PRISÃO DE STANFORD
No ano de 1971, dez anos depois da experiência de MILGRAM, o seu amigo da juventude, o psicólogo PHILIP ZIMBARDO, da Universidade de Stanford, dirigiu uma outra experiência, que também se veio a tornar famosa no meio científico.
A PRISÃO DE STANFORD foi uma experiência psicológica determinada a investigar o comportamento humano numa sociedade na qual os indivíduos são definidos apenas pelo grupo a que pertencem.
Zimbardo tinha em mente os estudos e reflexões de Gustave Le Bon relativos ao comportamento de indivíduos pertencentes a um grupo específico, que têm tendência a perder a sua própria identidade, consciência e princípios morais, gerando impulsos colectivos anti-sociais.
Para além deste pensador, Zimbardo ter-se-á inspirado na experiência de Milgram, procurando definir com maior rigor qual a linha e quão ténue pode ser, a que separa o bem do mal.
Os vinte e quatro voluntários escolhidos entre setenta candidatos, acederam a ser divididos em dois grupos de doze. Por um lado os prisioneiros e por outro, os guardas prisionais.
A experiência foi realizada no Verão de 1971, numa prisão simulada, na cave do próprio edifício da Universidade.
Aos prisioneiros foram atribuídos números que foram cosidos nas suas vestes, sendo obrigados a utilizar correntes amarradas nos tornozelos, para que reconhecessem a sua condição.
Aos guardas, a quem não era em caso algum permitida a violência física, foi dito pelo Dr. Zimbardo, que podiam gerar nos prisioneiros sentimentos de tédio e de medo, fazendo-os compreender que iriam ser privados da sua individualidade, ficando afastados de qualquer poder, exercido unicamente pelo “sistema prisional”.
No entanto, o que deveria ser uma experiência relativamente pacífica transformou-se numa situação em que prisioneiros e guardas assumiram de imediato os seus papéis, e estes cometeram todo o tipo de abusos físicos – sem que existissem verdadeiras agressões – e psicológicos sobre aqueles.
Os resultados foram de tal modo imprevistos e dramáticos, que a experiência teve de ser interrompida antes da sua conclusão.
Uma experiência que devia demorar duas semanas foi dada como finda decorridos que estavam cinco dias, quando Zimbardo compreendeu que a prisão se tinha tornado algo de real e medonho, com um elevado nível de perversidade para os voluntários.
Em poucos dias, os "carcereiros", homens normais, sem quaisquer antecedentes criminais ou registos policiais, tornaram-se extraordinariamente sádicos, usando e abusando do poder exercido sobre os presos, fazendo com que a experiência fosse embargada.
O que aconteceu foi de tal forma chocante, que inspirou três filmes – um alemão de 2001, e dois em Hollywood, em 2010 e 2015 – para além dos muitos artigos de divulgação e científicos, bem como alguns livros.
A curta duração da experiência não deixou de demonstrar que indivíduos colocados nas situações ideais podem abusar de forma maligna do seu poder.
A experiência demonstra-nos que a natureza humana não está totalmente sujeita ao livre arbítrio, facto dado como assente por praticamente todos os investigadores e pensadores, mas que a maioria de nós pode ser induzida a praticar actos, alguns dos quais verdadeiras atrocidades e monstruosidades, que pensamos nada terem a ver connosco.
Levada às suas últimas consequências, a conclusão do experimento poderá conduzir-nos à constatação de que todos somos potenciais sádicos ou masoquistas – o que tem obviamente sido muito contestado pela comunidade científica.
Também aqui, como em Milgram, o pensamento individual transforma-se no pensamento do grupo, legitimado por um poder superior organizativo do sistema.
Experimento de Milgram
De qualquer modo gostaria de repetir aqui duas frases de dois pensadores que admiro:
“Somos todos potenciais perversos polimorfos” (Freud).
“A diferença entre nós e os criminosos está mais no que fazemos do que no que somos. Sob algumas circunstâncias, todos os comportamentos são possíveis” (Padre Anthony de Mello).
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Hanna Arendt no seu livro Eichmann em Jerusalém, concluiu que uma pessoa normal, qualquer pessoa normal, poderia ter cometido os piores crimes, o que foi por ela definido como “THE BANALITY OF EVIL”.
Com Milgram e com Zimbardo, talvez possamos entender um pouco melhor a história da humanidade e prever o seu futuro, em função daquilo que realmente somos e nos recusamos a admitir.
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José Maria Alves
https://homeoesp.blogspot.com/
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