Há dias que não têm ninguém para olhar
Com seus olhos condenados à solidão do corpo
O último comboio de quem não quer viajar em pássaros combustíveis percorre sonolento as estações dormentes
Os carris untados de saliva diurna enchem a noite de cansaço
No som luminoso das juntas de dilatação
Já pouco nos resta
Para além dos corpos carbonizados
A jazer na berma dos acidentes da vida
No céu indignado as nuvens fistuladas por acessos de raiva espermática
Deslizam na superfície da parede que se incendeia ao contacto do corpo efervescente
Com a dor dorida do destino humano
E seja como for
As mesmas palavras
Os mesmos gestos
Os mesmos sonhos transparentes
A mesma chuva nas velhas vidraças
O mesmo Inverno bolorento
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