Segundo
Stephen Hawking será muito difícil construir de uma só vez uma teoria de tudo unificada. Assim, os
cientistas avançam passo a passo na miragem dessa mesma teoria da unificação. E
afirma que se esta teoria completa vier a ser descoberta, teremos obtido o
maior dos triunfos que a razão pode atingir: então conheceremos a mente de
Deus.
A
física clássica tem vindo a ser progressivamente contestada pela física
quântica onde reina o indeterminismo e a imprecisão. Esta dá-nos uma nova visão
do mundo onde o próprio tempo-espaço é transcendido por acontecimentos que
denominamos de não-localidade – informações
transmitidas sem recurso ao dito tempo-espaço. Segundo esta doutrina duas
partículas podem ocupar dois lugares diferentes ao mesmo tempo. É indubitavelmente
uma doutrina do absurdo. Quem disser que a compreende mente ou se não mente é
tolo – isto não quer dizer que não seja
verdadeira.
No
campo do microcosmo as coisas ou objetos físicos estão intimamente
interligados. A separação das mesmas no campo do macrocosmo é tão-somente uma
ilusão que nos é proporcionada pelos sentidos e sua imperfeição. Pode dizer-se
que tudo está em contacto com tudo já que os objectos se transformaram em
processos energéticos.
Talvez
exista uma consciência universal, talvez exista uma teia de acontecimentos que
tem como pano de fundo um sentido de unidade global. Talvez a multiplicidade
não seja mais do que uma ilusão da unidade. Talvez a consciência tenha como
fonte o espírito, única realidade
concreta da existência vista como um Todo.
Daí
a considerar a imaterialidade da alma que nos conceda a imortalidade ou a
existência de um Deus criador, consciência superior que é fonte de todas as
outras, como consequência desse neo-espiritualismo quântico.
Hawking
e tantos outros, físicos quânticos e não-quânticos, sonham com o impossível. A
razão humana está limitada pelo tempo-espaço. E o que é limitado nunca poderá
atingir o ilimitado.
Em
bom rigor, apenas conseguimos conhecer o que os nossos sentidos imperfeitos têm
capacidade para percepcionar e os instrumentos científicos, muito menos
poderosos do que nos querem fazer crer, podem avaliar.
Os
“mistérios” ficarão para sempre guardados no cofre da sabedoria inatingível pelos humanos, a menos que a
iluminação ou despertar sejam uma realidade.
Partindo
do princípio que Deus existe, nem Hawking nem os outros cientistas conseguirão
em tempo algum uma Teoria de Tudo, muito
menos desvendar a mente de Deus.
Sento-me
no café do bairro. Com a minha estão outras quatro mesas ocupadas. Por detrás
do balcão envidraçado que nos separa da cozinha, dois empregados, uma máquina e
muitos outros objectos.
A
porta principal dá para uma esplanada onde aproveito para fumar um cigarro. As
mesas estão vazias. O tempo está fresco e de quando em vez cai uma curta
chuvada. Para além da esplanada a calçada portuguesa e alguns transeuntes. A
Vanda vende um jornal e uma raspadinha. Segue-se-lhe a avenida com viaturas
estacionadas e algumas em movimento. O som de uma buzina alastra-se no ar.
Antes dos prédios um jardim com oliveiras e estátuas de pedra ou pedras que
parecem estátuas.
Para
qualquer um de nós a multiplicidade é evidente. As cadeiras, as mesas, o
balcão, a máquina do café, os empregados, os automóveis, o jardim, os prédios
são o que são. Cada objecto e ser é o que é, apenas o que é e como se apresenta
aos nossos sentidos.
Imaginemos
agora, que nos foi concedido um novo sentido ou que o sentido da visão está tão
apurado que consegue abranger as mais pequenas partículas do que somos e de
tudo o que nos envolve.
Ao
nível molecular – não precisamos de ir
mais longe – a cadeira e eu, as cadeiras e as pessoas que nelas estão
sentadas, as mesas onde poisamos os nossos braços e mãos, tudo se encontra
esbatido. As nossas moléculas confundem-se num turbilhão de energia, formam um
todo. E essa visão estende-se pela cadeira e por nós, pelas mesas, pelo balcão,
pela esplanada, pelo jardim e pelos edifícios mais distantes. Estende-se por
todo o lado em todas as direcções.
Esta
unidade visual está em constante mutação, mas tem subjacente uma única realidade
onde os fenómenos se desenrolam, como a tela branca do cinema que é imutável
relativamente aos “acontecimentos” que aí são projectados.
É
na tela, sempre idêntica a si mesma, que se manifestam as “dez mil coisas”.
E
pouco saberemos mais do que isto…
***
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