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ARTE

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A JUSTIÇA DE ABU SAAID



Caminhava numa rua movimentada
Um Sufi vestido com o manto de lã característico da Ordem.
Passou por ele um cachorro que sujo de lama e lodo
Lho manchou.
Sem delongas, castigou-o de bengala, com tanta severidade
Que muito o aleijou.
O pobre animal prostrou-se uivando de dor
Aos pés do sábio Abu Saaid, pedindo justiça pelo dano.
O sábio buscou o Sufi e disse:
- Como é que tu, criatura de Alá, te permitiste tal feito?
Fazer tamanho mal a este pobre cão?
- Perdoai-me sábio, mas não tenho a menor culpa.
Se lhe bati, não me tivesse manchado o manto
E o incidente não ocorreria – respondeu.
De tanta indignidade se indignou o sábio
Enquanto o ofendido jazia gemendo.

O sábio perguntou então ao cão qual o castigo adequado
Para o grosseiro homem, para o Sufi.
- Ouve-me sábio – disse o cão –, vendo-o assim,
Com o manto sufi, nele confiei julgando-o santo.
Jamais imaginei que me provocasse tanto pesar.
Se o não tivesse vestido tudo faria para o evitar.
E aí errei.
Mas se o queres castigar retira-lhe as vestes
Que dos justos são, por direito e valência,
Para que mais nenhum incauto seja ludibriado
Pela sua aparência.


JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org

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