COMÉRCIO DE ESCRAVOS
PORTUGAL - BRASIL
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Há séculos que a escravatura é uma realidade.
O comércio de escravos do Médio Oriente, entre o século VII e IX, foi realizado pelos árabes que escravizaram sobretudo africanos, o que levou à morte de cerca de 18 milhões deles.
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O comércio de escravos do Atlântico terá começado por volta de 1434, findando em finais do século XIX – não obstante a escravatura de “facto” não tenha terminado de imediato.
Os escravos eram transportados da África para a América do Sul e do Norte por navios negreiros, também denominados "tumbeiros" (o nome diz tudo - tumbeiro » tumba) pertencentes a comerciantes portugueses, espanhóis, franceses, ingleses, holandeses e alguns americanos.
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O COMÉRCIO DE ESCRAVOS EM PORTUGAL
Alguns historiadores referem que foi a partir da viagem de Gil Eanes, que trouxe para Portugal a primeira “carga” de escravos, que os portugueses os começaram a traficar, detendo o domínio deste comércio durante o século XV.
No entanto, a criação de feitorias como a de Arguim no ano de 1450, permitiu que fossem vendidos em segurança os produtos portugueses, em troca de ouro, especiarias e escravos.
Foram inclusivamente criadas "legalmente" várias companhias para o efeito, como a de Lagos, no ano de 1444.
A própria Igreja de Roma pela Bula Dum Diversas de 18 de Junho de 1452, do papa Nicolau V, concedia a D. Afonso V e seus sucessores, a faculdade de conquistar e subjugar as terras dos infiéis e de os tornar escravos.
Aos portugueses, neste próspero negócio em terras de África, apadrinhado pela Igreja e pela monarquia, que apesar de tudo se manteve ainda que encapotado quase até ao fim do Império, seguiram-se-lhe os espanhóis, ingleses, holandeses e franceses.
Crianças em navio negreiro - 1840
Os escravos foram transportados até ao século XIX em navios vindos de África, apelidados de “negreiros” ou “tumbeiros”. Os comerciantes compravam escravos já escravizados por outros africanos, aprisionados nas guerras tribais.
Homens, mulheres e crianças, todos acorrentados, eram literalmente amontoados em pequenos compartimentos do porão onde grande parte sucumbia à demorada viagem. Nesse local de transporte, faziam as suas necessidades, vomitavam por enjoo de mar ou doença, comiam a parca comida que lhes era atirada do convés e conviviam com os corpos dos que iam morrendo e rapidamente entravam em putrefacção, no meio das fezes, urina e vómitos.
Por vezes, em temporais de mar grosso, desfeito, os capitães ordenavam que fossem alijados ao oceano os corpos dos mortos e dos moribundos, aliviando assim a carga do navio para que melhor pudesse suportar a fúria do mar.
No século XVI os escravos passariam a ser exportados para o Brasil nessa abominação denominada “navios-negreiros”. No século XVII, Angola, pelo porto de Luanda, foi um dos mais importantes centros de comércio de escravos para o Brasil.
Escrava com menino branco no Brasil em 1860
Cerca de 12 milhões de homens, mulheres e crianças, atravessaram o Atlântico rumo às Américas, de molde a satisfazer as necessidades de mão-de-obra e libidinosas de colonos sem escrúpulos.
No reinado de D. José, em 12 de Fevereiro de 1761, por obra do Marquês de Pombal foi abolida no Reino de Portugal (só na Metrópole) e na Índia a escravatura. Nada como parecer o que se não é…
Em 1807 a Inglaterra decreta o Acto contra o Comércio de Escravos, seguindo-se o Acto da Abolição da Escravatura de 1833.
Não fora a actuação da maior potência naval do mundo à época e a escravatura ter-se-ia mantido por mais umas dezenas de anos.
Como escreveu Sá da Bandeira em 10 de Dezembro de 1836, aquando da abolição quase integral da escravatura, “O infame tráfico dos negros é certamente uma nódoa indelével na história das Nações modernas”.
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PEDIDO DE DESCULPA
Já que nenhum chefe de estado ou governante português teve a coragem de pedir desculpa pública pelos hediondos crimes cometidos por portugueses (cristãos…) na colonização do Brasil por escravos africanos, faço-o eu, a todos os que faleceram e a todos os que deles descendem.
A todos os africanos que foram afastados das suas famílias e origens, transportados e vendidos por comerciantes ignominiosos, como "animais" em mercados de escravos.
A todos os que morreram nas terríveis viagens que tiveram de fazer acorrentados como animais selvagens.
A todos os que foram mortos e torturados física e psicologicamente pelos seus "donos" inumanos.
A todos os que foram desumanamente explorados na sua força de trabalho, incluindo crianças.
A todas as mulheres e crianças escravizadas, criminosamente violadas pelos "donos" e seus familiares, capatazes, feitores, entre outros.
A todos os seus descendentes, que carregam nas suas memórias e genes, um dos actos mais cruéis da história.
Sinto muito. Quem o fez não pode de modo algum ser cristão, merecendo o desprezo dos que tanto sofreram e morreram às mãos do lucro, da ganância e da lascívia, apadrinhada pelo Papa Nicolau V e pelos reis portugueses, e não podem de modo algum ser considerados pessoas de bem, quanto mais heróis neste seu país.
Conheciam e apregoavam o Evangelho, mas deles pode dizer-se como disse Ghandi: "Amo o cristianismo, mas odeio os cristãos, pois não vivem segundo os ensinamentos de Cristo."
Os "negreiros" e os que permitiram o tráfico de escravos não eram cristãos, eram criminosos.
Sinto-me envergonhado pelos “negreiros” e por todos os que são incapazes de assumir os erros da história.
Menino escravo
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Vídeo I
Vídeo II
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Portugal foi quem deu início ao comércio de escravos no Atlântico.
Portugal é o principal responsável e instigador da concorrência neste infame comércio por parte de outras nações.
Estou convencido de que foram muito mais de 12 milhões de africanos escravizados e de que podem ter morrido cerca de 3 milhões na travessia do Atlântico.
Quer se queira quer não, ouve uma verdadeira hegemonia de portugueses e brasileiros no comércio de escravos.
Há um estudo publicado na revista “Stvdia”, nº 50, de 1991, intitulado “Para o estudo do tráfico de escravos de Angola (1640-1668)”, da autoria de Maria Luísa Esteves, do Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga, do Instituto de Investigação Científica Tropical, onde se pode ler: (…)“era verdadeiramente desumana” a maneira como, naquela época, os escravos originários de Angola eram transportados para o Brasil.
“A fim de evitar os suicídios em massa, pois muitos deles preferiam a morte a ir trabalhar para a América, metiam-nos na coberta do navio, aferrolhados e apertados uns contra os outros, mal podendo respirar. Nestas condições e com uma alimentação insuficiente e má, feita quase sempre com géneros deteriorados, não era para admirar que grande parte deles morresse pelo caminho. A percentagem de 30 a 40 por cento era considerada normal e a designação dada aos navios empregados neste tráfico – ‘tumbeiros’, de tumba – mostra eloquentemente, tornando desnecessárias mais explicações, o que seriam tais viagens nessa espécie de ‘esquifes flutuantes’.”
Em Fevereiro de 1992, na Ilha de Gorée (Senegal), o Papa João Paulo II referiu que o comércio de escravos teve a participação de “pessoas baptizadas, mas que não viveram a sua fé”, e declarou: “A partir deste santuário africano do sofrimento negro, imploramos o perdão do céu”.
Em 30 de Janeiro de 2006, o ex-presidente francês Jacques Chirac destacou o dia 10 de Maio como um dia nacional em memória das vítimas da escravidão promovida pela França.
Em 31 de Maio de 2007, o governador do Alabama, Bob Riley, assinou uma resolução expressando “profundo pesar” pelo papel do Estado na escravidão e pediu desculpas pelos erros e efeitos remanescentes. O Alabama foi o quarto estado do Sul a fazer um pedido de desculpas formal pela escravidão, após Maryland, Virgínia e Carolina do Norte.
Em 30 de Julho de 2008, a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou uma resolução pedindo desculpas pela escravidão e por leis discriminatórias posteriores.
Em 18 de Junho de 2009, o Senado dos Estados Unidos emitiu um comunicado pedindo desculpas e condenando as “fundamentais injustiças, crueldades, brutalidades e desumanidades da escravidão”, uma notícia bem recebida por Barack Obama.
A 23 de Abril de 2017, Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República Portuguesa, afirmou que o poder político português reconheceu a injustiça da escravatura quando a aboliu, em parte, do seu território pela mão do Marquês de Pombal, em 1761.
Esqueceu-se o presidente que alardeava tanta cultura e conhecimentos, enquanto comentador de um canal televisivo, de que só em 1836 foi oficialmente decretada a abolição da escravatura e de que só a partir do ano de 1869 deixou de haver escravos – se deixou…- em todo o território português? Não, não se esqueceu. Mas ter conhecimentos não implica sabedoria. E quanto a sabedoria o presidente português é “analfabeto”.
Nunca deveria ter ido à Ilha de Gorée, nem em Julho ao Brasil, sem que reconhecesse expressamente o infame papel português no tráfico de escravos, com o inevitável pedido de desculpas.
É isso que se pede a um homem de carácter e não “desculpas esfarrapadas”.
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José Maria Alves
https://homeoesp.blogspot.com/
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