novamente esta
vigília esboçada em sombras áureas no
porão da galé
onde os
penitentes espectros da noite vogando em escuros trirremes
rondam a lua
circular comovidos pelas lágrimas dos indigentes prateados
ah as ilusões em
fúria sorvida em pequenos goles de estanho
os estúpidos
apegos nadando à superfície das cabeças transparentes
os corpos
trespassados por vagas palpitantes de árvores dobadas pela cegueira
há um sossego
voraz um silêncio mordente uma luz ardente de música que no coração em chamas
ecoa
momento de
amotinação a espalhar quietação na planície alvar movimento de asas incapazes
de voar
não fora a
fraqueza da ralé devorada pelo atrevimento da auto compaixão
reles e verminosa
na medula corroída da ousadia
o firmamento
desabaria nos crânios esmagados por albatrozes
o fogo do amor
consome a forragem do passado
o fogo extinto da
misericórdia enterra os seus mortos
o relógio da
torre há muito que não bate as suas lânguidas horas
e as palavras
fluem flamejantes na inutilidade do vácuo
afinal
onde a oração
salvadora do náufrago moribundo se veste na sede púrpura da ilusão?
no cais de pedra
enegrecido pelo lodo milenar a viúva do tempo carrega longos gemidos e solta ao
vento de sueste esguios ais
a vida foi-lhe
madrasta arrancou-lhe dos braços parasitados por veias salientes filhos marido
e a vontade de viver
nada a convencerá
a permanecer entre os vivos
uso as minhas
próprias mãos para golpear o medo
as unhas
embebidas em veneno rasgam a angústia
dilacerando o
sexo modelando o manso coração da alba
pouco falta para
que o dia nasça com toda a sua turbulência mesquinha
lá na lonjura o
apito funéreo do navio que entra a barra singrando o nevoeiro denso da pele
crespa dos últimos amantes
velas
desfraldadas de lábios carnudos em tempo de geada
e há um prazer
imenso em tudo isto enigma do próprio mistério construído por estilhaços
indecifráveis
saber que ninguém
me irá ler
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