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OS TRATAMENTOS SUGERIDOS NÃO DISPENSAM A INTERVENÇÃO DE TERAPEUTA OU MÉDICO ASSISTENTE.

ARTE

sábado, 15 de novembro de 2008

FÁBULAS DE ESOPO VI


LXVI



O LEÃO E OUTROS ANIMAIS

Eleito o Leão rei de todos os animais, prometeu de a nenhum fazer mal. E logo chamando-os a cortes, os pôs por ordem, e corria-os, dando-lhes a cheirar o seu bafo. Os que diziam que lhes cheirava mal, os matava. Os que diziam que bem, feria-os. Andando assim, chegou à Mona, e perguntou-lhe, como a todos, se lhe fedia o bafo. A Mona o cheirou, e dizendo que não fedia, se foi. Porém o leão, para a matar, se fingiu doente, e disse que sararia se a comesse. E por esta manha tomou ocasião de a matar.





LXVII



O VEADO E O CAÇADOR


Bebendo o Veado em uma ribeira, viu nos seus cornos ramos e as pernas delgadas, pareceram-lhe as pernas mal, e ficou pesaroso de as ter, e por outra parte tão satisfeito da formosura dos cornos, que se fez soberbo de contente. Ainda bem não saía da água, quando dá sobre ele um Caçador. Foi-lhe forçado valer-se dos pés, que pouco antes desprezara, e eles o punham em salvo. Mas entrando por um arvoredo basto, embaraçavam-se-lhe os cornos com os ramos das árvores, com que se embaraçou e foi tomado. Pelo que dizia, vendo-se preso e ferido: Grande parvo fui; que o que me era bom desestimei, fazendo muito caso do que me causou a morte.





LXVIII



A BICHA E A LIMA

Buscando a Bicha de comer na tenda de um ferreiro, foi topar com uma lima e quis roê-la, mas como os dentes não entravam pelo aço, dava-lhe muitas voltas virando-a de todas as bandas. Enfadada a Lima de andar aos tombos, lhe disse: Que fazes, parva? Não sabes que sou de ferro, e lima? Por muito que trabalhes desfarás os teus dentes; eu com os meus de aço bem temperado, cortarei dentes e qualquer arma a quem chegar, em pouco tempo.





LXIX



OS CARNEIROS E O CARNICEIRO


Estando juntos uns Carneiros, entrou o Carniceiro, e eles não se alvoroçaram, nem fizeram caso disso. Tomou o Carniceiro um e logo o matou; e nem com ver sangue temeram os outros. Foi por diante e os matou a todos um a um até o derradeiro, que, vendo-se manietado, disse: - Por certo, com razão padecemos, pois vendo o nosso mal não quisemos entendê-lo. No princípio às marradas nos poderíamos defender, vendo que nos matavam, então não quisemos; agora eu só não posso: e assim acabámos todos.





LXX



O LOBO E O ASNO DOENTE

Estava o Asno mal-disposto, e foi o Lobo visitá-lo, fazendo-se muito amigo. Tomou-lhe o pulso, correu-lhe a mão pelo rosto e disse: que queria curá-lo. Estava o Asno quedo, bem desejoso de se ver a cem léguas do Lobo, o qual lhe apalpava os membros todos: perguntou onde lhe doía, e apertava-o e arrepelava-o tanto, que disse o Asno: - Onde quer que me pões a mão, logo aí me dói; mas rogo-te que te vás e não me cures, que ido tu, sararei logo.





LXXI



A PULGA E O CAMELO

Pôs-se uma Pulga sobre um Camelo carregado, e deixou-se ir sobre a carga uma jornada, no fim da qual saltou abaixo, e sacudindo-se, disse: - Folgo em verdade de me descer: porque tinha dó de ti; agora irás leve com pouca carga. O Camelo se riu deste cumprimento e respondeu: - Nunca te senti se te levava em cima, nem tu podes carregar-me nem aliviar-me; que não tens peso para isso. A carga que eu levo, essa sinto. Tu não tens peso para te sentirem.





LXXII



O CAÇADOR E AS AVES

Consertava um pobre Caçador as varas do visco; e as Aves olhando, estavam cantando à sombra das árvores e gabando-o de benfeitor e primoroso. Um pássaro já experimentado lhes disse aos outros: - Fujamos logo todos, porque este que vedes, não quer mais que enviscar-nos e prender-nos. Andemos pelo ar, até ver o que acontece a outra; porque este e todos como ele, quantos de nós houverem às mãos, ou lhes torcem o pescoço, ou lho cortam, e mortos, ou presos nos metem em sua taleiga.





LXXIII



O CERVO E O CAVALO

Pelejaram algumas vezes sobre o pasto, o Cervo e o bom do Cavalo, e porque o Veado com os cornos fez sempre fugir o Cavalo, foi-se a um homem e disse-lhe: - Põe-me um freio, uma sela e sobe sobre mim, e matarás um Veado que aqui anda. Fê-lo o homem assim. E morto o Veado, quis o Cavalo que se apeasse; mas o homem acolheu-se à posse e o Cavalo ficou sempre sujeito ao freio e sela, e a andar debaixo.





LXXIV



O BUITRE E MAIS PÁSSAROS

O Buitre convidou a banquete todas as outras aves, dizendo que queria solenizar o seu natal. Vieram muitas delas e recolhendo-as todas em um aposento, depois que foram horas de cear, como todas estivessem assentadas esperando, vem o Buitre e cerra as portas, e começa a matá-las a uma e uma. Todas com medo avoejavam, por não haver alguma que se atrevesse com ele. E enfim ele sem piedade as matou, porque para isso as convidou ou ao menos para as pilhar.





LXXV



A RAPOSA E O LEÃO

Fingindo-se o Leão enfermo, visitavam-no os outros animais; e de quantos entravam na cova, nenhum deixava sair. Eles obedeciam como a rei, mas o Leão a um e um os comia todos. Por derradeiro chegou a Raposa à porta da cova e perguntou-lhe: - como estava? Respondeu o Leão, - porque não entrava a vê-lo? Respondeu a Raposa – que não era necessário, que devia estar a casa cheia de gente; que ela via muitas pegadas dos que entravam, e nenhuma de que saíssem para fora.





LXXVI



O CARNEIRO GRANDE E OS PEQUENOS

Três Carneiros moços e um marroço andavam passando. Saiu o velho correndo e fugindo. Os outros estavam pasmados, sem saber a causa, e como não entendiam seu perigo, riam-se do medo, e fugida do marroço, o qual vendo-os escarnecer-lhes, disse: - Vós sois loucos e ignorantes; não vedes que quando vem o carniceiro sempre mata os maiores? Eu por isso fujo. Mas quando ele vier e vos matar, pesar-vos-á de terdes escarnecido e esperado.





LXXVII



O LEÃO E O HOMEM

O Homem com o Leão altercavam sobre qual era mais valente. O Homem, para provar sua tenção, o levou a um sepulcro, onde estava de pedra um homem afogando um Leão, que tinha debaixo de si. O Leão se riu, de ver isto, dizendo: - Se não fora homem o que isto aqui pôs, pudera ter algum crédito, mas sendo homem é suspeito. Portanto, deixemos pinturas e provemos isto pelo braço. E logo isto dito estendeu o Homem no chão, e o matou com muita facilidade.






FÁBULAS DE ESOPO, VERTIDAS DO GREGO POR MANUEL MENDES, DA VIDIGUEIRA



JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org/

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