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ARTE

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A (IN)UTILIDADE DA METAFÍSICA II






René Descartes nasceu em Haia em 1596. Trabalhava escassas horas e lia pouco. A sua obra terá sido realizada em curtos períodos, de elevada concentração.

Das suas obras, realçamos aqui o Discurso do Método e as Meditações Metafísicas, estudo que nos orientará, ainda que de forma pouco organizada, nas nossas especulações.

As Meditações Metafísicas (a respeito da filosofia primeira nas quais a existência de Deus e a distinção real entre a alma e o corpo do homem são demonstráveis)constituem-se como verdadeira obra prima, que deve ser lida, tal como se nos apresenta, já que o filósofo intentou apoiar-se apenas em si próprio – sem pretensamente recorrer a influências externas – para atingir a verdade.
Divide-se em seis meditações:
- A primeira trata da dúvida;
- A segunda conduz o filósofo à certeza do que é, do que existe;
- Pela terceira, demonstra a existência de Deus;
- A quarta, demonstra como somos responsáveis pelos nossos erros;
- A quinta, demonstra também a existência de Deus – argumento ontológico; e
- A sexta trata da questão atinente aos objectos exteriores.


É com Descartes que se inicia com plenitude a Idade Moderna. Busca o conhecimento que brota de si mesmo e das inúmeras experiências que o mundo lhe proporciona.

A investigação de Descartes é dominada pelo próprio homem Descartes, tal como Montaigne já havia feito. Há nele um verdadeiro procedimento autobiográfico. Não pretende doutrinar o seu método de direcção da razão, mas apenas demonstrar como o fez. O seu problema fundamental, prende-se com a recta razão, com a sabedoria de vida. Mas, quer queiramos quer não, na sociedade humana, existe o que podemos denominar de unidade da razão, e o seu método de individual passa a ser geral. A distinção entre o verdadeiro e o falso é igual em todos os homens, desde que o bom senso impere nas suas mentes.

O seu método, considerou fecundamente o processo matemático, devendo ter um espectro universal e a sua aplicabilidade nos mais variados ramos do conhecimento. Definiu-o como o conjunto de normas, que impossibilitam confundir falso e verdadeiro, e são idóneas na condução do ser humano ao conhecimento possível – já que nem tudo é objecto de conhecimento.


O Discurso do Método estabelece quatro regras absolutamente essenciais:
- A evidência – para aceitarmos alguma coisa por verdadeira, não podemos ter qualquer dúvida sobre a sua veracidade. À evidência opõe-se a conjectura, que é no essencial, dúvida, mesmo que temporária. A evidência é atingida por intermédio da intuição, aqui entendida como um conceito da mente, que no estado de pureza e de atenção, não é atingida por qualquer dúvida objecto do pensamento;
- A análise – as questões devem ser observadas no maior número de partes possível, simplificando-as, para que a razão possa ter um entendimento mais perfeito;
- A síntese – conduzir a investigação do mais simples para o mais complexo, é regra de ouro;
- A enumeração – o investigador deve realizar enumerações exaustivas e revisões gerais, de molde a que tenha a convicção de nada ter omitido.

Descartes duvida do conhecimento sensível – a dúvida é um conceito universal, neste particular. Posso, em boa verdade, de tudo duvidar. De Deus, dos astros, do meu próprio corpo, mas não posso duvidar de que o meu pensamento – independentemente de ter sido ou não induzido em erro – é um nada, tal como um nada é a coisa que o pensa. Deste modo, a única proposição absolutamente verdadeira, é o “penso, logo existo”. Eu existo, significa apenas que eu sou uma “coisa” pensante – não posso, no entanto, afirmar que se trate de um corpo.

Deus visto como infinito, eterno, criador, omnipotente e omnisciente, não pode ter sido idealizado por um ser que não comunga de tal perfeição. A causa de ideia de um Ser com tais atributos, só pode ser fruto de um Ser idêntico e não do homem Descartes, que considera que a simples presença na sua mente da ideia de Deus, demonstra cabalmente a sua existência. Dele, temos uma ideia inata, como Ser sumamente perfeito, um ser que existe por si, é uno, e é uma poderosa e infinita fonte de existência. Esta ideia, é tal como a marca do artífice realizada na sua obra.

Diz-se que o conceito cartesiano de Deus, de religioso nada tem. Pascal acusa-o do seu Deus nada ter a ver com o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob, com o Deus do cristianismo. Mas, o Deus de Descartes não será o Deus cristão? Ter-se-á realmente o filósofo libertado dos seus condicionamentos, nomeadamente de uma esmerada educação religiosa e das doutrinas expendidas pelos filósofos cristãos que o precederam? – Temos dúvidas, assim como duvidamos à partida da nossa capacidade de o fazer. Quer queiramos, quer não, vivemos sobre “os ossos” dos nossos antepassados.


(continua)


JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org

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