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ARTE

terça-feira, 2 de novembro de 2021

PADRES DO DESERTO - EVÁGRIO PÔNTICO - OBRAS

 


- ESBOÇO MONÁSTICO QUE ENSINA O MODO DE EXERCER A ASCESE E A HESÍQUIA.


- CAPÍTULOS SOBRE O DISCERNIMENTO DAS PAIXÕES E DOS PENSAMENTOS.


- CAPÍTULOS NÉPTICOS.


- TRATADO DA ORAÇÃO.


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sábado, 30 de outubro de 2021

O PRIMEIRO CATECISMO CRISTÃO

 

O PRIMEIRO CATECISMO CRISTÃO

A DOUTRINA DOS DOZE APÓSTOLOS

DIDAQUÊ





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A Doutrina dos Doze Apóstolos é um catecismo cristão escrito na Palestina ou na Síria em finais do século I, dirigido às comunidades cristãs. 


É um dos documentos mais importantes do Cristianismo primitivo, que se baseou nas fontes escritas existentes – nomeadamente Evangelhos e Epístolas - e provavelmente em fontes orais.

Algumas Igrejas adoptaram-no como se se tratasse de um escrito canónico.


Como primeiro documento utilizado na catequese do século I, o seu texto foi sofrendo alterações, o que se compreende nesta fase da evangelização, à imagem do que aconteceu com muitos outros textos.

O Catecismo está dividido em quatro partes com os seus respectivos capítulos, uns de carácter doutrinário e outros litúrgicos. 




***


CAPÍTULO I

O CAMINHO DA VIDA E O CAMINHO DA MORTE

Amor a Deus e ao próximo

Os dois caminhos: o da vida exige o amor a Deus e ao próximo

Introdução (Didaqué) do Senhor aos gentios


1 - Existem dois caminhos: o caminho da vida e o caminho da morte.


2 - Há uma grande diferença entre os dois.

No caminho da vida deves amar Deus, que te criou e amar o teu próximo como a ti mesmo.

Não faças aos outros aquilo que não queres que te façam a ti.


3 – Esta doutrina é consequência destas palavras: “bendiz aqueles que te amaldiçoam, ora pelos teus inimigos e jejua pelos que te perseguem.” 

Se amas aqueles que te amam, qual é o teu mérito? Os pagãos não fazem também o mesmo? Quanto a ti, ama os que te odeiam e assim não terás nenhum inimigo.


4 – Não te deixes arrastar pelos instintos, pelos prazeres carnais.

Se alguém te esbofetear na face direita, oferece-lhe a outra e assim serás perfeito. 

Se alguém te obriga a acompanhá-lo mil passos, acompanha-o por dois mil. 

Se alguém te tira o manto, dá-lhe também a tua túnica. 

Se alguém se apropriar de algum dos teus bens, não o reclames.


5 – Dá a todo aquele que te pedir, sem que exijas a devolução do que te foi pedido. Pois a vontade do Pai é que os seus bens a todos sejam doados.

Bem-aventurado é o que dá em conformidade com a Lei, pois será considerado inocente. 

Ai daquele que recebe: se pede por necessidade será inocentado; mas se recebeu sem necessidade, prestará contas do motivo e do desígnio. Será posto na prisão e será interrogado sobre o que fez e de lá não sairá até que devolva o último centavo. 


6 – A este propósito também foi ensinado: “que a tua esmola fique a suar nas tuas mãos até que saibas a quem a dar.” 


***


CAPÍTULO II

Deveres para com a vida

Dos deveres para com a vida e a propriedade do próximo


1 – O segundo mandamento da instrução é:


2 – Não mates, não cometas adultério, não corrompas os jovens entregando-te à pederastia, não forniques cometendo adultério, não roubes, não pratiques a magia nem a feitiçaria. 

Não mates a criança que está no seio de sua mãe, nem a mates depois de ter nascido. 


3 – Não cobices os bens alheios, não invejes, não prestes juramento falso, não prestes falso testemunho, não sejas perverso e maledicente, nem vingativo ou rancoroso. 


4 – Não sejas ambíguo. Não sejas dúplice quer no pensamento quer na palavra.

A duplicidade é uma armadilha fatal.


5 – Que a tua palavra não seja proferida em vão. Deves fazer com que as tuas palavras, sérias e sinceras, tenham correspondência nas tuas acções.


6 – Não sejas avarento, nem ladrão, nem hipócrita, nem malicioso, nem soberbo.

Não nutras nem planeies o mal contra o teu próximo. 


7 – Não odeies ninguém. A alguns repreende e por outros reza. Ama os outros mais do que a ti mesmo.


***


CAPÍTULO III

Contra a paixão e a idolatria

Advertências contra a paixão e a idolatria


1 – Filho, procura evitar tudo o que é mau e tudo o que se parece com o mal.


2 – Não sejas rancoroso, porque o ódio conduz à morte. Não sejas ciumento, nem zaragateiro, provocador ou violento, pois o homicídio nasce de todas essas coisas.


3 – Filho, não cobices as mulheres, pois a cobiça leva à fornicação. Evita tudo o que seja obscenidade e o olhar malicioso, pois de tudo isto nascem os adúlteros.


 4 – Filho, não te deixes seduzir pela adivinhação, porque ela conduzir-te-á à idolatria. Não pratiques encantamentos, astrologia ou purificações, nem queiras ver ou ouvir sobre todas estas coisas, pois de tudo isto nasce a idolatria.


5 – Filho, não sejas mentiroso pois a mentira conduz ao roubo. Não persigas o dinheiro, não sejas avarento, nem cobices a fama, porque os roubos nascem destas coisas. 


6 – Filho, não fales demais, pois o muito falar conduzir-te-á à blasfémia. Não sejas insolente, não tenhas ira no teu coração, nem tenhas uma mente perversa, porque as blasfémias nascem destas coisas. 


7 – Sê, antes, manso, pois os mansos possuirão a terra. 


8 – Sê paciente, misericordioso, sem maldade, tranquilo e bondoso. Respeita sempre as boas palavras que escutares. 


9 – Não te louves a ti mesmo, nem te entregues à insolência. Não te juntes com os ricos e poderosos, mas aproxima-te dos justos, dos pobres e dos humildes. 


10 – Aceita tudo o que a vida te dá como uma coisa boa e sabe que nada acontece sem o consentimento de Deus.


***


CAPÍTULO IV

Deveres dos senhores e dos empregados

É melhor dar que receber 

Deveres do senhor e dos escravos


1 – Filho, lembra-te dia e noite do que te anuncia a Palavra de Deus. Honra-o como se fosse o próprio Senhor; pois Ele está presente onde soberania do Senhor é anunciada. 


2 – Procura estar todos os dias na companhia dos homens santos para que encontres forças nas suas palavras. 


3 – Não provoques divisões. Pelo contrário, reconcilia os que lutam entre si. Julga de forma justa e corrige as culpas, sem que faças qualquer distinção entre as pessoas.


4 – Não te demores a procurar sobre o que vai acontecer. O que tiver de acontecer acontecerá.


5 – Não terás as mãos sempre estendidas para receber, quando precisas, retirando-as quando as mesmas mãos devem dar.


6 - Se possuíres bens materiais graças ao trabalho das tuas mãos, dá-o como reparação pelos teus pecados.


7 - Não hesitarás em dar e, dando, não reclamarás murmurando, pois virá o dia em que reconhecerás quem é o verdadeiro dispensador da recompensa.


8 – Não rejeites o indigente. Compartilha tudo com o teu irmão não considerando nada como teu. Se vocês estão unidos nas coisas imortais, tanto mais estarão nas coisas que perecem.


9 – Não te descuides com o teu filho ou com a tua filha. Logo desde a infância deves instruí-los no temor a Deus.


10 - Não darás ordens com rancor ao teu povo ou à tua serva, que aguardam e confiam no mesmo Deus que tu, para que não percam o temor de Deus que está acima de todos. Com efeito, Ele não virá chamar a pessoa segundo a sua aparência, mas chamará os que foram preparados pelo Espírito.


11 – Quanto a vós, servos, obedeçam aos vossos senhores, com respeito e reverência, como à própria imagem de Deus. 


12 – Detesta toda a hipocrisia e tudo aquilo que não agrada ao Senhor. 


13 – Não violes os mandamentos dos Senhor. Guarda tudo o que recebeste: não acrescentes ou retires nada. 


14 – Confessa os teus pecados na assembleia dos fiéis e não comeces a orar estando de má consciência.

Este é o caminho da vida. 


***


CAPÍTULO V

Do caminho da morte


1 – Este é o caminho da morte: primeiro, é mau e cheio de maldições - homicídios, adultérios, paixões, fornicações, roubos, idolatria, práticas de magia, feitiçarias ou bruxarias, rapinas, falsos testemunhos, hipocrisias, falsidades do coração, fraudes, orgulho, maldades, arrogância, avareza, palavras obscenas, ciúmes, insolência, altivez, inveja, vaidade, ostentação e falta de temor de Deus


2 – Neste caminho trilham os perseguidores dos justos, os inimigos da verdade, os amantes da mentira, os ignorantes da justiça, os que não desejam o bem nem o justo julgamento, os que não praticam o bem mas o mal. A doçura, a calma e a paciência estão longe deles. Estes amam as coisas vãs, são ávidos por recompensas, não se compadecem com os pobres, ignoram os perseguidos, não reconhecem o Criador. São assassinos de crianças, corruptores da imagem de Deus, desprezam os desvalidos, oprimem os aflitos, defendem os ricos, julgam injustamente os pobres e, finalmente são pecadores sem fé nem Lei.

Filho, afasta-te deles. 


***


CAPÍTULO VI

Aceita o jugo do Senhor

Perfeito é quem aceita o jugo do Senhor


1 – Vigia para que ninguém te afaste do caminho da instrução, pois quem o faz, ensina coisas que são estranhas a Deus. 


2 – Serás perfeito se conseguires carregar todo o jugo do Senhor. Se isso não for possível, faz o que puderes. 


3 – A respeito da comida, toma para ti o que puderes suportar. Não comas nada do que é sacrificado aos ídolos, pois esse culto é destinado a deuses mortos e não ao Deus Vivo. 


***


CAPÍTULO VII

A CELEBRAÇÃO LITÚRGICA

Instrução sobre o baptismo


1 – Quanto ao baptismo, baptiza em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo em água corrente. 


2 – Se não tiveres água corrente, baptiza noutra água. Se não puderes baptizar com água fria, baptiza com água quente.


3 – Na falta de uma ou de outra, derrama um pouco de água três vezes sobre a cabeça, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.


4 – Antes de baptizar, tanto aquele que baptiza como o que é baptizado, bem como aqueles que puderem, devem observar um jejum. Deves impor ao baptizando um jejum de um ou dois dias. 


***


CAPÍTULO VIII

Sobre o jejum e oração


1 – Os teus jejuns não devem coincidir com os dos hipócritas. Eles jejuam no segundo e no quinto dia da semana. Porém, tu deves jejuar na quarta-feira e na sexta, que é o dia da preparação. 


2 – Não rezes como os hipócritas, mas como o Senhor ordenou no seu Evangelho. Reza assim: "Pai-nosso que estás no céu, santificado seja o teu nome, venha o teu Reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão-nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai as nossas ofensas, assim como também nós perdoamos aos que nos têm ofendido e não nos deixes cair em tentação, mas livrai-nos do mal, porque teu é o poder e a glória para sempre". 


3 – Rezai assim três vezes ao dia. 


***


CAPÍTULO IX

Sobre a celebração da Eucaristia

Instrução sobre a celebração eucarística


1 – No que diz respeito à Eucaristia, celebrai-a da seguinte forma:


2 – Diz primeiro sobre o cálice: Nós te agradecemos, Pai, pela santa vinha do teu servo David, que nos revelaste através do teu servo Jesus. A ti, glória para todo o sempre. 


3 – Depois diz sobre o pão partido: Nós agradecemos-te, Pai, pela vida e pelo conhecimento que nos revelaste através do teu servo Jesus. A ti, glória para todo o sempre.


4 – Da mesma forma como este pão partido havia sido semeado sobre as colinas e depois foi recolhido para se tornar um, assim também seja reunida a tua Igreja desde os confins da terra no teu Reino, porque teu é o poder e a glória, por Jesus Cristo, para sempre. Amém.


5 – Que ninguém coma nem beba da Eucaristia sem antes ter sido baptizado em nome do Senhor, pois sobre isso o Senhor disse: “Não dêem as coisas santas aos cães”. 


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CAPÍTULO X

Acção de graças após a ceia


1 – Depois de saciados, agradece do seguinte modo: 


2 – Nós te agradecemos, Pai santo, pelo teu santo nome que fizeste habitar nos nossos corações e pelo conhecimento, pela fé e imortalidade que nos revelaste através do teu servo Jesus. A ti, glória para todo o sempre.


3 – Tu, Senhor omnipotente, criaste todas as coisas por causa do teu nome e deste aos homens o prazer do alimento e da bebida, para que te agradeçam. A nós, porém, deste uma comida e uma bebida espirituais e uma vida eterna através do teu servo Jesus.


4 - Por tudo te agradecemos, pois és poderoso. A ti, a glória para sempre.


5 – Lembra-te, Senhor, da tua Igreja, livrando-a de todo o mal e aperfeiçoando-a no teu amor. Reúne dos quatro ventos esta Igreja santificada no teu Reino que lhe preparaste, porque teu é o poder e a glória para sempre. 


6 – Que a tua graça venha e este mundo passe. Hosana ao Deus de David. Venha quem é fiel e santo, converta-se e faça penitência aquele que não é santo. Maranatha. Amém.


7 – Deixa que os profetas bendigam a Deus e celebrem a Eucaristia. 


***


CAPÍTULO XI

A VIDA EM COMUNIDADE

Os Apóstolos e os Profetas

Da hospitalidade para com os apóstolos e profetas


1 – Se alguém chegar junto de ti com o ensinamento que até agora foi escrito, acolhei-o.

 

2 – Mas se aquele que ensina é perverso e ensina outras doutrinas que destruam a Palavra, não lhe dês nenhuma atenção. No entanto, se ensina para que a justiça seja estabelecida, e também o conhecimento do Senhor, deves recebê-lo como quem recebe o Senhor.


3 – Já quanto aos apóstolos e profetas, age em conformidade com as normas do Evangelho. 


4 – Todo o apóstolo que vier até ti deve ser recebido como o próprio Senhor. 


5 – Não deve ficar mais do que um dia ou, se necessário, mais outro. Se permanecer três dias é um falso profeta. 


6 – Ao partir, o apóstolo não deve levar nada a não ser o pão necessário para chegar ao lugar onde deve parar. Se pedir dinheiro é um falso profeta. 


7 – Não ponhas à prova nem julgues um profeta, que tudo o que fala é sob inspiração, pois todo pecado será perdoado, mas este não te será perdoado. 


8 – Nem todo aquele que fala inspirado e no espírito é profeta, a não ser que viva como o Senhor. Desse modo reconhecereis o falso e o verdadeiro profeta. 


9 – Todo o profeta que, sob inspiração, manda preparar a mesa não deve comer dela. Caso coma ou queira comer, é um falso profeta. 


10 – Todo o profeta que ensina a verdade, mas não pratica o que ensina é um falso profeta. 


11 – Todo o profeta verdadeiro e reconhecido, que age pelo mistério terreno da Igreja, mas que não ensina a fazer como ele faz não deverá ser julgado por vós; ele será julgado por Deus. Assim fizeram também os antigos profetas. 


12 – Se alguém disser sob inspiração: “Dá-me dinheiro” ou qualquer outro bem, não o escutem. Porém, se pedir para dar a outros necessitados, então que ninguém o julgue.


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CAPÍTULO XII

Hospitalidade com o próximo


1 – Acolhe todo aquele que vier em nome do Senhor. Depois, examina-o para que o possas conhecer, pois tens discernimento para distinguir qual é a direita e qual é a esquerda. 


2 – Se o hóspede estiver de passagem, presta-lhe auxílio na medida das tuas possibilidades. No entanto, ele não deve permanecer contigo mais que dois ou três dias. 


3 – Se tiver uma profissão e se quiser estabelecer contigo, então que trabalhe para se sustentar. 


4 – Porém, se ele não tiver profissão, procede de acordo com a prudência, para que um cristão não viva ociosamente entre vós. 


5 – Se o hóspede não se conformar com a tua decisão de não manter no vosso meio um ocioso é porque se trata de alguém que quer fazer negócio com o cristianismo. Acautelai-vos com tal tipo de gente.


***


CAPÍTULO XIII

Deveres para com os verdadeiros profetas


1 – Todo o profeta verdadeiro que queira estabelecer-se entre vós é digno de alimento. 


2 – Assim também o verdadeiro mestre é digno do seu alimento, como qualquer operário é digno de seu alimento.


3 – Toma os primeiros frutos de todos os produtos da vinha e da eira, dos bois e das ovelhas e dá-os aos profetas, pois eles são os teus sumos-sacerdotes. 


4 – Se não tiveres profetas, dá-o aos pobres. 


5 – Se tu fizeres pão, toma as primícias e dá-as conforme a Lei ordena.


6 – Do mesmo modo, quando abrires uma bilha de vinho ou de óleo, toma a primeira parte e dá-a aos profetas.


7 – Toma uma parte do teu dinheiro, da tua roupa e de todas as tuas posses, e segundo o teu juízo, de modo a que te pareça oportuno, dá-as conforme a Lei. 


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CAPÍTULO XIV

Santificação do domingo pela eucaristia


1 – Reuni-vos no dia do Senhor para partir o pão e celebrai a Eucaristia depois de terdes confessado os vossos pecados, para que o vosso sacrifício seja puro.


2 – O que está desavindo com outro, não pode juntar-se à assembleia até que se reconcilie, de molde a que o vosso sacrifício não seja profanado.

 

3 – Esse é o sacrifício do qual o Senhor disse: “Em todo lugar e em todo o tempo, me seja oferecido um sacrifício puro porque sou um grande rei - diz o Senhor - e o meu nome é admirável entre as nações.” 


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CAPÍTULO XV

Eleição dos bispos e diáconos


1 – Escolham bispos e diáconos dignos do Senhor. Eles devem ser homens dóceis, desprendidos do dinheiro, verazes e firmes, pois também irão exercer para vós o ministério dos profetas e dos mestres. 


2 – Não os desprezes, porque eles têm a mesma dignidade que os profetas e os mestres. 


3 – Repreendei-vos mutuamente uns aos outros, não com ódio, mas na paz, como ensina o Evangelho. E que ninguém fale com todo aquele que ofendeu o próximo, nem oiça uma só palavra sua, até que se tenha arrependido.


4 – Faz as tuas orações, dá as esmolas e pratica as acções da forma que é determinada no Evangelho de Nosso Senhor. 


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CAPÍTULO XVI

O FIM DOS TEMPOS

Da parusia do Senhor


1 – Vigiai sobre a vossa vida. Não deixeis apagar as vossas lâmpadas nem afrouxeis o cinto de vossos rins, mas estai preparados, pois não sabeis a hora em que Nosso Senhor virá.


2 – Reúnam-se com frequência para que, juntos, procurem a salvação das vossas almas; porque de nada lhes servirá os tempos que viveram a fé, se no último momento não vos tiverdes tornado perfeitos. 


3 – Nos últimos dias multiplicar-se-ão os falsos profetas e os corruptores; as ovelhas transformar-se-ão em lobos e o amor em ódio.


4 – Com o aumento da iniquidade, os homens odiar-se-ão, perseguir-se-ão e trair-se-ão mutuamente. Aparecerá o sedutor do mundo como se fosse o filho muito amado de Deus, fazendo milagres e prodígios. A Terra será entregue às suas mãos e cometerá crimes como jamais foram cometidos desde o começo do mundo.


5 – Toda a criatura humana passará pela prova de fogo e muitos, escandalizados, perecerão. No entanto, aqueles que permanecerem firmes na sua fé serão salvos por aquele que os outros amaldiçoam, que é o amaldiçoado.


6 – Aparecerão os sinais da verdade: primeiro o sinal da abertura no céu, depois o sinal do toque da trombeta e, em terceiro lugar, a ressurreição dos mortos.


7 – Sim, a ressurreição, mas não de todos, conforme a palavra das escrituras: “O Senhor virá e todos os santos estarão com ele”. 


8 – Então o mundo assistirá à vinda do Senhor chegando sobre as nuvens do céu.



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José Maria Alves


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sexta-feira, 15 de outubro de 2021

O EXPERIMENTO DA PRISÃO DE STANFORD - PHILIP ZIMBARDO



PRISÃO DE STANFORD






No ano de 1971, dez anos depois da experiência de MILGRAM, o seu amigo da juventude, o psicólogo PHILIP ZIMBARDO, da Universidade de Stanford, dirigiu uma outra experiência, que também se veio a tornar famosa no meio científico.




A PRISÃO DE STANFORD foi uma experiência psicológica determinada a investigar o comportamento humano numa sociedade na qual os indivíduos são definidos apenas pelo grupo a que pertencem.




Zimbardo tinha em mente os estudos e reflexões de Gustave Le Bon relativos ao comportamento de indivíduos pertencentes a um grupo específico, que têm tendência a perder a sua própria identidade, consciência e princípios morais, gerando impulsos colectivos anti-sociais.




Para além deste pensador, Zimbardo ter-se-á inspirado na experiência de Milgram, procurando definir com maior rigor qual a linha e quão ténue pode ser, a que separa o bem do mal.


Os vinte e quatro voluntários escolhidos entre setenta candidatos, acederam a ser divididos em dois grupos de doze. Por um lado os prisioneiros e por outro, os guardas prisionais.

A experiência foi realizada no Verão de 1971, numa prisão simulada, na cave do próprio edifício da Universidade.




Aos prisioneiros foram atribuídos números que foram cosidos nas suas vestes, sendo obrigados a utilizar correntes amarradas nos tornozelos, para que reconhecessem a sua condição.

Aos guardas, a quem não era em caso algum permitida a violência física, foi dito pelo Dr. Zimbardo, que podiam gerar nos prisioneiros sentimentos de tédio e de medo, fazendo-os compreender que iriam ser privados da sua individualidade, ficando afastados de qualquer poder, exercido unicamente pelo “sistema prisional”. 




No entanto, o que deveria ser uma experiência relativamente pacífica transformou-se numa situação em que prisioneiros e guardas assumiram de imediato os seus papéis, e estes cometeram todo o tipo de abusos físicos – sem que existissem verdadeiras agressões – e psicológicos sobre aqueles.


Os resultados foram de tal modo imprevistos e dramáticos, que a experiência teve de ser interrompida antes da sua conclusão.


Uma experiência que devia demorar duas semanas foi dada como finda decorridos que estavam cinco dias, quando Zimbardo compreendeu que a prisão se tinha tornado algo de real e medonho, com um elevado nível de perversidade para os voluntários.




Em poucos dias, os "carcereiros", homens normais, sem quaisquer antecedentes criminais ou registos policiais, tornaram-se extraordinariamente sádicos, usando e abusando do poder exercido sobre os presos, fazendo com que a experiência fosse embargada.

O que aconteceu foi de tal forma chocante, que inspirou três filmes – um alemão de 2001, e dois em Hollywood, em 2010 e 2015 – para além dos muitos artigos de divulgação e científicos, bem como alguns livros.

 

A curta duração da experiência não deixou de demonstrar que indivíduos colocados nas situações ideais podem abusar de forma maligna do seu poder.


A experiência demonstra-nos que a natureza humana não está totalmente sujeita ao livre arbítrio, facto dado como assente por praticamente todos os investigadores e pensadores, mas que a maioria de nós pode ser induzida a praticar actos, alguns dos quais verdadeiras atrocidades e monstruosidades, que pensamos nada terem a ver connosco.




Levada às suas últimas consequências, a conclusão do experimento poderá conduzir-nos à constatação de que todos somos potenciais sádicos ou masoquistas – o que tem obviamente sido muito contestado pela comunidade científica.

Também aqui, como em Milgram, o pensamento individual transforma-se no pensamento do grupo, legitimado por um poder superior organizativo do sistema.


Experimento de Milgram


De qualquer modo gostaria de repetir aqui duas frases de dois pensadores que admiro:

“Somos todos potenciais perversos polimorfos” (Freud).

“A diferença entre nós e os criminosos está mais no que fazemos do que no que somos. Sob algumas circunstâncias, todos os comportamentos são possíveis” (Padre Anthony de Mello).


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Hanna Arendt no seu livro Eichmann em Jerusalém, concluiu que uma pessoa normal, qualquer pessoa normal, poderia ter cometido os piores crimes, o que foi por ela definido como “THE BANALITY OF EVIL”.


Com Milgram e com Zimbardo, talvez possamos entender um pouco melhor a história da humanidade e prever o seu futuro, em função daquilo que realmente somos e nos recusamos a admitir.





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José Maria Alves

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BREVE HISTÓRIA DE QUASE TUDO O QUE ME INTERESSA

 

BREVE HISTÓRIA DE QUASE TUDO 


Hubble – ultra deep field


Conjunto de apontamentos divididos em três partes:


I – ASTRONOMIA E ASTROFÍSICA.


II – ESBOÇO DE UMA HISTÓRIA DO MUNDO.


III – DEUS, ALMA E MORTE NA HISTÓRIA DO PENSAMENTO OCIDENTAL.



DOWNLOAD DO TEXTO EM HOMEOESP



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José Maria Alves

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sexta-feira, 17 de setembro de 2021

A NATUREZA HUMANA - O EXPERIMENTO DE STANLEY MILGRAM

 


DA NATUREZA HUMANA

OU O

EXPERIMENTO DE STANLEY MILGRAM







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A Segunda Guerra Mundial já terminou há mais de 75 anos, mas as suas feridas num século que se esperava pacífico e civilizado não estão de modo nenhum saradas.

Não é apenas a Segunda Guerra Mundial com todas as suas atrocidades e milhões de mortos, a maioria civis, que deixa marcas profundas na sociedade. A história tem sido um desfilar de guerras, genocídios, holocaustos, massacres, fome, escravidão, entre tantos outros males, que continuaram após a mesma – Coreia, Vietname, guerras africanas, Bósnia, Kosovo, Chechénia, Israel, Palestina, Iraque, Afeganistão e muitos outros. 



***





Stanley Milgram era judeu e teve a sua família afectada pelo holocausto. Daí ter sido psicologicamente abalado pelo horrendo extermínio em massa de judeus e pelas terríveis consequências da Segunda Guerra Mundial.

O julgamento de Adolf Eichmann deve tê-lo impulsionado a realizar a célebre experiência que tem o seu nome.

Adolf Eichmann, foi um criminoso de guerra julgado em Israel, em 1961, um dos responsáveis pelo envio de milhões de judeus para campos de concentração e do extermínio em massa no Leste Europeu.

Eichmann terá dito no julgamento:

“É essencial marcar um limite entre os líderes responsáveis e as pessoas, como eu, constrangidas a servir como meros instrumentos nas mãos dos líderes”.

Disse ainda:

“Eu não era um líder responsável e como tal, não me sinto culpado”.




Milgram terá querido investigar as circunstâncias que fazem com que homens normais, chefes de família, crentes praticantes, tenham cometido os crimes mais bárbaros que possamos imaginar. Como é que seres humanos aparentemente normais obedeceram cegamente a líderes “enlouquecidos”.

Até que ponto pode um homem obedecer cegamente a um superior? Eichmann e outros como ele estavam apenas a obedecer a ordens com a consciência de que não eram responsáveis pelos seus crimes?

Milgram queria responder à pergunta:

"Será possível que Eichmann e milhões dos seus cúmplices estivessem apenas a cumprir ordens? Será que os devemos considerar cúmplices a todos?"


Hanna Arendt no seu livro “Eichmann em Jerusalém” descreveu com algum horror o que presenciou no julgamento que ocorreu em 1961. Uma pessoa normal, qualquer pessoa normal, poderia ter cometido os piores crimes, o que foi por ela definido como “the banality of evil”.



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Milgram colocou num jornal um anúncio com a finalidade de encontrar voluntários, mediante uma compensação de 4 dólares e 50 cêntimos, para colaborarem numa experimentação psicológica sobre a memória e a aprendizagem – que não era a verdadeira intenção de Milgram – a ter lugar na Universidade de Yale.

Na primeira experiência participaram 40 homens, com idades entre os 20 e os 50 anos.

Nos anos de 1961 e 1962 conseguiu mais de mil participantes de praticamente todas as classes sociais, nomeadamente pessoal administrativo, operários, professores, enfermeiros, agentes comerciais.


Procedimento -

1 – Marcava o dia e hora para a experimentação.

2 – O convocado encontrava um indivíduo com 47 anos, contabilista, com modos afáveis, que na realidade estava ligado à experiência e ao experimentador e um outro, com 31 anos, vestido com uma bata e que tinha um ar austero, algo duro. 

Quando entrava eram-lhe pagos os US$4.50 contratados.

3 – Era então explicado ao contratado, para justificar e legitimar o que ia acontecer durante as experimentações:

“Que os psicólogos desenvolveram muitas teorias para explicar como é que as pessoas aprendem diferentes matérias. 

Uma das teorias é que as pessoas aprendem as coisas correctamente se forem punidas quando cometem erros. Uma aplicação comum dessa teoria é quando os pais batem nos filhos, se e quando fazem alguma coisa menos correcta. Batendo como forma de punição, fará com que a criança aprenda a memorizar com maior eficácia. Mas, em bom rigor, pouco sabemos sobre os efeitos da punição na aprendizagem por não existirem estudos científicos concludentes – qual deve ser a intensidade do castigo, quem deve aplicar o castigo para que a aprendizagem seja melhorada, entre outros. 

Neste estudo, reunimos vários adultos de diferentes ocupações e idades, e pedimos a alguns deles para serem professores e a outros para que sejam os alunos. Queremos descobrir quais são os efeitos de algumas pessoas sobre as outras, algumas como professores e outras como alunos, e também qual é o efeito da punição na aprendizagem.”

4 – Por tudo o que havia sido explicado era pedido ao convocado e ao que colaborava na experiência, que um fizesse de professor e o outro de aluno.

5 – De seguida era efectuado um sorteio viciado, em que o sujeito real da experiência era sempre designado como professor.

6 – O professor era levado para uma sala contígua e era-lhes indicado o que era necessário preparar para que o aluno recebesse os castigos no caso de errar.

Foi amarrado a uma cadeira e foram-lhe colocados eléctrodos nos pulsos. Explicaram-lhe que o amarraram para que não se mexesse quando recebesse os choques eléctricos e que tinham colocado uma massa de eléctrodos para evitar queimaduras derivadas dos choques.

Para aumentar a credibilidade do experimento, o aluno demonstrava preocupação quanto às descargas eléctricas, fazendo perguntas. Respondiam-lhe que as descargas poderiam ser muito dolorosas, mas que não lhe iriam causar danos nos tecidos corporais e nos órgãos.

7 – O professor era então conduzido para um aparelho gerador de cargas eléctricas numa sala contígua, que não as produzia efectivamente, com 30 interruptores munidos de luzes piloto de cor vermelha. 




Cada interruptor estava identificado com uma etiqueta donde constava a respectiva voltagem (V).

A voltagem começava em 15 e ia aumentando 15 volts em cada um, até atingir os 450 volts.

Em cada quatro interruptores uma inscrição advertia:

DESCARGA LIGEIRA (15 V - 60 V);

DESCARGA MODERADA (75 V - 120 V);

DESCARGA FORTE (135 V - 180 V);

DESCARGA MUITO FORTE (195 V - 240 V);

DESCARGA INTENSA (255 V - 300 V);

DESCARGA EXTREMAMENTE INTENSA (315 V - 360 V);

PERIGO - DESCARGA SEVERA (375 V - 420 V); 

XXX (435 V - 450 V).

8 – Para que não existissem dúvidas quanto ao funcionamento do gerador de corrente, era dada uma descarga de 45 V ao professor – terceiro interruptor; o único que funcionava.




9 – Era-lhe então explicado o que devia fazer.

Devia ler ao aluno uma série de palavras emparceiradas e depois ler-lhe uma outra série, perguntando-lhe tendo em vista quatro opções, qual a palavra que havia sido emparceirada primeiro. 

10 – Por cada resposta errada, o professor accionava uma descarga, começando pelos 15 volts. A voltagem ia aumentando consoante o número de respostas erradas.

Antes de administrar a suposta carga eléctrica, o professor devia anunciar em voz audível ao aluno qual a descarga que iria ser ministrada, tendo assim consciência da potência da mesma.

11 – Se o professor, face às queixas do aluno – industriado para as encenar – perguntava ou fazia tenção de desistir, o experimentador usava quatro frases sequenciais, nos vários momentos do experimento:

- Por favor continue;

- A experiência requer que continue;

- É absolutamente necessário que continue;

- Não tem outra opção; deve continuar.

12 – O professor podia preocupar-se, entre outros, com as feridas que podia causar, com o facto do aluno não querer continuar, ao que o experimentador respondia que a experiência não causava dano nos tecidos e que independentemente da vontade do aluno deveria continuar até que este aprendesse correctamente todas as palavras, pedindo-lhe para continuar, por favor.

Existiam sempre argumentos para que o professor continuasse a infligir descargas ao aluno.

13 – Os protestos e atitudes do aluno – gravados – eram:

- Até 60 V nenhum protesto;

- De 75 V a 105 V – queixas ligeiras;

- 120 V – o aluno começa a gritar e diz que começa a ter dores;

- 135 V – gemidos do tipo dolorosos;

- 150 V a 285 V - grita e diz ao experimentador para o tirar da cadeira a que está amarrado, que não quer continuar com a experiência, que se nega a continuar;

- 180 V – grita dizendo que não pode suportar a dor;

- 270 V – grita como se estivesse num estado de agonia;

- 300 V – o aluno – industriado – diz que não vai dar mais respostas nenhumas. 

O experimentador esclarece o professor de que o silêncio do aluno tem de se considerar um erro na resposta e diz-lhe para continuar com a experiência.

- 315 V – grita com uma extrema violência e diz que não continua com a experiência; 

- 330 V a 450 V – um silêncio total, aterrador, o aluno não responde nem grita.


***


Neste primeiro experimento 62,5% dos professores administrou a voltagem final, “obedecendo” ao experimentador – 450 V. Os restantes atingiram os 300 V.


A partir do primeiro experimento Milgram realizou mais dezassete variantes, cabendo-nos aqui realçar:

No XI permitiu que fosse o próprio professor a escolher a intensidade da descarga. A média foi de 50 V e só uma pessoa administrou a descarga mais alta (450 V).

Pode parecer optimista, mas não destrói ou minimiza os resultados da experiência inicial. O problema centra-se no poder e na obediência na sociedade.


Também perguntou a um grupo de pessoas, depois de lhes explicar a experiência, onde chegariam nas descargas eléctricas. A totalidade afirmou que não chegaria ao final e a descarga média que atingiriam seria de 140 V.




Depois da experiência inicial de Milgram fizeram-se também por todo o mundo réplicas onde se obtiveram resultados semelhantes e nalguns casos mais elevados. Podemos enunciar alguns: 

- Na Itália, em 1968, 85% de grau de obediência;

- EUA, de 1967 até 1976 foram obtidos graus de obediência entre 30% e 91%;

- Na Jordânia, em 1978, 62,5%;

- Em Espanha, em 1980 foi obtido um grau de obediência de 50%;

- Na Áustria, em 1985, 80%.


A maioria dos psicólogos que analisaram a experiência de Milgram reconhece que os procedimentos seguiram métodos científicos e que os seus resultados foram fiáveis e devem ser tomados em consideração nas análises que possam vir a ser feitas.

Mas, tal facto, não inviabilizou um cortejo de críticas com vários fundamentos, principalmente de natureza ética.

Milgram disse suspeitar que a maioria das críticas que lhe eram dirigidas, não visavam a experiência em si, mas os seus resultados. Se os resultados tivessem apontado no sentido expectável de que o norte-americano não obedece a ordens imorais e potencialmente criminosas, não teria sido alvo de qualquer crítica.

E quais eram os resultados expectáveis?

Milgram inquiriu psiquiatras de Nova Iorque que estimaram segundo os seus conhecimentos especializados, que 0.125%, cerca de 1 em 1000 pessoas obedeceriam até ao final da experiência (450 V), 3,73% atingiriam os 300 V e que 50% dos “professores” abandonariam o experimento antes dos 150 V.


As réplicas experimentais realizadas em várias partes do mundo demonstram que o problema – se de problema se trata – é praticamente mundial e não pode ser assumido apenas pelos norte-americanos de Yale.




Quase 50 anos depois da primeira experiência de Milgram, Jerry Burger, pesquisador da Universidade de Santa Clara na Califórnia coordenou uma réplica, que pelos seus pressupostos tem uma importância fundamental na validação dos resultados anteriormente obtidos por Milgram. 

Burger expôs que as taxas de conformidade na replicação eram apenas ligeiramente inferiores às encontradas por Milgram. E, como Milgram, ele não encontrou nenhuma diferença nas taxas de obediência entre homens e mulheres.

Como na actualidade é impossível, por questões éticas, replicar na sua forma original a experiência de Milgram, Burger procedeu a adaptações.

Sempre que atingia os 150 volts parava a experiência para os 29 homens e 41 mulheres da pesquisa.




Quantificou quantos dos voluntários deram outra descarga, depois de receber uma ordem do coordenador, mas em vez de os deixar continuar susteve-os.

Cerca de 70% dos voluntários aceitaram ir além dos 150 volts.

"Foi surpreendente, e fiquei desapontado", afirmou Burger.


Segundo Burger, os que estudaram o trabalho desenvolvido por Milgram, perguntam-se se os resultados seriam totalmente diferentes nos dias de hoje. “Muitos apontam para as lições do Holocausto e argumentam que há uma maior consciência da sociedade sobre os perigos da obediência cega. Mas o que descobri são os mesmos factores situacionais que afectaram a obediência nos experimentos de Milgram que hoje ainda são válidos. “ – escreveu Burger.




Segundo o especialista, a experiência, publicada na revista científica "American Psychologist", explica, ao menos parcialmente, fenómenos como a tortura de prisioneiros pelas tropas de americanos no Iraque ou os eventos da Segunda Guerra Mundial. 

Burger validou os argumentos de Milgram. Efectivamente, se algumas pessoas forem colocadas em determinadas situações, irão agir de modo inesperado e até perturbante.  


O mais importante que ressalta desta experiência é que a responsabilidade dos actos é atribuída a quem exerce ou parece exercer a autoridade e os resultados são imputados ao mero cumprimento de ordens, tal como acontece e aconteceu em períodos de guerra. Por outro lado, o “professor” parece que se limita a responder a estímulos de autoridade sem que reflicta sobre eles, numa espécie de ausência de pensamento próprio.




Um problema de uma situação complexa de poder e de obediência, em que a obediência é muitas vezes cega.

Estamos perante uma pesquisa que terá de ter continuidade, apesar das limitações éticas a novos estudos.

Compreendo que não seja conhecido do grande público, nem que haja qualquer interesse em demonstrar que as conclusões de Milgram estão correctas.


Haverá alguém que queira admitir, que em determinadas situações poderá obedecer a ordens criminosas e potencialmente perversas, tornando-se agente das mais inimagináveis crueldades?




Não estaremos neste preciso momento a ser objecto de possíveis crueldades perpetradas por líderes sem escrúpulos?


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José Maria Alves


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