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ARTE

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

EVANGELHO BUDISTA DE JESUS - O NAZARENO

 


Nicolas Notovitch
                                       


Download do Evangelho Budista de Jesus Nazareno



INTRODUÇÃO


Nicolas Notovitch foi um médico e viajante russo, que após 1878 fez uma série de viagens pelo Oriente.

Em 1887 visitou a Índia, país que o atraía desde a infância, vagueando por vários locais com intenção de chegar a Ladakh, de onde tencionava regressar à Rússia.

No entanto, numa das suas paragens, num convento budista, encontrou um mestre lama que o informou da existência em Lassa, no Tibete, de livros antigos relativos à vida de Jesus (Issa).

Decidiu adiar a sua viagem de retorno, e numa visita ao convento de Hemis, em Leh, então capital da região de Ladakh, foi-lhe dito por um lama de que a biblioteca do mosteiro tinha cópias dos mencionados manuscritos.

Segundo Notovitch, os manuscritos originais, escritos na língua páli, foram levados da Índia para o Nepal e do Nepal para o Tibete, onde foram feitas cópias em tibetano.


Em Hemis, mosteiro situado nos Himalaias a 4000 metros de altitude e a 34 quilómetros de Leh, conseguiu ter acesso aos manuscritos que lhe foram lidos pelo lama e traduzidos pelo seu assistente e intérprete, tendo anotado com cuidado e minúcia o seu conteúdo.

As notas não estavam organizadas, nem temática nem cronologicamente, um pouco à imagem do Evangelho de Tomé, pelo que as ordenou segundo os seus conhecimentos e pesquisas realizadas, conferindo-lhes a unidade possível. 

O texto, entre outros, descreve os anos desconhecidos da vida de Jesus e foi identificado por outros estudiosos e viajantes que asseveraram a sua existência, nomeadamente Swami Abhedananda (1922), Nicholas Roerich (1925) e Henrietta Merrick (1931). 


A vida de Jesus terá sido coligida na Índia a partir de relatos de indivíduos que integravam as caravanas de mercadores, já que o comércio da Índia com o Egipto e com a Europa era feito através da cidade de Jerusalém.

Os vários versículos devem ter tido origem num período mais ou menos longo, começando antes do nascimento de Jesus e continuando durante a vida e após a morte deste, nos três ou quatro anos seguintes.

Existem semelhanças, bem como inúmeras contradições, entre algumas passagens do texto quer com o Antigo quer com o Novo Testamento. 


Na tradição budista o Espírito eterno separou-se do Ser eterno e encarnou no filho de uma família pobre de Israel. José, marido de Maria e pai de Jesus era descendente de David. O Espírito encarnou numa criança já nascida.

Para os budistas tibetanos, Jesus (Issa) é um grande profeta, um dos primeiros após os vinte e dois budas.


Nos Evangelhos, a vida de Jesus até ao início do seu ministério, aos 30 anos, é uma incógnita quase perfeita.

Lucas diz-nos que aos oito dias de vida Jesus foi apresentado no templo por seus pais para ser circuncidado (Lc 2, 21-24) e que quando voltaram para a Galileia, para a sua cidade de Nazaré, O Menino crescia e fortificava-Se cheio de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele (Lc 2, 39-40). Quando atingiu os doze anos, numa viagem a Jerusalém, José e Maria perderam-No de vista, encontrando-O três dias depois sentado no meio dos doutores no templo, ouvindo-os e interrogando-os. E todos os que O ouviam estavam maravilhados da Sua sabedoria e das Suas respostas. Voltou com os pais para Nazaré e era-lhes submisso, crescendo em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens (Lc 2, 41-52).

A partir daqui e até ao início do seu ministério, após ser baptizado por João Baptista, os Evangelhos são omissos e nada sabemos da vida de Jesus.


O dogma da ressurreição é contrariado pelo facto de neste texto budista se afirmar que a existência terrestre do reflexo do eterno Espírito ter terminado com a sua morte na cruz e o seu corpo físico deposto num túmulo perto do local da execução, donde viria a ser retirado por ordem de Pilatos e enterrado noutro local para não ser a semente de uma qualquer rebelião.


Fazendo fé nas investigações de Notovitch, que admite que as crónicas de Jesus terão sido compiladas três ou quatro anos após a sua morte, teríamos a resposta para a ausência quase total de informações do período da sua vida que decorreu até ao início do seu ministério e da denominada Paixão e Morte.


Se Notovitch estiver certo, então, este Evangelho será muito mais fiável que todos os outros, escritos num período tardio. Mais uma dúvida…


***


Holgar Kersten, teólogo alemão, motivado entre outras, pela descoberta de Notovitch, após cinco anos de investigações, chegou às seguintes conclusões:

- Com cerca de 13 anos de idade Jesus entrou em contacto com o Budismo;

- Na crucificação teve uma morte aparente, um estado de coma reversível;

- Após a “ressurreição” Jesus viveu na Índia até uma idade avançada, estando sepultado em Srinagar, Caxemira, enquanto que sua mãe teria sido sepultada no Paquistão. 


Túmulo em Srinagar


Para além de Kersten, relevam Simcha Jacobovici e Charles Pellegrino, que acreditam ser um túmulo encontrado no ano de 1980, em Taliot, Jerusalém, da família de Jesus.


Túmulo em Taliot


Neste túmulo foram encontrados dez ossários, seis com inscrição e quatro sem qualquer inscrição – ver notas a final.


Ossários


Para este Evangelho budista Jesus também morreu, foi duas vezes sepultado, em Jerusalém, e não ressuscitou.

- A obra de Nicolas Notovitch, “A Vida Secreta de Jesus”, está editada em Portugal, recomendando-se a sua leitura para o necessário aprofundamento do tema. -


***


Todas estas teorias merecem uma profunda reflexão estribada em estudos complexos.

São muitas as dúvidas existentes sobre alguém que influenciou e continua a influenciar de modo determinante o mundo em que vivemos.

Muito pouco se sabe e muito se especula. Quantas vezes, não nos perguntamos, se:

- Jesus existiu ou é um mito como muitos outros verificáveis na história das religiões;

- Quis criar uma religião ou apenas uma comunidade sem qualquer hierarquia;

- Viveu na Índia dos 13 aos 29 anos, estudando as escrituras hindus e budistas;

- Viveu entre os essénios até ser baptizado por João Baptista;

- Viveu sempre com os seus pais, possuidor de uma sabedoria inata, desenvolvida pela leitura dos textos religiosos judaicos;

- Tendo sido crucificado morreu na cruz ou a sua morte foi aparente;

- Ressuscitou dos mortos ao terceiro dia, sendo por tal facto o Cristo;

- Foi sepultado em Jerusalém, imediatamente após a crucificação e não ressuscitou;

- Sobrevivendo à crucificação foi para a Índia onde faleceu e foi sepultado, como atesta o Evangelho budista de Jesus;

- Após a crucificação viveu em Damasco protegido pelos Essénios?


Julgo que estas e outras questões podem ser respondidas. Mas todas as respostas não irão passar de meras hipóteses, mesmo que profundamente estudadas e exaustivamente ponderadas.

Deixaremos a nossa humilde opinião para um estudo que preparamos, mas que antevemos pouco esclarecedor.

Cada um terá de avaliar por si a argumentação aí expendida.   



***



Rubens - Crucificação



***



A VIDA DE SANTO ISSA (JESUS NAZARENO)


O Melhor dos Filhos dos Homens



***




1 – A terra estremeceu e os céus prantearam, por causa do grande crime perpetrado na terra de Israel;

2 – Pois aí foi torturado e morto o grande e justo Jesus, em quem se manifestava a alma do Universo;

3 – Que havia encarnado num simples mortal, para favorecer os homens e neles destruir o espírito do mal;

4 – Para encaminhar de novo à paz, ao amor e à felicidade o homem aviltado pelos seus pecados, e chamá-lo de volta ao uno e indivisível criador cuja misericórdia é infinita.

5 – Os mercadores vindos de Israel contaram do seguinte modo o que sucedeu:



1 – O povo de Israel – que habita um país fértil que produz duas colheitas por ano e dá pasto a grandes manadas de gado – fez, com os seus pecados, cair sobre si a ira do Senhor;

2 – Que lhes infligiu castigos terríveis, tirando-lhes a terra, o gado e a riqueza. Foram levados para a escravidão pelos ricos e poderosos faraós que então governavam a terra do Egipto.

3 – Os Israelitas eram tratados pior do que animais pelos faraós, condenados a árduos trabalhos e postos a ferros; os seus corpos estavam cobertos de feridas e chagas; não lhes era permitido viver sob um tecto, e morriam de fome;

4 – Para que pudessem ser mantidos num estado de contínuo terror e privados de toda a semelhança humana;

5 – E, nesta grande adversidade, os Israelitas, lembrando-se do seu Protector Celestial, imploraram o Seu perdão e misericórdia;

6 – Nesse tempo, reinava no Egipto um ilustre faraó, conhecido pelas suas muitas vitórias, imensas riquezas e pelos enormes palácios que mandara erigir com o trabalho dos seus escravos.

7 – Este faraó tinha dois filhos, sendo que o mais jovem, Moisés (Mossa), adquirira dos sábios de Israel muito conhecimento.

8 – E Moisés era amado por todos no Egipto, pelo seu coração bondoso e pela piedade que demonstrava para com todos os sofredores.

9 – Quando Moisés viu que os Israelitas, apesar dos seus muitos padecimentos, não tinham abandonado o seu Deus e se recusavam a adorar os deuses do Egipto, criados pelas mãos do Homem;

10 – Pôs também a sua fé no seu Deus invisível, que não permitia que eles O traíssem, apesar da sua crescente fraqueza.

11 – E os mestres de Israel incitaram Moisés no seu zelo e pediram-lhe que intercedesse junto de seu pai, o faraó, a favor do seu povo.

12 – O príncipe Moisés foi diante de seu pai, implorando-lhe que aliviasse o fardo do povo infeliz; o faraó, porém, enfureceu-se e ordenou que fossem mais martirizados do que antes.

13 – E aconteceu que o Egipto foi visitado por uma grande catástrofe. A peste dizimou velhos e novos, saudáveis e doentes; e o faraó viu nisto o ódio dos seus próprios deuses contra eles.

14 – Mas o príncipe Moisés disse a seu pai que era o Deus dos seus escravos quem assim intervinha em nome do Seu povo miserável e os vingava sobre os Egípcios.

15 – Então, o faraó ordenou a Moisés, seu filho, que reunisse todos os escravos israelitas e os levasse dali, e que encontrasse, a uma grande distância da capital, outra cidade e nela os governasse.

16 – Moisés fez então saber aos escravos hebreus que obtivera a sua liberdade em nome do Deus de todos, o Deus de Israel; e com eles deixou a cidade e partiu da terra do Egipto.

17 – Conduziu-os de volta à terra que, pelos seus muitos pecados, lhe havia sido retirada. Aí, deu-lhes leis e aconselhou-os a que rezassem sempre a Deus, o Criador indivisível, cuja bondade é infinita.

18 – Após a morte do príncipe Moisés, os Israelitas cumpriram rigorosamente as suas leis e Deus recompensou-os pelos males a que haviam sido sujeitos no Egipto.

19 – O seu reino tornou-se um dos mais poderosos na terra; os seus reis tornaram-se célebres pelos seus tesouros, e a paz reinava em Israel.


3


1 – A glória da riqueza de Israel espalhou-se por toda a terra e as nações vizinhas ficaram com inveja.

2 – Mas o próprio Altíssimo guiou os exércitos vitoriosos dos Hebreus, e os pagãos não se atreveram a atacá-los.

3 – Infelizmente, o Homem tem tendência a errar e a fidelidade dos Israelitas ao seu Deus não durou muito.

4 – Pouco a pouco, esqueceram os favores que Ele lhes tinha conferido; raramente invocavam o Seu nome, procurando antes protecção junto dos mágicos e dos feiticeiros.

5 – Os reis e os chefes entre o povo substituíram as leis de Moisés pelas suas próprias leis; o templo de Deus e as práticas da sua antiga fé foram descurados; as pessoas ficaram corrompidas pelas gratificações sensuais e perderam a pureza original.

6 – Muitos séculos haviam decorrido desde o seu êxodo do Egipto quando Deus pensou castigá-los uma vez mais.

7 – Estranhos invadiram Israel, devastaram a terra, destruíram as aldeias e levaram os seus habitantes para o cativeiro.

8 – Por fim, vieram os pagãos do outro lado do mar, da cidade de Roma. Estes tornaram-se amos dos Hebreus e puseram acima deles os chefes dos seus exércitos, que governavam em nome de César.

9 – Profanaram os templos, forçaram os habitantes a deixar de adorar o Deus indivisível e coagiram-nos a fazer sacrifícios aos deuses pagãos.

10 – Dos que haviam sido homens importantes, fizeram soldados comuns; as mulheres tornaram-se sua presa, e o povo, reduzido à escravidão, foi levado aos milhares para o outro lado do mar.

11 – As crianças foram mortas e não tardou que, por toda a terra, não se ouvissem senão choros e lamentos.

12 – Nesta extrema aflição, os Israelitas lembraram-se uma vez mais do seu grande Deus, imploraram a Sua misericórdia e oraram pelo Seu perdão. O Pai, na sua infinita clemência, ouviu as suas preces.



1 – Chegara então o momento de o Juiz compassivo reencarnar em forma humana;

2 – E o Espírito eterno, que repousava num estado de completa inacção e suma bem-aventurança, acordou e separou-se do Ser eterno, por um período indeterminado de tempo;

3 – Para que, sob a forma humana, pudesse ensinar o Homem a identificar-se com a Divindade e a alcançar a felicidade eterna;

4 – E para mostrar, com o seu exemplo, como pode o Homem alcançar a pureza moral e libertar a sua alma do domínio dos sentidos físicos, para que possa atingir a necessária perfeição para entrar no Reino dos Céus, que é imutável e onde reina a eterna bem-aventurança.

5 – Pouco depois, uma criança maravilhosa nasceu na terra de Israel. O próprio Deus falou, pela boca desta criança, dos mistérios do corpo e da grandeza da alma.

6 – Os pais do bebé eram pessoas pobres, pertencentes a uma família conhecida pela sua grande devoção; que esqueceu a grandeza dos seus antepassados ao celebrar o nome do Criador e ao dar-Lhe graças pelas provações que lhes havia enviado.

7 – Para os recompensar por aderirem ao caminho da verdade, Deus abençoou o primogénito desta família; escolheu-o para Seu eleito e enviou-o para apoiar os caídos e confortar os aflitos.

8 – A criança divina, a quem foi dado o nome de Jesus, começou em tenra idade a falar do Deus único e indivisível, exortando as almas extraviadas a arrepender-se e a purificar-se dos pecados de que se haviam tornado culpadas.

9 – Vinham pessoas de toda a parte para o ouvir, e ficavam admiradas com os discursos que saíam da sua boca infantil; e todo o Israel concordava que o Espírito do Eterno habitava naquela criança.

10 – Quando Jesus tinha 13 anos, a idade em que se espera que um israelita case,

11 – A modesta casa dos seus industriosos pais tornou-se um ponto de encontro para os ricos e ilustres, ansiosos por ter como genro o jovem Jesus, já então famoso pelos discursos edificantes que fazia em nome do Todo-Poderoso.

12 – Então, Jesus ausentou-se secretamente da casa de seu pai; saiu de Jerusalém e, numa caravana de mercadores, viajou em direcção ao Sindh,

13 – Com o objectivo de se aperfeiçoar no conhecimento da palavra de Deus e no estudo das leis dos grandes Budas.


5


1 – No seu décimo quarto ano, o jovem Jesus, o Abençoado, veio a este lado do Sindh e instalou-se entre os Árias, no país amado por Deus.

2 – A fama espalhou o nome do maravilhoso jovem pelo Norte do Sindh e, quando ele atravessou o país das cinco fontes e o Rajastão, os devotos do deus Djaine pediram-lhe que ficasse entre eles.

3 – Mas Jesus deixou os iludidos adoradores de Djaine e foi a Djagguernat, no país dos Orsis, onde repousam os restos mortais de Vyasa-Krishna e onde os sacerdotes brancos de Brama o receberam com alegria.

4 – Ensinaram-no a ler e a entender os Vedas, a curar males físicos através da oração, a ensinar e a explicar as Escrituras Sagradas, a expulsar do Homem os desejos malignos e torná-lo novamente à imagem de Deus.

5 – Passou seis anos em Djagguernat, em Rajgir, em Benares e noutras cidades santas. A gente comum adorava Jesus, pois vivia em paz com os Vaixiás e os Sudras, a quem ensinava as Sagradas Escrituras. 

6 – Mas os Brâmanes e os Xátrias disseram-lhe que estavam proibidos pelo grande Parabrahman de se aproximar daqueles que haviam sido criados a partir da Sua barriga e dos Seus pés;

7 – Que os Vaixiás só podiam ouvir recitar os Vedas, e isto apenas em dias festivos, e

8 – Que os Sudras não só estavam proibidos de assistir à leitura dos Vedas, mas até de olhar para eles, pois estavam condenados à perpétua servidão, como escravos dos Brâmanes, dos Xátrias, e até dos Vaixiás.

9 – «Só a morte pode libertá-los da sua servidão», disse o Parabrahman. «Deixa-os, então, e vem connosco adorar os deuses, que enraivecerás se lhes desobedeceres.»

10 – Mas Jesus, ignorando as suas palavras, ficou com os Sudras, pregando contra os Brâmanes e os Xátrias.

11 – Falou fortemente contra a arrogação do Homem a si mesmo da autoridade de privar os companheiros dos seus direitos humanos e espirituais. «Na verdade», disse, «Deus não fez diferença entre os seus filhos, que Lhe são todos igualmente queridos.»

12 – Jesus negou a inspiração divina dos Vedas e dos Puranas, pois, como ensinou aos seus seguidores: «Foi dada ao Homem uma lei para o guiar nas suas acções: 

13 – Teme o Senhor, teu Deus; ajoelha-te apenas diante d’Ele e traz-Lhe apenas as oferendas que procedem dos teus proventos.»

14 – Jesus negou o Trimurti e a encarnação do Parabrahman em Vishnu, em Shiva e noutros deuses; «pois», disse ele: 

15 - «O eterno Juiz, o eterno Espírito, é a alma única e indivisível do Universo, e é apenas esta alma que tudo cria, contém e vivifica.

16 – Só Ele quis e criou. Só Ele existe desde a eternidade, e a Sua existência não terá fim; não há nenhum como Ele, seja nos céus ou na terra.

17 – O grande Criador não dividiu o Seu poder com nenhum outro ser; muito menos com objectos inanimados, como fostes ensinados a acreditar, pois só Ele é omnipotente e suficiente.

18 – Ele quis e o mundo foi. Com um divino pensamento, reuniu as águas e separou-as da terra seca do globo. É Ele a causa da misteriosa vida do Homem, em quem soprou parte do Seu divino Ser.

19 – E sujeitou ao Homem a terra, as águas, os animais e tudo aquilo que criou, e que Ele mesmo preserva numa ordem imutável, atribuindo a cada um a sua devida duração.

20 – A ira de Deus não tardará a cair sobre o Homem; pois este esqueceu o seu Criador; encheu de abominações os Seus templos; e adora uma multiplicidade de criaturas que subordinou a ele;

21 – E, para comprazer imagens de pedra e de metal, sacrifica seres humanos nos quais vive parte do Espírito do Altíssimo;

22 – E humilha os que trabalham com o suor da sua fronte, para cair nas boas graças do ocioso, que se senta a uma mesa sumptuosa.

23 – Aqueles que privam os seus irmãos da divina felicidade serão eles mesmos privados dela; e os Brâmanes e os Xátrias tornar-se-ão os Sudras dos Sudras, com quem o Eterno ficará para sempre.

24 – No dia do julgamento, os Sudras e os Vaixiás serão perdoados, pois não conheciam a luz, enquanto Deus soltará a Sua ira sobre aqueles que se arrogaram a Sua autoridade.»

25 – Os Vaixiás e os Sudras ficaram cheios de uma grande admiração e e perguntaram a Jesus como deviam rezar, para não perderem o seu lugar na vida eterna.

26 - «Não rezeis a ídolos, pois eles não podem ouvir-vos; não escuteis os Vedas, onde a verdade é alterada; sede humildes e não humilheis os vossos companheiros.

27 – Ajudai os pobres, apoiai os fracos, não façais mal a ninguém; não cobiceis aquilo que não tendes e o que pertence a outros.»


6


1 – Os sacerdotes brancos e os guerreiros, que tinham ficado a saber do discurso de Jesus aos Sudras, decidiram a sua morte e enviaram os seus servos para encontrar o jovem mestre e matá-lo.

2 – Mas Jesus, avisado pelos Sudras do perigo, deixou, de noite, Djagguernat, chegou à montanha e instalou-se no país dos Gautamides, onde o grande Buda Sakyamuni veio ao mundo, entre um povo que adorava o único e sublime Brama.

3 – Quando aprendeu a língua páli, o justo Jesus dedicou-se ao estudo dos manuscritos sagrados dos Sutras.

4 – Após seis anos de estudo, Jesus, que fora escolhido por Buda para espalhar a Sua santa palavra, era perfeitamente capaz de explicar os manuscritos sagrados.

5 – Deixou então o Nepal e as montanhas dos Himalaias, desceu ao vale do Rajastão e dirigiu os seus passos para o Ocidente, em todo o lado pregando ao povo a suprema perfeição acessível ao Homem;

6 – E o bem que tem de fazer aos seus companheiros, que é o método seguro para uma rápida união ao Espírito eterno. «Aquele que recuperou a sua pureza primitiva», disse Jesus, «morrerá com as suas transgressões perdoadas e terá o direito de contemplar a majestade de Deus.»

7 – Quando o divino Jesus atravessou os territórios dos pagãos, fez saber que a adoração de deuses visíveis era contrária à lei natural.

8 - «Pois não foi dado ao Homem», disse, «ver a imagem de Deus e cabe-lhe não criar para si uma profusão de divindades à semelhança imaginada do Eterno.

9 – E, mais, é contra a consciência humana ter menos consideração pela grandeza da pureza divina do que por animais ou peças de pedra ou de metal feitas pelas mãos do Homem.

10 – O eterno Legislador é Um; não há outros deuses que não Ele; não dividiu o mundo com ninguém, nem teve qualquer conselheiro.

11 – Assim como um pai mostra bondade para com os seus filhos, também Deus julgará os homens após a morte, em conformidade com as Suas leis misericordiosas. Nunca humilhará o Seu filho lançando a sua alma, como castigo, no corpo de um animal.»

12 - «As leis celestes», disse o Criador, pela boca de Jesus, «opõem-se à imolação de sacrifícios humanos a uma estátua ou a um animal; pois Eu, o Deus, sacrifiquei ao Homem todos os animais e tudo o que o mundo contém.

13 – Tudo foi sacrificado ao Homem, que está directa e intimamente ligado a Mim, seu Pai; portanto, será severamente julgado e punido pela Minha lei o homem que provocar o sacrifício dos meus filhos.

14 – O Homem não é nada ante o eterno Juiz; tal como o animal perante o Homem.

15 – Por isso vos digo: deixai os vossos ídolos e não realizeis cerimónias que vos separam do vosso Pai e vos prendem aos sacerdotes, a quem o céu virou costas.

16 – Pois foram eles quem vos afastou do verdadeiro Deus e, através de superstições e crueldade, perverteu o espírito e vos tornou cegos ao conhecimento da verdade.»


7


1 – As palavras de Jesus espalharam-se entre os pagãos, por cujo país ele passava, e os habitantes abandonaram os seus ídolos.

2 – Vendo isto, os sacerdotes exigiram àquele que assim glorificava o nome do verdadeiro Deus que devia provar, na presença do povo, as acusações que fazia contra eles e demonstrar a futilidade dos seus ídolos.

3 – E Jesus respondeu-lhes: «Se os vossos ídolos, ou os animais que venerais, detêm realmente os poderes sobrenaturais que alegais, que me fulminem com um raio perante vós!»

4 - «Porque não realizas um milagre», replicaram os sacerdotes, «e deixas o teu Deus confundir o nosso, se é maior do que eles?»

5 – Mas Jesus disse: «Os milagres do nosso Deus foram forjados desde o primeiro dia em que o Universo foi criado; e realizam-se todos os dias e a todo o momento; quem não os vê, está privado de um dos mais belos dons da vida.

6 – E não é sobre os objectos inanimados de pedra, metal ou madeira que Ele fará cair a Sua ira, mas sobre os homens que os adoram e que, assim, para sua salvação, devem destruir os ídolos que fizeram.

7 – Assim como uma pedra ou um grão de areia, que nada são perante o Homem, aguardam pacientemente que ele lhes dê uso,

8 – Também o Homem, que nada é perante Deus, deve aguardar com resignação a Sua vontade para uma manifestação do Seu favor.

9 – Mas ai de vós, adversários dos homens, se não é o favor que aguardais, mas antes a ira do Altíssimo; ai de vós, se exigis que Ele ateste o Seu poder através de um milagre!

10 – Pois não são os ídolos que Ele destruirá na Sua ira, mas aqueles que os criaram; os seus corações serão presa de um fogo eterno e a sua carne será dada às feras.

11 – Deus expulsará dos Seus rebanhos os animais contaminados; mas tomará para Si os que se perderam, pois não conheciam a parte celestial no seu interior.»

12 – Quando os pagãos viram que o poder dos seus sacerdotes nada era, fizeram fé nas palavras de Jesus. Temendo a ira do verdadeiro Deus, partiram em pedaços os seus ídolos e levaram os sacerdotes a fugir do meio deles.

13 – Jesus ensinou, além disso, aos pagãos que não deviam esforçar-se por ver com os seus olhos o Espírito eterno; mas por O percepcionarem com os corações e tornarem-se dignos dos Seus favores, através da pureza das suas almas.

14 - «Não só», disse-lhes ele, «vos deveis abster de oferecer sacrifícios humanos, como não podeis pôr num altar qualquer criatura a que tenha sido dada vida, pois todas as coisas criadas são para o Homem.

15 – Não negueis ao vosso vizinho o que lhe é devido, pois isso seria como roubar-lhe o que tinha ganho com o suor da sua fronte.

16 – Não enganeis ninguém, para que não sejais vós mesmos enganados; procurai justificar-vos antes do último julgamento, pois então será demasiado tarde.

17 – Não vos deis ao deboche, pois é uma violação da lei de Deus.

18 – Para alcançar a suprema bem-aventurança, tendes não só de vos purificar, mas também de guiar outros no caminho que lhes permitirá recuperar a sua inocência primitiva.»


8


1 – Os países vizinhos encheram-se com a fama das pregações de Jesus e, quando ele veio à Pérsia, os sacerdotes ficaram com medo e proibiram as pessoas de o ouvir;

2 – Ainda assim, as aldeias receberam-no com alegria e o povo ouviu atentamente as suas palavras, o que, sendo visto pelos sacerdotes, levou a que ordenassem que Jesus fosse preso e levado à presença do seu sumo-sacerdote, que lhe perguntou:

3 - «De que novo Deus falas tu? Não sabes, homem infeliz, que São Zoroastro é o único Justo a quem foi garantida a honra de receber revelações do Altíssimo;

4 – Por ordem de quem os anjos compilaram a sua Palavra em leis para o governo do seu povo, que foram dadas a Zoroastro no Paraíso?

5 – Quem és tu, então, que te atreves a proferir blasfémias contra o nosso Deus e a semear dúvidas nos corações dos crentes?»

6 – E Jesus respondeu-lhes: «Não prego nenhum novo Deus, mas o nosso Pai celeste, que existia antes do início e existirá até depois do fim.

7 – D’Ele falei ao povo, que – como crianças inocentes – é incapaz de compreender Deus pela sua própria inteligência, ou de abarcar a sublimidade do Espírito divino;

8 – Mas, tal como de noite o recém-nascido reconhece o seio da mãe, também o vosso povo, mantido nas trevas do erro pelas vossas perniciosas doutrinas e cerimónias religiosas, reconheceu instintivamente o seu Pai, no Pai cujo profeta Eu Sou.

9 – O Ser eterno diz ao vosso povo, pela minha boca: “Não adorareis o Sol, pois não é senão uma parte do Universo que Eu criei para o Homem;

10 – Nasce para vos aquecer durante o vosso trabalho; põe-se para vos conceder o descanso que Eu ordenei.

11 – Só a Mim deveis tudo o que possuís, tudo o que vos rodeia e tudo o que está acima e abaixo de vós.”»

12 - «Mas», disseram os sacerdotes, «como podia o povo viver segundo as tuas regras, se não tivesse mestres?»

13 – Ao que Jesus respondeu: «Enquanto não tiveram sacerdotes, eram governados pela lei natural e conservavam a simplicidade das suas almas;

14 – As suas almas estavam em Deus e, para comungar com o Pai, não tinham de recorrer à intermediação de ídolos, de animais ou do fogo, como é ensinado por vós.

15 – Fingis que o Homem deve adorar o Sol, e os Génios do Bem e do Mal. Mas digo-vos que a vossa doutrina é perniciosa. O Sol não age espontaneamente, mas pela vontade do Criador invisível, que lhe deu o ser.»

16 - «Quem fez, então, com que esta estrela ilumine o dia, aqueça o Homem durante o seu trabalho e dê vida às sementes espalhadas no chão?»

17 - «O Espírito eterno é a alma de todas as coisas animadas, e cometereis um grande pecado ao dividi-l’O em Espírito do Mal e Espírito do Bem, pois não há outro Deus que não o Deus do Bem.

18 – E Ele, tal como o pai de uma família, só faz bem aos Seus filhos, a quem perdoa as suas transgressões, se delas se arrependerem.

19 – E o Espírito do Mal vive na terra, nos corações daqueles que desviam os filhos de Deus do caminho certo.

20 – Digo-vos, pois: temei o dia do julgamento, pois Deus infligirá um castigo terrível em todos aqueles que desviaram os Seus filhos e os seduziram com superstições e erros;

21 – Naqueles que cegaram os que viam; que trouxeram ao poço o contágio; que ensinaram a adoração das coisas que Deus criou para estarem sujeitas ao Homem, ou para o auxiliar nas suas obras.

22 – A vossa doutrina é fruto do vosso erro em procurar trazer para junto de vós o Deus da Verdade, criando para vós mesmos falsos deuses.»

23 – Quando os magos ouviram estas palavras, temeram para consigo fazer-lhe mal, mas, à noite, quando toda a cidade dormia, levaram-no para fora das muralhas e deixaram-no na estrada, na esperança de que não deixasse de se tornar presa das feras.

24 – Mas, protegido pelo Senhor nosso Deus, Santo Jesus continuou o seu caminho, sem incidentes.


9


1 – Jesus – a quem o Criador escolhera para chamar de novo ao culto do verdadeiro Deus os homens submergidos pelo pecado – tinha 29 anos quando chegou à terra de Israel.

2 – Desde a sua partida, os pagãos tinham levado os Israelitas a suportar sofrimentos ainda mais atrozes que os anteriores, e eles estavam desesperados.

3 – Muitos haviam começado a descurar as leis do seu Deus e as de Moisés, na esperança de cair nas boas graças dos seus brutais conquistadores.

4 – Mas Jesus, apesar da sua infeliz condição, exortou os compatriotas a não desesperar, pois o dia da sua redenção do jugo do pecado estava próximo, e ele mesmo, através do seu exemplo, confirmava a sua fé no Deus dos seus pais.

5 - «Filhos, não vos rendais ao desespero», disse-lhes o Pai celeste, pela boca de Jesus, «pois Eu ouvi os vossos lamentos, e os vossos gritos chegaram-Me aos ouvidos.

6 – Não choreis, oh, meus filhos amados! Pois as vossas dores tocaram o coração do vosso Pai e Ele perdoou-vos, como perdoou aos vossos antepassados.

7 – Não abandoneis as vossas famílias para mergulhardes na devassidão; não mancheis a nobreza das vossas almas; não adoreis ídolos que não podem senão manter-se surdos às vossas súplicas.

8 – Enchei o meu templo com a vossa esperança e a vossa paciência, e não esconjureis a religião dos vossos antepassados, pois Eu guiei-os e concedi-lhes a Minha caridade. 

9 – Levantai os caídos, alimentai os famintos e ajudai os doentes, para que possais ser totalmente puros e justos no dia do último julgamento que Eu preparo para vós.»

10 – Os Israelitas vinham em multidões para ouvir as palavras de Jesus; e perguntaram-lhe onde deviam agradecer ao Pai Celeste, uma vez que os inimigos tinham demolido os templos e roubado os vasos sagrados.

11 – Jesus disse-lhes que Deus não se importava com templos erigidos por mãos humanas, mas que os corações humanos eram os verdadeiros templos de Deus.

12 - «Entrai no vosso templo, no vosso coração; iluminai-o com bons pensamentos, com paciência e com a fé inabalável que deveis a vosso Pai.

13 – E os vossos vasos sagrados! São as vossas mãos e os vossos olhos. Procurai fazer o que agrada a Deus, pois, ao fazerdes o bem aos vossos companheiros, realizais uma cerimónia que embeleza o templo onde habita Aquele que vos criou.

14 – Pois Deus criou-vos à Sua própria imagem, inocentes, com almas puras e corações cheios de bondade, e não feitos para planear o Mal, mas para serdes os santuários do amor e da justiça.

15 – Digo-vos, pois: não mancheis os vossos corações com o Mal, pois neles habita o Ser eterno.

16 – Quando fizerdes obras de devoção e amor, que seja de todo o coração, e certificai-vos de que os motivos das vossas acções não contêm esperanças de benefícios ou interesses pessoais;

17 – Pois as acções assim incitadas não vos trarão mais perto da salvação, mas conduzir-vos-ão a um estado de degradação moral em que o roubo, a mentira e o homicídio passam por actos generosos.»


10


1 - Jesus foi de cidade em cidade, fortalecendo com a palavra de Deus a coragem dos Israelitas, que estavam prestes a sucumbir sob o peso do seu pesar, e milhares de pessoas seguiam-no para ouvir os seus ensinamentos.

2 – Mas os chefes das cidades temiam-no e informaram o governador principal, que residia em Jerusalém, de que chegara ao país um homem chamado Jesus, que, através dos seus sermões, dispunha o povo contra as autoridades e que as multidões, ouvindo-o assiduamente, negligenciavam o seu trabalho; e, acrescentaram, dizia que, dentro de pouco tempo, estariam livres dos seus governantes invasores.

3 – Então, Pilatos, governador de Jerusalém, deu ordens para que capturassem o pregador Jesus e o levassem perante os juízes. No entanto, para não despertar a ira da populaça, Pilatos ordenou que Jesus fosse julgado pelos sacerdotes e escribas, os anciãos hebreus, no seu templo.

4 – Entretanto, Jesus, continuando a sua pregação, chegou a Jerusalém, e o povo, que já conhecia a sua fama, tendo sabido da sua vinda, foi ao seu encontro.

5 – Saudaram-no respeitosamente e abriram-lhe as portas do templo, para ouvir da sua boca o que havia dito noutras cidades de Israel.

6 – E Jesus disse-lhes: «A raça humana perece devido à falta de fé; pois as trevas e a tempestade fizeram com que o rebanho se extraviasse, e este perdeu os seus pastores.

7 – Mas as tempestades não grassam para sempre e as trevas não esconderão para sempre a luz; não tarda, o céu ficará sereno, a luz celestial cobrirá novamente a terra e o rebanho perdido reunir-se-á em torno do seu pastor.

8 – Não vagueeis nas trevas à procura do caminho, para não cairdes numa vala; mas reuni-vos, apoiai-vos uns aos outros, ponde no vosso Deus a vossa fé e esperai que ressurja o primeiro lampejo de luz.

9 – Aquele que apoia o seu vizinho, apoia-se a si mesmo; e aquele que protege a sua família, protege todo o seu povo e o seu país.

10 – Pois ficai certos de que está próximo o dia em que sereis libertados das trevas; sereis reunidos numa única família e o vosso inimigo tremerá de medo, aquele que não conhece o favor do grande Deus.»

11 – Os sacerdotes e os anciãos que o ouviam encheram-se de admiração pela sua linguagem e perguntaram-lhe se era verdade que procurara levantar o povo contra as autoridades do país, como havia sido reportado ao governador Pilatos.

12 - «Pode alguém levantar-se contra homens extraviados, a quem as trevas esconderam o seu caminho e a sua porta?», respondeu Jesus. «Limitei-me a avisar os infelizes, como faço aqui, neste templo, de que não devem continuar a avançar pela estrada escura, pois abre-se um abismo ante os seus pés.

13 – O poder desta terra não é de longa duração e está sujeito a inúmeras mudanças. De nada adiantaria um homem erguer-se em revolução contra ele, pois a uma fase sempre se sucede outra, e assim continuará até à extinção da vida humana.

14 – Mas não vedes que os poderosos e os ricos semeiam entre os filhos de Israel um espírito de rebelião contra o poder eterno do Céu?»

15 – Então, os anciãos perguntaram-lhe: «Quem és, e de que país vieste até nós? Nunca ouvimos falar de ti e nem sequer sabemos o teu nome!»

16 - «Sou israelita», respondeu Jesus, «e, no dia do meu nascimento, vi as muralhas de Jerusalém e ouvi os soluços dos meus irmãos reduzidos à escravidão, e os lamentos das minhas irmãs levadas pelos pagãos;

17 – E a minha alma afligiu-se ao ver que os meus irmãos haviam esquecido o verdadeiro Deus. Em criança, deixei a casa de meu pai para me instalar entre outros povos.

18 – Mas, tendo ouvido dizer que os meus irmãos sofriam agora misérias ainda maiores, voltei à terra de meus pais, para chamar os meus irmãos de volta à fé dos seus antepassados, que nos ensina a paciência na terra de modo que se alcance lá em cima a perfeita e suprema bem-aventurança.»

19 – E os velhos sábios fizeram-lhe de novo esta pergunta: «Dizem-nos que negas as leis de Moisés e que ensinas o povo a abandonar o templo de Deus?»

20 – Ao que Jesus respondeu: «Não se demole o que foi dado pelo nosso Pai Celeste e que foi destruído pelos pecadores. Apenas incitei as pessoas a purificarem o coração de toda a mácula, pois é ele o verdadeiro templo de Deus.

21 – Relativamente às leis de Moisés, esforcei-me por as restabelecer nos corações dos homens; e digo-vos que ignorais o seu verdadeiro significado, pois não é a vingança, mas o perdão, que elas ensinam. O seu significado foi pervertido.»


11


1 – Quando os sacerdotes e os anciãos ouviram Jesus, decidiram entre si não emitir qualquer julgamento contra ele, pois não fizera mal a ninguém, e, apresentando-se perante Pilatos – que fora nomeado governador de Jerusalém pelo rei pagão de Roma – falaram-lhe assim:

2 - «Vimos o homem que acusais de incitar o nosso povo à revolta; ouvimos os seus discursos e sabemos que é nosso compatriota;

3 – Mas os chefes das cidades fizeram-vos falsos relatórios, pois é apenas um homem justo que ensina ao povo a palavra de Deus. Após o termos interrogado, deixámo-lo ir em paz.»

4 – O governador ficou então muito zangado e enviou os seus espiões disfarçados para que ficassem de vigia a Jesus e relatassem às autoridades a mais ínfima palavra que ele dirigisse ao povo.

5 – Entretanto, o Santo Jesus continuou a visitar as cidades vizinhas e a pregar o verdadeiro caminho do Senhor, intimando os Hebreus à paciência e prometendo-lhes uma rápida libertação.

6 – E, durante todo esse tempo, um grande número de pessoas seguia-o onde quer que fosse e muitos não o deixavam de todo, mas apegavam-se a ele e serviam-no.

7 – E Jesus disse: «Não ponhais a vossa fé em milagres realizados pelas mãos dos homens, pois só aquele que governa a natureza é capaz de coisas sobrenaturais, enquanto o Homem é impotente para travar a fúria dos ventos ou fazer com que a chuva caia.

8 – Um milagre, porém, está ao alcance do poder do Homem. É quando o seu coração está cheio de fé sincera e ele decide arrancar da mente todas as sugestões e desejos malignos, e quando, para atingir este fim, deixa de percorrer o caminho da iniquidade.

9 – Todas as coisas feitas sem Deus são erros grosseiros, ilusões e seduções, servindo apenas para mostrar o quanto o coração de quem as faz está cheio de presunção, falsidade e impureza.

10 – Não ponhais a vossa fé em oráculos. Só Deus sabe o futuro. Quem recorre aos adivinhos mancha o templo do seu coração e mostra a sua falta de fé no Criador.

11 – A crença nos adivinhos e nos seus milagres destrói a simplicidade inata do Homem e a sua pureza infantil. Um poder infernal toma posse daquele que assim erra, e força-o a cometer vários pecados e a entregar-se à adoração de ídolos.

12 – Mas o Senhor nosso Deus, a quem nenhum se pode igualar, é omnipotente, omnisciente e omnipresente; só Ele possui toda a sabedoria e toda a luz.

13 – É a Ele que vos deveis dirigir, para que sejais confortados nas vossas aflições, auxiliados nas vossas obras, curados das vossas doenças, e aquele que assim Lho pedir não pedirá em vão.

14 – Os segredos da natureza estão nas mãos de Deus, pois o mundo inteiro, antes de se manifestar, existia no seio do pensamento divino, e tornou-se visível e material pela vontade do Altíssimo.

15 – Quando Lhe rezais, tornai-vos novamente criancinhas, pois não conheceis nem o passado nem o presente nem o futuro, e Deus é o Senhor do Tempo.»


12


1 - «Justo», disse-lhe um dos espiões disfarçados do governador de Jerusalém, «diz-nos se devemos continuar a fazer a vontade de César, ou esperar a nossa próxima libertação.»

2 – E, Jesus, que reconhecera os interrogadores como os espiões apóstatas enviados para o seguir, respondeu-lhes: «Não vos disse que seríeis libertados de César; é a alma mergulhada no erro que obterá a sua libertação.

3 – Não pode haver uma família sem um chefe e não pode haver ordem num povo sem um César, a quem deveis implicitamente obedecer, pois será levado a responder pelos seus actos ante o Supremo Tribunal.»

4 - «Possui César um direito divino?», perguntaram-lhe de novo os espiões. «E é ele o melhor dos mortais?»

5 - «Não há um “melhor” entre os seres humanos; mas há muitos maus, que – tal como os doentes precisam de médicos – exigem o cuidado dos que foram escolhidos para essa missão, em que devem ser utilizados os meios dados pela lei sagrada do nosso Pai Celeste;

6 – Justiça e misericórdia são as altas prerrogativas de César, e o seu nome será ilustre se as exercer.

7 – Mas aquele que age de outra forma, que transcende os limites do poder que tem sobre aqueles que estão sob o seu comando, e vai mesmo ao ponto de pôr as suas vidas em perigo, ofende o grande Juiz e derroga a sua própria dignidade aos olhos dos homens.»

8 – Ante isto, uma idosa que se aproximara do grupo para melhor ouvir Jesus foi empurrada por um dos homens disfarçados, que se pôs diante dela.

9 – E Jesus disse: «Não é bom que um filho empurre a sua mãe para que possa ocupar o lugar que a ela pertence. Quem assim não respeita a sua mãe – o mais sagrado ser após o seu Deus –, não é digno do nome de filho.

10 – Escutai o que vos digo: respeitai a mulher; pois nela vemos a Mãe do Universo, e toda a verdade da criação divina virá através dela.

11 – Ela é a fonte de tudo o que é bom e belo, e é também o germe da vida e da morte. Dela depende o Homem em toda a sua existência, pois é o seu apoio moral e natural nos seus labores.

12 – Em dor e sofrimento vos dá à luz; no suor da sua fronte, vela pelo vosso crescimento, e até à sua morte lhe causais grandes ansiedades. Abençoai-a e adorai-a, pois é a vossa única amiga e o único apoio na terra.

13 – Respeitai-a; defendei-a. Fazendo-o, obtereis para vós o seu amor; encontrareis favor perante Deus e, por ela, muitos pecados vos serão perdoados.

14 – Amai as vossas esposas e respeitai-as, pois serão as mães de amanhã e depois as avós de toda uma nação.

15 – Sede submissos à esposa; o seu amor enobrece o homem, suaviza o seu coração endurecido, doma a fera dentro dele e transforma-a num cordeiro.

16 – Esposa e mãe são os tesouros inestimáveis que Deus vos deu. São os mais belos ornamentos do Universo e deles nascerão todos os que habitarão o mundo.

17 – Assim como o Senhor dos Exércitos separou a luz da escuridão e a terra seca das águas, também a mulher possui o dom divino de extrair da natureza maligna do homem todo o bem que há nele.

18 – Digo-vos, pois, que, depois de Deus, é à mulher que devem pertencer os vossos melhores pensamentos, pois ela é o templo divino onde mais facilmente alcançareis a felicidade perfeita.

19 – Retirai deste templo a vossa força moral. Aí esquecereis as vossas mágoas e os vossos fracassos, e recuperareis o amor necessário para ajudardes os vossos companheiros.

20 – Não permitais que ela seja humilhada, pois, humilhando-a, humilhai-vos a vós mesmos, e perdeis o sentimento do amor, sem o qual nada pode existir aqui na terra.

21 – Protegei a vossa esposa, para que ela possa proteger-vos – a vós e a toda a vossa casa. Tudo o que fizerdes pelas vossas mães, pelas vossas esposas, por uma viúva, ou por qualquer outra mulher em dificuldades, fá-lo-eis pelo vosso Deus.»


13


1 – Assim ensinou o Santo Jesus o povo de Israel durante três anos, em todas as cidades e em todas as aldeias, nas estradas e nos campos, e tudo o que disse veio a suceder.

2 – Durante todo este tempo, os espiões disfarçados do governador Pilatos observaram-no de perto, mas nada ouviram que sustentasse as acusações anteriormente feitas contra Jesus pelos chefes das cidades.

3 – Mas a crescente popularidade do Santo Jesus não permitia a Pilatos descansar. Temia que Jesus fosse determinante no desencadear de uma revolução, culminando na sua elevação à soberania, e, por isso, ordenou aos espiões que o acusassem.

4 – Foram então enviados soldados para o prender e lançaram-no numa masmorra subterrânea, onde foi sujeito a todo o tipo de torturas, para o compelirem a acusar-se a si mesmo, para que pudesse ser condenado à morte.

5 – O Santo, pensando apenas na perfeita bem-aventurança dos seus irmãos, suportou todos estes tormentos resignado à vontade do Criador.

6 – Os servos de Pilatos continuaram a torturá-lo, e foi reduzido a um estado de extrema fraqueza; mas Deus estava com Jesus e não permitiu que ele morresse às mãos dos servos.

7 – Quando os principais sacerdotes e sábios anciãos souberam dos padecimentos que o seu Santo sofria, foram a Pilatos, implorando-lhe que libertasse Jesus, para que pudesse assistir ao grande festival que estava próximo.

8 – Mas o governador recusou. Pediram-lhe então que Jesus fosse levado ante o conselho dos anciãos, para que pudesse ser condenado, ou absolvido, antes do festival, e com isto Pilatos concordou.

9 – No dia seguinte, o governador reuniu os principais chefes, sacerdotes, anciãos e juízes, com o propósito de julgar Jesus.

10 – O Santo foi trazido da sua prisão. Fizeram-no sentar ante o governador, entre dois ladrões, que deviam ser julgados ao mesmo tempo com Jesus, de modo que se mostrasse ao povo que ele não era o único a ser condenado.

11 – E Pilatos, dirigindo-se a Jesus, perguntou: «É verdade, ó homem, que incitas a populaça contra as autoridades, com o propósito de te tornares tu mesmo rei de Israel?»

12 – Jesus respondeu: «Ninguém se torna rei pelo seu próprio propósito. Disseram-te uma mentira quando te informaram de que eu estava a incitar o povo à revolução. Só preguei sobre o Rei dos Céus, e foi a Ele que disse ao povo que adorasse.

13 – Pois os filhos de Israel perderam a sua inocência original e, a não ser que retornem à adoração do verdadeiro Deus, serão sacrificados e o seu templo cairá em ruínas.

14 – O poder terreno mantém a ordem na terra; disse-lhes que não o esquecessem. Disse-lhes: “Vivei em conformidade com a vossa situação e abstende-vos de perturbar a ordem pública.” E, ao mesmo tempo, exortei-os a recordar que a desordem reinava nos seus próprios corações e espíritos.

15 – Por isso o Rei dos Céus os castigou e destruiu a sua nacionalidade e lhes retirou os seus reis nacionais, mas, acrescentei, “se vos resignardes ao vosso destino, em recompensa, o Reino dos Céus será vosso”.»

16 - Nesse momento foram trazidas as testemunhas, e uma delas depôs assim: «Disseste ao povo que, em comparação com o poder do rei que em breve libertaria os Israelitas do jugo dos pagãos, as autoridades terrenas de nada valiam.»

17 - «Abençoado sejas!», disse Jesus. «Pois disseste a verdade! O Rei dos Céus é maior e mais poderoso do que as leis do homem e o Seu reino ultrapassa os reinos desta terra.

18 – E não está longe o tempo em que Israel, obedecendo à vontade de Deus, se libertará do seu jugo de pecado; pois foi escrito que surgiria um precursor para anunciar a libertação do povo, e que ele os reuniria numa única família.»

19 – Disse então o governador aos juízes: «Ouvistes isto? O israelita Jesus admite o crime de que é acusado. Julgai-o, então, de acordo com as vossas leis, e condenai-o à morte.»

20 - «Não podemos condená-lo», responderam os sacerdotes e os anciãos. «Como ouvistes, ele falou do Rei dos Céus e não pregou nada que constitua insubordinação contra a lei.»

21 – O governador chamou então uma testemunha que havia sido subornada por si, o próprio Pilatos, para trair Jesus, e este homem disse a Jesus: «Não é verdade que te apresentaste como um rei de Israel quando disseste que aquele que reina no Céu te enviou para que preparasses o seu povo?»

22 – Mas Jesus abençoou o homem e respondeu: «Encontrarás misericórdia, pois o que disseste não saiu do teu próprio coração.» Depois, virando-se para o governador, disse: «Porque baixas a tua dignidade e ensinas os teus inferiores a dizer falsidades, quando, sem o fazeres, tens o poder de condenar um homem inocente?»

23 – Quando Pilatos ouviu as suas palavras, ficou enfurecido e ordenou que Jesus fosse condenado à morte, e que os dois ladrões fossem declarados inocentes.

24 – Os juízes, após se terem consultado mutuamente, disseram a Pilatos: «Não podemos consentir em tomar sobre nós este grande pecado – condenar um homem inocente e libertar malfeitores. Seria contra as nossas leis. Agi vós, então, como julgardes adequado.»

25 – Então, os sacerdotes e os anciãos saíram e lavaram as mãos num vaso sagrado, e disseram: «Somos inocentes do sangue deste justo.»


14


1 – Por ordem do governador, os soldados agarraram Jesus e os dois ladrões e levaram-nos ao local da execução, onde foram pregados nas cruzes erguidas para eles.

2 – Durante todo o dia, os corpos de Jesus e dos dois ladrões ficaram pendurados nas cruzes, a sangrar, guardados pelos soldados. O povo erguia-se a toda a volta e os familiares dos executados rezavam e choravam.

3 – Quando o Sol se pôs, os tormentos de Jesus terminaram. Perdeu a consciência e a sua alma soltou-se do corpo, para se reunir com Deus.

4 – Assim terminou a existência terrestre do reflexo do eterno Espírito sob a forma de um homem que salvara pecadores empedernidos e confortara os aflitos.

5 – Entretanto, Pilatos temia pelo que havia feito, e ordenou que o corpo do Santo fosse dado aos seus parentes, que o puseram num túmulo perto do local da execução. Um grande número de pessoas ia visitar o túmulo e o ar enchia-se com os seus choros e lamentações.

6 – Três dias depois, o governador enviou os seus soldados para remover o corpo de Jesus e enterrá-lo num outro local, pois temia uma rebelião entre o povo.

7 – No dia seguinte, quando as pessoas foram ao túmulo, encontraram-no aberto e vazio, o corpo de Jesus desaparecido. Espalhou-se então o rumor de que o Supremo Juiz enviara os Seus anjos do Céu para remover os restos mortais do Santo em que parte do Espírito divino habitara na terra.

8 – Quando Pilatos soube deste rumor, ficou deveras zangado e proibiu, sob pena de morte, que se dissesse o nome de Jesus ou se rezasse por ele ao Senhor.

9 – Mas o povo continuou, ainda assim, a chorar a morte de Jesus e a glorificar o seu Mestre; pelo que muitos foram levados para o cativeiro, sujeitos a torturas e condenados à morte.

10 – E os discípulos de Santo Jesus partiram da terra de Israel e foram em todas as direcções, até aos pagãos, pregando que deviam abandonar os seus erros grosseiros, pensar na salvação das suas almas e conquistar a perfeita bem-aventurança que aguarda os seres humanos no mundo imaterial, cheio de glória, onde o grande Criador habita em toda a Sua perfeita e imaculada majestade.

11 – Os pagãos, os seus reis e os seus guerreiros ouviram os pregadores, abandonaram as suas crenças erróneas e rejeitaram os seus sacerdotes e os seus ídolos, para celebrar os louvores do mais sábio Criador do Universo, o Rei dos Reis, cujo coração está cheio de infinita misericórdia.


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Mosteiro de Hemis


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ALGUMAS NOTAS


Quem foi Jesus? Como decorreram os anos da sua vida? Como ocorreu a sua morte? Onde foi sepultado? Há provas da sua ressurreição?

Qual foi a educação de Jesus até aos doze anos? Na Índia, com os Essénios em Qumran, com algum mestre desconhecido ou com os seus pais, denotando uma sabedoria inata e precoce?

E onde é que esteve entre os doze e os trinta anos? Na Índia ou entre os Essénios? Desenvolvendo individualmente as suas capacidades?

São múltiplas as hipóteses “nebulosas” com milhares de obras e milhões de páginas gastas com um problema insolúvel. A verdade é que o Jesus histórico, a sua personalidade e ensinamentos, ter-se-ão perdido no vazio dos tempos. Em bom rigor, os primeiros textos sobre a sua vida só terão sido escritos, excepcionando-se as cartas de Paulo, dezenas de anos após a sua crucificação, entre os anos 65 e 110, e é de todo injustificável a construção de doutrinas, algumas absolutamente aberrantes, desprovidas da menor consistência histórica e lógica, que apenas têm como intuito a venda de “livros da moda”. 

Nunca se escreveu tanto na história da humanidade sobre alguém de que se sabe tão pouco.


Para o conhecimento da vida de Jesus, contamos essencialmente com os quatro Evangelhos canónicos do Novo Testamento, atribuídos a Mateus, Marcos, Lucas e João, muito especialmente no período que vai do início do seu ministério até à eventual ressurreição, e dos apócrifos, que foram rejeitados pela Igreja e como tal não são considerados livros sagrados, sem olvidar os “Actos dos Apóstolos”, atribuídos a Lucas. Os três primeiros Evangelhos dizem-se sinópticos, pelo paralelismo ou visão de conjunto que se torna possível estabelecer entre eles.  


O ministério de Jesus tem como antecâmara a pregação de João Baptista no deserto da Judeia, dizendo “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 3, 1-3). Então, Jesus que deveria ter cerca de trinta anos veio ter com ele para ser baptizado (Mt 3, 13). Após a prisão de João, Jesus retirou-se para a Galileia, tendo ido habitar em Cafarnaum, começando a pregar a partir deste momento (Mt 4, 12-17).

Pelas narrações evangélicas tudo leva a crer que Jesus estava convicto da proximidade do Reino dos Céus, transmitindo-o aos seus discípulos que aderiram à palavra do Mestre. O próprio Paulo, que não foi um dos seus discípulos iniciais, decorridos mais de 20 anos após a morte de Jesus ainda aguardava a sua vinda. Vinda essa que tardava e ainda tarda, para julgar os vivos e os mortos.


Depois de iniciar o seu ministério, começou Jesus a percorrer toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, curando o povo de todas as doenças. “A Sua fama estendeu-se por toda a Síria e trouxeram-Lhe todos os que sofriam de qualquer mal, os que padeciam de males e tormentos, os endemoninhados, os lunáticos e os paralíticos; e Ele a todos curou.

Seguiram-n’O grandes multidões, vindas da Galileia, da Decápole, de Jerusalém, da Judeia e de além do Jordão” (Mt 4, 23-25).

Tal notoriedade é atestada por João quando escreve:

«Este é aquele discípulo que dá testemunho destas coisas e que as escreveu, e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro. Muitas outras coisas fez Jesus. Se se escrevessem uma por uma, creio que nem todo o mundo poderia conter os livros que seria preciso escrever.» (Jo 21, 24-25).


Os Evangelhos referem constantemente o facto de Jesus ser seguido por grandes multidões, nalguns casos milhares de homens e mulheres, e a realização de inúmeros e fantásticos milagres nos lugares por onde andou, à excepção de Nazaré, por causa da falta de fé da sua gente:  “Um profeta só é desprezado na sua pátria e em sua casa”. 

Este facto faz com que estranhemos sobremaneira a atitude dos investigadores da época de Jesus. A anuência das multidões à sua palavra, a realização de curas verdadeiramente milagrosas, ressurreições, e a sua aparição num corpo glorioso após a ressurreição a mais de 500 pessoas como afirma Paulo (1 Cor 15, 3-8), não poderiam passar desapercebidas a inúmeros historiadores, tais como:

- Suetónio (65-135) e Plínio, o Jovem (61-114), que se referem à seita dos cristãos, mas nada escrevem sobre Jesus;

- Flávio Josefo, autor de uma obra denominada “Antiguidades Judaicas”, publicada por volta do ano 90, onde refere Herodes, João Baptista e Pôncio Pilatos, mas também nada escreve sobre Jesus;

- Dois contemporâneos de Jesus, também não escrevem nada sobre a sua vida e obra. Fílon de Alexandria, e o mais estranho, Justo, que viveu em Tiberíade, nas proximidades de Cafarnaum, onde Jesus terá arrastado multidões e realizado inúmeros milagres, como Mateus mencionou e já referimos supra;

- Apenas Tácito (55-120), refere um homem de nome Cristo, crucificado no tempo do imperador Tibério, pelo governador Pôncio Pilatos.


Estamos perante um conjunto de factos que permitem as mais diversas interpretações e que dificultam a reconstituição histórica da pessoa e da vida de Jesus, o Nazareno, chegando mesmo alguns estudiosos a negar a sua existência por via quer da ausência de menções históricas quer pela similitude das narrações dos episódios da sua vida comparativamente a outros personagens anteriores, míticos ou reais, de outras religiões.

Julgo que não podemos ir tão longe… Se Jesus é um mito, então é um mito universal que percorreu e se instalou o mundo.

Pode este Evangelho budista dar-nos novas pistas ou esclarecer cabalmente, em parte, alguns dos mistérios que envolvem Jesus? Parece-nos que não.



***



4

4, 12 –

Sindh – O Indostão. Também rio Indo ou Vale do Indo.


5

5, 2 - 

Região dos cinco rios – Punjabe.

Rajastão – é o maior Estado da Índia com capital em Jaipur.

Djain - Conquistador da península do Indostão, cujo nome deu origem ao culto jainista (século VII a.C.).


5, 3 - 

Vyasa Krishna – mencionado como autor do Mahabharata, Vedas e Puranas.


5, 4 – 

Vedas – quatro obras compostas em sânscrito védico. Formam a base do extenso sistema de escrituras sagradas do hinduísmo.


5, 5 - 

Jagannath – Pu-ri

Rajgir é uma cidade no Estado de Bihar, na Índia,

Benares – Varanasi, comummente conhecida como Benares no Estado de Ultar Pradesh na Índia.


5, 6-11 –

Os seres humanos estavam divididos em quatro classes, de acordo com as suas cores: branco (brâmanes), vermelho (xátrias), amarelo (vaixiás) e negro (sudras).

Os Brâmanes eram sacerdotes e pregadores. Esta casta dedicava-se também a comentar os Vedas.

Os Xátrias eram guerreiros e ocupavam os cargos mais elevados na sociedade.

Os Vaixiás eram agricultores, criadores de gado e comerciantes.

Só podiam entrar no templo e ouvir a recitação dos Vedas nos dias feriados.

Os Sudras eram criaturas miseráveis, privadas de tudo, servos e escravos das restantes castas, estando inibidos de assistir à leitura dos Vedas. O seu toque físico contagiava as outras castas.

Quando um sudra não cumpria as funções que lhe eram impostas baixava à categoria de pária, sendo a partir daí banido e desprezado de todo o contacto, tal ser desprezível e hediondo.


Jesus contra a vontade dos Brâmanes e dos Xátrias, nunca abandonou os Vaixiás e os Sudras. Esta atitude está perfeitamente de acordo com a compaixão demonstrada em todos os episódios narrados nos Evangelhos canónicos e inclusivamente nos denominados apócrifos.


Parabrahman – Princípio Uno, a essência de tudo o que existe no Cosmos.


5. 12 –

Puranas - Textos religiosos antigos do hinduísmo divididos em 5 partes. Versam múltiplos assuntos, tais como, leis religiosas, rituais, comentários teológicos, da criação, destruição e ressurreição do Universo, teogonia, medicina. 


5, 14 – 

Trimurti – Trindade ou os três aspectos do divino constituído por três deuses: Brahma, Vishnu e Shiva.


5, 21 –

Kali – A Deusa da destruição e do renascimento, também conhecida como Mãe das trevas ou Mãe devoradora. Uma deusa da Morte a quem eram oferecidos sacrifícios, nalguns casos humanos.


6

6, 1 – 

Brâmanes e Xátrias.


6, 2 – 

País dos Gautamides – Onde nasceu o grande Buda.

Brama – Primeiro Deus da Trimurti. A força criadora activa do Universo.


6, 3 –

A língua páli era uma língua indiana antiga, litúrgica, muito utilizada pelo budismo.

Sutras – Ensinamento religioso das tradições espirituais da Índia, nomeadamente o hinduísmo, o budismo e o jainismo. 


8

8, 3 –

Zoroastro viveu cerca de 550 anos antes de Jesus.

Fundou a doutrina da luta entre o Bem e o Mal, entre a Luz e as Trevas. Distinguia duas divindades: o Bem (Aúra-Masda) e o Mal (Arimã), descendentes de Mitra (o Sol).


8, 8 –

Jesus considera-se um Profeta no diálogo com o sumo-sacerdote Persa.


8, 13 –

Jesus nunca terá querido fundar uma igreja, mas antes uma simples comunidade.


9

9, 1 –

Segundo este texto Jesus chegou a Israel com 29 anos. Nos Evangelhos refere-se o início do seu ministério aos 30 anos.


11

11, 1-4 – 

Atente-se que os sacerdotes e anciãos judeus, depois de terem ouvido Jesus, decidiram não emitir qualquer julgamento contra ele, por se limitar a ensinar a Palavra de Deus, o que não agradou a Pilatos.


11.7 –

Jesus adverte os judeus que o homem não poderá fazer milagres pelas suas mãos. Estão destinados a Deus.


12

12, 8-21

Jesus nunca considerou a mulher um ser subalterno. Nesse aspecto foi um revolucionário na sua época. A mulher podia ser sacerdotal e espiritualmente igual ao homem.

Aliás, no Evangelho de Maria e nos Actos de Filipe, Maria Madalena é conhecida como a Apóstola dos Apóstolos, a quem Jesus estimava acima de todos. Nos Actos de Filipe, que se identifica como seu irmão, Maria Madalena era uma Apóstola que pregava, baptizava e realizava milagres relacionados com curas. No Evangelho de Maria, Maria Madalena era a mulher a quem Jesus amava mais do que a todas as outras mulheres e a quem conhecia muito bem – a palavra conhecer terá um sentido de intimidade, tal como a expressão do Antigo testamento, que “Adão conheceu Eva…”?

Recordemos que foi Maria Madalena a primeira a ver o túmulo de Jesus vazio, terá estado aos pés da cruz e a primeira a encontrar e a falar com o ressuscitado.

Madalena está presente no momento em que a fé cristã se inicia. Sem ressurreição não há Cristo. Como disse S. Paulo “Se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé” (1Cor 15, 14).

Vamos deixar esta questão, como muitas outras, para um novo estudo.     


13

É interessante anotar que os ditos Evangelhos Canónicos imputam aos judeus toda a culpa pela condenação de Jesus à morte, tendo Pilatos lavado as suas mãos como gesto de discórdia. 

Neste Evangelho a culpa cabe exclusivamente a Pilatos que via em Jesus um perigo para o império, tendo sido os sacerdotes e os anciãos judeus que saíram e lavaram as mãos num vaso sagrado por discordarem da condenação de um justo.

Neste particular, a lógica parece assistir aos escritos budistas. Jesus nunca foi impedido de entrar no templo e nas sinagogas, onde pregava e debatia as escrituras sem qualquer constrangimento aparente.

Mas a sua popularidade poderia semear ou fazer despertar o espírito de revolta do povo judaico contra o invasor pagão.

Deverá, pois, ter sido Pilatos o único responsável pela crucificação de Jesus.


14

Este texto budista não nos permite identificar a localização do túmulo de Jesus. Apenas Pôncio Pilatos e os seus subalternos o poderiam saber, a ser verídica a narrativa.

- O túmulo do Santo Sepulcro não dá quaisquer garantias que Jesus aí tenha sido sepultado, quer pela data de construção, quer pela alegada “ressurreição” que não deixaria margem para provas concludentes. Tenha-se em consideração que o sudário que foi objecto de tantas controvérsias é uma peça do século XIV. 

- Simcha Jacobovici e Charles Pellegrino crêem que um túmulo judeu do século I encontrado casualmente em Talpiot, Jerusalém, no ano de 1980, é o sepulcro de Jesus e da sua família.

No túmulo foram encontrados dez ossários. Desses dez, seis tinham uma inscrição e quatro não tinham nenhuma.

Os seis tinham as seguintes inscrições:

Jesus filho de José.

José – será este o pai de Jesus?

Maria – a mãe de Jesus?

Mariamne – única inscrição em grego, com o aditamento, também conhecida por Mara (Mestre). 

Mateus - ?

Judas, filho de Jesus – será um filho de Jesus e de Maria Madalena?


Mariamne era um nome frequentemente usado na casa real herodiana. Uma versão helenizada do hebraico. Em hebraico Mariamne é reconhecida como Miriam (Miriam, irmã de Moisés e Aarão).

No entanto, Francois Bovon, professor de história da religião, tendo por base os Actos de Filipe, que o descrevem como irmão de Mariamne, teorizou que este era o nome verdadeiro de Maria Madalena, também conhecida por Mara (Mestre).

Foram realizados testes de ADN de material colhido dos ossários de Jesus, filho de José e de Mariamne, tendo sido excluída a eventual maternidade, paternidade, ou irmandade.

Não sendo do mesmo sangue, Mariamne deveria ser a mulher de Jesus filho de José e apesar de inexistirem mais testes de ADN, Judas seria filho de ambos.

- Como já vimos, Holgar Kersten, considerando que Jesus na crucificação teve uma morte aparente, um estado comatoso reversível, após a “ressurreição” partiu para a Índia, onde viveu e foi sepultado (Srinagar, Caxemira).

- Um outro exemplo da controvérsia gerada em torno da figura histórica de Jesus:

A cerca de cinco quilómetros de Damasco, existe um lugar chamado Mayuam-i-isa, "O lugar em que Jesus viveu".

Em Damasco, Jesus tinha todas as possibilidades de ser protegido pela comunidade essénia. Já que era nessa cidade situada na parte central da Síria, que a Ordem dos Essénios tinha o seu centro espiritual.

O historiador persa Mir Kawand citou várias fontes que atestam que Jesus viveu e doutrinou nessa localidade após a crucificação.


Mesmo que Jesus tenha sido sepultado, este facto por si, não destrói a argumentação dos teólogos dogmáticos da sua possível ascensão aos céus.

“(…) ressuscita-se num corpo espiritual. Ora, eu digo isto, irmãos: a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdará a incorruptibilidade. (…) Importa que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, que este corpo mortal se revista da imortalidade.” (ver 1 Cor 15, 35-57).

Mais uma entre tantas questões, podendo adiantar-se que em várias religiões anteriores a Jesus, vários deuses-homens ressuscitaram três dias depois da sua morte, no equinócio da Primavera, mais ou menos por volta do período pascal, nomeadamente Átis, Dionísios e Osíris.


Iremos permanecer para sempre na ignorância de um dos maiores mistérios da humanidade.



Prédio do túmulo em Srinagar




José Maria Alves

https://homeoesp.org/

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