Leibniz foi um filósofo controverso, que procurou abranger na sua vasta obra todas as ciências do seu século. Para uns, um filósofo e matemático excelente, para outros, um alquimista, um esotérico, complexo e de difícil compreensão. Mas, um filósofo, cuja demanda fundamental se prende com a existência de Deus. Um filósofo apaixonado pelo seu Deus filosófico.
Nos Ensaios de Teodiceia, debate a antiquíssima questão – veja-se, nomeadamente, o Livro de Job – da relação do mal com Deus.
Se Deus é o que de mais perfeito existe, se é bondade, omnisciência e omnipotência, porque permite tanto sofrimento físico e psicológico, crueldades, injustiças?
Os Ensaios tiveram irónica réplica de Voltaire, na obra Candide, que representou Leibniz na pessoa do Dr. Pangloss, que perante todas as calamidades e crueldades do mundo, refere com constância que tudo ocorre para o melhor no melhor dos mundos. Também no extenso poema que escreveu sobre o terramoto de Lisboa de 1755, volta a atacar frontalmente o optimismo de Leibniz.
Ao que parece, Leibniz julga que Deus escolheu o mais perfeito dos mundos possíveis, mundo esse, que não sendo perfeito é o que mais se aproxima da perfeição.
Desta opinião não comunga Aristóteles, quando afirma que seria melhor não termos nascido, mas que se tal ocorreu, o melhor será morrer quanto antes.
Esta é uma questão que não nos abandona, principalmente em épocas de crise. Na noite escura dos dias, é a interrogação que nos domina ao adormecer, muito em especial quando confrontados com todo o sofrimento que emana deste planeta, fruto da natureza ou das mãos do homem, em regra, criatura vil e mesquinha, carrasca do seu semelhante. E mais nos assoberba, na aproximação de nova catástrofe.
Será que de um Ser absolutamente perfeito poderá nascer algo tão imperfeito como o mundo em que vivemos? Será que um Ser omnipotente permitirá a execução de tantas e tamanhas atrocidades cometidas contra os desvalidos? Será que um Ser omnisciente não conseguiu prever o sofrimento que a sua criação iria causar? Seria esse Ser impotente para conjecturar e dar à luz, um mundo quase perfeito e não o inferno que gerou para a maioria da humanidade?
Leibniz, é mais do que um optimista, é um excelente advogado de Deus. Pena é, que não me conforte e permita adormecer na sua “fé filosófica”.