Quando, desertas as aldeias,
caladas as canções do povo,
se levanta, encanecida,
sobre o pântano a neblina:
das florestas, sorrateiros,
um após outro, pelos campos,
saem os lobos para a caça.
Dos valentes, sete andam juntos,
e à cabeça a comandar
vai o oitavo que é branco.
O cortejo misterioso
pelo nono lobo é fechado,
deitando sangue da pata,
atrás de todos a mancar.
Não há nada que os assuste.
Se acaso vão para a aldeia,
nem o cão lhes há-de ladrar,
e o camponês só de vê-los
nem se atreve a respirar,
murmura a sua oração
fica mais branco que a cal.
Contornam a igreja os lobos,
por largo e sorrateiramente.
Entram para o quintal do padre,
as suas caudas remexendo.
À porta da taberna, à coca,
espetam todos as orelhas:
há blasfémias lá dentro?
Olhos como velas, os dentes
mais aguçados que sovelas.
Carrega lá treze metralhas
com pêlo de cabra, amigo,
sem medo, atira a matar.
Primeiro cairá o branco,
trás dele os outros vão tombar.
E quando na aldeia o galo
acordar quem ainda dorme,
nove velhas, e todas mortas,
verás espalhadas pela erva.
A da frente é a mais grisalha,
a de trás coxa, e todas nove
em sangue... Valha-nos Deus!
Tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra
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