a cidade está suja o fumo cai na nudez das estátuas
trabalhadores estéreis homúnculos sem cabeça
braços de vidro acotovelam-se como ratos cariados nos esgotos putrefactos sepulcros da vida vagueiam alheados nas ruas pavimentadas a patético suor
braços de vidro acotovelam-se como ratos cariados nos esgotos putrefactos sepulcros da vida vagueiam alheados nas ruas pavimentadas a patético suor
há um fogo aceso em cada corpo fedente
as igrejas parcimoniosas estão dissimuladas a sacrossantos ícones
apenas umas máquinas japonesas de fazer imagens distorcidas escorraçam os pombos enfermos e as prostitutas do entardecer
as frontarias desérticas lembram o cristo antigo nas chagas das pedras amarelecidas de nicotina
sórdida mudez clama por parceria
ninguém desce ao inferno sozinho
há sempre um anjo por companhia
as saias curtas os calções rasgados da moda provocatória os olhares impotentes da senilidade poisados nos seios quase descobertos
finos odores de corpos prostituídos
o coração das fachadas descompassado
as almas dos templos ausentes pedras que carpem a grosseria dos tempos
no rio uma brisa húmida arrefece o batel a cidade asperge ilusória beleza quando a luz das lâmpadas amarelas alastra às águas sombrias oprimidas pela enchente
o cacilheiro ilumina-se
lá dentro os últimos operários do sono
alguém abre a bolsa-do-fel num cunhal pombalino aos pés de um cabaré
acena a um táxi o motorista ignora-o
um outro pedaço de lixo aguarda o alvorecer num vão de escadas alagado de quimeras
o cais deserto
último trem para cascais
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