solidão do deserto, nos jejuns e no repouso alcançado pela prática da oração constante encontrou a iluminação.


Segundo os ensinamentos dos Padres do Deserto, o autêntico monge era chamado a viver, antes de tudo, a solidão, reduzindo ao mínimo o contacto com os homens.

Conta-se que o arcebispo Teófilo ter-se-á dirigido ao abade Arsénio, estando acompanhado por um magistrado, pedindo-lhe que dissesse pelo menos uma palavra. 

Após uma breve pausa, Arsénio disse: “E se a disser, ireis observá-la?”.

Teófilo e o magistrado prometeram fazê-lo. 

Disse então o santo: “Então, saibam que, onde estiver Arsénio, não vos deveis aproximar dele”.

Conta-se ainda, que quando residia em Canope, de Roma veio uma dama descendente de uma família senatorial, rica e muito devota, que foi acolhida pelo arcebispo Teófilo. A dama pediu ao dito Teófilo que intercedesse junto de Arsénio para que este a recebesse.

O arcebispo não conseguiu que Arsénio aceitasse recebê-la.

Inconformada, a senhora, alegando não ter vindo ver um homem, que não faltavam na cidade, mas um profeta, pôs-se a caminho acreditando que Deus o iria permitir. Chegada à sua cela, encontrou-o na soleira, tendo-se prostrado a seus pés.

Com alguma indignação, Arsénio ergueu-a e fixando-a disse: “Se queres ver a minha face, vê-a!”. A senhora baixou o seu olhar e não ousou fazê-lo. Arsénio disse-lhe: “Qual o motivo da tua viagem? Não sabes que sendo uma dama não deves andar por aí? Vais retornar a Roma para contar que viste Arsénio e para fazer com que outras mulheres te imitem?”. Ela respondeu-lhe que tal nunca aconteceria e rogou-lhe que rezasse e se lembrasse sempre dela. Arsénio respondeu: “Peço a Deus que não permita qualquer lembrança tua no meu coração.” 

A senhora ficou consternada e adoeceu no regresso a Roma. Tendo tido conhecimento do seu estado de saúde, o arcebispo foi consolá-la e acabou por ouvir tudo o que Arsénio lhe tinha dito face ao seu pedido e ainda: “Morro de dor com tais palavras.” 

Disse-lhe o arcebispo: “Não sabes que és uma mulher e que o inimigo combate os santos por intermédio da mulher? Daí as palavras de Arsénio. Mas, podes crer, que sempre rezará pela tua alma.” 

Ouvindo esta explicação de Teófilo, sentiu de imediato júbilo no seu coração e voltou para casa realizada.   


Invariavelmente, negava a sua presença aos visitantes, independentemente da sua posição e condição e fugia do contacto com os outros Padres, deixando aos discípulos o cuidado de os receber.

Certo dia o abade Marcos perguntou-lhe: “Por que foges de nós?”. Arsénio respondeu: “Deus sabe quanto vos amo, mas não posso estar ao mesmo tempo com Deus e com os homens. Não posso abandonar o Uno para ir viver no meio de muitos”.


O hesicasmo pode ser definido como uma doutrina espiritual contemplativa, que busca a união de Deus com o homem através da oração contínua. Teve início com os Padres do Deserto e foi renovada nos mosteiros do Monte Athos, onde foi definido como hesicasta aquele que fala somente com Deus e reza sem cessar. 

Nalgumas passagens do Evangelho e nas palavras do Apóstolo Paulo, vamos encontrar o fundamento da oração constante: “Orai sem cessar!”.

- Oração do Coração ou oração de Jesus.


Por outro lado, o jejum era prática corrente entre os Padres do Deserto. Um deles disse. “Se um homem comer uma vez por dia é um monge; se comer duas vezes por dia, é um homem carnal, e se comer três é uma besta”.


Durante os cinquenta e cinco anos da sua vida solitária, julgou-se com humildade o pior de todos, punindo-se pela sua aparente vaidade no mundo. Da mesma forma, para expiar o uso que fizera de perfumes na corte nunca trocou a água em que humedecia as folhas de palmeira das quais fazia tapetes, limitando-se a despejar água fresca sobre a mesma para compensar a gasta, o que fazia com que tivesse um cheiro nauseabundo.

Quando ocupado no trabalho manual nunca diminuiu a sua concentração na oração. 

Era um homem muito calmo e muitas vezes silencioso, como comprovam as suas palavras: "Muitas vezes falei e, como resultado, senti remorsos, mas nunca me arrependi do meu silêncio".

Como dizia um dos Padres do Deserto: “Se te dirigirem palavras fúteis não respondas. Mantém-te calado e o teu exemplo bastará”. E um outro: “Não intervenhas em discussões. Se tiverem razão diz: ‘Está bem’. Se não tiverem diz: ‘Tu é que sabes’.”


Obteve o dom das lágrimas. Quando orava, lia o Evangelho ou assistia à missa escondido atrás de uma coluna, emocionava-se de tal forma que as lágrimas não paravam de escorrer pelo seu rosto. 

Meditava com constância na sua morte e na ruína do corpo, desprezando a vaidade do mundo.

Conta-se que o arcebispo Teófilo, de santa memória, estando às portas da morte lhe disse: “ Arsénio, ditoso sejas por trazeres esta hora sempre diante dos teus olhos.


Mas o que mais o distinguiu foi a sua falta de inclinação a tudo o que poderia interromper a sua união com Deus, já que considerava que tendo buscado o Senhor o havia encontrado e com Ele vivendo, com ele o Senhor ficou.

Era admirado por todos os monges, que por tal motivo o apelidaram de “o Grande”.


O dia de festa de Santo Arsénio é comemorado na Igreja Católica Romana e na Igreja Ortodoxa Oriental no dia 9 de Maio.