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ARTE

domingo, 16 de novembro de 2008

A MORTE RACIONAL DE NASRUDIN


Certo dia filosofava Nasruddin consigo mesmo, em voz alta:
"Vida e Morte... Quem sabe o que serão?"
A mulher de Nasruddin encontrava-se num aposento contíguo e não conseguiu deixar de sorrir, exclamando:
"Homens, meu Deus, homens, todos parecidos, quase iguais, sem a menor réstia de espírito prático."
Qualquer um tem consciência de que quando os membros do corpo ficam frios e rijos, é sinal que o ser humano morreu.

Nasruddin ficou boquiaberto. Como era prática a sua esposa.

Os tempos passaram, e num dia de Inverno enquanto ia de um povoado para outro, tendo de percorrer algumas penosas milhas, num caminho atapetado de neve, sentiu as mãos e os pés ficarem completamente gelados e os membros a enrijecerem progressivamente.
Rememorando as sábias palavras da companheira, pensou:
“Estou morto. E estando morto não posso caminhar. Os mortos não caminham nem se mexem, ficam deitados e imóveis.”
De imediato, deitou-se imóvel em cima da neve, ficando cada vez mais gelado, mas sem que se mexesse, comportando-se como um morto.

Decorridas algumas horas, passaram no caminho dois viajantes que o encontraram estendido na neve.
Depois de o observarem, começaram a discutir se estaria vivo ou morto. Nasruddin quis dizer-lhes que estava morto, mas os mortos nunca falam. Assim, manteve-se calado e imóvel.
Os viajantes já plenamente convencidos do decesso de Nasruddin, levantaram-no e lá o foram carregando a muito custo para o cemitério mais próximo, até que encontraram uma encruzilhada sem que acordassem no caminho a seguir.

Um queria ir pelo da direita, enquanto que o outro pelo da esquerda, e assim se quedaram em acesa discussão.
Nasruddin exasperava e não se conteve:
"Ouçam meus bons amigos, a estrada pela qual me deveis conduzir ao cemitério é a da esquerda. É certo e sabido que os mortos não falam, por isso prometo-vos solenemente que só agora o faço e não o tornarei a repetir."

JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org

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