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ARTE

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

O DESTINO DAS AFOGADAS



olho-a de alto a baixo        a boca ilumina-se-lhe na viração dos vocábulos e das trovas que amaduram nas linhas bravias da medula inflamada        braçados de luz acoitam todos os inconvenientes do passado e do vindouro      ainda palpitantes os gerânios no coração sobem-lhe ao rosto inundando-lhe as gengivas secas

era ela
dulcíssima      superabundante      nomeada pela avessa urdidura do cosmos  
eleita pelo espírito das florações em êxtase e pelas rudes paisagens coloridas em janela de raiva ciúme e inveja

deambulava pelo embarcadouro no meio dos relâmpagos das tempestades que eclodiam nas noites de outono      embarcava no sonho de um novo mundo mostrando carnívora os dentes alinhados com a vida das estacas do quebra-mar a norte      via paraísos nos pontões locuções penetrantes e assoladoras nas amarras dos navios enfeitiçados pelo rio
garroteados pelo sossego das casas dormentes
o corpo como um rastilho espectral arrefecia no odor pontuado pela maresia

um novo poema      uma nova poesia      murmurava com a fé de quem espoliou as suas veias de todo o sangue e esmagou os seus ossos por detrás das paredes em ruínas pendentes de uma beleza traída por mãos quebradas
nos seus olhos crescia o destino macabro de todas as afogadas





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