Antes de analisarmos a situação da Europa – ainda que muito sinteticamente – e em especial de Portugal, cumpre-nos fazer uma triste digressão.
E faço-o porque me sinto antes do mais um Cidadão do Mundo.
Este é um MUNDO GLOBALMENTE IMORAL onde a justiça social é uma verdadeira ficção. Os pobres são cada vez mais pobres e os ricos estão cada vez mais ricos.
Nos países em vias de desenvolvimento enriquecem governantes, comerciantes e industriais desonestos, para além de outros criminosos e parasitas que se aproveitam da conivência das autoridades. Grassam os corruptos e os ladrões de “colarinho branco”, enquanto o povo subnutrido vai morrendo lentamente por via de carências alimentares e dos mais elementares cuidados de saúde. O “desenvolvimento” aproveita a uma minoria de políticos e poderosos, tais suínos em período de invernada.
Com as devidas adaptações, o panorama não é muito diferente nas nações do “Segundo Mundo B”, como ironicamente as apelido e nas quais incluo a nossa pobre pátria.
Tanto embuste nos adereços e adornos, no espavento e esplendor da ostentação, que apenas serve o intuito lastimável de esconder a mesquinhez e hipocrisia de quem quer aparecer aos olhos do mundo como decente e honesto e é fundamentalmente grosseiro e vicioso, corrupto, imoral e manhoso.
Há uma alienação generalizada. Falamos de paz, caridade, humildade e multiplicamos as guerras, a ambição, o desejo de poder e a necessidade de prestígio. Dizemo-nos solidários e vamos aperfeiçoando o armamento enquanto milhões morrem por carência dos bens mais elementares. Dizemo-nos desapegados e reacendemos a luta pelos bens materiais minuto a minuto.
Os políticos com as suas gravatas brilhantes, bolsos repletos de influências e patrimónios usurpados, prometem uma sociedade mais justa sem fome e miséria. As suas coniventes damas envergando roupagens de valor avultado, com exuberantes colares e pulseiras angariam fundos para os desfavorecidos. Tantas lágrimas vertidas, tantas palavras derramadas e gestos de pseudo caridade ensaiados em benefício da autocompaixão.
A pobreza é uma realidade que ninguém parece querer assumir. Até os próprios pobres bastas vezes a escondem, enquanto os dirigentes das nações ensaiam discursos prometedores, usando e abusando da palavra “esperança”, da tal “luz ao fundo do túnel” que ninguém vê, a menos que seja alienado, alucinado ou esteja embriagado.
Pobreza é ter fome. Fome de pão para nos alimentarmos convenientemente e não fome da “sobremesa alheia”, como diria Pessoa.
Pobreza é não ter um tecto que nos abrigue ou um abrigo sem condições por onde tudo pode entrar, seja o frio seja a chuva, seja a dor seja a enfermidade.
Pobreza é ter uma doença e não poder ir ao médico. Pobreza é não poder comprar medicamentos.
Pobreza é não ter emprego e viver de pequenos subsídios, esmolas encarapuçadas de compaixão.
Pobreza é ter medo de perder o pouco que se tem e temer sem nada ficar.
Pobreza é não ir à escola para trabalhar ou porque nem posses se tem para comprar livros. Pobreza é ser-se analfabeto.
Pobreza é a ignorância e o mau exemplo com que o Estado programa os seus “filhos”.
Pobreza é a incapacidade dos que sofrem, física ou psicologicamente, para reagirem às condições adversas que os assolam.
Pobreza é morrer na solidão.
Pobreza é a falta de liberdade e de livre determinação.
Digo-vos:
A CADA 2 SEGUNDOS HÁ UM SER HUMANO QUE MORRE À FOME
E os nossos corações são de pedra
e as nossas barrigas estão fartas
e temos o nosso umbigo
e temos uma falsa verdade
e temos nas palavras a falsidade.
Os países ricos fingem e alardeiam o seu auxílio. As suas ajudas são uma verdadeira gota de água no oceano. Fingem e fingem, porque quando a nossa barriga está cheia, pouco nos importa a barriga dos outros e acreditamo-nos por conveniência em tudo o que nos dizem. Isso faz-nos sentir mais compassivos. E eles sabem bem como é conveniente acreditar... Sabem bem como é acomodado ignorar... Foram ensinados a enganar.
E alguns “missionários da desgraça” mandam-nos morder a língua.
A pobreza não está a diminuir. A pobreza aumenta. A pobreza vai continuar a aumentar.
A triste realidade é que por via da POBREZA morrem todos os dias no mundo milhares de pessoas e 11 milhões de crianças morrem por ano antes dos 5 anos de idade como consequência dos seus efeitos devastadores.
Nos finais do século XX metade da população mundial – cerca de 3 mil milhões de pessoas – vivia numa pobreza quase absoluta e degradante e 1,3 mil milhões não tinha acesso aos cuidados médicos mais básicos.
A população mundial já ultrapassou os 7 mil milhões, com cerca de 98% do aumento a registar-se nas regiões pouco desenvolvidas, panorama que se pode transformar em algo assustador. A pobreza continuará a aumentar, bem como a carência dos mais básicos cuidados de saúde, malgrado as palavras de políticos e altos dirigentes, tão imbuídas de esperança quanto de falsidade e hipocrisia.
PORTUGAL, dos países da União Europeia é um dos mais pobres.
Aqui os critérios de pobreza são completamente diferentes dos utilizados para o Terceiro Mundo. Mas a diferença não justifica os riscos e o sofrimento que causa. Um em cada quatro portugueses vive uma situação de pobreza desesperada.
Atente-se, que ainda temos concelhos onde o rendimento é extraordinariamente baixo, como Fornos de Algodres e Pampilhosa da Serra.
E continuará a ser e a pobreza continuará a aumentar.
Em verdade, para além de uma verdadeira pobreza a que já nos referimos supra e que toda a gente vê, existe uma outra, bem dolorosa, que tem vergonha de si mesma. Esta, com a qual todos os dias convivemos – infelizmente também convivemos com a outra –, entristece-nos. E deveria entristecer todos os que com ela convivem e mais não fazem do que olhar para o próprio umbigo.
Pobreza também é comprar carne para o cão, quando cão se não tem e peixe para o gato, quando o único que há no prédio é o da vizinha, que se passeia gordo e anafado.
Pobreza é dizer-se «Bom dia, está tudo assim como assim...» ou «vai-se andando...», quando em casa faltam os bens essenciais, o merceeiro e o talhante já não fiam e os bancos se preparam para penhorar as casas, que ainda estão por pagar e nem os medicamentos se conseguem comprar.
E essa Pobreza que já nos bateu à porta, senta-se às nossas mesas e parece que nenhum governante a quer ver.
Estamos a passar por uma das piores crises que Portugal conheceu.
“E a procissão ainda vai no adro”.
Ou será que ainda nem sequer saiu as portas da igreja?
Trata-se de uma crise económica, política e ética, que já se fazia adivinhar no ano de 1995 e que foi acelerada pela crise mundial de 2008.
A partir de finais da Segunda Guerra Mundial e até 1975 os Estados europeus conheceram anos de oiro – os “30 Gloriosos Anos”.Alguns dos factores:
- Investimentos orientados para a inevitável recuperação da destruição massiva provocada pela Segunda Guerra Mundial;
- Taxas de juro baixas;
- Lucros elevados;
- Mão de obra barata;
- Matérias-primas de baixo custo;
- Exploração em múltiplas vertentes dos impérios coloniais.
A partir de 1975 as circunstâncias alteram-se – v.g. salários mais elevados e taxas de juro em crescendo, com todas as consequências que daí adviriam.Os investidores, ávidos de lucro, encontram na Ásia as condições propícias à valorização do capital, contrariamente ao que ocorria numa Europa em desaceleração. A “industrialização” mudava de residência e Portugal cujo crescimento económico atingiu os seus maiores valores nos anos 60 não estava imune.
E, as perspectivas de futuro estão enegrecidas pela irresponsabilidade e incompetência dos “políticos profissionais” – um político profissional é um profissional, que em regra nada mais sabe fazer, incluindo a própria política...A União Europeia no que toca à produção mundial continuará fatalmente a baixar os seus níveis:
Em
- 2000 – 23%;
- 2020 – 21%;
- 2050 – 12%.
Imagine-se.
Neste quadro, continuaremos a aceitar as mentiras oportunísticas dos políticos, que apenas pretendem resguardar as suas regalias e mordomias? As vantagens decorrentes dos actos eleitorais? As inveracidades conscientes e voluntárias dos programas, dos discursos e dos “beijos” distribuídos indiscriminadamente por feiras e arraiais nas campanhas eleitorais? Políticos que são cada vez mais oriundos das denominadas juventudes partidárias, más escolas da difícil ciência e arte de governar.
Talvez.
Como refere Medina Carreira, o “Partido do Estado” é composto por cerca de 6 milhões de cidadãos. Entre eles, funcionários, aposentados, jubilados, pensionistas, titulares do Fundo de Desemprego, do Rendimento Mínimo de Inserção e pessoas deles dependentes.
Uma economia que mirra e despesas públicas em regime de “engorda intensiva”, a que acresce uma desconfiança generalizada dos mercados quanto à competência dos nossos políticos para implementarem reformas estruturais, que permitam aumentar a competitividade, o emprego e o crescimento da economia está fatalmente votada ao fracasso.
O problema da economia portuguesa é um problema de competitividade e não de cumprimento de políticas de austeridade, consubstanciadas em somas e subtracções, operações aritméticas familiares a meros “cobradores de impostos”.
Tanto bastaria para explicar em termos simplistas a crise e a dificuldade de obtermos financiamentos externos em condições favoráveis.
Comparando a evolução do PIB e da despesa pública corrente primária (despesa sem juros) nas últimas quatro décadas, verificamos sem mais, que a análise atempada dos valores que nos eram fornecidos, quer por organismos estatais quer por instituições nacionais ou internacionais, decretariam a falência técnica do país.
A partir de 1986, depois da nossa integração na CEE, pouco ou nada foi feito para que nos tornássemos mais competitivos.
A Europa industrializada, culta, competitiva e motivada psicologicamente ao enriquecimento exigia-o.
Por outro lado perdemos um conjunto de poderes, como a possibilidade de desvalorizar a moeda.
O ESTADO SOCIAL
Como eu gostaria de vos poder afirmar que o Estado Social não tem a sua morte anunciada. Mas seria mais um mentiroso neste país de farsas. Talvez ninguém o notasse de tão habituados ao embuste dos políticos que o apregoam, garantem e quando no poder, passam a padecer de amnésia selectiva.
O Estado Social é no fundo o baluarte de combate à pobreza e a protecção dos cidadãos das múltiplas “patologias sociais”.
É defendido com garras postiças pelos partidos daquele hemiciclo bolorento e adormecido. Se deixar de existir ou de ser veementemente prometido, comprometerá o voto dos eleitores do denominado “Partido do Estado”.
Nenhum partido, nenhum candidato assume o que há muito é conhecido: o Estado Social está a caminho da urna em coval demarcado.
Sejamos sérios e realistas, preparando os nossos filhos e netos para a terrível herança que os perseguirá por décadas.
Não, não é um ano, nem dois, nem uma década, são décadas, Senhor Ministro da Economia. Pura aritmética de escola primária.
Com Bismarck em finais do século XIX surge pela primeira vez um verdadeiro sistema de protecção social. Mas foi necessário aguardar algumas décadas, no pós-guerra (Segunda Guerra Mundial), para que em condições favoráveis de industrialização de que já falámos quando nos referimos aos “30 Gloriosos Anos”, surgisse o Estado Social, com modelos extremamente elaborados, principalmente nos países nórdicos.
Esses factores, nomeadamente o crescimento económico, deixaram de existir. Também já o vimos.
Nesta perspectiva, a sua insustentabilidade pode ser facilmente reconhecida, até porque as despesas com pessoal, aposentados, prestações sociais, saúde e educação não são comportáveis por limitados orçamentos.
As despesas fixas do Estado com os seus funcionários e com os titulares de prestações sociais – os tais 6 milhões de que já falámos em momento anterior –, correspondiam a 80% das receitas fiscais no ano de 1995, enquanto em 2010 já absorviam 96%.
Caso se projecte para o ano de 2020, tendo por fundamento os valores económicos de 2000-2010, iríamos deparar-nos com uma conjuntura inexequível. As despesas sociais (Educação, Saúde, Segurança Social e Caixa Geral de Aposentações) consumiriam na íntegra as receitas dos impostos. Hoje existem quatro cidadãos activos para um idoso. Mas em 2050 serão menos de dois activos para um idoso.
O Estado Social agoniza e a mezinha aplicada é meramente paliativa, porque não agimos atempadamente, como o fizeram Estados avisados, como a Finlândia, Suécia, Dinamarca e Holanda.
Nem para seguir os bons exemplos servimos, senhores políticos...
A DÍVIDA PÚBLICA atingiu níveis absolutamente injustificáveis – é a mais pesada dos últimos 150 anos.Entre 1995 e 2008, cresceu de 7 para 97% do PIB (OCDE).
Deparamo-nos com uma gigantesca dívida externa, que apenas teve paralelo em 1892 quando Portugal teve de declarar a sua falência, aquilo que denominamos comumente bancarrota.
Entre o ano 2000 e o ano de 2010 a dívida externa de Portugal passou de 44 mil milhões de euros, o que equivalia a 38% do PIB, para 185 mil milhões, ou seja, 109% do PIB.
Esta dívida com juros incomportáveis irá penalizar os portugueses durante décadas.
Em 30 de Janeiro do corrente ano, os juros bateram todos os recordes (juros do mercado):
a 3 anos – 24,4%;
a 5 anos – 20,376%; e a
10 anos - 15,501%.
O DESEMPREGO em Portugal é alarmante. Dispensa comentários.
Vejamos ainda que sucintamente a sua evolução –
2000 – 3,9%
2004 – 6,7%
2008 – 7,6%
Em Dezembro de 2011 – 13,6% - em cada 3 desempregados 1 tem menos de 25 anos.É a 4.ª taxa mais elevada da Zona Euro, sendo apenas superada pela Espanha, Grécia e Irlanda.
A taxa mais elevada dos últimos 80 anos.
Uma nova emigração. Triste facto para quem já assistiu nos anos 60 de “lágrimas nos olhos” à partida das suas gentes para Terras de França.
E há quem incite os jovens a emigrar.
Nem o Dr. Salazar o fez. E Salazar já não governa, mas o Secretário de Estado ainda está no Governo..., assim como quem manda os professores para Angola – logo para Angola, uma verdadeira Escola de Ética...
A lentidão da JUSTIÇA equivale na maior parte dos casos à sua denegação.
É inoperante e está descredibilizada.
Por si só afasta todos os empresários qualificados e investimentos sérios. Ninguém no seu perfeito estado mental aceita que os seus créditos se arrastem pelos tribunais durante anos, até que um dia, um qualquer dia, venha uma sentença executar o inexecutável por insolvência dos devedores.
A EDUCAÇÃO é uma lástima.
“No ano 2000, éramos um dos países da OCDE com maior percentagem de impreparados na população activa: 80% para Portugal e 82% para a Turquia – apenas 16% para a República Checa.”
“No entanto, na UE Portugal estava no 6.º lugar no que toca às despesas da educação, sendo o menos realizador da UE/15.” (Medina Carreira)
Enfim...
Na SAÚDE, já no ano de 2000, a detentora da respectiva pasta, que com uma honestidade pouco usual declarou que estávamos perante uma verdadeira “vergonha”.
Com todas as restrições aos exames complementares de diagnóstico, aumento de taxas, encerramento de serviços, desmotivação e impreparação do pessoal médico e auxiliar, preços dos medicamentos, julgamos que ao invés de franchisings de pastéis de nata e frangos assados, teremos de optar pelos Funerais a Preço Económico e pelos Crematórios Populares, estes últimos justificados pela necessidade de não onerar as autarquias com os custos decorrentes do inevitável aumento dos cemitérios...
Analisemos ainda que sumariamente o tão discutido CRESCIMENTO ECONÓMICO
Taxas de crescimento médio anual:
1960-1970 – 7,5%
1970-1980 – 4,5%
1980-1990 – 3,2%
1990-2000 – 2,7%
2000-2010 – 0,68%
Temos no presente o índice mais baixo de crescimento económico dos últimos 100 anos.
Não fomos e parece que não seremos capazes de nos próximos tempos promover o crescimento económico, enquanto as despesas públicas diminuem à custa de perversas medidas de austeridade.
CRISE DE VALORES
Uma corrupção generalizada amparada pelo reino político, num apartamento deliberado de desígnios sérios para a atacar com a eficiência necessária.
A corrupção, o compadrio e o aproveitamento próprio são as regras desta sociedade falida, que se apregoa moralista e justa, mas é imoral, degradada e injusta. Aplaudem-se delinquentes na praça pública, exaltam-se corruptos e assassinos, a quem se prestam homenagens vigorosas. É de todo normal, louvável e em última instância justificável, que chefes de estado de países ditos democráticos e desenvolvidos, recebam com pompa e circunstância, outros altos dirigentes, verdadeiros homicidas e ladrões enriquecidos à custa da miséria, da fome e ausência de todos os cuidados primários das populações que governam, usufruindo ainda frequentemente dos dividendos por eles ilegitimamente obtidos em festas, comemorações e recepções repugnantes. E ninguém tem a coragem de os tratar pelo seu verdadeiro nome: criminosos da humanidade. E não se diga que tais actos se justificam pela obtenção de mais-valias financeiras ou de incontornáveis exigências de deficiente crescimento económico. Nenhum homem de bem recebe em sua "casa" ou visita dirigentes políticos de Estados desumanamente totalitários, onde se pratica uma "novíssima escravatura" ou existe uma apropriação delituosa da riqueza pela classe dominante, enquanto a população morre pela fome e pela doença.
A tudo isto acresce uma comunicação social de fundo cor de rosa onde proliferam concursos abomináveis, novelas e futebol, endeusando temporariamente protagonistas de barro grosseiro e oco.
O FACTOR EMOCIONAL – Motivação e Confiança
Os economistas têm de aprender a lidar com uma nova variável nas suas equações e demais cálculos.
Denomino-a FACTOR EMOCIONAL. Apresenta duas faces complementares, demasiadamente importantes para que sejam olvidadas em sede de crescimento económico, aqui analisado no seu sentido mais lato:
- MOTIVAÇÃO; e,
- CONFIANÇA.
Este factor emocional enforma e é enformado por alguns dos que temos vindo a enunciar.
A resposta de cada um de nós a um determinado estímulo é determinada pelo carácter, personalidade e pelo meio envolvente. A resposta de um povo é o somatório corrigido por novas variáveis, das respostas individuais.
As respostas aos estímulos exteriores desfavoráveis dos diferentes povos são diversas qualitativa e quantitativamente. As do povo japonês, alemão, finlandês, italiano, grego ou português são obviamente distintas.
Se bem atentarmos, a produtividade depende muito deste factor.
MOTIVAÇÃO E CONFIANÇA
O povo português está depauperado. Descrente nos políticos e nas suas instituições, nos magistrados e na justiça, nas autoridades e na segurança, nos médicos e na saúde, nos professores e no ensino.
Os maus e alguns hediondos exemplos de políticos, ex-políticos, poderosos e seus lacaios, assevera-lhes que quem não herdou ou roubou, se de justo trabalho viver nunca há-de enriquecer.
É sua forte convicção de que jamais irão ter quaisquer oportunidades e que o pão ganho a custo de suor será comido por quem nada faz ou de expedientes vive.
Poderá ser produtivo quem fome e frio passa? Quem não tem o suficiente para sustentar a sua família? Quem se abstém de adquirir medicamentos essenciais? Quem não tem acesso a uma saúde eficiente? Quem é injustiçado? Quem assiste ao desmoronar dos mais básicos valores éticos de uma sociedade? Quem consome uma comunicação social oportunista, volúvel e fungível? Quem só vê negrume no horizonte?
Um povo deprimido, endividado e empobrecido, sem reacção, sem confiança nos políticos e nos agentes económicos.
Há uma desconfiança generalizada perante uma “fome de dinheiro” onde tudo vale – honrem-se as excepções.Os compromissos não são cumpridos. Palavra e honra são em regra conceitos sem conteúdo. As burlas avolumam-se.
Os próprios empresários, melancólicos, desinteressados e sem esperança, não confiam no Estado, nos trabalhadores.
Os trabalhadores não confiam nos empresários.
Ninguém confia em ninguém.
CONCLUSÃO
Não há luz ao fundo do túnel. Aos portugueses vão ser impostos cada vez mais sacrifícios, mais austeridade que não sabemos quando irá findar, nomeadamente em consequência:
- De juros incomportáveis por via da dívida externa, contraída em estado de desespero, que como já dissemos continuam a bater recordes;
- De um elevado número de funcionários do Poder Central, Local e dos custos globais das empresas públicas e municipais;
- Do envelhecimento da população, com a inevitável liberação de capitais para as pensões e prestações sociais;
- Das obrigações a médio e a longo prazo das Parcerias Público-Privadas;
- Da incapacidade para atrair investimentos, seja pela falta de qualificação da mão de obra seja pelo seu custo não ser competitivo com os países asiáticos e até com os do Leste europeu;
- Da insuficiência das exportações, fruto de uma competitividade inadequada;
- Da falta de motivação dos empresários e dos próprios trabalhadores, tendo inclusivamente em conta o peso dos impostos que sobre eles incide, o que se reflecte entre outros, na produtividade e na perda do poder de compra;
- De um aumento galopante do desemprego;
- De uma justiça e saúde em crescente descrédito;
- Da impreparação da população activa para o desempenho das suas profissões, como consequência de um ensino deficitário, decadente e vergonhoso;
- Da quebra de todos os valores com a disseminação da corrupção, compadrio, aproveitamento próprio e clientelismo político;
- Do inevitável aumento da criminalidade;
- Do efeito espiral e bola de neve de todos estes factores.
ESTAMOS NUM BECO SEM SAÍDA
E não se diga que estamos a ser pessimistas.
- O Governo de Portugal, terá de fazer opções, que não se restrinjam a meras medidas de austeridade de curto prazo, ineficazes e sem repercussão no necessário crescimento económico. Austeridade por austeridade não é remédio; é veneno letal.
Julgamos que também já não poderá contar com novas descobertas, vivendo “encostado” a África, Índia, Japão, Brasil e CEE, como a história o comprova.
Terá de melhorar a produtividade e o investimento, aumentando entre outros, a quota de mercado das exportações, como vem sendo preconizado há bem mais de uma década por alguns economistas e analistas sérios das Finanças Públicas. Terá de gerar emprego.
Terá de melhorar a qualificação dos portugueses.
Na Declaração de 30 de Janeiro do corrente ano da Cimeira da UE refere-se o crescimento e o emprego. Acordámos tarde Senhores ministros...
Mas fundamentalmente, o governo, qualquer governo, tem de explicar aos portugueses o real estado das finanças públicas e a previsível extensão da crise.
Os eleitores têm de ganhar consciência das dificuldades que terão de enfrentar no futuro, que não é de curto prazo.
Com os elementos de que dispomos, a que acresce um Factor Emocional negativo (uma incómoda “invenção” nossa), teremos pela frente 3 décadas de recuperação, pesada factura de Duas Décadas de Oiro Falso.
É óbvio, que muitos há que bem pior do que nós estão – por isso, começámos este artigo com uma breve descrição do estado da pobreza no mundo –, o que não nos deve servir de consolo, já que o nosso desenvolvimento e o desenvolvimento integrado da UE poderia minimizar o sofrimento dos que nada têm.
Os responsáveis políticos têm duas opções:
- Enfrentar a realidade, advertindo e preparando os seus eleitores com verdade; ou
- Continuarem a comportar-se como senhores feudais, pequenos deuses caseiros, tiranos enxertados numa pseudo-democracia iludindo os seus servos da gleba do século XXI.
E como diria o Poeta,
Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência,
Que às vezes fico pensando
Que a burrice é uma ciência!
E faço-o porque me sinto antes do mais um Cidadão do Mundo.
Este é um MUNDO GLOBALMENTE IMORAL onde a justiça social é uma verdadeira ficção. Os pobres são cada vez mais pobres e os ricos estão cada vez mais ricos.
Nos países em vias de desenvolvimento enriquecem governantes, comerciantes e industriais desonestos, para além de outros criminosos e parasitas que se aproveitam da conivência das autoridades. Grassam os corruptos e os ladrões de “colarinho branco”, enquanto o povo subnutrido vai morrendo lentamente por via de carências alimentares e dos mais elementares cuidados de saúde. O “desenvolvimento” aproveita a uma minoria de políticos e poderosos, tais suínos em período de invernada.
Com as devidas adaptações, o panorama não é muito diferente nas nações do “Segundo Mundo B”, como ironicamente as apelido e nas quais incluo a nossa pobre pátria.
Tanto embuste nos adereços e adornos, no espavento e esplendor da ostentação, que apenas serve o intuito lastimável de esconder a mesquinhez e hipocrisia de quem quer aparecer aos olhos do mundo como decente e honesto e é fundamentalmente grosseiro e vicioso, corrupto, imoral e manhoso.
Há uma alienação generalizada. Falamos de paz, caridade, humildade e multiplicamos as guerras, a ambição, o desejo de poder e a necessidade de prestígio. Dizemo-nos solidários e vamos aperfeiçoando o armamento enquanto milhões morrem por carência dos bens mais elementares. Dizemo-nos desapegados e reacendemos a luta pelos bens materiais minuto a minuto.
Os políticos com as suas gravatas brilhantes, bolsos repletos de influências e patrimónios usurpados, prometem uma sociedade mais justa sem fome e miséria. As suas coniventes damas envergando roupagens de valor avultado, com exuberantes colares e pulseiras angariam fundos para os desfavorecidos. Tantas lágrimas vertidas, tantas palavras derramadas e gestos de pseudo caridade ensaiados em benefício da autocompaixão.
A pobreza é uma realidade que ninguém parece querer assumir. Até os próprios pobres bastas vezes a escondem, enquanto os dirigentes das nações ensaiam discursos prometedores, usando e abusando da palavra “esperança”, da tal “luz ao fundo do túnel” que ninguém vê, a menos que seja alienado, alucinado ou esteja embriagado.
Pobreza é ter fome. Fome de pão para nos alimentarmos convenientemente e não fome da “sobremesa alheia”, como diria Pessoa.
Pobreza é não ter um tecto que nos abrigue ou um abrigo sem condições por onde tudo pode entrar, seja o frio seja a chuva, seja a dor seja a enfermidade.
Pobreza é ter uma doença e não poder ir ao médico. Pobreza é não poder comprar medicamentos.
Pobreza é não ter emprego e viver de pequenos subsídios, esmolas encarapuçadas de compaixão.
Pobreza é ter medo de perder o pouco que se tem e temer sem nada ficar.
Pobreza é não ir à escola para trabalhar ou porque nem posses se tem para comprar livros. Pobreza é ser-se analfabeto.
Pobreza é a ignorância e o mau exemplo com que o Estado programa os seus “filhos”.
Pobreza é a incapacidade dos que sofrem, física ou psicologicamente, para reagirem às condições adversas que os assolam.
Pobreza é morrer na solidão.
Pobreza é a falta de liberdade e de livre determinação.
Digo-vos:
A CADA 2 SEGUNDOS HÁ UM SER HUMANO QUE MORRE À FOME
E os nossos corações são de pedra
e as nossas barrigas estão fartas
e temos o nosso umbigo
e temos uma falsa verdade
e temos nas palavras a falsidade.
Os países ricos fingem e alardeiam o seu auxílio. As suas ajudas são uma verdadeira gota de água no oceano. Fingem e fingem, porque quando a nossa barriga está cheia, pouco nos importa a barriga dos outros e acreditamo-nos por conveniência em tudo o que nos dizem. Isso faz-nos sentir mais compassivos. E eles sabem bem como é conveniente acreditar... Sabem bem como é acomodado ignorar... Foram ensinados a enganar.
E alguns “missionários da desgraça” mandam-nos morder a língua.
A pobreza não está a diminuir. A pobreza aumenta. A pobreza vai continuar a aumentar.
A triste realidade é que por via da POBREZA morrem todos os dias no mundo milhares de pessoas e 11 milhões de crianças morrem por ano antes dos 5 anos de idade como consequência dos seus efeitos devastadores.
Nos finais do século XX metade da população mundial – cerca de 3 mil milhões de pessoas – vivia numa pobreza quase absoluta e degradante e 1,3 mil milhões não tinha acesso aos cuidados médicos mais básicos.
A população mundial já ultrapassou os 7 mil milhões, com cerca de 98% do aumento a registar-se nas regiões pouco desenvolvidas, panorama que se pode transformar em algo assustador. A pobreza continuará a aumentar, bem como a carência dos mais básicos cuidados de saúde, malgrado as palavras de políticos e altos dirigentes, tão imbuídas de esperança quanto de falsidade e hipocrisia.
PORTUGAL, dos países da União Europeia é um dos mais pobres.
Aqui os critérios de pobreza são completamente diferentes dos utilizados para o Terceiro Mundo. Mas a diferença não justifica os riscos e o sofrimento que causa. Um em cada quatro portugueses vive uma situação de pobreza desesperada.
Atente-se, que ainda temos concelhos onde o rendimento é extraordinariamente baixo, como Fornos de Algodres e Pampilhosa da Serra.
E continuará a ser e a pobreza continuará a aumentar.
Em verdade, para além de uma verdadeira pobreza a que já nos referimos supra e que toda a gente vê, existe uma outra, bem dolorosa, que tem vergonha de si mesma. Esta, com a qual todos os dias convivemos – infelizmente também convivemos com a outra –, entristece-nos. E deveria entristecer todos os que com ela convivem e mais não fazem do que olhar para o próprio umbigo.
Pobreza também é comprar carne para o cão, quando cão se não tem e peixe para o gato, quando o único que há no prédio é o da vizinha, que se passeia gordo e anafado.
Pobreza é dizer-se «Bom dia, está tudo assim como assim...» ou «vai-se andando...», quando em casa faltam os bens essenciais, o merceeiro e o talhante já não fiam e os bancos se preparam para penhorar as casas, que ainda estão por pagar e nem os medicamentos se conseguem comprar.
E essa Pobreza que já nos bateu à porta, senta-se às nossas mesas e parece que nenhum governante a quer ver.
Estamos a passar por uma das piores crises que Portugal conheceu.
“E a procissão ainda vai no adro”.
Ou será que ainda nem sequer saiu as portas da igreja?
Trata-se de uma crise económica, política e ética, que já se fazia adivinhar no ano de 1995 e que foi acelerada pela crise mundial de 2008.
A partir de finais da Segunda Guerra Mundial e até 1975 os Estados europeus conheceram anos de oiro – os “30 Gloriosos Anos”.Alguns dos factores:
- Investimentos orientados para a inevitável recuperação da destruição massiva provocada pela Segunda Guerra Mundial;
- Taxas de juro baixas;
- Lucros elevados;
- Mão de obra barata;
- Matérias-primas de baixo custo;
- Exploração em múltiplas vertentes dos impérios coloniais.
A partir de 1975 as circunstâncias alteram-se – v.g. salários mais elevados e taxas de juro em crescendo, com todas as consequências que daí adviriam.Os investidores, ávidos de lucro, encontram na Ásia as condições propícias à valorização do capital, contrariamente ao que ocorria numa Europa em desaceleração. A “industrialização” mudava de residência e Portugal cujo crescimento económico atingiu os seus maiores valores nos anos 60 não estava imune.
E, as perspectivas de futuro estão enegrecidas pela irresponsabilidade e incompetência dos “políticos profissionais” – um político profissional é um profissional, que em regra nada mais sabe fazer, incluindo a própria política...A União Europeia no que toca à produção mundial continuará fatalmente a baixar os seus níveis:
Em
- 2000 – 23%;
- 2020 – 21%;
- 2050 – 12%.
Imagine-se.
Neste quadro, continuaremos a aceitar as mentiras oportunísticas dos políticos, que apenas pretendem resguardar as suas regalias e mordomias? As vantagens decorrentes dos actos eleitorais? As inveracidades conscientes e voluntárias dos programas, dos discursos e dos “beijos” distribuídos indiscriminadamente por feiras e arraiais nas campanhas eleitorais? Políticos que são cada vez mais oriundos das denominadas juventudes partidárias, más escolas da difícil ciência e arte de governar.
Talvez.
Como refere Medina Carreira, o “Partido do Estado” é composto por cerca de 6 milhões de cidadãos. Entre eles, funcionários, aposentados, jubilados, pensionistas, titulares do Fundo de Desemprego, do Rendimento Mínimo de Inserção e pessoas deles dependentes.
Uma economia que mirra e despesas públicas em regime de “engorda intensiva”, a que acresce uma desconfiança generalizada dos mercados quanto à competência dos nossos políticos para implementarem reformas estruturais, que permitam aumentar a competitividade, o emprego e o crescimento da economia está fatalmente votada ao fracasso.
O problema da economia portuguesa é um problema de competitividade e não de cumprimento de políticas de austeridade, consubstanciadas em somas e subtracções, operações aritméticas familiares a meros “cobradores de impostos”.
Tanto bastaria para explicar em termos simplistas a crise e a dificuldade de obtermos financiamentos externos em condições favoráveis.
Comparando a evolução do PIB e da despesa pública corrente primária (despesa sem juros) nas últimas quatro décadas, verificamos sem mais, que a análise atempada dos valores que nos eram fornecidos, quer por organismos estatais quer por instituições nacionais ou internacionais, decretariam a falência técnica do país.
A partir de 1986, depois da nossa integração na CEE, pouco ou nada foi feito para que nos tornássemos mais competitivos.
A Europa industrializada, culta, competitiva e motivada psicologicamente ao enriquecimento exigia-o.
Por outro lado perdemos um conjunto de poderes, como a possibilidade de desvalorizar a moeda.
O ESTADO SOCIAL
Como eu gostaria de vos poder afirmar que o Estado Social não tem a sua morte anunciada. Mas seria mais um mentiroso neste país de farsas. Talvez ninguém o notasse de tão habituados ao embuste dos políticos que o apregoam, garantem e quando no poder, passam a padecer de amnésia selectiva.
O Estado Social é no fundo o baluarte de combate à pobreza e a protecção dos cidadãos das múltiplas “patologias sociais”.
É defendido com garras postiças pelos partidos daquele hemiciclo bolorento e adormecido. Se deixar de existir ou de ser veementemente prometido, comprometerá o voto dos eleitores do denominado “Partido do Estado”.
Nenhum partido, nenhum candidato assume o que há muito é conhecido: o Estado Social está a caminho da urna em coval demarcado.
Sejamos sérios e realistas, preparando os nossos filhos e netos para a terrível herança que os perseguirá por décadas.
Não, não é um ano, nem dois, nem uma década, são décadas, Senhor Ministro da Economia. Pura aritmética de escola primária.
Com Bismarck em finais do século XIX surge pela primeira vez um verdadeiro sistema de protecção social. Mas foi necessário aguardar algumas décadas, no pós-guerra (Segunda Guerra Mundial), para que em condições favoráveis de industrialização de que já falámos quando nos referimos aos “30 Gloriosos Anos”, surgisse o Estado Social, com modelos extremamente elaborados, principalmente nos países nórdicos.
Esses factores, nomeadamente o crescimento económico, deixaram de existir. Também já o vimos.
Nesta perspectiva, a sua insustentabilidade pode ser facilmente reconhecida, até porque as despesas com pessoal, aposentados, prestações sociais, saúde e educação não são comportáveis por limitados orçamentos.
As despesas fixas do Estado com os seus funcionários e com os titulares de prestações sociais – os tais 6 milhões de que já falámos em momento anterior –, correspondiam a 80% das receitas fiscais no ano de 1995, enquanto em 2010 já absorviam 96%.
Caso se projecte para o ano de 2020, tendo por fundamento os valores económicos de 2000-2010, iríamos deparar-nos com uma conjuntura inexequível. As despesas sociais (Educação, Saúde, Segurança Social e Caixa Geral de Aposentações) consumiriam na íntegra as receitas dos impostos. Hoje existem quatro cidadãos activos para um idoso. Mas em 2050 serão menos de dois activos para um idoso.
O Estado Social agoniza e a mezinha aplicada é meramente paliativa, porque não agimos atempadamente, como o fizeram Estados avisados, como a Finlândia, Suécia, Dinamarca e Holanda.
Nem para seguir os bons exemplos servimos, senhores políticos...
A DÍVIDA PÚBLICA atingiu níveis absolutamente injustificáveis – é a mais pesada dos últimos 150 anos.Entre 1995 e 2008, cresceu de 7 para 97% do PIB (OCDE).
Deparamo-nos com uma gigantesca dívida externa, que apenas teve paralelo em 1892 quando Portugal teve de declarar a sua falência, aquilo que denominamos comumente bancarrota.
Entre o ano 2000 e o ano de 2010 a dívida externa de Portugal passou de 44 mil milhões de euros, o que equivalia a 38% do PIB, para 185 mil milhões, ou seja, 109% do PIB.
Esta dívida com juros incomportáveis irá penalizar os portugueses durante décadas.
Em 30 de Janeiro do corrente ano, os juros bateram todos os recordes (juros do mercado):
a 3 anos – 24,4%;
a 5 anos – 20,376%; e a
10 anos - 15,501%.
O DESEMPREGO em Portugal é alarmante. Dispensa comentários.
Vejamos ainda que sucintamente a sua evolução –
2000 – 3,9%
2004 – 6,7%
2008 – 7,6%
Em Dezembro de 2011 – 13,6% - em cada 3 desempregados 1 tem menos de 25 anos.É a 4.ª taxa mais elevada da Zona Euro, sendo apenas superada pela Espanha, Grécia e Irlanda.
A taxa mais elevada dos últimos 80 anos.
Uma nova emigração. Triste facto para quem já assistiu nos anos 60 de “lágrimas nos olhos” à partida das suas gentes para Terras de França.
E há quem incite os jovens a emigrar.
Nem o Dr. Salazar o fez. E Salazar já não governa, mas o Secretário de Estado ainda está no Governo..., assim como quem manda os professores para Angola – logo para Angola, uma verdadeira Escola de Ética...
A lentidão da JUSTIÇA equivale na maior parte dos casos à sua denegação.
É inoperante e está descredibilizada.
Por si só afasta todos os empresários qualificados e investimentos sérios. Ninguém no seu perfeito estado mental aceita que os seus créditos se arrastem pelos tribunais durante anos, até que um dia, um qualquer dia, venha uma sentença executar o inexecutável por insolvência dos devedores.
A EDUCAÇÃO é uma lástima.
“No ano 2000, éramos um dos países da OCDE com maior percentagem de impreparados na população activa: 80% para Portugal e 82% para a Turquia – apenas 16% para a República Checa.”
“No entanto, na UE Portugal estava no 6.º lugar no que toca às despesas da educação, sendo o menos realizador da UE/15.” (Medina Carreira)
Enfim...
Na SAÚDE, já no ano de 2000, a detentora da respectiva pasta, que com uma honestidade pouco usual declarou que estávamos perante uma verdadeira “vergonha”.
Com todas as restrições aos exames complementares de diagnóstico, aumento de taxas, encerramento de serviços, desmotivação e impreparação do pessoal médico e auxiliar, preços dos medicamentos, julgamos que ao invés de franchisings de pastéis de nata e frangos assados, teremos de optar pelos Funerais a Preço Económico e pelos Crematórios Populares, estes últimos justificados pela necessidade de não onerar as autarquias com os custos decorrentes do inevitável aumento dos cemitérios...
Analisemos ainda que sumariamente o tão discutido CRESCIMENTO ECONÓMICO
Taxas de crescimento médio anual:
1960-1970 – 7,5%
1970-1980 – 4,5%
1980-1990 – 3,2%
1990-2000 – 2,7%
2000-2010 – 0,68%
Temos no presente o índice mais baixo de crescimento económico dos últimos 100 anos.
Não fomos e parece que não seremos capazes de nos próximos tempos promover o crescimento económico, enquanto as despesas públicas diminuem à custa de perversas medidas de austeridade.
CRISE DE VALORES
Uma corrupção generalizada amparada pelo reino político, num apartamento deliberado de desígnios sérios para a atacar com a eficiência necessária.
A corrupção, o compadrio e o aproveitamento próprio são as regras desta sociedade falida, que se apregoa moralista e justa, mas é imoral, degradada e injusta. Aplaudem-se delinquentes na praça pública, exaltam-se corruptos e assassinos, a quem se prestam homenagens vigorosas. É de todo normal, louvável e em última instância justificável, que chefes de estado de países ditos democráticos e desenvolvidos, recebam com pompa e circunstância, outros altos dirigentes, verdadeiros homicidas e ladrões enriquecidos à custa da miséria, da fome e ausência de todos os cuidados primários das populações que governam, usufruindo ainda frequentemente dos dividendos por eles ilegitimamente obtidos em festas, comemorações e recepções repugnantes. E ninguém tem a coragem de os tratar pelo seu verdadeiro nome: criminosos da humanidade. E não se diga que tais actos se justificam pela obtenção de mais-valias financeiras ou de incontornáveis exigências de deficiente crescimento económico. Nenhum homem de bem recebe em sua "casa" ou visita dirigentes políticos de Estados desumanamente totalitários, onde se pratica uma "novíssima escravatura" ou existe uma apropriação delituosa da riqueza pela classe dominante, enquanto a população morre pela fome e pela doença.
A tudo isto acresce uma comunicação social de fundo cor de rosa onde proliferam concursos abomináveis, novelas e futebol, endeusando temporariamente protagonistas de barro grosseiro e oco.
O FACTOR EMOCIONAL – Motivação e Confiança
Os economistas têm de aprender a lidar com uma nova variável nas suas equações e demais cálculos.
Denomino-a FACTOR EMOCIONAL. Apresenta duas faces complementares, demasiadamente importantes para que sejam olvidadas em sede de crescimento económico, aqui analisado no seu sentido mais lato:
- MOTIVAÇÃO; e,
- CONFIANÇA.
Este factor emocional enforma e é enformado por alguns dos que temos vindo a enunciar.
A resposta de cada um de nós a um determinado estímulo é determinada pelo carácter, personalidade e pelo meio envolvente. A resposta de um povo é o somatório corrigido por novas variáveis, das respostas individuais.
As respostas aos estímulos exteriores desfavoráveis dos diferentes povos são diversas qualitativa e quantitativamente. As do povo japonês, alemão, finlandês, italiano, grego ou português são obviamente distintas.
Se bem atentarmos, a produtividade depende muito deste factor.
MOTIVAÇÃO E CONFIANÇA
O povo português está depauperado. Descrente nos políticos e nas suas instituições, nos magistrados e na justiça, nas autoridades e na segurança, nos médicos e na saúde, nos professores e no ensino.
Os maus e alguns hediondos exemplos de políticos, ex-políticos, poderosos e seus lacaios, assevera-lhes que quem não herdou ou roubou, se de justo trabalho viver nunca há-de enriquecer.
É sua forte convicção de que jamais irão ter quaisquer oportunidades e que o pão ganho a custo de suor será comido por quem nada faz ou de expedientes vive.
Poderá ser produtivo quem fome e frio passa? Quem não tem o suficiente para sustentar a sua família? Quem se abstém de adquirir medicamentos essenciais? Quem não tem acesso a uma saúde eficiente? Quem é injustiçado? Quem assiste ao desmoronar dos mais básicos valores éticos de uma sociedade? Quem consome uma comunicação social oportunista, volúvel e fungível? Quem só vê negrume no horizonte?
Um povo deprimido, endividado e empobrecido, sem reacção, sem confiança nos políticos e nos agentes económicos.
Há uma desconfiança generalizada perante uma “fome de dinheiro” onde tudo vale – honrem-se as excepções.Os compromissos não são cumpridos. Palavra e honra são em regra conceitos sem conteúdo. As burlas avolumam-se.
Os próprios empresários, melancólicos, desinteressados e sem esperança, não confiam no Estado, nos trabalhadores.
Os trabalhadores não confiam nos empresários.
Ninguém confia em ninguém.
CONCLUSÃO
Não há luz ao fundo do túnel. Aos portugueses vão ser impostos cada vez mais sacrifícios, mais austeridade que não sabemos quando irá findar, nomeadamente em consequência:
- De juros incomportáveis por via da dívida externa, contraída em estado de desespero, que como já dissemos continuam a bater recordes;
- De um elevado número de funcionários do Poder Central, Local e dos custos globais das empresas públicas e municipais;
- Do envelhecimento da população, com a inevitável liberação de capitais para as pensões e prestações sociais;
- Das obrigações a médio e a longo prazo das Parcerias Público-Privadas;
- Da incapacidade para atrair investimentos, seja pela falta de qualificação da mão de obra seja pelo seu custo não ser competitivo com os países asiáticos e até com os do Leste europeu;
- Da insuficiência das exportações, fruto de uma competitividade inadequada;
- Da falta de motivação dos empresários e dos próprios trabalhadores, tendo inclusivamente em conta o peso dos impostos que sobre eles incide, o que se reflecte entre outros, na produtividade e na perda do poder de compra;
- De um aumento galopante do desemprego;
- De uma justiça e saúde em crescente descrédito;
- Da impreparação da população activa para o desempenho das suas profissões, como consequência de um ensino deficitário, decadente e vergonhoso;
- Da quebra de todos os valores com a disseminação da corrupção, compadrio, aproveitamento próprio e clientelismo político;
- Do inevitável aumento da criminalidade;
- Do efeito espiral e bola de neve de todos estes factores.
ESTAMOS NUM BECO SEM SAÍDA
E não se diga que estamos a ser pessimistas.
- O Governo de Portugal, terá de fazer opções, que não se restrinjam a meras medidas de austeridade de curto prazo, ineficazes e sem repercussão no necessário crescimento económico. Austeridade por austeridade não é remédio; é veneno letal.
Julgamos que também já não poderá contar com novas descobertas, vivendo “encostado” a África, Índia, Japão, Brasil e CEE, como a história o comprova.
Terá de melhorar a produtividade e o investimento, aumentando entre outros, a quota de mercado das exportações, como vem sendo preconizado há bem mais de uma década por alguns economistas e analistas sérios das Finanças Públicas. Terá de gerar emprego.
Terá de melhorar a qualificação dos portugueses.
Na Declaração de 30 de Janeiro do corrente ano da Cimeira da UE refere-se o crescimento e o emprego. Acordámos tarde Senhores ministros...
Mas fundamentalmente, o governo, qualquer governo, tem de explicar aos portugueses o real estado das finanças públicas e a previsível extensão da crise.
Os eleitores têm de ganhar consciência das dificuldades que terão de enfrentar no futuro, que não é de curto prazo.
Com os elementos de que dispomos, a que acresce um Factor Emocional negativo (uma incómoda “invenção” nossa), teremos pela frente 3 décadas de recuperação, pesada factura de Duas Décadas de Oiro Falso.
É óbvio, que muitos há que bem pior do que nós estão – por isso, começámos este artigo com uma breve descrição do estado da pobreza no mundo –, o que não nos deve servir de consolo, já que o nosso desenvolvimento e o desenvolvimento integrado da UE poderia minimizar o sofrimento dos que nada têm.
Os responsáveis políticos têm duas opções:
- Enfrentar a realidade, advertindo e preparando os seus eleitores com verdade; ou
- Continuarem a comportar-se como senhores feudais, pequenos deuses caseiros, tiranos enxertados numa pseudo-democracia iludindo os seus servos da gleba do século XXI.
E como diria o Poeta,
Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência,
Que às vezes fico pensando
Que a burrice é uma ciência!