Tropeçando num e noutro tronco,
caminhando a esmo para a fonte,
vem a vaca sozinha. É cega.
De uma pedrada atirada com força
O vaqueiro vazou-lhe um olho, e o outro
ficou como esse; a vaca é cega.
À fonte vem beber como soía,
sem os passos firmes de outras vezes,
nem com as companheiras, vem sozinha.
Suas companheiras por barrancos e azinhagas,
pelo silêncio dos prados, nas ribeiras
fazem soar o chocalho enquanto pascem
fresca erva ao acaso... Ela cairia.
Dá com a cabeça na pia já gasta
e recua assustada... Mas insiste,
abaixa a cabeça e bebe lentamente.
Pouco, sem muita sede. Ergue depois
ao céu, enorme, a cabeça com os cornos,
num gesto grande e trágico; pestaneja
sobre as mortas pupilas e regressa,
vacilando, pelos carreiros que não esquece,
brandindo languidamente a longa cauda.
Tradução de José Bento
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