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ARTE

sábado, 23 de novembro de 2013

ABISMO




foi na morada da serra nascida do gelo e amamentada pelos torgais que das alturas mergulhei pela primeira vez nos abismos

meia-dúzia de chalés no lugarejo
um charco iluminou-se ao som da lua     naquele local haviam uivado tristes tísicos nas noites plantadas de frígidas estrelas

ao amanhecer um manto de neve cobria todas as emoções sentimentos e afectos     os pensamentos escorriam nas falanges regeladas

no vale das éguas um silêncio sepulcral e as penhas douradas ainda orvalhadas projectavam sombras vivas na lagoa de cristal

ali estava o meu oceano as caravelas de antanho os velozes veleiros do algodão com seus capitães ferozmente tisnados pelo sol dos mares embravecidos do sul

canibais vestidos de azul

na vila submissa ajoelhada aos pés dos cumes graníticos bebia-se o sangue da terra negra esventrada por nossos avós 

um garimpeiro de almas abrira as portas do campanário deserto     a casa ao lado habitada por giestas e por bem-nascido silvado estava à venda
ninguém comprava nada     o pároco só     no confessionário

deus tinha andado por ali naquele vazio inóspito de floreiras murchas e de vasos despedaçados     afastara-se entediado     a senhora t… da casa da águia asseverou que andava por assedasse 
se por lá andasse – como se eu acreditasse – já teria sido visto
observador de raios criadores e trovões demolidores como era sou e o ignoro

os degraus da sala desciam por um portal semiaberto
daí haviam partido em pânico e sufoco todos os descobridores de monstros e animais fantásticos
mares de olhos negros onde rugiam cravos mágicos
nos rochedos do firmamento ouviam-se os cânticos do sangue coalhado

um quadro a óleo na parede virgem
- a música é um modelo para a pintura – 
uma fenda no tabique     do lado de lá da realidade o mais belo de todos os tesoiros
nem pratas nem oiros nem pedras preciosas

na escuridão amorosas ninfas subterrâneas
um vazio     um nada 
queda vertiginosa no vórtice do sonho





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