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AS SENTENÇAS DA LEI – BUDA - (DHAMMAPADA) - TAO TE CHING – LAO TSE - BHAGAVAD GUITÁ
TAO TE CHING
LAO TSE
INTRODUÇÃO
O Tao Te Ching, múltiplas vezes traduzido como “O Livro do Caminho e da Virtude” é uma das obras mais conhecidas da China e surge-nos como uma antologia de aforismos, sem uma verdadeira ordenação sistemática. É o livro principal do Taoísmo.
Segundo a tradição, terá sido escrito no século III ou IV a.C.
Tem-se atribuído a sua autoria a Lao Tse, que significa “Velho Mestre”. No entanto, há uma grande controvérsia sobre este facto.
A obra versa sobre o Tao, a realidade última do Universo, originando a religião denominada Taoísmo, e tendo também influenciando o Budismo Zen.
O Tao (o Caminho) é um princípio que não pode ser definido nem compreendido. É a fonte e a origem de toda a existência. É invisível e omnipotente, contudo, humilde; é a raiz de todas as coisas.
Para compreender o Taoísmo devemos compreender os seus três fundamentos: O Tao, a Virtude e o não agir.
O Tao faz com que tudo seja como é. Está na sua própria origem e é a sua causa.
Apesar de invisível, manifesta-se pela sua influência que é a Virtude. A Virtude flui naturalmente.
O taoista tem uma conduta tranquila, que não interfere no curso dos acontecimentos e é indiferente a normas morais ou sociais.
O sábio consegue em vida retornar à tranquilidade do agir sem agir do Tao primitivo.
Em bom rigor o Tao não age. Não age, mas também não deixa de agir; flui com naturalidade.
O Tao ensina que inexiste qualquer entidade divina a gerir o mundo. Tudo emerge espontaneamente do Nada e tudo acontece por si.
Advoga para o homem, uma vida simples, sem angústia existencial com todas as suas dúvidas insanáveis, insistindo numa conduta que se deixa absorver pelo curso natural da vida. Pelo não-agir, o homem isento de preocupações, não controlando o seu destino, aceitando o inevitável, age sem agir, age espontaneamente e santifica-se.
TAO TE CHING – EXCERTOS
***
O caminho
em que se pode caminhar
não é o Caminho eterno.
***
O Tao é algo indistinto, mas completo,
anterior à existência do Céu e da Terra.
Tranquilo e silente, mantém-se por si só
e sendo estável,
move-se em círculo sem nunca se fatigar.
***
O homem brota da terra,
a terra brota do céu,
o céu brota do Tao,
e o Tao
flui espontaneamente por si.
***
No mundo,
as dez mil coisas
nascem do que existe.
O que existe
nasce do que não existe.
***
As dez mil criaturas
dependem do Tao.
As dez mil criaturas
retornam ao Tao.
O Tao
parece humilde,
mas é grande.
***
Ao Tao
chamamos-lhe a forma do que não tem forma,
a aparência do que não tem aparência.
Chamamos-lhe a obscuridade esquiva.
Quando o descobrimos
não lhe vemos o início.
Quando o acompanhamos
não lhe vemos o fim.
***
Aprender o Tao antigo lidando com o que existe no presente,
sendo capaz de identificar a antiga origem,
a isso chama-se desembaraçar o fio do Tao.
***
A revelação da grande Virtude
é apenas algo que segue o Tao.
***
O Tao é o antecessor de tudo
o que foi e subsiste.
***
Dar vida sem se apoderar,
actuar sem aguardar retorno,
perseverar sem subjugar,
a isso chama-se a virtude oculta.
***
O que existe é o que dá valia às coisas.
O que não existe é o que as torna vantajosas.
- como o cântaro que se enche de vinho –
***
O Tao é vazio,
mas nunca fica cheio.
Não sei se é filho de alguém.
É a imagem do que é anterior a Deus.
***
O Tao gera o Um,
o Um gera o Dois,
o Dois gera o Três,
o Três gera as dez mil criaturas.
As dez mil criaturas carregam o Yin,
que desce e forma a terra,
e enlaçam o Yang,
que sobe e forma o céu,
combinando o sopro do Vazio
para que sejam harmoniosas.
***
O Tao é humilde,
mas nada o pode submeter.
***
O Tao é para o que existe no mundo
o que um ribeiro num vale
é para um rio ou para o mar.
***
Agindo como o ribeiro do mundo,
a virtude eterna nunca nos abandona
e voltamos a ser como neonatos.
***
O ser e o não ser nascem um do outro.
***
Quem é sábio adere ao fazer sem agir
e pratica o ensino sem falar.
O ensino sem palavras
e as vantagens do não-agir,
raramente se alcançam no mundo.
***
O que tem valor usa o humilde como base.
Aí alcança a honra sem honra.
Não deseja ter muitas jóias que parecem jade,
mas muitas jóias de jade que parecem pedras.
***
Estimar o mundo como se fosse o nosso corpo
é como ser capaz de se acolher no mundo.
Amar o mundo como se fosse o nosso corpo
é como ser capaz de se entregar ao cuidado do mundo.
***
Quem se põe em bicos de pés não tem firmeza.
Quem se ostenta não brilha.
Quem se elogia não subsiste.
***
Quem é sábio abraça o Um e age segundo o exemplo do mundo.
***
Quem ostenta riquezas ou honrarias,
à sua vanglória oferece a sua punição.
***
A limpidez da serenidade é a perfeição do mundo.
***
O Tao está oculto e não tem nome.
***
O mundo teve uma origem
que pode ser considerada a mãe do mundo.
Imersos nela não correremos qualquer perigo.
***
Alcançado que seja o vazio derradeiro,
mantemo-nos verdadeiramente tranquilos.
As dez mil coisas surgem unidas,
e ao contemplá-las, regressamos.
***
Regressar ao destino diz-se eternidade.
***
Falar pouco é que é o natural.
***
Se entesourarmos a virtude,
nada nos limitará.
***
Quem sabe não fala.
Quem fala não sabe.
***
A virtude superior é ficar sem agir,
sem ter motivo para agir.
A virtude inferior é agir,
mas tendo um motivo para agir.
***
Observemos a natureza original,
abracemos o que é simples.
Diminua-se o interesse próprio
e que sejam moderados os desejos.
***
Dar vida e criar;
dar vida sem se apropriar;
agir sem esperar retorno;
persistir sem dominar.
A isto chamamos a virtude oculta.
***
O grande Tao é plano,
mas as pessoas preferem os atalhos.
***
Deixando-me ser assim insignificante,
saberei seguir pelo grande Tao
e só terei temor de me distanciar dele.
***
Vestir roupagens finas e coloridas;
usar cintos com espadas afiladas;
nunca se fartar de bebidas e de comida;
ter dinheiro e mercadorias em demasia;
é o que se chama ser um ladrão elegante.
Não é seguir pelo Tao.
***
A fome do povo deve-se aos seus governantes.
***
O povo desconsidera a morte porque implora
pelo que há de mais material na vida.
***
Só quem age sem ter em conta a vida
é capaz de lhe dar o seu recto valor.
***
A mente perfeita é profunda;
a relação perfeita é desinteressada;
o discurso perfeito é verdadeiro;
a acção perfeita é oportuna.
***
Só não competindo
nada haverá a desaprovar.
***
Quem é sábio é humilde,
fica por cima, mas o povo não sente nenhum fardo,
fica à frente, mas o povo não se sente lesado.
Por isso, todos o impelem alegremente para a frente
e nunca se fatigam dele.
É por não competir,
que ninguém consegue competir com ele.
***
Quem é sábio,
põe-se atrás do seu corpo, e ele segue à frente;
sai fora do seu corpo e ele continua a viver.
***
Fazendo-se o proveitoso, governa-se um povo.
No mundo há excessivas proibições e tabus
e o povo fica com mais precisões.
Decretam-se leis e quanto mais são proclamadas
mais criminosos, ladrões e assaltantes há.
Por isso quem é sábio anuncia:
ficarei sem agir e o povo por si progredirá;
ficarei sereno e o povo por si se preceituará;
não farei nada e o povo por si enriquecerá;
não desejarei nada e o povo ficará simples por si.
***
Age sem agir,
fazer o que é natural basta.
Desse modo,
nada fica por governar.
***
As coisas difíceis de alcançar
minam o nosso modo de agir.
***
Não fazendo mal uns aos outros
as suas virtudes encontram-se e regressam.
***
O Tao nunca age,
mas nada fica por fazer.
Ele não age nem deixa de agir,
deixa-se ir, fluindo naturalmente.
***
Sem desejos, pela tranquilidade
o mundo por si próprio se corrige.
***
Sem se transpor a soleira da porta,
conhece-se o mundo.
Sem se espreitar pela janela,
vê-se o Tao celestial.
Por isso quem é sábio
não viaja mas conhece,
não vê mas esclarece,
não age mas completa.
***
Se o povo não teme a autoridade,
foi alcançada a mais perfeita autoridade,
que não desrespeita os locais onde ele reside
nem rejeita o seu modo de vida.
Só não rejeitando não se é rejeitado.
***
Quem é sábio
conhece-se a si mesmo,
mas não se mostra a si mesmo.
Gosta de si mesmo,
mas não se valoriza a si mesmo.
***
Quem conhece os outros é inteligente.
Quem se conhece a si mesmo é esclarecido.
***
Quem vence os outros é forte.
Quem se vence a si próprio é poderoso.
***
Quem se contenta com o que tem é rico.
***
O que é que nos é mais querido, a reputação ou a vida?
O que é que é mais importante, a vida ou o dinheiro?
O que é mais doloroso, ganhar ou perder?
Sabendo quanto nos basta, evitam-se desgraças.
***
Não há maior erro do que desejar ter mais.
Se soubermos que o suficiente é suficiente,
teremos sempre o suficiente.
***
No mundo todos dizem que o meu Tao é grande.
Tenho três tesouros que mantenho e protejo:
O primeiro chama-se compaixão,
o segundo chama-se moderação,
e o terceiro chama-se não me atrever a ser no mundo o primeiro.
***
A bravura com ousadia leva à morte.
A bravura sem ousadia leva à sobrevivência.
***
Nos sítios onde acampam os batalhões,
crescem canaviais e arbustos com espinhos.
A seguir a um exército,
vem sempre um ano de fome.
***
Os peixes não devem abandonar as águas profundas.
As armas mais favoráveis de uma nação não devem ser expostas aos outros.
***
Quem é bom oficial não assume uma pose marcial.
Quem é bom lutador não se enfurece.
Quem é bom a vencer um inimigo não o confronta.
Quem é bom a chefiar outros mantém-se abaixo deles.
***
O Tao celestial não tem parentes,
mas ajuda sempre as pessoas boas.
***
O bom caminhar não deixa pegadas.
O bom falar não deixa erros a reprovar.
***
Quem é sábio,
sempre bom no auxílio que presta aos outros,
nunca os abandona.
***
As palavras em que podemos confiar não são as belas.
Quem é habilitado não entra em debates.
Quem sabe não é douto.
***
O Tao do Céu recolhe
sem nunca originar mal.
O Tao de quem é sábio
age sem competir.
***
O Tao do Céu reduz o que está em excesso
e acrescenta ao que não tem o suficiente.
O Tao dos homens não é assim:
Reduz ao que não tem o suficiente
para o dar ao que tem excesso.
***
Quem é sábio tem um coração inconstante
porque o coração de toda a gente é o seu.
Todos fixam nele os olhos e os ouvidos
e ele a todos sorri como uma criança.
***
O Tao é o esconderijo
das dez mil criaturas,
o tesouro dos bons,
o lugar de abrigo
dos que não são bons.
O que é que os antigos consideravam tão valioso nos seguidores deste Tao? O que era?
Não diziam eles:
Pede e receberás
e tendo culpa,
serás perdoado?
Por isso, o Tao é o tesouro do mundo.
***
Agir sem agir,
fazer sem fazer,
saborear o sem sabor,
engrandecer o que é pequeno,
aumentar o que é pouco,
retribuir a inimizade com a virtude,
planear o que é difícil no que ele tem de fácil,
fazer o grande no que ele tem de pequeno.
É assim que o sábio atinge a grandeza.
***
Quem age danifica.
Quem agarra desperdiça.
Por isso, quem é sábio,
como não age, não danifica,
como não agarra, não desperdiça.
***
Saber não sabendo é o melhor.
- um saber que é basicamente inconsciente, que é o fundamento do agir sem agir. –
***
As minhas palavras são muito fáceis de compreender,
muito fáceis de seguir.
Mas no mundo não há ninguém capaz de as entender
não há ninguém capaz de as seguir.
***
Os que me entendem são raros.
É por isso que me consideram valioso.
Pois quem é sábio,
veste roupa grosseira,
mas dentro do peito traz jade.
***
***
José Maria Alves
https://josemariaalves.blogspot.com/
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