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ARTE

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

FERNANDO PESSOA - O MENINO DA SUA MÃE


No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
- Duas, de lado a lado –,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com o olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! que jovem era!
(Agora, que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
“O menino de sua mãe.”

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.

5/1926


JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org

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