De madrugada quando a noite e o dia se confundem,
É uma alegria contemplar o campo na primavera.
Ó sufi! sai da tua cela
E ergue a tenda no roseiral;
Não é tempo para estares sentado
Sem nada fazer em tua casa.
Os rouxinóis, no tempo das rosas,
Vieram para gemer de amor;
Não estás menos embriagado do que eles,
Suspira pois, ó grande espírito!
Toda a criação dá
Ensinamento a quem possui um coração;
E não tem coração quem não confessa
Que crê no Senhor.
A montanha, o mar e as plantas
Cantam loas a Deus;
Mas nem todos podem, ao ouvi-las,
Compreender estes mistérios.
E os prodigiosos desenhos
Traçados no muro da existência
Não são mais que desenhos no muro
Para quem não sabe meditar.
Escuta o aviso dos pássaros
Que nas pastagens te dizem:
«Homem que dormes! ergue enfim a cabeça
Da almofada da negligência.
Muitos dos que hoje não vêem
A marca do poder de Deus,
Não poderão, após a sua morte,
Deliciar-se com a sua visão.
Até quando, enfim, como a violeta,
Baixarás a cabeça despreocupada?
É uma pena que durmas
Quando o narciso está desperto.»
Quem pode, pois, dos ramos das árvores
Fazer sair frutos vermelhos?
Quem, pois, do caule espinhoso
Faz nascer a rosa de cem folhas?
Ó Deus mui santo e impecável!
Ao teu poder soberano
Submeteste a lua,
O sol, a noite e o dia...
És tu quem faz jorrar a nascente do rochedo;
És tu quem faz cair a chuva da nuvem;
É por ti que a abelha faz o mel,
E a pérola surge do mar.
Acabamos de falar longamente sobre este assunto,
E muito pouco dissemos sobre um tema infinito.
Tradução de Maria Jorge Villar de Figueiredo
1 comentário:
Realmente um cântico divino, uma homenagem a Natureza e o propósito da mesma...
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