***
A
imagem do pequeno Aylan Kurdi, com apenas 3 anos, morto numa praia da Turquia,
terá “tocado o coração do mundo” e “alertado consciências” – esta a perspectiva geral, quer da comunicação
social quer da maioria das pessoas que a viram.
Por
quanto tempo, pergunto-vos. Por quanto tempo…
Algumas
das imagens que acompanham o texto infra,
também tocaram corações, mobilizaram “corações”, indignaram, movimentaram
consciências.
Por
quanto tempo?
O
tempo do esquecimento, assevero-vos.
Por
quem são lembradas, o mundo mudou, os homens transformaram-se?
Todas
caíram no esquecimento.
Como
escreveu o poeta Aleixo:
Descreio dos que me
apontam
Uma sociedade sã:
Isto é hoje o que
foi ontem
E o que há-de ser
amanhã.
Não
deveria ser assim. Mas até a miséria e a violência parecem estar neste mundo
sujeitas às regras da moda.
Um
mundo canibalesco e inumano.
***
Extraído do blog
TEXTO COM FOTOGRAFIAS - DO BLOGUE MENCIONADO
(Algumas das fotografias, pela sua "violência", podem ferir a sensibilidade de algumas pessoas)
***
No
ano de 1993, Kevin Carter fotografou uma cena que dispensa comentários.
Em
Ayod, no Sudão, em plena epidemia de fome, uma criança subnutrida arrasta-se
enquanto um abutre-de-capuz aguarda pacientemente a sua morte.
Carter
disparou a sua máquina, afastou o abutre e partiu de imediato para Nova Iorque.
O
New York Times publicou a fotografia, que em 1994 ganhou o prestigiado prémio
Pulitzer.
A
morte de mão dada com a fome, o mundo tal qual ele é, foi o que Kevin viu.
Meses
depois suicidou-se. Em 27 de Julho de 1994, em Joanesburgo, num local onde tinha
por hábito brincar quando criança pôs termo à vida. Tinha 33 anos de idade.
Numa
nota, que se resume, deixou-nos as seguintes palavras:
“Eu
sinto muito. A dor da vida ultrapassa a alegria ao ponto em que a alegria não
existe (…), deprimido (…). Estou ensombrado pelas vívidas memórias de mortes e
cadáveres e raiva e dor (…), de crianças famintas ou feridas, de loucos com
dedo no gatilho, muitas vezes polícias, carrascos assassinos (…).”
FOME NO MUNDO
Todos
eles são os culpados da fome no mundo. Opróbrio e vergonha de uma falsa
civilização. Não tu!
Sinto
muito Kevin. Não deverias ser tu a suicidar-te, mas os causadores do Mal neste mundo canibalesco. São esses criminosos de colarinho branco que se
deviam ter suicidado ou suicidar neste preciso momento.
Ditadores,
papas, falsos santos, governantes imundos, entre tantos.
O
papa Alexandre VI, de seu nome Rodrigo Bórgia. O papa das grandes orgias. Com
frequência juntava dezenas de prostitutas numa sala e encarregava alguns
clérigos que observassem as cópulas, contando os orgasmos, numa espécie de
concurso sexual. Estuprava a sua filha Lucrécia e matava os seus opositores.
Muitos poderiam ser os maus exemplos
na história dos papas e seus assessores…
Veja-se
a “Taxa Camarae” – A idade da corrupção e do pecado na igreja.
E
tantos outros que o antecederam e que o seguiram. Papas, Cardeais, Bispos,
todos imersos no pecado e possuídos pelo Senhor
deste Mundo.
Referência ao Pe.
Gabriel Amorth
Madre
Teresa de Calcutá
Tende
cuidado com os “falsos profetas” e a quem dais as vossas “esmolas”…
É
com dor profunda que referenciamos este vídeo, mas infelizmente, investigadores
imparciais têm vindo a demonstrar uma “faceta” de madre Teresa que durante
muito tempo nos recusámos a aceitar.
Governantes,
políticos, sacerdotes criminosos, autoridades iníquas, ricos e poderosos.
E
seus cúmplices, ou seja todos os que participaram e participam de modo directo
ou indirecto nas calamidades a que assististe, dando-lhes o seu assentimento
por acção ou por omissão.
Tantas
ignomínias perpetradas por um poder sujo, encabeçado por falsários, ladrões,
corruptos, todos escandalosamente imundos.
Criminosos
da humanidade, em regra, impunes aos malefícios que causaram e causam, alguns
calorosamente recebidos e cumprimentados por representantes de Estados que se
dizem desenvolvidos, como da comunidade europeia.
Islam
Karimov é apenas um dos muitos exemplos. Chefe do Estado do Uzbequistão
tornou-se célebre por ter colocado em água a ferver alguns dos seus opositores
e por ter ordenado o massacre de Andijan, onde cerca de 1500 manifestantes
foram mortos pelas suas tropas de elite. Os sectores mais importantes da
economia eram controlados por si, pela sua família e pelos seus bajuladores – v.g., algodão e gás natural.
Também
o Presidente de Angola foi recebido com pompa e circunstância pelos presidentes
de Portugal e do Brasil. E muitos mais, perversos assassinos dos seus próprios
povos são acolhidos em Estados democráticos
que apregoam os direitos do homem ao vento.
Uma
patologia epidémica, altamente infecciosa dos países subdesenvolvidos,
enfermidade de outros que se auto-proclamam desenvolvidos.
***
"Pisces maiores constat glutire minores, sic homo
maioris saepe fit esca minor".
Neste
artigo tratamos do Mal no mundo nas
suas múltiplas facetas e da sua inevitabilidade, como consequência da
existência de religiões e líderes religiosos nauseabundos, governos e políticos
falsos e repulsivos como sepulcros abertos, ricos e poderosos sem escrúpulos
vergados aos deuses do prestígio e do oiro.
Injustiça,
guerra, fome, subnutrição, carência dos mais básicos cuidados de saúde,
violação dos mais elementares direitos humanos, escravatura, exploração de
crianças e mulheres, violência e mais violência, essência dos senhores que se
apropriaram deste mundo.
A TRISTE REALIDADE
Não
nos venham as Igrejas afirmar que a permissão divina do mal físico e do mal
moral é um mistério incompreensível que Deus esclarece por seu filho Jesus ou
que será entendido plenamente no momento da nossa morte, como se por artes
mágicas nos seja dada a certeza de que o mal não seria permitido se dele não
nascesse o bem.
Não
nos venham os papas e outros líderes de outras religiões, papagueando textos
que dizem sagrados – mas que de sagrados
nada têm – com palavras mansas prometer o inconcebível e apelar a uma paz
que sabem inatingível, limitando-se a lançar sílabas ao vento, e atulhando as
caixas-fortes das suas libertinas instituições.
Não
nos venham os políticos nas suas línguas viperinas prometer justiça, igualdade
e pão, quando se ocupam tão-somente a engordar os seus fétidos ventres,
querendo evitar qualquer revolta, mais do que justificada, levantamento de
povos abúlicos transformados em dóceis ovelhas.
Não
nos venham também, ricos e poderosos, aludir à sua imprescindibilidade para a
sobrevivência do mundo, enquanto se refastelam com o pão furtado aos
pobres.
***
As religiões
existem porque há morte.
A filosofia existe
porque o homem é um ser-para-a-sua-morte.
As Teodiceias
nascem porque nada parece justificar o mal num mundo criado por um Ser de
bondade e Amor.
***
Jesus
terá dito : “A minha casa será chamada casa de oração para todos os povos.
Mas vós fizestes dela um covil de ladrões” - (Mc 11, 17 – veja-se Is 56, 7 e Jr 7, 11)
Indo
ainda mais longe, o templo de Deus é o mundo, e este planeta de predadores onde
a confiança está ausente. Dele, os homens fizeram um covil de embusteiros,
trapaceiros, ladrões, corruptos, e líderes religiosos e políticos sanguinários
ao serviço dos seus próprios interesses e dos bajuladores que os cercam,
condenando à mais degradante pobreza a maioria dos seus irmãos.
Apregoa-se
a alegria de viver, a confiança no homem e no futuro, uma ética humanista, o
amor, a solidariedade, um paraíso para os pobres, mansos e civilmente
obedientes. Como se os males do mundo sejam consequência única da desobediência
civil e religiosa.
Mas,
como anota H. Zinn, “a desobediência civil não é o nosso problema.
O
nosso problema é a obediência civil. O nosso problema é que pessoas por todo o
mundo têm obedecido às ordens de líderes e milhões têm morrido por causa dessa
obediência. O nosso problema é que as pessoas são obedientes no mundo face à
pobreza, fome, estupidez, guerra e crueldade.
O
nosso problema é que os seres humanos são obedientes enquanto as cadeias se
enchem de pequenos ladrões e os grandes ladrões governam os países.
As prisões dos
ladrões que governam o mundo estão vazias…
Aos
oprimidos, aos injustiçados, aos famintos, a todos os espoliados e desvalidos,
dir-vos-ei com Jesus: Se não tendes uma
espada, ide, vendei tudo o que tendes e comprai uma…
Refiro-me
aqui ao Jesus histórico, tal como o entendo. Um revolucionário, discípulo de João
Baptista, que percorreu a Galileia e subiu a Jerusalém reunindo um exército de pobres tendo como objectivo
principal estabelecer o Reino de Deus nesta
terra. A personificação da paz, mas também da guerra aos poderosos, aos ímpios,
aos vendilhões e ladrões dos humildes e desamparados. O Homem capaz de afrontar
as perversas autoridades judaicas e o próprio império romano, sabendo de
antemão como acabaria a sua vida. Condenado à morte por sedição num julgamento
sumário realizado por Pôncio Pilatos.
Se
se quiser, um Enviado, filho humano
de um Deus dos pobres.
Expulsai
deste Templo pelo chicote e pela
espada, os vendilhões, os usurários, os poderosos, os políticos, ricos
ignóbeis, juízes iníquos, autoridades sanguissedentas, ladrões dos pobres e
oprimidos. Derrubai os seus tronos e recolhei suas moedas que distribuireis
equitativamente pelos pobres.
***
O
homem é um animal religioso. A vida à superfície da Terra é extremamente dura e
constantemente envolta num manto de dor. Condenado ao sofrimento e à morte
física, busca no além, numa entidade que o transcende na sua perfeição
absoluta, o consolo da perpetuidade. A angústia da existência é minimizada pelo
prémio concedido por um Pai de
compaixão que o receberá no seu seio amoroso por toda a eternidade.
Não
podemos aqui debruçar-nos sobre todas as religiões – não é esse o intuito destes escritos -, mas nas que nos estão mais
próximas, Deus omnipotente, infinitamente perfeito e bem-aventurado, é o
criador do mundo e das criaturas racionais e irracionais, bem como dos anjos.
Nelas,
o homem deseja Deus. Desejo que está impresso no seu espírito, que é por Ele
provocado para que o conheça e ame por intermédio de uma fé que é tida como
virtude sobrenatural.
Estando
limitados pelo tempo-espaço não o podemos compreender, dizem-nos, quando muito
poderemos conhecê-lo, quer pela luz da razão humana iluminada, purificada e
elevada pela fé quer a partir do mundo e das coisas por si criadas (Concílio
Vaticano II e Rom 1, 20). Mas para o conhecer é fundamental que manifestemos
tal intenção enquanto firme desejo no assentimento das verdades reveladas e
pela fé, pressuposto indispensável para Lhe agradar. Parece-nos que para os
católicos Deus tem uma enorme necessidade de ser comprazido – veremos infra de que modo.
Aquela
que é considerada a prova por excelência da existência de Deus é a da causa
primeira, não obstante não se possa provar cientificamente que Ele tenha ou não
existência. O mundo exige uma causa de si mesmo. E a essa causa chamamos Deus,
como ser último, porquanto não é compreensível que todo o ser que começa a
existir não tenha uma causa.
Mas
terá mesmo de ter uma causa? E poderemos reconhecer por intermédio da razão,
ainda que com algumas limitações da existência da alma espiritual e da sua
imortalidade, alma que como princípio vital comunica ao corpo vida,
sensitividade e pensamento?
E
as almas são preexistentes ou não preexistentes, criadas ou não criadas por
Deus?
E
se a imortalidade for uma quimera, a ilusão de mentes conturbadas?
Já
discutimos estas questões noutro texto.
Ver
»
No
cristianismo, a fé é uma adesão voluntária do homem à verdade revelada nas
Sagradas Escrituras e pela Tradição, sendo absolutamente necessária para a
salvação : “Quem acreditar e for baptizado será salvo, mas quem não
acreditar será condenado” (Mc 16, 16). Veremos uma excepção interpretativa a
este normativo religioso-evangélico de que fora da igreja não há salvação em
momento posterior (LG) – excepcionam-se
os que sem culpa, desconhecem Cristo e a sua Igreja. Esta excepção indicia
desde já um fenómeno com que vos irais deparar no estudo da história das
religiões evoluídas : o princípio da oportunidade.
Há
na história um estranho Deus a revelar princípios normativos contraditórios,
eivados de desumanidade e infâmia aos povos, chegando mesmo a eleger um deles
como o seu povo. Citemos como exemplo o Antigo Testamento e o Corão, com as
suas Leis e uma Sharia contrárias à compaixão e a toda a ética que se deseja
humanista, como se Deus reinasse às
atrocidades e impiedades.
***
O
mundo é religioso. Estatisticamente religioso. De uma população de 7 parece que
6 mil milhões professam uma religião.
Em
2010 teríamos (números aproximados em milhões):
Cristãos
– 2.200
Igreja Romana – 1.100
Igrejas Pentecostais – 426
Igreja Protestante – 417
Igreja Ortodoxa – 275
Igreja Anglicana – 86
Outras – 34
Islamismo
– 1.500
Judaísmo
- 15
Hinduísmo
– 950
Religiões
Populares Chinesas – 434
Budismo
– 450
Outras,
tais como Espiritismo, Confucionismo, Jainismo, Siquismo, Taoísmo, Xamanismo,
Xintoísmo – 400
Não
nos será possível num trabalho que pretendemos sintético, enumerar toda a
argumentação que contraria frontalmente a utilidade das religiões, sendo certo
que apenas uma minoria poderá estar afastada de graves dissensões internas e
externas, com perseguições, fundamentalismos e conflitos armados – guerras e algumas acções que podemos
qualificar de terroristas.
As
religiões são violência, vício, ostentação e pecado. A maioria dos adeptos são “ateus práticos”: vivem no pleno
esquecimento de Deus, comportando-se como se Ele não tenha existência. São os religiosos-submarinos: assomam à
superfície quando o perigo de afundamento é praticamente inevitável. Afirmam-se
religiosos, mas os seus corações estão empedernidos pela ganância, violência,
egocentrismo e falsa compaixão.
As
religiões são um dos maiores produtores
da guerra, da violência, do pecado, de falsos santos, sacerdotes recalcados,
viciosos e calaceiros, que nada produzem para além de palavras ocas, bastardos e violentados.
Um
abade beneditino, sujeito aos votos de pobreza, obediência e castidade, terá
confessado: “O meu voto de pobreza presenteou-me com cem mil coroas por ano; o
meu voto de obediência deu-me o estatuto de príncipe soberano.”
Ter-se-á
esquecido de realçar as consequências do voto de castidade?
Percorrei
as igrejas e paróquias destas nossas terras e vede com os vossos próprios
olhos, ouvi com os vossos ouvidos e examinai com os vossos corações com que famigerada espécie de sacerdotes somos
presenteados.
As
palavras de Ghandi são extensíveis a todas elas, não se resumindo ao
Cristianismo:
"Amo
o cristianismo, mas odeio os cristãos, pois não vivem segundo os ensinamentos
de Cristo."
Lembremos
o Judaísmo. Os judeus foram perseguidos na Idade Média, pela própria Igreja de
Roma, pelos luteranos e sofreram o maior dos horrores no holocausto – como já dissemos, 6 milhões de inocentes
massacrados. Por outro lado, o problema palestiniano não é propriamente uma
glória do Estado de Israel.
O
Cristianismo com as cruzadas, o Santo Ofício da Inquisição, uma caçada
implacável às “bruxas”, que se chegou a estender a alguns místicos cristãos, as
suas guerras religiosas e um antissemitismo confesso.
O
Islão, onde abundaram as guerras religiosas, a violação dos direitos humanos, a
perseguição às minorias, o estatuto das mulheres – evitando mencionar a questão do terrorismo por se estribar em facções
sectárias específicas.
Deixemos
esta matéria para um momento posterior, na certeza porém de que no cristianismo
não existe uma unidade do Antigo com o Novo Testamento. Aliás, na época de
Márcio de Sinope (80-155) a maior parte dos escritos do Novo Testamento já
existiam. Márcio é um crítico racionalista da Bíblia. O Deus do Antigo
Testamento não tem real correspondência com os juízos de omnipotência,
omnisciência e de bondade que lhe atribuem. O cristianismo adensa-se
fundamentalmente nos quatro Evangelhos e nas Epístolas de Paulo – veja-se »
Muito
menos teremos resquícios dessa unidade com o Novíssimo Testamento ditado ao Profeta Maomé.
Quedemo-nos
por ora pelo Cristianismo, debruçando-nos em especial na doutrina expendida
pela Igreja Católica, no seu Catecismo – que
se diz “fiel e iluminado pela Sagrada Escritura, pela Tradição Apostólica e
pelo Magistério da Igreja” – publicado em 1992, como resultado de um
trabalho de seis anos impulsionado pelo papa João Paulo II. Em 2003, o mesmo
papa, constituiu uma comissão especial presidida por Ratzinger, para a
elaboração de um Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, com propostas de
melhoramento. Nalgumas doutrinas, mais do que melhoramentos, teremos de falar
em revogações expressas, o tal princípio
da oportunidade que esconde a malfadada infalibilidade papal e de uma
Igreja em derrocada, minada por vícios e impregnada pelo Mal que terá “entrado pelas frestas do templo”.
A
palavra religião provém da palavra religare
– ligar, enlear o homem a Deus – sendo
a ciência que nos ensina o conhecimento de Deus, dos deveres que nos impõe e
dos meios que nos conduzem até Ele. O seu objecto constitui-se na acção que nos
leva a alcançar a sua posse no seu próprio Reino, ou seja no Paraíso Celeste.
Se
por um lado temos uma Teologia Dogmática, estudo das verdades em que devemos
acreditar sem reservas, por outro, devemos fazer a distinção entre religião
natural e religião revelada, sendo a aceitação de ambas, necessária para
atingir a salvação. A primeira fundamenta-se na razão, enquanto que a segunda
se subdivide em pública e privada e está contida na Sagrada Escritura e na
Tradição. A primeira, de assentimento obrigatório aproveita a todos os fiéis. A
segunda apenas a uma pessoa ou a um grupo de pessoas específicas – lembremos aqui alguns místicos e santos.
Numa perspectiva teológica a revelação pública teve o seu fim com os Apóstolos.
A
Sagrada Escritura, também denominada Bíblia, é a palavra de Deus comunicada sob
inspiração do Espírito Santo, àqueles que foram por Ele escolhidos. À Igreja
incumbe a interpretação autêntica da Palavra de Deus, Igreja que é representada
pelos sucessores de Pedro e seus bispos, contrariamente ao que acontece com o
protestantismo onde o livro-exame
permite que cada crente a interprete independentemente de qualquer autoridade.
A
revelação de Deus à humanidade terminou com Jesus.
Para
todos os efeitos os dogmas são uma verdade revelada por Deus e que a Igreja
adoptou no seu magistério e que iluminam o nosso caminho. Pode dizer-se que
alguns dos dogmas são verdadeiros mistérios, impossíveis de atingir por um
entendimento limitado, nomeadamente o da Santíssima Trindade.
A
existência de Deus é a verdade fundamental da religião, o seu ponto de partida,
seja do Judaísmo, do Cristianismo ou do Islamismo.
O
Deus dos cristãos não é corpóreo, é espírito. Infinitamente perfeito tem em si
a razão da sua existência.
Tudo
pode e para Ele não há projectos impossíveis (Job 42, 2). É omnipotente; tudo
previu desde a eternidade, e tudo ocorrerá inelutavelmente segundo a sua
vontade, de modo necessário nas criaturas irracionais e livremente nas
racionais.
É
Amor e a sua essência é simples, eterna e infinita. Amou-nos com tal
intensidade que nos deu o seu filho único, para que todo o que nele creia não
pereça, mas tenha a vida eterna. Deus não enviou o seu filho ao mundo para
condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele (Jo 3, 16-17). É
verdadeiramente um Deus de Amor Supremo.
O
mundo e todas as criaturas é dele que recebem a sua existência. O mundo foi por
si criado para sua glória (Conc Vat I). Mundo criado do nada, ordenado e bom,
condenando-se aqui o panteísmo – todos os
seres se confundem com Deus, por serem emanação da substância divina.
Deus,
sendo nosso Senhor, ter-nos-á criado, imortais, com intervenção directa na
formação do corpo e na gestação da alma, que apesar de distintos se unem
formando um único ser, para o servirmos e louvarmos – o que nos parece descabido, já que sendo omnipotente e infinitamente
perfeito não deveria ter qualquer necessidade de adoração por parte de
criaturas tão imperfeitas e cruéis como os homens.
E
agora tudo se complica.
Não
satisfeito, criou os Anjos, criaturas incorpóreas, totalmente espirituais, ou
seja, espíritos puros, superiores ao homem, com uma enorme capacidade de
inteligência e amor.
E
criou-os aos milhares para que o louvassem em todos os tempos, cumprindo as
suas determinações.
Alguns
deles, chefiados por Lúcifer revoltaram-se e foram vencidos numa contenda com
os Anjos fiéis a Deus comandados por S. Miguel Arcanjo, derrota que teve como
consequência a sua condenação ao Inferno. Daí, ter santo Agostinho afirmado que
sem Satanás não há Cristo.
Mas
Deus determinou ainda que alguns deles se incumbissem de proteger os homens:
são os Anjos da Guarda.
Os
Demónios passaram a partir daí a exercer uma actividade tentadora procurando
arrastar os homens para a perdição. O assédio, a obsessão e a possessão são
alguns dos seus ardis, justificando nalguns casos a prática do exorcismo.
Veja-se quanto aos exorcismos »
E
mais se complica ainda numa afronta a toda a lógica e intuição ponderada.
O
pecado original. Segundo a Igreja Deus criou os nossos primeiros pais num
estado de perfeita santidade e de justiça original.
Mas
no pecado dos nossos primeiros pais, nessa sua opção de desobediência, há como
não poderia deixar de haver, uma voz sedutora, que se opõe a Deus e que por mal de inveja os fez cair na morte.
Estou
a imaginar uns pobres diabos nas planícies africanas, seminus, expostos às
intempéries, temerosos quanto à voracidade dos elementos, indefesos à maioria
dos animais selvagens, com um pensamento simiesco, sofrendo com todo o tipo de
doenças, pecando perante um Deus compassivo.
Ora,
o pecado dos nossos primeiros pais não terá sido um simples pecado de gula, mas
um muito grave pecado de soberba. Aqueles homens-macacos radicalmente perdidos
num sem-entendimento-natural pretenderam ser iguais a Deus (Gen 3). Senhores
cardeais, senhores papas, conclaves, doutrinações e outras confabulações
magistrais tende piedade de nós porque somos lerdos e não vos compreendemos…
E
tal pecado, de um tal Adão, que deveria viver no cimo de uma árvore quando não
trovejava, transmitiu-se a todos os homens por intermédio da cópula, sempre que
daí nascesse um novo e amaldiçoado ser; um malfadado pecado contraído.
E
o novelo emaranha-se sem concerto.
Deus,
compassivo e bom, vendo que os aborígenes tinham querido ocupar o seu lugar,
decaindo da sua excelsa condição original, prometeu-lhes um Redentor, que
haveria de alcançar uma vitória sobre o pecado, trazendo-nos bens em muito
superiores aos que o pecado nos retirou.
O
seu filho – Deus como toda a gente também
quis ter um filho – encarnou e fez-se homem, tendo nascido de mulher sem
pecado. Nasceu das entranhas puríssimas da Virgem Maria, concebido por obra e
graça do Espírito Santo.
A
seguir a Maria é José em virtude a maior das criaturas terrenas.
As
minhas dúvidas concepcionais residem nos irmãos de Jesus, principalmente de
Tiago o “Justo”, de que falaremos em momento posterior – não vou aqui abordar o problema de Jesus ter sido casado, pois não nos
basta um pequeno pedaço de papel recentemente encontrado para demonstrar seja o
que for.
Mas,
em verdade, a Igreja dos primeiros séculos ocultou a acção de Tiago, primeiro
bispo de Jerusalém como forma de manter incontestada a Imaculada.
A
Santíssima Trindade, imagem deturpada do politeísmo. Um exercício de
legitimação dogmático de cariz contorcionista, com contornos irregulares e
intencionais – 1=3 e 3=1.
Este
mistério – já vimos o que é um “mistério”
para a Igreja de Roma –, mistério central da fé e da vida cristã (Cat 234)
consigna que em Deus há três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, tendo
todas elas a mesma natureza divina, sendo em consequência um só Deus.
As
três pessoas distinguem-se apenas pela origem, já que o Pai não procede de
ninguém, o Filho é gerado pelo Pai, e o Espírito Santo provém do Pai e do
Filho.
Assim
a fé cristã, não assume três deuses, mas um só Deus em três pessoas, que
podemos denominar como Trindade consubstancial.
O
Espírito Santo tem a mesma natureza do Pai e do Filho, merecendo a mesma adoração.
Por ele somos iluminados e imersos na sabedoria divina, fortalecendo-nos o
entendimento e a vontade, tornando-nos seres de coragem e acérrimos defensores
da Verdade, mesmo que façamos perigar
a nossa vida. É ao Espírito Santo que devemos implorar as suas virtudes e
dons.
O
Filho é Deus e Homem verdadeiro, duas naturezas cuja união se dá numa única
pessoa, que é para todos os efeitos divina.
Alguns
teólogos entendem o dogma da Trindade como fé no Deus Uno e Pai, através de
Cristo, seu filho e enviado e no Espírito de Deus e no Espírito de Cristo. Uma
nova imagem, uma nova ilusão de “óptica”.
A
divindade de Jesus é de extrema importância para o cristianismo. Sem Cristo não
há cristianismo, mas um erro ainda que desculpável, caso não venha a ser demonstrado
o dolo dos doutrinadores.
A
igreja e os seus pensadores mais não fizeram do que diversificar, construindo e
destruindo argumentos como se questão essencial à sua sobrevivência fosse de
somenos importância.
Para
uns, Jesus é apenas divino. Só divino (docetismo). Outros julgam-no humano
(ebionitas). Para outros, nem só divino, nem só humano. A cristologia angélica
atesta que não é divino nem humano. O nestorianismo considera que as suas duas
naturezas estão separadas, enquanto que os que as entendem não separadas,
classificam-nas como distintas (ortodoxos) ou indistintas (monofisistas).
Se
Jesus não for divino, divina não é a sua doutrina (e qual será a sua verdadeira
doutrina?), como divina e autêntica não é a sua igreja. Provar a sua divindade
por via dos milagres, das profecias e pelo testemunho dos Apóstolos é no mínimo
inusitado.
A
Redenção está intimamente ligada à Paixão de Cristo. A crucificação de um Deus,
um escândalo para os judeus e uma loucura para os gentios, como Paulo asseverou
numa das suas Epístolas, não será propriamente o sinal de esperança, nem o
centro da espiritualidade cristã. Veremos que tal fenómeno se prende com a
Ressurreição.
A
redenção consistiu no oferecimento de Jesus à morte por todos nós pecadores,
compensando a dívida conveniente à justiça divina, o que nos libertou do pecado
e do poder do Demónio, Senhor do Mundo.
Deste modo, passámos a granjear de novo a divina graça e o direito perdido de
ascensão ao Paraíso. Cristo pela crucificação desagravou a ofensa, varreu a
culpa e perdoou a pena a que nos sujeitámos. Pelo seu mérito recuperou o homem,
fazendo com que de novo obtivesse a graça e o Céu, resgatando-nos e
libertando-nos do poder do Maligno.
Por
ter morrido por nós, venceu a morte e o Diabo “que tem o poder da morte” (Heb
2, 14).
Que
estranho Deus este, que exige a reparação do pecado ou da ofensa, não se
satisfazendo com a mera cessação, antes exigindo que o seu filho amado nos
substitua, submetendo-o aos mais ignóbeis maus-tratos, pérfidas injúrias, e à
temível e abominável crucificação destinada aos criminosos dos povos ocupados –
só em casos muito excepcionais, sempre
que pelos seus crimes os cidadãos romanos perdessem a cidadania poderiam ser
condenados a tal execução.
Tendo
conhecido a morte como todos os homens a ela sujeitos, desceu à morada dos
mortos ou mansão dos mortos, não para
aí permanecer, mas para anunciar a Boa-Nova aos que ali se encontravam desde os
primórdios dos tempos humanos. Estes, tivessem sido justos ou pecadores estavam
privados da visão de Deus, aguardando o Redentor – será necessário algum comentário? Julgo que não.
Os
iníquos continuaram privados de tal visão, no “verdadeiro” Inferno, enquanto os
justos foram definitivamente libertados.
A
Ressurreição de Jesus foi um fenómeno que em muito pouco tempo se viu envolto
numa lendária névoa e em múltiplas contradições. Na nossa perspectiva, Jesus
não ressuscitou.
Daí que: “Se Cristo não ressuscitou, então a nossa pregação não tem sentido e também não tem sentido a nossa fé” (1 Co 15,14).
S. Paulo
Já
tratámos desta temática noutra sede para onde vos remetemos »
Continuemos
com a doutrina da Igreja de Roma.
Jesus
ressuscitou ao terceiro dia, no cumprimento das promessas do Antigo Testamento
e subiu aos Céus na Galileia, a partir de uma edificação fechada (Mc 16, 19),
em campo aberto, junto de Betânia (Lc 24, 51) ou foi arrebatado desaparecendo
por detrás de uma nuvem (Actos 1, 9 – da
autoria de Lucas, o Evangelista).
Quarenta
dias depois da sua ressurreição subiu ao Céu em corpo e alma, por sua virtude.
Aí, está sentado à direita de Deus Pai (Mc 16, 19 – atente-se que esta parte final do Evangelho de Marcos é um aditamento
posterior ao texto original).
É
interessante anotar a doutrina de que Cristo terá subido ao Céu enquanto Homem,
porque enquanto Deus, segunda pessoa da Trindade, nunca deixou de lá estar.
Donde
há-de voltar, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos (Parúsia).
O
Juízo Final é parte integrante da fé da Igreja (Mt 24, 30) e (Mc 13, 26),
constando do antigo Credo cristão – Symboli
Apostolici, séc. II – e do Credo actual.
No
fim dos tempos – antes do Juízo Final
- cada homem haverá de ressuscitar. A alma juntar-se-á ao corpo que teve na
terra para nunca mais se separar dele. Ressurreição da carne num corpo
glorioso. Mas, os pecadores, os que não demonstraram arrependimento ou pecaram
contra o Espírito Santo irão ressuscitar repletos de ignomínias, em corpos
não-gloriosos.
Os
condenados, ou seja, todos os que morrerem em pecado mortal sem arrependimento
irão para o Inferno, lugar de tormentos, de eternos suplícios.
Aqui
haverá choro e ranger de dentes, suplício do fogo. Privação da presença
beatífica de Deus, do amor, repouso e alegria. Todos os males e dores
envolverão os condenados.
O
Purgatório (teorizado entre 1024 e 1254, num período em que proliferavam
Apocalipses com visitas ao Céu e ao Inferno) é acima de tudo um lugar de
purificação para a santidade das almas de justos que não expiaram
convenientemente os seus pecados. Expiam-nos neste estado intermédio com graves
sofrimentos que lhes preparam a entrada no Céu.
O
Céu é o lugar dos justos na eterna presença beatífica e amorosa de Deus.
Recompensa divina para os rectos de espírito e cumpridores dos preceitos
sagrados, que têm acesso à visão directa de Deus, na posse de todo o Bem.
Aí,
viverão os eleitos na presença de Cristo.
Interessante
realçar, que os gozos do Céu serão proporcionais ao mérito de cada um.
Anotemos
que as descrições do Compêndio do Catecismo quanto ao Inferno e ao Purgatório
foram amenizadas e o Limbo simplesmente excluído – lá anda Deus a dizer e a desdizer coisas aos infalíveis…
Falemos
ainda do Limbo, mencionado no Catecismo da Igreja de 1992. Lugar das almas dos
justos antes da vinda do Messias, onde o aguardaram pacientemente para poderem
penetrar a glória do Céu.
Depois
da sua vinda é o lugar das almas das crianças que morrem sem que sejam
baptizadas. Almas privadas na eternidade da visão de Deus e da beatitude do
Céu. Vale-lhes o facto de não sofrerem as penas de sentido.
O
Sumo Pontífice, a quem foi concedido conciliarmente (Concílio Vaticano I) o
primado e o dom da infalibilidade – água
benta e presunção cada um toma a que quer -, tomou em atenção esta
singularidade aberrante: se uma criança com 1 ano morresse baptizada ia para o
Céu e gozaria da presença amorosa de vosso Deus, mas se o não fosse, paciência…
Suprimindo
este artigo do dito Compêndio, como suprimidas ou alteradas foram muitas outras
pseudo-verdades buscou a Igreja uma nova face que não tem correspondência com negra-alma.
Vede
ainda Eminências:
A
Igreja é Católica porque Cristo a constituiu para todos os povos e tempos – não terá sido antes Paulo que estabeleceu um
Paulinismo universal?
Fora
da Igreja não há salvação.
“Quem
acreditar e for baptizado será salvo, mas quem não acreditar será condenado”
(Mc 16, 16).
Excepcionam-se
os que ignorando sem culpa o Evangelho de Cristo e a sua Igreja, buscam Deus
com sinceridade, esforçando-se por cumprir as suas determinações (LG 16).
“Uma
no cravo outra na ferradura”.
Diga-se
que com Cristo os mandamentos da Lei
se resumem a dois:
-
Amar a Deus sobre todas as coisas e,
-
Amar o próximo como a nós mesmos.
Voltaremos
a esta temática, sem que nos pronunciemos de imediato pela sua bondade, mas
também por uma evidente improficuidade historicamente comprovada.
Estranha
e complicada religião. O que deveria primar pela simplicidade é um enredo
labiríntico e ilógico.
A
doutrina e os próprios livros ditos Sagrados – Palavra de Deus – contradizem-se manifestamente.
E
tal ocorre no Cristianismo, no Judaísmo, no Islamismo e em praticamente todas
as religiões do mundo, crenças desesperadas do medo.
***
Em
finais do ano de 2005, Jean Ziegler, relator especial da ONU para o Direito à
Alimentação, afirmava que mais de 2 milhões de pessoas morriam em todo o mundo
como consequência da fome – um número que
excedia o da sida, da malária e tuberculose juntas.
No
ano de 2003 terão morrido especificamente de fome cerca de 840 milhões de
pessoas, com um acréscimo de 11 milhões no ano seguinte, contrariando o
comprometimento constante dos Objectivos
do Milénio.
Nesses
tempos, ainda tão próximos, poderiam produzir-se alimentos para 12 mil milhões
de pessoas, ou seja, o dobro da então população mundial.
Hoje,
a população mundial ronda os 7 mil e 300 milhões. As mortes por subnutrição,
relacionadas com a inexistência de água potável, por malária e sida atingem
mais de um milhar de milhão, enquanto nos países desenvolvidos as pessoas com
peso a mais ultrapassam mil e seiscentos milhões e os obesos serão cerca de 600
milhões.
Metade
da população mundial vive na pobreza, contentando-se com 1% da riqueza mundial,
tendo apenas como meio de subsistência 2 dólares diários. Mais de mil e 200
milhões vivem na maior das misérias, enquanto 2% dos homens mais ricos do mundo
possuem mais de metade dessa riqueza global.
A
cada 5 segundos morre de fome uma criança com menos de 10 anos.
Como
anota Ziegler, todas as crianças que morrem de fome morrem assassinadas, e
todos nós, quer queiramos ou não participamos desse crime hediondo, uns por
acção e outros por omissão.
***
E
por muito que nos custe, vamos encontrar esse tipo de criminalidade consentida
nos países mais carenciados.
Tomemos
como exemplo Angola, que viu em 2014 dissecada a actuação do seu Governo, no
que toca ao combate à fome e à subnutrição. Num total de 45 países escrutinados
quedou-se pelo 42º lugar – 3 lugares
acima da Guiné-Bissau.
Mas
a família presidencial e seu “séquito” ostentam uma fortuna ensanguentada, num dos países do mundo
com mais fome e subnutrição. Atente-se que em Janeiro de 2013, a filha mais
velha do presidente, atingiu o indigno objectivo de se tornar na primeira
bilionária africana – fonte: Forbes. A "menina bonita" do país onde mais crianças morrem no mundo a cada ano.
Uma
fortuna, como muitas outras de políticos e generais, pútrida e cruenta, que se
alastra ao país que é a sua “lavandaria” - Portugal
a lavandaria de Angola - por mera conveniência económica.
Também
noutros Estados – e são muitos –,
cujo crescimento económico não respeita meios para atingir finalidades
perversas, como a China e a Índia onde o ser humano mais não é do que número na
produção, enquadrando-se numa novíssima escravatura, desvirtude sem remissão do
século XXI, abunda a impunidade da mais sórdida criminalidade.
***
A
história do mundo foi sempre marcada por guerras devastadoras e por uma
violência generalizada.
Mais
guerras do que anos, incontáveis são os mortos. Militares, homens, mulheres,
velhos, crianças, todos serviram de alimento a ideologias religiosas, à ambição
e ao capricho de líderes sem escrúpulos.
No
século passado, só na segunda guerra mundial (1939-45) terão falecido cerca de
70.000.000 de seres. 25 milhões de soldados, 42 milhões de civis e 6 milhões de
judeus.
O
terrorismo das grandes potências. Da
antiga União Soviética no Afeganistão, americano
em Hiroshima e Nagasaki.
Da
Alemanha nazi. Dos cerca de 9 milhões de judeus que residiam na Europa antes do
holocausto, 2/3 foram mortos nos campos nazis: 1 milhão de crianças, 2 milhões
de mulheres e 3 milhões de homens. Mais um acto horrendo de terrorismo.
A guerra é para os
guerreiros.
Quando um Estado ataca deliberadamente civis desarmados, dizimando velhos,
homens, mulheres e crianças, não podemos falar de acto de guerra, mas antes de
terrorismo, ainda que em sentido lato.
A
primeira guerra mundial (1914-18) terá sido mais benevolente: 10 milhões de
mortos. Menos do que os 20 milhões da gripe espanhola que eclodiu na Europa
logo a seguir à dita guerra.
O
Vietname (1955-75) com o uso terrível do napalm
e dos bombardeamentos constantes sobre as populações civis.
São
milhares de conflitos armados que espelham a verdadeira natureza do homem.
Devastação de povos, mortandade generalizada de inocentes, velhos, mulheres e
crianças, enquanto os líderes engravatados invocam o santo nome de Deus para as
suas miseráveis deliberações de expansão e domínio, nomeadamente a conquista da
Suméria (MMXX a.C.), a guerra de Tróia (c. 1200 a.C.), Peleponeso (c. 400
a.C.), campanhas de Alexandre (c. 300 a.C.), invasão muçulmana da Península
Ibérica (c. 700 d.C), da 1ª à 9ª cruzada (c. de 1096 a 1291), dos Cem Anos
(séc. XIV e XV), guerras napoleónicas (1803-1815), do Yom Kipur (1973),
ocupação soviética do Afeganistão (1979-89), guerras da Chechénia (1994-96 e
1999-2000), do Iraque (2003-11) e tantas outras.
E
há a violência gratuita e injustificável das polícias, das autoridades
administrativas, dos magistrados corruptos, dos médicos negligentes e de muitos
outros delinquentes bastas vezes apadrinhados por Estados infectos.
Quantos
milhares de mortos numa história repleta de atrocidades, tudo como consequência
de nauseabundos líderes religiosos e políticos “ranhosos”, numa violência sem
limites.
***
Como
viver neste planeta canibalesco é pergunta que nos assola o espírito com
frequência. Qual o sentido da vida? Que regras devem pautar a nossa existência?
Este
é um mundo de nacionalismos, religiões, facções políticas, clubismo. Cristãos,
muçulmanos, judeus, hindus, budistas, democratas, comunistas, portugueses,
chineses, sírios, alemães.
Buscamos
um ou mais rótulos, companhia física e nas ideias por receio da solidão. O
homem tem medo de estar só.
Acompanhados,
covardemente maltratamos, assassinamos, participamos no massacre dos inocentes,
com a crueldade e impiedade que só aos humanos reconhecemos, em nome de Deus,
de uma qualquer religião, dos estúpidos nacionalismos e de todos os
partidarismos.
Mundo
de opulência, ganância, desejo do oiro e do prestígio, avareza, onde grassa a
todos os níveis o compadrio, o proveito próprio e a corrupção. Mundo dos falsos
discursos e promessas vãs proferidas por bocas infectas como sepulcros
escancarados. Mundo sem justiça, de ladrões, negreiros e corsários. Mundo de
criminosos de colarinho branco aplaudidos por bandos de asnos.
Os
senhores do capital e do poder estão acompanhados por um povo estultificado por
uma asinina comunicação social. O povo acrítico do futebol, dos concursos
televisivos, das telenovelas, dos ídolos borra-botas, gigantes-pés-de-barro.
Povo sem carácter, egocêntrico, completamente alheio à cultura e à sabedoria.
Povo que adormece ao som das mentiras de políticos e sacerdotes, que esbraceja
quando acossado nos seus interesses, mas que com a rapidez que convém, olvida
agravos e escândalos perpetrados a um sem número de desvalidos pelos poderosos,
ladrões, e corruptos, sevandijas da humanidade decrépita, seguindo-os como
dócil besta de carga.
Povo
sem vontade própria, que vota nos seus carrascos e constrói de bom grado o seu
cadafalso e o dos seus semelhantes. Povo de vistas curtas que só consegue
enxergar o seu próprio umbigo e é bastas vezes cúmplice ou executor das
atrocidades ordenadas pelos mandantes deste planeta corroído pelo Mal.
É
o povo nos países ditos democráticos que aclama e elege os ladrões e corruptos.
É o povo que não quer enfrentar a realidade de que a sua miséria advém da
corrupção no Estado, que alimenta uma turba de ladrões
É
o povo que alimenta as falsas crenças nas Igrejas improdutivas e lhes farta os cofres, santificando o pecado e a
malignidade.
É
o povo que idolatra homens e mulheres que mais não são do que esterco.
O
Maligno existe. Ele é a essência da
humanidade e a natureza do homem. Encorpou a maioria dos líderes religiosos,
dos governantes, dos políticos, dos magistrados, dos advogados, dos sacerdotes,
das autoridades policiais e administrativas, dos ricos e dos poderosos.
Se
buscardes a mentira, a verdade manifestar-se-á e com os vossos olhos vereis a
adversidade, a promiscuidade, a gatunagem, a indecência e o mal que impera e
quem são os seus causadores.
Comparemos
a opulência dos templos com a miséria dos que à fome morrem.
Indignação,
apenas isso…
A
opulência dos palácios e dos “banquetes”, das recepções monárquicas e
presidenciais.
Mais
indignação…
Quando
olho o mundo, minado de miséria, de ausência de caridade e compaixão, lembro-me
das palavras de S. Jerónimo (345-420): “Vivemos como se fossemos morrer amanhã;
mas construímos como se tivéssemos de viver sempre neste mundo. As nossas
paredes fulgem de ouro, como os nossos tectos e os capitéis das nossas colunas;
mas Cristo morre às nossas portas, nu e faminto na pessoa dos seus pobres.”
Precisamos
de aniquilar o mal.
Destruir
os “muros” dos templos, a ostentação das religiões. Dispensar os sacerdotes e
outros vendilhões de falsidades celestes.
Queimar
os livros ditos sagrados, com as suas crenças desesperadas – mas oportunistas – da ressurreição e da
reencarnação.
Derrubar
os regimes ditatoriais, destituir os políticos corruptos, renunciar a crenças e
nacionalismos.
Obrigar
os ricos, os governantes, os políticos, à restituição das fortunas conseguidas
por meio da ladroagem instituída e legitimada pela indiferença de um povo
disbúlico.
Enfrentar
corajosamente a violência gratuita de todas as autoridades, sejam elas quais
forem.
Envergar
a “espada” sempre que o escândalo o justifique.
“O
cobarde mata com palavras o bravo pela espada”.
Deixemos
de ser cobardes.
Sejamos
nós mais um dos Enviados do Deus dos
Pobres.
Estejamos
atentos. A humanidade tem défice de atenção. A realidade actual confina-se às
novas tecnologias; não é humana é virtual. Temos de olhar a realidade de
frente, vê-la tal qual ela é.
Atenção
constante. Em todas as circunstâncias, abrindo-nos ao universo até que ele seja
a nossa mente e a nossa mente ele.
Libertemo-nos
do apego, seja ele qual for. Como na expressão, “Se encontrardes o Buda,
matai-o”.
O
nosso caminho não tem fim nem princípio. Não tem saída. Temos de ir sempre mais
além, na direcção do horizonte, de novos horizontes, novos aléns, na certeza de
que não entraremos no Reino de Deus
com as riquezas que a traça e a ferrugem corroem.
***
REGRA DE OURO PARA
UMA NOVA RELIGIOSIDADE
Nem
os políticos nem os religiosos querem ou podem transformar o mundo. Aliás, as suas
palavras são apenas palavras divorciadas de seus actos. Os papagaios
engravatados a quem o povo presta vassalagem.
A
religiosidade é o senso individual da união com o Todo.
A
sociedade só se transformará quando cada um de nós se transformar.
Sacerdotes
viciosos, políticos enganadores que enriquecem no seio da governação com o
dinheiro dos pobres, ricos gananciosos onde os fins justificam todos os meios.
Para
quê tantos rituais, orações, sacrifícios, penitências, doutrinas que confundem
e mergulham o homem numa selva impenetrável de preceitos? Porquê procurar fora
o que está dentro?
Talvez
assim se consiga manter uma multidão de sacerdotes que ao perder o emprego
teriam de dormir debaixo da ponte, porque mais não sabem fazer do que enganar o
povo com palavras vãs.
Talvez
porque quanto mais incompreensível for a essência
de Deus, maior a adesão à palavra de meia-dúzia de iluminados que nem em si mesmos se acreditam.
Talvez
porque como “o hábito faz o monge”, não será aprazível às igrejas ver os seus
baús esvaziados das moedas depositadas, quantas vezes por quem vive no limiar
da pobreza, principalmente quando se habituaram a
viver na ostentação com dinheiro alheio.
Viverá alguma igreja com o fruto do seu suor?
O
meu Deus – nem sei se lhe hei-de chamar Deus
-, não é o deus forjado e retocado pelo homem.
Ele
é o Todo omnipresente, a Energia do Cosmos, o Cosmos que não principia nem
acaba, que convive com as leis do acaso
e que vagueia dentro destas paredes, em mim, fortalecendo-me na sua paz, nos
jardins que me envolvem, que atravessa as serranias e que se estende até ao
infinito.
É
o vazio que se instala no vazio da minha mente. Quando quer, não quando eu
quero.
Não
é omnipotente, nem omnisciente. Não o poderia ser. Se o fosse tudo seria
diferente e as minhas palavras “palha”. Não quer ser adorado, nem glorificado
por anjos e homens. Não reconhece autoridade a papas, cardeais, sacerdotes,
presidentes e intelectuais. Ele sofreu no Sudão, em Auschwitz, nas batalhas,
com as crianças que morreram ingloriamente por culpa de todos nós. Ele sofre
hoje com os que sofrem. Sofre com os que sofrem e rejubila com os que se
alegram.
Sabe como é difícil amá-lo acima de todas as coisas e o próximo
como a nós mesmos. Sabe como tudo isso é bonito de dizer, impossível de praticar.
Por isso, apenas nos pede o possível.
Questionei-o
sobre a existência do Mal no mundo.
Resolvi de vez o insolúvel problema das teodiceias, quando me respondeu:
-
Tenho-te a ti!
Tem-vos
a vós também
e
apenas nos pede, que:
- Não façamos aos
outros o que com justiça não queremos
que a nós nos façam; e
- Façamos pelos
outros o que com justiça gostaríamos
que por nós fosse feito.
Tão simples.
A
santidade é tão simplesmente a consciência das nossas acções, instante a
instante; consciência constante. Veja-se»
***
Por
vezes, nestas longas noites em que Te tenho por companhia, penso em Tiago “o
Justo”, o irmão de Jesus e numa ou outra passagem da sua Epístola. Piedoso,
recto, honrado, e infatigável defensor dos pobres, prezado em Jerusalém por
judeus e venerado por cristãos.
“E
agora vós, ó ricos. Chorai em altos gritos por causa das desgraças que virão
sobre vós. As vossas riquezas estão podres e as vossas vestes comidas pela
traça. O vosso ouro e a vossa prata enferrujaram-se e a sua ferrugem servirá de
testemunho contra vós e devorará a vossa carne como o fogo. Entesourastes,
afinal, para os vossos últimos dias!
Olhai
que o salário que não pagastes aos trabalhadores que ceifaram os vossos campos
está a clamar; e os clamores dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor do
universo! Tendes vivido na terra, entregues ao luxo e aos prazeres, cevando
assim vossos apetites… para o dia da matança!”
Só
dando voz aos pobres a mente poderá penetrar o vazio da morte que é a essência da Vida.
PEQUENOS DEUSES
CASEIROS
Chegará
o dia, dia que já não verei, em que não existirão “sentinelas” que os protejam.
Repito-me:
Aos
oprimidos, aos injustiçados, aos famintos, a todos os espoliados e desvalidos,
dir-vos-ei com Jesus: Se não tendes uma
espada, ide, vendei tudo o que tendes e comprai uma.
Seja
ela em vossas mãos gretadas um gesto, uma voz, um voto, um grito…
AFONSO DUARTE –
GRITO
Bebi
peçonha, passei por uma guerra, conheço os homens…
Não,
não me irei suicidar, mas passarei o resto da minha vida a “gritar” pelos meus
pobres.
Todo
o resto não vale nada.
É por ti que eu "grito"