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ARTE

segunda-feira, 26 de julho de 2010

SEM PRINCÍPIO NEM FIM




No princípio
Se é que houve princípio apesar dos homens a tudo darem primórdios
Já que sem início a nada dão existência e
Apesar da essência do Ser ser o Não-Ser e o Não-Ser nunca nascer

Mas nunca houve princípio quer se queira quer se não queira
Quer se façam ou não birras-filosóficas-infantis ou
As equações os resultados falseiem ou
A carroça-vã da teologia insista no mesmo trilho-sem-verdade
Quer se inventem os deuses que a imaginação e medo alcancem
Nunca houve princípio


Tudo fluía nesse início que não foi princípio
Como agora flui
Como para sempre fluirá
Manifestando-se em formas multíplices
Impermanentes
Ocasionais
Sujeitas a leis errantes
Encobertas
Locais

Não há leis gerais
E o Ser

O Ser vive em si
No infinito
Na eternidade da chama
Viva do Amor

Não habita em quem o vive
Nem no que vive

Não está e não é
É e está
Como taça vazia
Que se enche de nada
Fonte de água da levada
De mil e uma nascentes
Que irrompem na rocha
Tal braço de mar
Que tudo arrasa

Indeterminado
Inominado
Sem fim ou começo
Alto ou baixo
Ou lado
Sem espaço
Não pode ser buscado

Não existe para si
Para mim
Para ti
Existe por si
Na invisível eternidade

Existência que é essência
Essência com existência

O eterno sem centro é perfeito
Como o rio que corre no seu leito
E com humildade se faz oceano

Não se esgota
Não é tudo
Nem nada
É o vazio íntegro da totalidade

O que não tem fim
Nada sustenta
Não é sustentado
Não é teu ou meu
De qualquer marca de gente
Local ou universal
E quando por mim passa
Estou certo
Não há eu
Apenas o vácuo da mente

O tempo dos tempos é percorrido
Em mutações sucessivas
Inesperadas
No seio do que sem começo nem fim
Muda e flui
Na sua majestosa permanência
E enganadora aparência

Muitos milhões são as galáxias
Incontáveis os profundos universos
Fabricando-se e desfazendo-se
Por amor da união
Da desintegração
No tempo eterno
Espaço infinito
Do que permanece
Na dança cósmica dos mundos

Não houve princípio
Não haverá fim

Inventaste o princípio e os deuses
Atormentado por medos
E pelo sentimento do vazio entediado
Gerado pelo cárcere do tempo
E pelo esquife do espaço imenso

Não houve princípio
Não haverá fim

Há um campo de concentração
Onde abunda a fome de espírito
Os reclusos alimentam-se de fantasmas
Enquanto o cérebro esquelético
Se degrada e definha
Há gente de esperança e desespero
Todos ludibriados por espectros visíveis
Almas de outro reino inventado


Pergunto-me para onde vou
Para onde irei
Quem sou

Sou o que não tem interpretação e que perante o mundo
É apenas o insignificante sem rumo
O caminhante do nada
O que morrerá numa qualquer estrada
Anónimo

Não ouso desejar
Até o desejo do Ser é ilegítimo
Nenhum desejo é permitido
Apenas o do ancoradouro inseguro

Não desejar
Desejar a ausência do desejo já é desejar
O desejo é insaciável a ambição desmedida
A paixão dilacerante e o apego mata
Só existe alívio para quem a si se basta

Não saio de casa
Do meu pequeno e dócil quarto
Vejo tudo o que se pode ver
Conheço tudo o que se pode conhecer

Viajo sem me movimentar
Conheço sem ler
Amo sem te ter
Ajo na tranquilidade e por todo o lado
Sopra o vento da felicidade

Sou abastado por nada possuir
Sou forte por sem esforço me vencer
Poderoso sem me mexer

Poderei eu perder o que não tenho nem intento ter

O que faz muitas coisas e guarda o seu fruto
Não o conservará
Tudo perderá

Quem age sem intenção frutifica naturalmente

Quem busca perde-se no além da floresta virgem
E nada retém ou encontra

Encontrar significa libertar

Quem quiser guardar a reputação perdê-la-á
Quem quiser amontoar riqueza arruinar-se-á
Quem quiser aferrolhar paixões corromper-se-á
Quem quiser escudar-se do perigo perecerá

Morto ficarei onde estou
Estarei onde não estava
Verei o que não vi
Sentirei o que não senti
Serei o que não sou
E irei onde não vou

Séculos e séculos a investigar a morte
Que dilacera corações e agrilhoa espíritos

Sabeis o que é a morte
Sabeis o que é morrer

Se falecerdes para o passado a cada minuto
A todo o instante sabereis o que é o decesso
O que é fenecer

Extinto o ego resta a Mente vazia
Na paz dos tempos infindáveis
O que não tem princípio nem fim

Afinal o que por tanto procurardes
Nunca encontrásteis nem encontrareis
Ocupados como estais com velhos trastes
Que o Barqueiro não vos deixará transportar
Para a outra Margem


JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org

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