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AS SENTENÇAS DA LEI – BUDA - (DHAMMAPADA) - TAO TE CHING – LAO TSE - BHAGAVAD GUITÁ
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AS SENTENÇAS DA LEI – BUDA
(DHAMMAPADA)
INTRODUÇÃO
No século VI a.C. nasceu num principado indiano que fazia fronteira com o Nepal, Siddhartha Gautama.
Terá nascido príncipe, mas por volta dos seus vinte e nove anos de idade, ao ver-se confrontado com todos os sofrimentos que acometem o Homem, tais como as doenças físicas e psíquicas, a velhice e a morte, saiu da sua zona de conforto, fez-se asceta mendicante, e partiu em busca da Verdade que poderia fazer cessar os múltiplos padecimentos humanos. Era sua intenção descobrir a solução para os males do mundo; mundo de sofrimento.
Para uma melhor compreensão do Budismo veja-se a introdução sintética:
Segundo Buda, a vida no mundo é sofrimento. O nascimento é sofrimento; a velhice é sofrimento; a doença física ou psíquica é sofrimento; a morte é sofrimento; não atingir o que se deseja ou viver na pobreza material ou espiritual é sofrimento.
É este o problema central do Budismo, que se constitui como um problema prático:
Num mundo de sofrimento como “curar” o homem desse sofrimento?
O Budismo nasceu na Índia, expandiu-se primeiramente pela Ásia e depois para Ocidente.
A doutrina de Buda revela-se como um protesto contra o ensinamento tradicional, em que predominava o sistema de castas e em que eram privilegiados rituais, cerimónias e orações aos deuses.
O Dhammapada ou “Sentenças da Lei”, de que se seguem alguns excertos, é talvez a obra mais importante do Budismo.
DHAMMAPADA - EXCERTOS
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A mente precede todos os estados mentais.
A mente é a criadora dos estados mentais,
pois, por ela, todos são moldados.
Se o homem fala ou age com uma mente impura,
o sofrimento segue-o como a roda que segue os pés do boi.
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A mente precede todos os estados mentais.
A mente é a criadora dos estados mentais,
pois, por ela são todos criados.
Se o homem fala ou age com uma mente pura,
a felicidade segue-o como uma sombra que é inseparável do corpo.
***
Neste mundo o ódio nunca é aplacado pelo ódio. Nunca o ódio põe fim ao ódio.
O ódio é unicamente apaziguado pela benevolência, pelo não-ódio.
Esta é uma lei eterna.
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Assim como uma tempestade não estremece uma montanha rochosa,
da mesma forma a morte jamais submete o homem que vive a meditar sobre o sofrimento e a miséria, sobre o que é impuro e corrompido,
que tem o autodomínio dos sentidos,
é moderado no comer, firme na sua fé, e de comportamento virtuoso.
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Aquele que produz o mal padece no presente e no futuro,
sofre nos dois mundos.
Lembrando-se dos seus actos corrompidos, oprimido pelo terror das más acções que cometeu,
lamenta-se e aflige-se com os seus remorsos.
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Por pouco que recite os textos sagrados,
se o homem colocar em prática o ensinamento,
enjeitando a carnalidade, o ódio e a ilusão,
com verdadeira sabedoria e com um espírito livre,
sem estar apegado a nada, deste ou de outro mundo,
participa das bênçãos de uma vida santa e soube praticar o ascetismo.
***
A vigilância é o caminho para a imortalidade.
A negligência é o caminho para a morte.
Os que vivem activamente vigilantes não morrem.
Os inconscientes assemelham-se a cadáveres; já estão mortos em vida.
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Tal como um peixe que retirado da água, salta e se debate,
assim, também, é a mente agitada.
Por isso mesmo devemos
abandonar o reino do medo e da angústia da morte.
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Não existe medo para aquele que despertou,
cuja mente não está embriagada pela lascívia,
nem atormentada pelo ódio,
e que superou tanto o mérito como o demérito.
***
Cuidado!
Em breve este corpo se deitará sobre a terra,
ignorado, repelente e sem vida, como um tronco inútil.
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Que ninguém procure os defeitos dos outros;
que ninguém examine as acções e omissões dos outros.
Que cada um esteja atento aos seus próprios actos.
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Não é o doce cheiro das flores, nem sequer o aroma do sândalo ou do jasmim que sopra contra o vento.
Mas a fragrância do homem de virtude sopra contra o vento, penetra no próprio furacão.
Em boa verdade, o homem virtuoso atravessa todas as direcções e espalha-se por todos os lugares com o bálsamo da sua virtude.
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Se aquele que busca não encontra companhia melhor ou igual a si,
deixá-lo seguir decididamente um caminho solitário.
Não tem que se associar aos tolos.
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O tolo e o insensato preocupam-se, pensando: “Eu tenho filhos, eu possuo riqueza”.
Em verdade, se nem ele próprio pertence a si próprio, quanto mais os filhos, ou a riqueza?
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Um tolo que conhece a sua loucura é sábio, pelo menos até esse ponto,
mas um tolo que se julga sábio é seguramente um tolo.
***
Uma coisa é a busca do lucro mundano, outra coisa bem diferente é o caminho para o nirvana.
Que o monge, discípulo do Buda, o entenda claramente, não se deixando arrastar pelo louvor do mundo, mas em seu lugar cultive o desapego e se consagre à solidão.
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Assim como um rochedo não é abalado pela tempestade,
da mesma forma o sábio não se deixa afectar por qualquer ofensa ou louvor.
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Ao ouvir o ensinamento, os sábios tornam-se naturalmente purificados,
tal como um lago profundo, límpido e transparente.
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Poucos entre os homens são aqueles que atravessam a corrente do mundo para a outra margem.
O resto, a maior parte, apenas corre para cima e para baixo, para lá e para cá, na margem de cá.
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Aqueles cujas mentes atingiram a perfeição suprema,
o espírito indomável e sempre a caminho, libertos de todos os desejos,
que brilham na sabedoria,
alcançam o nirvana nesta mesma vida.
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A febre da paixão não existe para aquele que concluiu a jornada, que não tem tristezas e está totalmente liberto,
que quebrou todos os laços.
Esse liberou-se de todo o sofrimento.
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O homem que não tem uma fé cega, que conhece o incriado,
que cortou todas os laços, destruiu todas as causas, e deitou fora todos os desejos,
liberto nada mais desejou,
ele, na verdade, é o mais excelente dos homens.
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Inspirador, na verdade, é o lugar onde habitam os libertos;
seja uma aldeia, uma floresta, um vale, ou uma montanha.
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Inspiradora e deliciosa é a solidão da floresta, desdenhada pelas pessoas mundanas.
É aí que o liberto, indiferente a tudo, não buscando o prazer dos sentidos, encontra a suprema felicidade.
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Embora um guerreiro famoso possa vencer milhares e milhares de homens numa batalha,
aquele que se vence a si mesmo é sem dúvida o mais nobre de todos os vencedores.
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Vale mais viver um dia na presença da verdade suprema,
do que viver cem anos na ignorância da finalidade suprema.
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Tal como poeira fina atirada contra o vento,
o mal cai em cima do tolo que ofende um homem inofensivo, puro e inocente.
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Todos tremem perante a violência;
todos temem a morte.
Ponderando cada ser a partir de ti, colocando-te no lugar do outro, não atormentes ninguém, não mates ninguém, nem induzas ninguém a fazê-lo.
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Se, como um sino rachado, já nada soa no homem,
então atingiu o nirvana e todos os conflitos cessaram.
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Mesmo que se apresente ricamente vestido, se for calmo, controlado e estabelecido na vida santa,
tendo abandonado a violência contra todos os seres,
esse, verdadeiramente, é um homem santo, um renunciante, um discípulo, um monge.
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Os construtores de canais regulam as águas,
os arqueiros forjam as flechas,
os carpinteiros dão forma à madeira,
e os sábios dominam-se a si próprios.
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Este corpo desgastado é um abrigo para as doenças.
Esta massa frágil e putrefacta desintegra-se, porque a morte é o fim da vida.
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Mesmo os mais belos carros reais acabam por se desgastar.
Também este corpo se desgasta.
Mas o bem não envelhece;
assim os que são sábios dão-no a conhecer aos sábios.
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O homem que nada aprendeu nem compreendeu, envelhece como um touro embrutecido.
Cresce-lhe a barriga e decresce-lhe a sabedoria.
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Uma pessoa deve fazer primeiro, aquilo que ensina os outros a fazer;
se uma pessoa treina outros, deve ter ela mesma autodomínio.
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Uma pessoa é na realidade, o protector de si mesmo;
quem mais o poderia ser?
Mestre de si mesma, totalmente controlada, a pessoa ganha uma perfeição difícil de obter.
***
O mundo é cego, jaz numa noite profunda.
Apenas alguns possuem discernimento.
Só uns poucos, como pássaros escapando-se da gaiola,
se elevam para o reino da felicidade.
***
Aquele que se refugia em Buda, no ensinamento e na comunidade,
penetra com sabedoria transcendental as Quatro Nobres Verdades:
o sofrimento, a causa do sofrimento, o fim do sofrimento
e o Nobre Caminho Óctuplo que conduz à cessação de todo o sofrimento.
***
Difícil de encontrar é o homem desperto, o Buda,
ele não nasce em qualquer lugar.
No lugar onde nasce um homem assim tão sábio,
essa comunidade prospera na felicidade e os ascetas vivem na tranquilidade.
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A fome é a pior das doenças.
A ilusão da vida com os seus condicionamentos, o pior dos sofrimentos.
Aquele que reconhece uma coisa e outra no âmago da realidade,
conquista a felicidade do nirvana.
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Tendo saboreado a solidão e a paz,
o discípulo torna-se livre de dor e sem mácula,
desfruta profundamente o sabor da felicidade da libertação.
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Não guardes nada que te é querido, pois a separação do que te é benquisto é dolorosa.
Não busques a quem amar, porque perder quem se ama é doloroso.
Não há laços para aqueles que não têm apegos.
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Uma pessoa deve abandonar a raiva, renunciar ao orgulho, e libertar-se de todos os laços da existência.
O sofrimento não atinge o que é desapegado,
que não se prende à mente,
e que não se prende ao corpo.
***
Supera a raiva com a serenidade;
supera a maldade com a bondade;
supera a avareza com a generosidade;
supera a mentira com a verdade.
***
Que um homem vigie a sua fala;
que se mantenha calmo quando fala;
que seja contido a falar.
Que abandone a má conduta verbal, e fale com palavras justas.
***
Agora, és como uma folha seca;
os mensageiros da morte aguardam-te.
Estás na véspera da tua partida,
no entanto nada preparaste para a tua viagem.
***
Aquele que aniquila os seres vivos,
que profere mentiras,
que toma para si o que não é seu,
que seduz a mulher de outro homem,
que é viciado em bebidas alcoólicas,
tal homem já é neste mundo um homem destruído.
***
Um monge não é venerável pelos seus cabelos grisalhos.
Ser velho por causa da idade, é ter envelhecido em vão.
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Não é por observar o silêncio que alguém se torna sábio.
Se for tolo e ignorante o silêncio não faz dele um eremita.
O sábio age como quem tem uma balança na sua mão e aceita somente o bem.
***
O sábio ao rejeitar o mal, é verdadeiramente um sábio,
uma vez que compreende o mundo presente e o futuro.
Este bem merece o nome de eremita.
***
Todas as coisas condicionadas são impermanentes.
Quando o vemos com sabedoria,
afastamo-nos do sofrimento.
Este é o caminho para a libertação.
***
Todas as coisas condicionadas são insatisfatórias.
Quando o vemos com sabedoria,
afastamo-nos do sofrimento.
Este é o caminho para a libertação.
***
Que uma pessoa vigie o seu discurso,
que controle a mente e os pensamentos,
e não pratique o mal.
Quem assim agir, atingirá o caminho dos perfeitos.
***
Penosa é a vida de um eremita e de um monge;
difícil é ter prazer nessa vida.
Também difícil e penosa é a vida no lar.
Dura é a vida com os próximos e com os estranhos.
Não continues com os laços que te prendem à vida, deixa de ser um andarilho sem rumo:
acaba com o sofrimento.
***
Aquele que se senta sozinho, que dorme sozinho,
que ensina o que não sabe a si próprio,
que anda sozinho, que se esforça e se domina a si próprio,
encontrará a bem-aventurança no retiro da floresta.
***
É melhor não fazer uma má acção, pois os remorsos atormentam quem a faz.
Melhor é praticar uma boa acção, da qual nunca nos lamentaremos.
***
Tal como um elefante no campo de batalha resiste às flechas,
assim também devo eu saber suportar com paciência
as palavras maldosas que me são dirigidas.
Há muitas pessoas a quem falta a virtude e o mundo está repleto de homens vis.
***
Vigia-te a ti mesmo.
Delicia-te na diligência.
Guarda bem os teus pensamentos do erro.
Sai para fora deste lodaçal do mal,
tal como um elefante sai da lama.
***
É bom ter amigos quando a infelicidade nos bate à porta;
bom é estar contente com o que se tem;
bom é ter mérito quando a vida chega ao fim, afrontando a morte com um espírito sereno;
bom é quando nos libertamos de todo o sofrimento, seguindo o caminho da libertação.
***
Assim como uma árvore, que apesar de cortada, se as raízes se mantiverem intactas e firmes, brota de novo da mesma forma,
assim até que o desejo latente seja desenterrado, o sofrimento surge vezes sem conta.
***
Bom é o domínio da visão;
bom é o domínio da audição;
bom é o domínio do olfacto;
bom é o domínio do paladar.
Bom é que se esteja sempre atento.
***
Aquele que não tem qualquer apego de mente e corpo,
para quem não existem as noções de eu e de meu, nesta vida efémera,
que não se lamenta por aquilo que não tem,
é verdadeiramente um monge exemplar.
***
Cada um é o seu próprio mestre.
Cada um é o protector de si mesmo,
cada um é o refúgio de si mesmo.
Assim, cada um deve dominar-se, da mesma maneira que um treinador domina um cavalo selvagem.
***
Esforça-te, ó homem santo!
Corta o fluxo da avidez e descarta os desejos sensuais.
Conhecendo a destruição de todas as coisas condicionadas,
torna-te, ó homem santo, o conhecedor do nirvana.
***
Aquele para quem não existe nem esta nem a outra margem,
nem mesmo ambas,
que está livre de preocupações e sem apegos,
a esse chamo de homem santo.
***
Não se deve ofender ou atacar um homem santo,
nem deve um homem santo, quando ofendido ou atacado, dar lugar à raiva.
Maldito é aquele que ofende ou atinge um santo homem, e maldito o santo que responder à ofensa ou à agressão.
***
Aquele que usa um hábito feito de trapos,
descarnado, pálido, mostrando veias sobre todo o seu corpo,
que medita sozinho na floresta,
esse merece o nome de santo.
***
Aquele que ainda durante esta vida
compreende por si mesmo o fim do sofrimento,
liberto de qualquer fardo e livre de toda a preocupação,
a esse chamo de homem santo.
***
Aquele que se mantém distante tanto de chefes de família como dos ascetas,
que foge das relações com o mundo,
não se ligando a ninguém,
sem tecto e caminhando sem qualquer desejo e sem preocupações,
que de pouco precisa,
a esse chamo de homem santo.
***
Aquele que renunciou à violência
para com todos os seres vivos,
animais ou plantas, fortes ou fracos,
que não mata nem induz os outros a fazê-lo,
a esse chamo de homem santo.
***
Todo aquele para quem o passado, o presente e o futuro nada são,
que nada deseja,
que a nada se apega,
e de nada se apossa,
esse é o Homem Santo.
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