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ARTE

terça-feira, 20 de outubro de 2020

AS SENTENÇAS DA LEI - DHAMMAPADA - COMPLETO - BUDA

 



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AS SENTENÇAS DA LEI – DHAMMAPADA – COMPLETO








AS SENTENÇAS DA LEI – BUDA
DHAMMAPADA






INTRODUÇÃO

No século VI a.C. nasceu num principado indiano que fazia fronteira com o Nepal, Siddhartha Gautama.

Terá nascido príncipe, mas por volta dos seus vinte e nove anos de idade, ao ver-se confrontado com todos os sofrimentos que acometem o Homem, tais como as doenças físicas e psíquicas, a velhice e a morte, saiu da sua zona de conforto, fez-se asceta mendicante, e partiu em busca da Verdade que poderia fazer cessar os múltiplos padecimentos humanos. Era sua intenção descobrir a solução para os males do mundo; mundo de sofrimento.

Para uma melhor compreensão do Budismo veja-se a introdução sintética em:

Segundo Buda, a vida no mundo é sofrimento. O nascimento é sofrimento; a velhice é sofrimento; a doença física ou psíquica é sofrimento; a morte é sofrimento; não atingir o que se deseja ou viver na pobreza material ou espiritual é sofrimento. 

É este o problema central do Budismo, que se constitui como um problema prático:
Num mundo de sofrimento como “curar” o homem desse sofrimento?

O Budismo nasceu na Índia, expandiu-se primeiramente pela Ásia e depois para Ocidente.
A doutrina de Buda revela-se como um protesto contra o ensinamento tradicional, em que predominava o sistema de castas e em que eram privilegiados rituais, cerimónias e orações aos deuses.

O Dhammapada ou “Sentenças da Lei” é talvez a obra mais importante do Budismo. É o texto mais lido do Budismo Theravada. 

Em inglês e em francês são inúmeras as traduções, o que conduziu a que os ensinamentos de Buda tenham sofrido as inevitáveis desfigurações. Trata-se de algo que não pode ser corrigido.
Utilizámos entre outras, nomeando nesta sede apenas algumas delas, as seguintes traduções da obra. A do páli por Acharya Buddharakkhita, que foi depois traduzida para português (do Brasil) por Bhikkhu Dhammiko, a versão portuguesa de Pedro Alvim, a tradução de Weragoda Thero e a de Bhikkhu Bodhi, bem como a da edição em inglês de “The Dhammapada”, da Theosophy Company, Los Angeles, EUA, com tradução para português (do Brasil) realizada por Carlos Aveline.

A obra “As Sentenças da Lei” pode ser considerada como o núcleo dos ensinamentos de Buda, que iluminam de mil e uma formas a vida dos que os lêem e neles meditam com paciência e perseverança.





***






***
  


DHAMMAPADA



VERSÍCULOS OPOSTOS

1.
A mente precede todos os estados mentais.
A mente é a criadora dos estados mentais,
pois, por ela, todos são moldados.
Se o homem fala ou age com uma mente impura,
o sofrimento segue-o como a roda que segue os pés do boi.

2. 
A mente precede todos os estados mentais.
A mente é a criadora dos estados mentais,
pois, por ela são todos criados.
Se o homem fala ou age com uma mente pura,
a felicidade segue-o como uma sombra que é inseparável do corpo.

3.
“Ele ofendeu-me, ele bateu-me, ele ridicularizou-me, ele furtou-me”.
Aqueles que acolhem tais pensamentos não conseguem serenar o seu ódio.

4. 
“Ele ofendeu-me, ele bateu-me, ele ridicularizou-me, ele furtou-me”.
Aqueles que não acolhem tais pensamentos serenam o seu ódio.

5.
Neste mundo o ódio nunca é aplacado pelo ódio. Nunca o ódio põe fim ao ódio.
O ódio é unicamente apaziguado pela benevolência, pelo não-ódio.
Esta é uma lei da eternidade.

6.
Muitos são os que não se capacitam que um dia todos teremos de morrer.
Muitos são os que não se apercebem de que a paciência nos torna pacientes.
Aqueles que o compreendem resolvem os seus conflitos interiores.

7. 
Assim como uma tempestade derruba uma árvore frágil,
o mesmo sucede quando a morte vence o homem que vive para o prazer,
com os sentidos desgovernados, intemperado no comer, ocioso, e desatento.

8.
Assim como uma tempestade não estremece uma montanha rochosa,
da mesma forma a morte jamais submete o homem que vive a meditar sobre o sofrimento e a miséria, sobre o que é impuro e corrompido,
que tem o autodomínio dos sentidos, 
que é moderado no comer, firme na sua fé, e de comportamento virtuoso.

9.
Quem for libertino, destituído de autodomínio e verdade,
ao vestir o hábito amarelo do monge, não é digno dele.

10.
Mas quem quer que se tenha purificado da devassidão,
estabelecido nas virtudes e pleno de autodomínio e veracidade,
é na realidade digno do hábito amarelo.

11.
Aqueles que confundem o que não é essencial como sendo essencial
e o que é essencial com não sendo essencial,
sustentando pensamentos desacertados,
nunca atingirão o essencial.

12. 
Aqueles que conhecem o essencial como sendo essencial 
e aquilo que não é essencial como não essencial, nutrindo pensamentos correctos,
atingirão o essencial.

13.
Assim como a chuva penetra na casa com uma má cobertura de colmo,
também as paixões invadem a mente que não vigia. 

14.
Assim como a chuva não penetra numa casa bem edificada e com um bom telhado,
também as paixões não entram na mente que vigia.

15.
Aquele que produz o mal padece no presente e no futuro,
sofre nos dois mundos.
Lembrando-se dos seus actos corrompidos, oprimido pelo terror das más acções que cometeu,
lamenta-se e aflige-se com os seus remorsos.

16.
Aquele que faz o bem rejubila no presente e no futuro,
exulta nos dois mundos.
Rememorando as suas acções puras, regozija-se e alegra-se.

17.
Aquele que faz o mal sofre no presente e no futuro,
padece nos dois mundos.
O pensamento “eu fiz o mal”, mortifica-o e faz com que sofra ainda mais
quando renascer no reino da agonia.

18.
Aquele que faz o bem rejubila no presente e no futuro,
é feliz nos dois mundos.
O pensamento “eu fiz o bem”, extasia-o e delicia-o ainda mais 
quando renascer no reino da bem-aventurança.

19. 
Por muito que recite os textos sagrados,
se não agir nesse sentido,
o homem descuidado é como um pastor que só conta as vacas dos outros,
não beneficiando das bênçãos de uma vida santa.

20. 
Por pouco que recite os textos sagrados,
se o homem colocar em prática o ensinamento,
enjeitando a carnalidade, o ódio e a ilusão,
com verdadeira sabedoria e com um espírito livre,
sem estar apegado a nada, deste ou de outro mundo,
participa das bênçãos de uma vida santa e soube praticar o ascetismo.


A VIGILÂNCIA

21.
A vigilância é o caminho para a imortalidade.
A negligência é o caminho para a morte.
Os que vivem activamente vigilantes não morrem.
Os inconscientes assemelham-se a cadáveres, já estão mortos em vida.

22.
O sábio, apreendendo nitidamente a excelência da vigilância,
exulta e compraz-se na companhia dos puros.

23.
Os sábios, sempre meditativos e firmemente perseverantes,
experimentam sozinhos a felicidade,
a incomparável liberdade da escravidão.

24.
A glória cresce sempre naquele que é enérgico,
consciente e puro na sua conduta,
que tem discernimento e autodomínio,
que é justo e que vigia.

25.
Com esforço e vigilância, disciplina e autodomínio,
deixai que o sábio crie para si uma ilha que nenhum dilúvio possa submergir.

26.
Os tolos e os ignorantes entregam-se à negligência,
mas o sábio mantém a vigilância como o seu maior tesouro.

27.
Não dês azo à negligência.
Não te entregues aos prazeres sensoriais.
Só quem vigia e medita é que obtém a felicidade.

28.
Tal como alguém que observa do topo de uma montanha
os pequenos seres humanos em baixo, na terra,
assim, também, sempre que o sábio troca a negligência pela diligência e sobe à torre do conhecimento, 
este sábio, liberto da tristeza, contempla a multidão
tola e sofredora.

29.
Consciente entre os inconscientes,
bem desperto entre os sonolentos,
o sábio avança tal como um cavalo veloz
superando os que são mais lentos.

30.
Foi pela vigilância que Maghava, o rei dos deuses, se tornou o soberano dos deuses.
A vigilância é sempre elogiada,
a negligência sempre desprezada.

31.
O monge que se compraz na vigilância
e olha com medo para a negligência,
avança como o fogo,
queimando todos os grilhões.

32.
O monge que se compraz na vigilância
e olha com medo para a negligência,
não cairá nunca.
Esse monge está próximo do aniquilamento.


O ESPÍRITO

33.
Assim como um arqueiro endireita a haste da flecha,
também o homem firme apruma a sua mente
volúvel e instável, tão difícil de domar.

34.
Tal como um peixe que retirado da água, salta e se debate,
assim, também é a mente agitada.
Por isso mesmo devemos
abandonar o reino do medo e da angústia da morte.

35.
Maravilhoso é na realidade domar a mente,
tão difícil de subjugar, sempre veloz, apossando-se de tudo o que deseja.
Uma mente controlada traz a felicidade.

36.
Deixai que o homem sensato vigie a sua mente,
tão difícil de detectar e extremamente subtil, apossando-se de tudo o que deseja.
Uma mente vigiada traz a felicidade.

37.
Permanecendo na gruta do coração,
a mente sem forma deambula para longe e sozinha.
Aqueles que subjugam esta mente
ficam libertos das cadeias da morte.

38.
Na mente sem determinação,
que não conhece o ensinamento e cuja fé oscila,
a sabedoria nunca será perfeita.

39.
Não existe medo para aquele que despertou,
cuja mente não está embriagada pela lascívia, 
nem atormentada pelo ódio,
e que superou tanto o mérito como o demérito.

40.
Percebendo que o corpo é tão frágil como um vaso de barro,
fortalecendo a mente como uma cidade bem fortificada,
combate a morte com a espada da sabedoria.
Depois, preservando a conquista, mantém-te desapegado.

41.
Cuidado!
Em breve este corpo se deitará sobre a terra,
ignorado, repelente e sem vida, como um tronco inútil.

42.
Seja qual for o dano que possa causar entre dois inimigos,
uma mente mal dirigida inflige a si mesma um dano ainda maior.

43.
Nem mãe, nem pai, nem qualquer outro parente,
ninguém pode fazer um bem maior do que cada um a si próprio,
com a sua mente bem direccionada.


AS FLORES

44.
Quem vencerá esta terra, este reino de morte,
esta esfera de homens e de deuses?
Quem alcançará a perfeição no bem doutrinado caminho da sabedoria,
tal como a florista faria com perfeição o seu arranjo floral?

45.
Aquele que se esforça no caminho há-de superar esta terra,
este reino de morte e esta esfera de homens e deuses.
Aquele que se esforça no caminho há-de levar à perfeição o bem ensinado caminho da sabedoria,
assim como a florista faria com perfeição o seu arranjo floral.

46.
Percebendo que este corpo é como espuma,
penetrando na sua natureza ilusória,
e arrancando as flechas de sensualidade do rei da morte com flores na ponta,
escapa ao seu poder.

47.
Assim como uma inundação poderosa leva na torrente a aldeia que dorme,
também a morte leva na enxurrada o homem com a mente distraída,
que só arranca as flores do prazer.

48.
O aniquilador tem o domínio sobre a mente de um homem distraído,
que com insaciáveis desejos sensuais,
apenas arranca as flores do prazer.

49.
Assim como a abelha recolhe o mel da flor sem ferir a sua cor ou fragrância,
assim o sábio recolhe comida na aldeia.

50.
Que ninguém procure os defeitos dos outros;
que ninguém examine as acções e omissões dos outros.
Que cada um esteja atento aos seus próprios actos.

51.
Tal como uma flor bonita cheia de cores mas sem odor,
do mesmo modo, são infrutíferas as palavras íntegras e justas de quem as não pratica.

52.
Tal como uma flor bonita cheia de cor e com perfume,
do mesmo modo, são produtivas as palavras íntegras e justas de quem as pratica.

53.
Assim como de uma grande quantidade de flores se podem fazer muitos arranjos florais,
também muitas acções bondosas deveriam ser realizadas por quem nasce mortal.

54.
Não é o doce cheiro das flores, nem sequer o aroma do sândalo ou do jasmim que sopra contra o vento.
Mas a fragrância do homem de virtude sopra contra o vento, penetra no próprio furacão.
Em boa verdade, o homem virtuoso atravessa todas as direcções e espalha-se por todos os lugares com o bálsamo da sua virtude.

55.
De todas os aromas, sândalo, incenso, lótus azul e jasmim,
de todos o mais doce é a virtude.

56.
Débil é a fragrância do incenso e do sândalo, mas excelente é a fragrância do virtuoso,
flutuando até por entre os deuses.

57.
O rei da morte nunca consegue encontrar o caminho de quem é verdadeiramente virtuoso,
que persevera diligentemente e que se liberta pelo conhecimento perfeito.

58.
Sobre um monte de esterco na valeta à beira da estrada,
cresce um lótus, agradável e com um odor magnífico.

59.
Do mesmo modo, no monte de esterco dos cegos mortais,
o discípulo daquele que se iluminou de forma exímia brilha resplandecente em sabedoria.


O INSENSATO

60.
Longa é a noite para aquele que não dorme;
longa é a légua para o homem fatigado. 
Longa é a existência mundana para os tolos
que não conhecem a Verdade Sublime.

61.
Se aquele que busca não encontra companhia melhor ou igual a si,
deixá-lo seguir decididamente um caminho solitário.
Não tem que se associar aos tolos.

62.
O tolo e o insensato preocupa-se, pensando: “Eu tenho filhos, eu possuo riqueza”.
Em verdade, se nem ele próprio pertence a si próprio, quanto mais os filhos, ou a riqueza?

63. 
Um tolo que conhece a sua loucura é sábio, pelo menos até esse ponto,
mas um tolo que se julga sábio é seguramente um tolo.

64.
Mesmo que um tolo se associe em toda a sua vida com um homem sábio,
ele não compreende mais a verdade do que a colher prova o sabor da sopa.

65.
Mesmo que, por apenas em um momento, uma pessoa com discernimento se junte a um homem sábio,
ela rapidamente compreende a verdade como a língua saboreia o sabor da sopa.

66.
Os tolos de fraco discernimento são inimigos de si próprios,
sempre que se movimentam fazem coisas más, cujos frutos serão amargos.

67.
Mal feita é a acção, que a seguir traz o arrependimento,
cujo fruto se colhe com lágrimas.

68.
Bem feita é aquela acção que a seguir não traz o arrependimento, o remorso, cujo fruto se colhe com alegria.

69.
Enquanto uma má acção não tiver amadurado, o tolo reconhece-a doce como mel.
Mas quando a má acção amadurece, o tolo apoquenta-se.

70.
Mês após mês, um tolo pode comer o seu alimento com a ponta de uma folha de erva,
mas, ainda assim, não tem o mérito nem da décima sexta parte daquele cujo pensamento se alimenta da Verdade e atinge a compreensão de todas as coisas.

71.
Em boa verdade, assim como o leite não azeda de repente,
também se cometido um mau acto, não frutifica imediatamente,
mas latente, segue o tolo como fogo coberto por cinzas.

72. 
Para a sua própria ruína, o tolo ganha conhecimento,
pois abre uma fenda na cabeça e destrói a sua benevolência natural.

73.
O tolo busca notoriedade indevida,
prioridade entre os monges,
domínio sobre mosteiros,
e honra entre os chefes de família.

74.
“Que os leigos e monges pensem que fui eu que fiz. Em toda a obra, grande e pequena, que me sigam”.
Tal é a ambição do tolo; assim se amplifica o seu desejo e orgulho.

75.
Uma coisa é a busca do lucro mundano, outra coisa bem diferente é o caminho para o nirvana.
Que o monge, discípulo do Buda, o entenda claramente, não se deixando arrastar pelo louvor do mundo, mas em seu lugar cultive o desapego e se consagre à solidão.


O SÁBIO

76.
Se alguém encontrar um homem que menciona os erros e que os reprova,
que tão sábia e sagaz pessoa seja seguida como orientador para o tesouro escondido.
Venerando um homem assim, colherás a felicidade e não a infelicidade.

77.
Deixai-o prevenir, ensinar e preservar alguém do que é errado.
Ele é benquisto para os bons e odiável para os maus.

78.
Não te juntes com más companhias;
não procures o que é vil e odioso.
Junta-te com bons amigos,
procura a companhia de espíritos elevados.

79.
Aquele que segue intimamente a virtude perfeita vive feliz,
com uma mente tranquila.
O homem sábio sempre se deleita no ensinamento dado a conhecer pelo Buda.

80.
Os construtores de canais controlam os rios;
os arqueiros forjam as flechas;
os carpinteiros dão forma à madeira;
os sábios aperfeiçoam-se a si próprios.

81.
Assim como um rochedo não é abalado pela tempestade,
da mesma forma o sábio não se deixa afectar por qualquer ofensa ou louvor.

82.
Ao ouvir o ensinamento,
os sábios tornam-se naturalmente purificados,
tal como um lago profundo, límpido e transparente.

83.
Aquele que é bom renuncia a tudo.
O virtuoso não conversa sobre futilidades ou desejos relacionados com o prazer.
Tocados pela felicidade ou pela infelicidade, as suas palavras são sempre as mesmas.

84.
É realmente virtuoso, sábio e justo, aquele que nem para si,
nem para outrem comete erros e deseja riqueza e poder.
Sê justo, virtuoso, constante.

85.
Poucos entre os homens são aqueles que atravessam a corrente do mundo para a outra margem.
O resto, a maior parte, apenas corre para cima e para baixo, para lá e para cá, na margem de cá.

86.
Mas os que buscam a verdade, que agem de acordo com o ensinamento,
admiravelmente instruídos, atravessarão o reino da morte,
tão difícil de atravessar.

87-88.
Ao abandonar o caminho escuro,
que o sábio se entregue a uma vida virtuosa.
Tendo saído de casa,
tornando-se monge mendicante,
abandona o conforto das paredes por uma vida sem tecto.
Largando os prazeres sensuais, sem apego,
que o homem sábio purifique as contaminações da mente.

89.
Aqueles cujas mentes atingiram a perfeição suprema,
com um espírito indómito e sempre a caminho,
libertos de todos os desejos,
que brilham na sabedoria,
alcançam o nirvana nesta mesma vida.

90.
A febre da paixão não existe para aquele que concluiu a jornada, que não tem tristezas e está totalmente liberto,
que quebrou todos os laços.
Esse liberou-se de todo o sofrimento.

91.
Aqueles que são conscientes esforçam-se.
Não estão apegados a lar algum.
Como cisnes que abandonam o lago,
deixam para trás casa após casa.

92.
Os vestígios daquele que renuncia a tudo,
que sabe exactamente o que é a comida,
e que liberto, procura o vazio e o inefável,
são tão difíceis de seguir como uma ave no azul.

93.
Aquele cujas impurezas são destruídas, indiferente a toda a ilusão, desinteressado de qualquer alimento,
cujo objecto é o Nada, a liberdade incondicional,
os vestígios são tão difíceis de seguir como os de uma ave no azul.

94.
Até mesmo os deuses estimam o sábio,
cujos sentidos estão dominados como cavalos sabiamente domados.

95.
Aquele que como a terra, jamais se revolta,
e é tão impassível como a soleira da porta,
que é calmo como um lago límpido,
não mais renascerá.

96.
Calmo é o seu pensamento,
calmo é o seu discurso,
calma é a acção, daquele que se conhece verdadeiramente.
Esse atingiu a paz.

97.
O homem que não tem uma fé cega, que conhece o incriado,
que cortou todas os laços, destruiu todas as causas, e lançou fora todos os desejos,
que liberto nada mais desejou,
ele, na verdade, é o mais excelente dos homens.

98.
Inspirador, na verdade, é o lugar onde habitam os libertos;
seja uma aldeia, uma floresta, um vale, ou uma montanha.

99.
Inspiradora e deliciosa é a solidão da floresta, desdenhada pelas pessoas mundanas. 
É aí que o liberto, indiferente a tudo, não buscando o prazer dos sentidos, encontra a suprema felicidade.






MIL VEZES MIL

100.
Melhor do que mil vezes mil palavras inúteis é uma palavra útil,
com a escuta da qual, se alcança a paz.

101.
Melhor do que mil vezes mil versículos inúteis, é um versículo útil,
com a escuta do qual, se alcança a paz.

102.
Melhor do que recitar cem versículos vazios
é a palavra verdadeira que leva a paz a quem a ouve.

103.
Embora um guerreiro famoso possa vencer milhares e milhares de homens numa batalha,
aquele que se vence a si mesmo é sem dúvida o mais nobre de todos os vencedores.

104-105.
Mais excelente que uma grande vitória no campo de batalha
é a vitória de um homem sobre si próprio.
Àquele que é senhor de si mesmo, ninguém lhe pode subtrair a vitória.
Nem deuses, nem demónios, nem o próprio Brama.

106.
Honrar por um só instante o homem que se soube dominar,
tem mais valor do que distribuir mil vezes mil dádivas,
todos os dias, meses, e até durante um século.

107.
Honrar por um só instante o homem que se soube dominar,
tem mais valor do que a consagração ao culto do fogo na floresta durante um século.

108.
Quaisquer sacrifícios e orações, que alguém ofereça neste mundo por um ano inteiro em busca de mérito,
nada disso vale.
Mas venerar os virtuosos é acto de grande valor.

109.
Para aquele sempre pronto a reverenciar e servir os
que são dignos de veneração, 
alcança quatro bênçãos: vida longa, felicidade, beleza e poder.

110.
Um só dia de meditação daquele que é sábio
tem mais valor do que cem anos vazios de reflexão e sabedoria.

111.
Um só dia de meditação do homem virtuoso
tem mais valor do que cem anos vazios de reflexão e sabedoria.

112.
Vale mais viver um dia diligente e decidido do que viver
cem anos vazios de esforços e de energia.

113.
Um só dia daquele que reconhece a impermanência de toda a existência 
tem muito mais valor do que cem anos vividos na ignorância e na futilidade.

114.
Um só dia daquele que conhece o poder da morte
tem muito mais valor do que cem anos vividos na ignorância desse poder.

115.
Vale mais viver um dia na presença da verdade suprema,
do que viver cem anos na ignorância da finalidade suprema.


O MAL

116.
Sê diligente a fazer o bem;
refreia a tua mente de fazer o mal.
Quem é indiferente a fazer o bem, inclinar-se-á para o mal.

117.
Se uma pessoa praticar o mal, que não o repita.
Que não encontre aí prazer, pois dolorosa é a acumulação do mal.

118.
Se uma pessoa fizer o bem, que o faça e a ele aspire continuadamente.
Que aí encontre deleite, pois abençoada é a acumulação do bem.

119.
Tudo pode correr bem com aquele que faz o mal,
enquanto o mal não lhe pesar na consciência.
Mas quando o fruto do mal amadurecer, o próprio malfeitor irá sofrer.

120.
Tudo pode correr mal com aquele que faz o bem, enquanto o bem não amadurece.
Mas quando o bem amadurece o benfeitor aí se deleita.

121.
Que não se pense levianamente acerca do mal, dizendo:
“A mim o mal não me afectará.” 
A água que cai em gotas enche um cântaro.
Da mesma forma, o insensato, pouco a pouco, cobre-se de mal.

122.
Que não se pense levianamente acerca do bem, dizendo: 
“A mim o bem não me afectará.” 
A água que cai em gotas enche um cântaro.
Da mesma forma, o sábio, pouco a pouco, enche-se de bem.

123.
Assim como um mercador que transporta muitas riquezas com uma escolta pequena evita caminhos desertos e perigosos,
e também como aquele que ama a vida evita a taça envenenada,
assim se deve evitar o mal.
                                                                        124.                                                                    
Se na mão não existe nenhuma ferida, até o veneno pode tocar.
O veneno não afecta quem está livre de feridas.
Assim também o mal não aflige o homem virtuoso.

125.
Tal como poeira fina atirada contra o vento,
o mal cai em cima do insensato,
que ofende um homem inofensivo, puro e inocente.

126.
Alguns renascem sobre a terra, os maus nos abismos, os virtuosos em mundos de felicidade.
Os que não têm qualquer mácula acolhem-se no nirvana.

127.
Nem no céu nem no meio do oceano,
nem penetrando nas fendas da montanha,
não há lugar algum no mundo, onde se possa escapar às más acções.

128.
Nem no céu nem no meio do oceano,
nem penetrando nas fendas da montanha,
não há lugar algum no mundo, onde se possa escapar da morte. 


A DOR

129.
Todos tremem perante a violência;
todos temem a morte.
Ponderando cada ser a partir de ti, colocando-te no lugar do outro, não atormentes ninguém, não mates ninguém, nem induzas ninguém a fazê-lo.

130.
Todos tremem diante da violência;
a vida é querida a todos.
Colocando-te no lugar do outro, não mates, nem induzas alguém a fazê-lo.

131.
Aquele que, ao buscar a felicidade, oprime com violência outros seres que também a desejam,
não alcançará a felicidade daí em diante, nem mesmo depois da morte.

132.
Aquele que, compassivo, ao buscar a felicidade,
não oprime com violência outros seres que também desejam a felicidade,
encontrará felicidade daí em diante, mesmo depois de morto.

133.
Que não se fale asperamente a ninguém, com palavras duras e rudes,
pois aqueles a quem assim se fala podem retaliar.
Penosas são as discussões e as disputas e facilmente degeneram em brigas.

134.
Se, como um sino rachado, já nada soa no homem,
então atingiu o nirvana e todos os conflitos cessaram. 

135.
Assim como um pastor conduz o rebanho ao pasto com um cajado,
também a velhice e a morte conduzem todos os seres vivos para o túmulo.

136. 
Quando o insensato comete o mal e não mais se preocupa,
não tarda que seja atormentado pelos seus actos,
que o hão-de queimar e torturar como o fogo tortura e queima. 

137-140
O ser-se agressivo para um homem de paz, aplicarem-se torturas físicas ou psíquicas a um inocente,
leva a que um e outro padeçam das seguintes infelicidades:
grandes sofrimentos, perda de bens, morte, loucura, mal-estar de doença grave;
ser citado perante a justiça e sofrer um julgamento severo, morte da mulher ou dos filhos, perda do sustento;
destruição das propriedades;
e depois da morte, a ressurreição no seio dos abismos.

141.
Nem caminhando nu,
nem tendo cabelos emaranhados,
nem lama, nem jejum,
nem deitando-se no chão,
nem cobrindo-se de cinzas e poeira,
nem sentado sobre os calcanhares,
pode purificar um mortal que não tenha superado a dúvida.

142.
Mesmo que se apresente ricamente vestido, se for calmo, controlado e estabelecido na vida santa,
tendo abandonado a violência contra todos os seres,
esse, verdadeiramente, é um homem santo, um renunciante, um discípulo, um monge.

143.
Raro é o um homem neste mundo que,
comedido por modéstia, evita qualquer censura,
como um cavalo puro-sangue evita o chicote.

144.
Tal como um cavalo puro-sangue movido pelo chicote,
sê diligente, repleto de determinação espiritual.
Pela fé e pureza moral, pelo esforço e pela meditação,
pela investigação da verdade, por seres rico em conhecimento e virtude, e por seres consciente,
destrói este sofrimento ilimitado.

145.
Os construtores de canais regulam as águas,
os arqueiros forjam as flechas,
os carpinteiros dão forma à madeira,
e os sábios dominam-se a si próprios.


A VELHICE

146.
Estando neste mundo sempre a arder,
como podes estar alegre, porquê tanto riso?
Envolto em trevas, será que não desejas a luz?

147.
Observa o teu corpo.
Uma imagem pintada, uma massa de chagas amontoadas, doente, ansioso, apoquentado por desejos vãos, morrendo todos os dias e que todos os dias se desmorona em poeira.

148.
Este corpo desgastado é um abrigo para as doenças.
Esta massa frágil e putrefacta desintegra-se, porque a morte é o fim da vida.

149.
Estas coisas semelhantes a cabaças espalhadas pela terra
são crânios amarelados.
Quem pode continuar alegre e sentir prazer na existência?

150.
Este corpo construído de ossos, repleto de carne e sangue é o asilo da velhice.
Dentro jazem a decadência e a morte, o orgulho e a inveja, a arrogância e a hipocrisia.

151.
Mesmo os mais belos carros reais acabam por se desgastar.
Também este corpo se desgasta.
Mas o bem não envelhece; 
assim os que são sábios dão-no a conhecer aos sábios.

152.
O homem que nada aprendeu nem compreendeu, envelhece como um touro embrutecido.
Cresce-lhe a barriga e decresce-lhe a sabedoria.

153.
Em vão vagueei no círculo de muitos nascimentos e mortes.
Andei sem rumo, sem nunca ter encontrado o construtor desta casa da vida,
sem nunca o ter encontrado.
Que vida cheia de sofrimentos;
nascer e morrer para renascer uma vez mais, e outra, e outra ainda.

154.
Ó construtor da casa, estás à vista!
Não construirás esta casa de novo.
Pois as tuas vigas estão partidas e a cumeeira deu de si.
A minha mente atingiu o incondicionado; alcancei a destruição do desejo.

155.
Aqueles que na juventude não renunciaram ao mundo, levando uma vida santa,
morrerão como a garça-real na margem de um lago sem peixes.

156.
Os que jovens não levaram vida santa, e que na juventude não encontraram o tesouro da juventude,
vivem suspirando sobre o passado,
como as setas velhas de um arco.


O EU

157.
Se alguém se estima, devia vigiar-se com diligência.
Que o homem sábio mantenha a vigília
em qualquer uma das três vigílias da noite.

158.
Primeiro uma pessoa deve estabelecer-se no que é próprio;
só então deve instruir os outros.
Assim, o sábio não será censurado.

159.
Uma pessoa deve fazer primeiro
aquilo que ensina os outros a fazer.
Se uma pessoa doutrina outros,
deve ter ela mesma um grande autodomínio. 

160.
Uma pessoa é na realidade, o protector de si mesmo;
quem mais o poderia ser?
Mestre de si mesma, totalmente controlada, a pessoa ganha uma perfeição difícil de obter.

161.
O mal que o homem ignorante faz a si próprio,
mal esse nascido e produzido por si,
esmaga-o como um diamante tritura uma dura pedra preciosa.

162.
Assim como uma trepadeira estrangula a árvore onde cresce,
assim também, um homem desregrado se prejudica a si mesmo,
como só um inimigo poderia desejar fazer.

163.
Fáceis de fazer ao próprio são as coisas prejudiciais.
Mas extraordinariamente difíceis de fazer são as coisas benignas.

164.
Quem por causa de pontos de vista perversos, despreza o ensino dos perfeitos, dos excelentes e dos justos,
esse insensato, tal como o bambu, só produz frutos para a sua própria autodestruição.

165.
O mal é feito a si mesmo; a si mesmo a pessoa se mancha.
A si mesmo deixa de fazer o mal; a si mesmo a pessoa se limpa.
Pureza e impureza dependem de si mesmo; ninguém pode purificar outra pessoa.

166.
Que ninguém negligencie o seu próprio bem-estar por causa de outra pessoa,
seja qual for a sua grandeza.
Compreendendo com clareza o bem como supremo para si próprio, que a pessoa se preste ao bem.


O MUNDO

167.
Não sigas o caminho fácil e que é vulgar;
não vivas descuidadamente, na indolência;
não te agarres a opiniões falsas;
não te retardes na existência mundana.

168.
Sê sempre vigilante.
Leva uma vida correcta.
O íntegro vive feliz
tanto neste mundo como no próximo.

169.
Leva uma vida recta;
não leves uma vida ruinosa.
O justo vive feliz
tanto neste mundo como no além.

170.
Aquele que olha o mundo como uma bolha e uma miragem,
esse sobrevive à vista da morte.

171.
Vem! Observa este mundo que é como um carro real decorado.
Aqui os insensatos atolam-se, mas o sábio não se apega.

172.
Aquele que tendo sido descuidado deixa de o ser,
ilumina este mundo como a Lua emergindo das nuvens.

173.
Aquele que por boas acções apaga o mal que fez,
ilumina este mundo como a Lua emergindo das nuvens.

174.
O mundo é cego, jaz numa noite profunda.
Apenas alguns possuem discernimento.
Só uns poucos, como pássaros escapando-se da gaiola,
se elevam para o reino da felicidade.

175.
Pela força das suas asas os flamingos cruzam os céus voando no caminho do céu;
os homens passam pelo ar através de poderes paranormais;
pela vitória sobre a avidez da vida os sábios são levados para longe do mundo.

176.
O mentiroso, afastado do que é verdadeiro,
imagina alucinado, que a morte é o fim e,
por isso, é capaz de tudo.

177.
Na verdade, os avarentos nunca alcançarão os reinos celestiais.
Os insensatos desprezam a caridade,
mas o sábio rejubila quando dá
e é feliz aqui e no além.

178.
Melhor do que a soberania de um imperador sobre a terra,
melhor ainda do que a harmonia dos mundos de felicidade,
melhor ainda do que reinar em todos os mundos ,
é o fim supremo do caminho da Verdade.








O BUDA

179.
Por que caminho poderás descobrir aquele Buda de alcance infinito que não deixa rasto,
cuja glória jamais pode ser desfeita,
a quem nenhuma contaminação caída pode perseguir?

180.
Por que caminho poderás descobrir aquele Buda de alcance infinito que não deixa rasto,
em quem jamais existe o desejo que propaga o vir a ser?

181.
Os sábios que se dedicam à meditação e que se deliciam na quietude da renúncia,
a tais seres conscientes, Budas Supremos, até os deuses os invejam.

182.
Difícil é nascer humano,
dura é a vida dos mortais.
Difícil é adquirir a oportunidade de ouvir a Verdade Sublime,
mais raro ainda é ver um Buda.

183.
Evitar todo o mal,
cultivar o bem e purificar a mente.
Este é o ensinamento dos Budas.

184.
Permanecer paciente é a maior austeridade, é o verdadeiro ascetismo.
Não se é um verdadeiro monge quando se prejudica outrem,
nem um verdadeiro asceta quando se afrontam os outros.

185.
Não desprezar, não prejudicar, conter-se de acordo com a disciplina,
moderar-se na comida, viver solitário, devotar-se à meditação.
Este é o ensinamento dos Budas.

186-187.
Não há desejos sensuais que satisfaçam o homem.
O desejo é insaciável.
Mesmo que chovam moedas de ouro o homem não se saciará.
Mas os desejos atormentam-nos e enganam-nos.
Dão pouca satisfação e muita dor. 
Tendo-o entendido, o homem sábio
nem mesmo nos prazeres celestiais encontra deleite.
O discípulo do Buda Supremo compraz-se com a exterminação do desejo.

188.
Tomados por um medo insensato,
alguns homens procuram refúgio em muitos lugares:
montes, florestas, árvores sagradas e santuários.

189. 
Esses não são refúgios seguros.
Não é recorrendo a tais refúgios
que se livram do sofrimento.

190-191.
Aquele que se refugia em Buda,
no ensinamento e na comunidade,
penetra com sabedoria transcendental as Quatro Nobres Verdades:
o sofrimento, a causa do sofrimento, o fim do sofrimento 
e o Nobre Caminho Óctuplo,
que conduz à cessação de todo o sofrimento.

192.
Isto é na realidade o refúgio seguro,
este é o supremo refúgio.
Aquele que tendo ido para tal refúgio,
fica livre de todo o sofrimento e será um bem-aventurado.

193.
Difícil de encontrar é o homem desperto, o Buda.
Ele não nasce em qualquer lugar.
No lugar onde nasce um homem assim tão sábio,
essa comunidade prospera na felicidade
e os ascetas vivem na tranquilidade.

194.
Bendito é o nascimento dos Budas;
bendita a enunciação da doutrina sagrada;
bendita é a concórdia entre os discípulos;
e bendita é a tranquilidade dos ascetas.

195-196.
Aquele que reverencia os dignos de reverência,
os Budas e os seus discípulos que transcenderam todos os impedimentos
e passaram além do alcance do abatimento e da lamentação,
aquele que reverencia tais seres pacíficos e libertos de toda a miséria e sofrimento, 
o seu mérito não é mensurável.


A FELICIDADE

197.
Vivemos felizes, amistosos entre as pessoas hostis.
Vivemos livres de ódio no meio de pessoas que se odeiam.

198.
Vivemos felizes, amistosos no meio dos incuráveis.
Neste mundo de morte, encontramo-nos livres da morte.

199.
Vivemos felizes, livres da avareza e da ambição no meio de avarentos e ambiciosos.
No meio de homens gananciosos vivemos livres de avareza e de ambição, isentos de qualquer desejo.

200.
Felizes na realidade, vivemos nós, os que nada possuímos.
Plenos de felicidade, brilhamos como os deuses que irradiam.

201.
O vencedor vive atraído pelo ódio e pela cólera.
O vencido vive imerso na tristeza.
O pacífico vive feliz, desembaraçando-se tanto da vitória como a derrota.

202.
Nenhum fogo queima como as paixões.
Nenhuma miséria se pode comparar ao ódio.
Nenhum sofrimento à ilusão da vida.
Nenhuma felicidade suplanta a paz profunda, o nirvana.

203. 
A fome é a pior das doenças,
a ilusão da vida com os seus condicionamentos, o pior dos sofrimentos.
Aquele que reconhece uma coisa e outra no âmago da realidade,
conquista a felicidade do nirvana.

204. 
A saúde é o maior bem entre todos os bens.
O contentamento o maior tesouro.
O recolhimento do espírito o nosso maior amigo.
O nirvana, esse é a suprema felicidade. 

205. 
Tendo saboreado a solidão e a paz,
o discípulo torna-se livre de dor e sem mácula,
desfruta profundamente o sabor da felicidade da libertação.

206.
É bom conhecer os sábios.
Viver com eles, uma verdadeira felicidade.
Uma pessoa será sempre feliz ao não conviver com insensatos.

207.
Na verdade, a pessoa que anda na companhia de insensatos perde-se por maus caminhos.
A associação com os insensatos é sempre penosa, como uma parceria com um inimigo.
Mas a associação com os sábios torna-nos felizes, à semelhança do regresso ao lar depois de longa ausência.

208.
Portanto, segue os preceitos do homem sábio, justo e íntegro, que é constante, sapiencial, responsável e devoto.
Deve-se seguir um homem assim,
que é verdadeiramente bom e consciente,
assim como a Lua segue o caminho das estrelas.


O AFECTO

209.
Quem se entrega a coisas que devem ser evitadas e não se esforça onde é necessário,
quem busca prazeres transitórios e esquece o seu verdadeiro bem, 
inveja os que têm um espírito profundo e se confirmam no seu próprio bem-estar.

210.
Não te prendas a quem amas, não te prendas a quem não amas.
Se te separas de quem amas, sofres,
e também sofres se te separas de quem não amas.

211.
Não guardes nada que te é querido, pois a separação do que te é querido é dolorosa. 
Não busques a quem amar, porque perder a quem se ama é doloroso.
Se não houver atracção, se não houver repulsão, nenhum elo pode existir entre amar e ser amado.
Não há laços para aqueles que não têm apegos.

212. 
De quem se ama, surge o infortúnio.
De quem se ama, surge o medo.
Quem se afastar de quem ama, não conhecerá o infortúnio e o medo.

213.
Da alegria nasce a tristeza, da alegria nasce o medo.
Quem se liberta da alegria não conhece a tristeza e o medo.

214.
Do apego nasce a mágoa, do apego nasce o medo.
Não existe mágoa para quem é totalmente livre de apego.
De onde, então, o medo?

215.
Da voluptuosidade nasce o desgosto, da voluptuosidade nasce a angústia.
Não existe mágoa para quem é totalmente livre da voluptuosidade.
Quem se liberta da voluptuosidade não conhece o desgosto e a angústia.

216.
Do anseio nasce a mágoa, do anseio nasce o medo.
Não existe mágoa para quem é totalmente livre de anseio.
De onde, então, o medo?

217.
As pessoas prezam aquele que encarna a virtude e o discernimento,
que tem princípios, que realizou a verdade, que respeita as regras e cumpre a doutrina,
e que faz o que deve fazer.
Esse é um bem-amado.

218.
Aquele que tem como objectivo o inefável,
que é alheio a toda a vontade,
não mais condicionado pelos prazeres dos sentidos,
esse ascende ao céu.

219.
Quando, após uma longa ausência, um homem regressa de longe em segurança,
ao chegar a casa, seus parentes e amigos dão-lhe as boas vindas.

220. 
Assim como um familiar dá as boas vindas à pessoa querida,
do mesmo modo as suas boas acções receberão o benfeitor
que tenha partido deste mundo para o próximo.


A RAIVA

221. 
Uma pessoa deve abandonar a raiva, renunciar ao orgulho, e libertar-se de todos os laços da existência.
O sofrimento não atinge o que é desapegado,
que não se prende à mente,
e que não se prende ao corpo.

222.
Aquele que sustém um acesso de raiva,
como um cocheiro que trava a carruagem em movimento,
a esse eu chamo um verdadeiro condutor.
Os outros limitam-se a segurar as rédeas.

223.
Supera a raiva com a serenidade;
supera a maldade com a bondade;
supera a avareza com a generosidade;
supera a mentira com a verdade.

224. 
Fala verdade;
não te rendas à ira;
quando te pedem,
dá mesmo que tenhas pouco.
Por estes três meios chegarás à presença dos deuses.

225.
Os que não fazem mal a nenhum ser,
e que seguem de modo constante o caminho da virtude,
alcançarão o que não perece, onde todo o sofrimento se encontra extinto.

226.
Aqueles sempre vigilantes,
que se disciplinam dia e noite,
sempre determinados ao nirvana,
vêem desaparecer as suas faltas.

227.
Este é um dizer antigo:
Os homens culpam os que permanecem em silêncio,
culpam os que falam muito,
culpam os que falam com moderação.
Não há ninguém no mundo que não seja culpado.

228.
Nunca houve, nunca haverá, nem há agora,
alguém totalmente censurado ou totalmente louvado.

229.
Mas no homem a quem os sábios elogiam,
observado dia após dia, encontra-se-lhe um carácter imaculado,
sábio, e dotado de conhecimento e virtude.

230.
Quem pode culpar tal pessoa,
tão digna como uma moeda de ouro puro?
Até os deuses o louvam e Brama venera-o.

231.
Que o homem vigie o seu corpo; que seja comedido
na acção.
Que abandone a má conduta, e pratique actos que sejam bons.

232.
Que um homem vigie a sua fala;
que se mantenha calmo quando fala; 
que seja contido a falar.
Que abandone a má conduta verbal, e fale com palavras justas.

233.
Que um homem vigie a sua mente; que controle o seu pensamento.
Que abandone a má conduta da mente, e pense correctamente.

234.
Os sábios têm domínio na acção corporal, no falar e no pensamento.
Eles dominam-se verdadeiramente bem e merecem que os tenhamos por mestres. 


A IMPUREZA

235.
Agora, és como uma folha seca;
os mensageiros da morte aguardam-te.
Estás na véspera da tua partida,
no entanto nada preparaste para a tua viagem.

236.
Ergue uma ilha para ti próprio. 
Com esforço constante torna-te sábio.
Livre de impurezas e sem mácula,
entrarás na morada celestial dos perfeitos.

237.
Os teus dias estão a terminar.
Findou o tempo que te foi dado.
Encontras-te face a face com a morte.
Não podes negociar mais tempo de vida e não te preparaste para a viagem.

238.
Ergue uma ilha para ti.
Com esforço constante torna-te sábio.
Livre de impurezas e sem mácula,
não mais conhecerás nem nascimento nem morte. 

239.
Uma por uma, pouco a pouco, a cada instante,
deveria um homem sábio remover as manchas do seu espírito,
tal como um hábil artesão remove as impurezas da prata.

240.
Quando a ferrugem surge no ferro, expande-se e corrói o ferro todo. 
Assim o orgulhoso se corrói de remorsos pelas suas acções.

241.
Não orar é a ruína para as escrituras; 
negligência é a ruína para uma casa;
desleixo é a ruína para a aparência pessoal;
e a indolência torna inviável toda a vigilância.

242.
O mau comportamento é a mancha da mulher;
o interesse a mácula da caridade;
e as más acções manchas deste mundo e do próximo.

243.
A pior mancha de todas estas é a ignorância ou ilusão,
a pior de todas as máculas.
Destruí esta mancha e tornai-vos imaculados, ó monges!

244.
A vida é fácil para o desavergonhado que é imprudente,
para o amante de brigas, para o vociferador, para o fanfarrão, para o insolente e para o desaforado.

245.
A vida é difícil para o modesto, que sempre procura a pureza,
que é desapegado e despretensioso, puro na vida e com discernimento.

246-247. 
Aquele que aniquila os seres vivos,
que profere mentiras, 
que toma para si o que não é seu,
que seduz a mulher de outro homem,
que é viciado em bebidas alcoólicas,
tal homem já é neste mundo um homem destruído.

248.
Sabe, ó homem bom: as coisas más são difíceis de controlar.
Não deixes que a avidez, a ilusão e a maldade te arrastem para um sofrimento prolongado.

249.
Cada um dá de acordo com a sua vontade e com a sua fé.
Se uma pessoa fica descontente com a comida e bebida dada por outros,
não alcançará a concentração meditativa, seja de dia seja de noite.

250.
Mas aquele em que este descontentamento e avidez são totalmente destruídos,
desenraizados e extintos,
alcança a concentração, tanto de dia como de noite.

251.
Não há fogo que queime como a luxúria;
não há opressão como a do ódio;
não há rede como a da ilusão;
não há torrente como o anseio.

252.
Como é fácil ver os defeitos nos outros,
mas é difícil ver os nossos próprios defeitos.
Gostamos de encontrar defeitos nos outros e escondemos os nossos,
tal astuto caçador que se esconde por detrás de ramos.

253. 
Aquele que procura os defeitos dos outros, que os censura constantemente,
faz crescer as suas manchas e está longe de dominar a sua vontade.

254.
Não há nenhum traço no céu, e nenhum renunciante fora do ensinamento do Buda.
A humanidade deleita-se na ilusão, mas os Budas estão livres de todas as ilusões.

255.
Não há nenhum traço no céu, e nenhum renunciante fora do ensinamento do Buda.
Não há coisas condicionadas que sejam eternas, e não há instabilidade no Buda.


O JUSTO

256.
Não é por fazer juízos arbitrários que um homem se torna justo.
Um homem sábio é aquele que investiga tanto o que está certo como o que está errado.

257.
Aquele que não julgar os outros de forma discricionária,
mas que faça um juízo imparcial de acordo com a verdade dos factos,
esse homem perspicaz é um guardião da lei e é chamado de justo.

258.
Ninguém é sábio por falar muito e com eloquência.
O homem calmo, em paz consigo mesmo, sem ódio nem medo, é o que merece o nome de sábio.

259.
Um homem não é versado na doutrina
por falar muito e com eloquência.
Aquele que, depois de ouvir um pouco da doutrina,
mas por esse pouco rege a sua vida,
esse é um conhecedor da doutrina.

260.
Um monge não é venerável pelos seus cabelos grisalhos.
Ser velho por causa da idade, é ter envelhecido em vão.

261. 
Mas aquele que se encontre na verdade e na justiça,
na virtude, contenção, paciência, pureza e fidelidade,
esse é o venerável.

262.
Não é por mera eloquência, nem pela beleza da aparência,
que um homem se realiza, se ele for ciumento, egoísta e traiçoeiro.

263.
Mas aquele no qual estes defeitos são totalmente destruídos, desenraizados e extintos,
e que se libertou da avareza e do ódio,
esse é sábio e é por ser assim que é estimado e amado. 

264.
Não é pela cabeça rapada que um homem indisciplinado e mentiroso se faz um monge.
Como pode aquele que é mentiroso, que está cheio de desejos e de ganância ser um monge?

265.
Aquele que subjuga totalmente os males tanto pequenos como grandes,
esse, é chamado de monge, porque ultrapassou todo o mal.

266.
Não se é um monge mendicante só porque se vive de esmola.
Não é por adoptar exteriormente um hábito que alguém se torna um verdadeiro monge.
Digno de ser monge mendicante é o que cumpre a doutrina.

267.
Quem quer que viva no ensinamento uma vida santa,
transcendendo tanto o mérito como o demérito,
caminhando com compreensão no mundo,
esse é verdadeiramente um monge.

268.
Não é por observar o silêncio que alguém se torna sábio.
Se for insensato e ignorante o silêncio não faz dele um eremita.
O sábio age como quem tem uma balança na sua mão e aceita somente o bem.

269.
O sábio ao rejeitar o mal, é verdadeiramente um sábio,
uma vez que compreende o mundo presente e o futuro.
Este bem merece o nome de eremita.

270. 
Aquele que fere os seres vivos não é nobre.
É chamado de nobre quando é inofensivo para os seres vivos.

271-272.
Não é pelas regras e rituais, nem mesmo por muito aprender,
nem por se alcançar estados de concentração,
nem por uma vida de reclusão,
nem por pensar “Eu desfruto da felicidade da renúncia que não é vivida pelos mundanos”,
que vocês, monges, ficarão felizes,
mas só quando a destruição total da ilusão e do anseio for atingida.


O CAMINHO

273.
O Caminho Óctuplo é o melhor de todos os caminhos.
As Quatro Nobres Verdades são as melhores de todas as verdades.
A melhor de todas as coisas é ser desinteressado.

274.
Este é o único caminho;
não há nenhum outro para a purificação da visão clara das coisas.
Percorre este caminho, e escaparás à tirania da morte.

275.
Ao percorrer este caminho porás fim ao sofrimento.
Este foi o caminho ensinado por Buda, caminho que é o fim de toda a dor.

276.
És tu mesmo que te deves esforçar.
Os despertos apontam incessantemente este caminho.
Aqueles que meditam e trilham o caminho,
ficam livres dos laços da morte.

277.
Todas as coisas condicionadas são impermanentes.
Quando o vemos com sabedoria,
afastamo-nos do sofrimento.
Este é o caminho para a libertação.

278.
Todas as coisas condicionadas são insatisfatórias.
Quando o vemos com sabedoria,
afastamo-nos do sofrimento.
Este é o caminho para a libertação.

279. 
Todas as coisas são não-eu; não há um “eu” que nos acolha.
Quando vemos isso com sabedoria, afastamo-nos do sofrimento.
Este é o caminho para a purificação.

280.
O ocioso que não luta quando é preciso lutar,
que apesar de jovem e forte está cheio de preguiça,
com uma mente cheia de pensamentos vãos,
por ser tão preguiçoso não encontrará jamais o caminho para a sabedoria e para a virtude.

281.
Que uma pessoa vigie o seu discurso,
que controle a mente e os pensamentos,
e não pratique o mal.
Quem assim agir, atingirá o caminho dos perfeitos.

282.
Da concentração nasce a sabedoria.
Sem meditação a sabedoria diminui.
Tendo conhecido estes dois caminhos de desenvolvimento e decadência,
que um homem se conduza de forma a aumentar a sua sabedoria.

283.
É a vontade que é necessário abater e não a floresta.
É na floresta da vontade que o perigo se abriga.
Corta a floresta do teu espírito e alcançarás a paz.

284.
Se não cortares com prudência os ramos da paixão, entre homem e mulher,
sentir-te-ás enlaçado à semelhança do vitelo por desmamar.

285.
Corta o afecto que alimentas por ti, como um homem que arranca com a sua própria mão um lótus de Outono. 
Cultiva somente o caminho para a paz, o nirvana, assim como foi ensinado pelo Bem-Aventurado.

286.
Aqui ficarei a viver durante o período das chuvas, aqui no Inverno e no Verão.
Assim pensa o insensato,
sem que a morte alguma vez seja lembrada ou o constranja.

287.
Tal como uma grande torrente leva na enxurrada uma aldeia que dorme,
também a morte apanha e leva na enxurrada o homem de mente apegada,
cego pela sua mulher, pelos seus filhos, casa e gado.

288.
Para aquele que é assaltado pela morte não há protecção por parte dos seus familiares e companheiros.
Nenhum o pode salvar; nem mulher, nem filhos, nem pai, nem outros parentes ou amigos.

289.
Percebendo este facto, aquele que é digno da verdade da doutrina, que é sábio,
encaminhar-se-á para o caminho que conduz à extinção dos desejos.







VÁRIOS

290.
Se renunciando a uma felicidade passageira, se pode perceber uma felicidade maior e real,
que o sábio renuncie à menor, considerando a maior e real.

291.
Enleado pelos laços do ódio,
aquele que procura a sua própria felicidade infligindo dor aos outros,
jamais se libertará do ódio.

292.
O que deveria ser feito, não o é.
O que não deveria ser feito é.
Assim são os insensatos que se entregam à ilusão.

293.
Aquele que é constante, sensato, de compreensão consciente e clara,
evita o que deve ser evitado e executa o que deve ser executado.
Esse, que conhece a realidade extingue a ilusão.

294.
Tendo morto a fonte da existência e o ego,
tendo liquidado os pontos de vista falsos,
exterminado os sentimentos, as coisas e o apego,
assim se torna inabalável aquele que é perfeito. 

295.
Tendo morto a fonte da existência e o ego,
tendo liquidado os dois pontos de vista extremos,
o homem santo caminha sem se sentir angustiado.

296.
Os discípulos de Gautama,
que constantemente, dia e noite,
recordam as qualidades do Buda,
com o espírito em devoção permanente,
acordam sempre felizes.

297.
Os discípulos de Gautama,
que constantemente, dia e noite,
recordam a doutrina do Buda,
com o espírito em devoção permanente,
acordam sempre felizes.

298.
Os discípulos de Gautama,
que constantemente, dia e noite,
recordam as qualidades da comunidade,
com o espírito em devoção permanente,
acordam sempre felizes.

299. 
Os discípulos de Gautama,
que constantemente, dia e noite,
praticam a consciência do corpo,
acordam sempre felizes.

300.
Os discípulos de Gautama,
cujas mentes, dia e noite,
se deleitam na prática da não-violência,
acordam sempre felizes.

301.
Os discípulos de Gautama,
cujas mentes, dia e noite,
se deleitam na prática da meditação,
acordam sempre felizes.

302.
Penosa é a vida de um eremita e de um monge;
difícil é ter prazer nessa vida.
Também difícil e penosa é a vida no lar. 
Dura é a vida com os próximos e com os estranhos.
Não continues com os laços que te prendem à vida,
deixa de ser um andarilho sem rumo:
Acaba com o sofrimento.

303.
O monge de fé e virtude confirmadas,
que possui os maiores bens deste mundo,
viva onde viver, em toda a parte é respeitado. 

304.
Os espíritos nobres brilham ao longe, como as montanhas dos Himalaias. 
Mas os homens vulgares são invisíveis, como flechas disparadas na escuridão da noite.

305.
Aquele que se senta sozinho, que dorme sozinho,
que ensina o que não sabe a si próprio,
que anda sozinho, que se esforça e se domina a si próprio,
encontrará a bem-aventurança  no retiro da floresta.


O ESTADO DE AFLIÇÃO

306.
Aquele que mente despenha-se no abismo,
como no abismo se despenha quem nega uma acção que nunca deveria ter cometido.
Têm ambos o mesmo destino: a morte.
Perdem-se na escuridão dos abismos na sua nova existência.

307.
Há muitos, que maus e dissolutos vestem o hábito dos monges. 
Estes perdem-se na escuridão dos abismos da existência.

308.
Seria melhor engolir uma bola de ferro em brasa,
do que sendo um monge libertino e corrupto,
comer as esmolas do povo.

309.
Quatro desventuras recaem sobre um homem imprevidente
que leva à imoralidade a mulher de um outro:
aquisição de demérito, sono perturbado, má reputação
e renascimento em estados de aflição.

310.
Tal homem adquire demérito e um nascimento infeliz no futuro.
Breve é o prazer do homem e da mulher que se escondem. 
Duro é o castigo que o rei impõe a tal homem e mulher.
Portanto, não faças com que seja imoral a mulher de outrem.
 
311.
Assim como o espinho, mal extraído, infecta a mão,
assim também o ascetismo, mal praticado,
arrasta o homem para o abismo.

312.
Qualquer acto impensado, qualquer observância corrupta,
qualquer forma de celibato ou ascetismo contestável,
nada disto dá grandes frutos.

313.
Se é para fazer alguma coisa, que se faça com firmeza.
A vida monástica sem consciência e astuciosa,
ainda levanta mais a poeira das paixões e mancha-se de dia para dia.

314.
É melhor não fazer uma má acção,
pois os remorsos atormentam quem a faz.
Melhor é praticar uma boa acção,
da qual nunca nos lamentaremos.

315.
Assim como uma fortaleza de fronteira é muito bem guardada,
tanto dentro como por fora,
da mesma forma, protege-te.
Não permitas que esta oportunidade de crescimento espiritual se esfume. 
Vigia o teu coração.
Bastar-te-á apenas um instante de distracção
para que caias no sofrimento dos abismos.

316.
Aqueles homens que se envergonham do que não se deviam envergonhar,
e não se envergonham do que se deviam envergonhar,
seguindo uma falsa doutrina,
encaminham-se para a aflição e para o abismo.

317.
Aqueles que temem algo quando não há nada a temer,
e não temem nada, onde há algo a temer,
seguindo uma falsa doutrina,
encaminham-se para a aflição e para o abismo.

318.
Aqueles que imaginam o mal onde este não existe,
e não vêm o mal onde ele existe,
seguindo uma falsa doutrina,
encaminham-se para a aflição e para o abismo.

319. 
Aqueles que discernirem o errado como errado e o certo como certo,
seguindo a doutrina correcta,
encaminham-se para o caminho da felicidade.


O ELEFANTE

320.
Tal como um elefante no campo de batalha
resiste às flechas,
assim também devo eu saber suportar com paciência
as palavras maldosas que me são dirigidas.
Há muitas pessoas a quem falta a virtude
e o mundo está repleto de homens vis.

321.
Um elefante treinado é dócil e ajoelha-se para que o rei o monte.
Mas maior docilidade tem o homem que suporta injúrias e calúnias pacificamente.

322.
Excelentes são as mulas bem treinadas,
óptimos os cavalos de guerra bem adestrados, 
óptimos os elefantes bem domados.
Mas melhor ainda
é o homem que se ensina e disciplina a si próprio.

323.
No entanto, não é usando as montadas que alguém chega ao nirvana,
mas com autodomínio, com a mente bem disciplinada.

324.
Dhanapalako, o elefante selvagem, quando está em cativeiro, com o cio, não aceita nenhum alimento.
Só pensa, desgostoso e com saudades, na floresta em que foi criado.

325. 
Quando um homem é indolente e lambão,
dormindo em qualquer lugar onde se deita,
assemelha-se ao velho elefante a quem se dá de comer por compaixão.
Estará sempre sujeito ao círculo dos renascimentos.

326.
Anteriormente esta mente vagueou como quis,
até onde bem desejou e de acordo com o seu prazer.
Mas agora está aperfeiçoada naturalmente com a sabedoria,
tal como o tratador de elefante o controla com o seu aguilhão na altura do cio.

327.
Vigia-te a ti mesmo.
Delicia-te na diligência.
Guarda bem os teus pensamentos do erro.
Sai para fora deste lodaçal do mal,
tal como um elefante sai da lama.

328.
Se como companhia encontras um amigo sábio e prudente, levando uma vida boa,
deves, superando todos os impedimentos,
manter essa companhia com alegria e inteligência.

329.
Se como companhia não encontras um amigo sábio e prudente, que leva uma vida boa,
então, como um rei que deixa para trás um reino conquistado,
ou como um elefante solitário na floresta, segue o teu caminho sozinho.

330. 
Melhor é viver sozinho do que na companhia dos insensatos.
Vive e caminha sozinho e não faças mal a nenhum ser;
sê despreocupado, calmo e livre como um elefante na floresta.

331.
É bom ter amigos quando a infelicidade nos bate à porta;
bom é estar contente com o que se tem;
bom é ter mérito quando a vida chega ao fim, afrontando a morte com um espírito sereno;
bom é quando nos libertamos de todo o sofrimento, seguindo o caminho da libertação.

332.
Neste mundo, bom é servir a mãe,
bom é servir ao pai,
bom é servir os monges, 
e bom é servir os homens santos.

333.
Que felicidade quando a nossa conduta é sempre correcta.
Bom é ter virtude até ao final da vida;
bom é ter uma fé que se mantém firme;
bom é adquirir sabedoria;
e o melhor é evitar todo o mal.


A AVIDEZ

334.
A avidez de uma pessoa que vive descuidada cresce como uma trepadeira,
tal como o macaco que procura frutas na floresta.

335.
Quem quer que se deixe derrotar por esta avidez ou anseio miserável e viscoso,
verá as suas tristezas crescer como o joio depois das chuvas.

336.
Mas aquele que vencer esta avidez tão difícil de vencer,
verá que os seus sofrimentos não são mais do que o peso de uma gota de orvalho na folha de lótus.

337.
Por isso vos digo: Arrancai de vós a raiz da avidez, tal como o jardineiro arranca as ervas daninhas.
Só assim a morte não vos irá levar com ela.

338.
Assim como uma árvore, que apesar de abatida, se as raízes se mantiverem intactas e firmes, germina de novo, 
assim o sofrimento surgirá sempre, enquanto as raízes da avidez permanecerem. 

339.
O homem enganado, no qual as correntes da paixão
ainda correm vigorosamente em direcção aos objectos aprazíveis,
é varrido pela torrente dos seus pensamentos apaixonados.

340.
Essas torrentes fluem por todo o lado e arrastam tudo.
O tojo alastra por todos os lados.
Se vires o tojo a crescer, arranca-o pela raiz.

341. 
Abandonando-se ao rio grande dos desejos, os homens buscam satisfazer as suas paixões.
Ansiando pelos prazeres mundanos, nascem e morrem continuamente.

342.
Atormentados pelo anseio, as pessoas correm como
uma lebre prisioneira.
Presas por bloqueios mentais, regressam ao sofrimento,
uma e outra vez, por um longo período de tempo.

343.
Atormentadas pelo desejo, as pessoas correm como
uma lebre perseguida.
Portanto, aquele que anseia por estar liberto de paixões
deve aniquilar o seu próprio desejo.

344.
Há quem se afaste dos desejos
adoptando a vida da floresta na busca do nirvana.
Mas depois de sair dos hábitos mundanos,
corre de volta para eles.
Observai esse homem.
Apesar de livre retorna à escravidão.

345-346.
Os sábios dizem que correntes de ferro, madeira ou corda, não são fortes.
Mas a paixão e o desejo intenso por jóias e ornamentos, outros bens e mulheres,
isso, dizem, é uma corrente bem mais forte e que,
embora aparentemente solta, é difícil de romper.
Esta também os sábios cortam.
Sem desejo e saudade alguma, abandonando o prazer sensual, renunciam ao mundo.

347.
Presos pela avidez vivem na corrente das paixões,
tal como a aranha na sua teia.
Esta teia também os sábios rompem,
escapando livres de qualquer desejo e do sofrimento.

348.
Deixa o passado, deixa o futuro, deixa o presente,
e passa para a margem mais distante da existência.
Com a mente plenamente livre,
não regressarás jamais ao círculo do nascimento e da morte.

349.
Para uma pessoa atormentada por maus pensamentos,
que é dominada pela paixão e dada à busca do prazer,
a sua avidez cresce constantemente.
Ela cria, de facto, uma forte prisão.

350.
A pessoa que com alegria subjuga os maus pensamentos,
que se mantém serena e em paz,
que medita sobre o sofrimento e está sempre consciente,
ela porá um fim à avidez e saberá desfazer todas as urdiduras da morte. 

351.
Aquele que pleno de sabedoria, se mantém sereno,
em paz, é destemido, livre de avidez ou anseio, livre de paixão,
e arrancou os espinhos da existência,
para ele, este é o último corpo.

352.
Aquele que está livre de desejo e apego, livre de todas as manchas,
que se aperfeiçoou em descobrir o verdadeiro significado do ensinamento,
ele na verdade, vive pela última vez e todos o terão como um grande sábio.

353.
Eu sou o vencedor supremo, o conhecedor supremo.
Liberto de tudo, da própria ilusão da vida, de mim próprio tudo aprendi.
Quem poderá, então, ter sido o meu mestre?

354.
O dom da verdade supera todos os dons;
o sabor da verdade supera todos os sabores;
a alegria da verdade todas as verdades. 
Quem se libertou da avidez ou anseio, vence todo o sofrimento.

355.
As riquezas arruínam os insensatos,
não os que buscam a libertação.
Por almejar riquezas o imbecil
arruína-se tanto a si como aos outros.

356.
As ervas daninhas são a ruína dos campos,
a cobiça e a luxúria são a ruína da humanidade.
Portanto, tudo quanto é oferecido aos que são livres de cobiça e luxúria,
produz frutos abundantes.

357.
As ervas daninhas são a ruína dos campos,
o ódio é a ruína da humanidade.
Portanto, tudo quanto é oferecido aos que estão livres de ódio
produz frutos abundantes.

358.
As ervas daninhas são a ruína dos campos,
a ilusão é a ruína da humanidade.
Portanto, tudo quanto é oferecido aos que estão livres de ilusão
produz frutos abundantes.

359.
As ervas daninhas são a ruína dos campos,
o desejo e a avidez são a ruína da humanidade.
Portanto, tudo quanto é oferecido aos que estão livres de desejo e avidez
produz frutos abundantes.





O MONGE

360.
Bom é o domínio da visão;
bom é o domínio da audição;
bom é o domínio do olfacto;
bom é o domínio do paladar.
Bom é que se esteja sempre atento.

361.
Bom é ter domínio do corpo, bom é o domínio da fala;
estar atento às sensações e estar atento às nossas palavras.
Bom é o domínio do pensamento; é bom que se esteja atento à mente.
O monge que está sempre atento alcançará a bem-aventurança pelo fim do sofrimento.

362.
Aquele que tem o controlo sobre as suas mãos, pés, e das suas próprias palavras,
que está totalmente controlado, sempre em paz, solitário e feliz com a sua própria condição,
esse é o verdadeiro monge.

363.
O monge que tem controlo sobre a sua língua,
que é regrado no discurso, simples,
e que com humildade expõe o ensinamento da verdade tanto na letra como em espírito,
é ouvido com agrado pelos homens.
 
364.
O monge que permanece na doutrina,
que se delicia na doutrina, nela medita e a tem sempre presente na sua mente,
é fiel ao caminho da verdade.

365.
Não se devem desprezar as esmolas que se recebeu, nem invejar as dos outros.
O monge que inveja o proveito dos outros nunca alcançará a suprema concentração.

366.
Um monge que não despreza o que recebeu, mesmo que pouco seja,
é louvado pelos deuses pela sua constância e pureza.

367.
Aquele que não tem qualquer apego de mente e corpo,
para quem não existem as noções de eu e do meu, nesta vida efémera,
que não se lamenta por aquilo que não tem,
é verdadeiramente um monge exemplar.

368.
O monge que permanece no amor integral
e que é profundamente devotado ao ensinamento do Buda,
alcança a paz do nirvana. 

369.
Despeja este pesado barco da vida da água que o inundou, ó monge! 
Vazio navegarás com leveza.
Livre da paixão, da carnalidade e do ódio,
alcançarás o nirvana.

370.
Decepa e liberta-te completamente das correntes da ilusão.
Só assim, monge, conseguirás atravessar a torrente de todas as correntes.

371.
Medita, ó monge! Não sejas negligente.
Não deixes que as paixões entrem no teu coração.
Inconsciente, não tragues uma bola de ferro em brasa, que te fará gritar:
“Oh, que sofrimento!”

372. 
Não há concentração meditativa para aquele que não tem compreensão introspectiva,
e nenhuma sabedoria introspectiva pode ser alcançada por quem não tem concentração meditativa.
Aquele em que se encontram tanto a concentração meditativa como a compreensão introspectiva
está perto do nirvana.

373. 
O monge que se retirou para um eremitério e acalmou a sua mente,
que compreende profundamente a doutrina,
existe nele uma bem-aventurança que transcende todas as doçuras humanas.

374.
E se atravessa o círculo dos nascimentos e das mortes, será inundado de bem-aventurança.

375. 
Um monge sábio, deve controlar os seus sentidos,
contentar-se com a sua condição, 
e deve manter-se fiel à doutrina que abraçou.

376.
Que o monge só escolha amigos nobres, virtuosos e com uma vida sem mácula.
Que seja cordial, educado, benevolente e puro em pensamento e na acção. 
Deste modo, encontrará o fim do sofrimento.

377.
Assim como a trepadeira de jasmim deixa tombar as suas flores murchas,
da mesma maneira, ó monges, deixai que caia de vós toda a luxúria, avidez e ódio. 

378. 
O monge com um corpo calmo, sereno no falar, tranquilo no pensamento, bem controlado,
e que renunciou à vida mundana,
esse, na verdade, é o verdadeiro monge,
que não se perturba com as preocupações da vida.

379.
Cada um deve reprovar-se e examinar-se a si mesmo.
O monge que se vigia e é consciente vive sempre no seio da felicidade.

380. 
Cada um é o seu próprio mestre.
Cada um é o protector de si mesmo,
cada um é o refúgio de si mesmo. 
Assim, cada um deve dominar-se,
da mesma maneira que um treinador
domina um cavalo selvagem.

381. 
O monge pleno de felicidade, conhecedor da doutrina de Buda,
atingirá o reino da paz, onde deixam de existir problemas e preocupações.

382.
Aquele monge que, embora jovem, se dedica ao ensinamento de Buda,
ilumina este mundo como a Lua que emerge das nuvens.


O HOMEM SANTO

383.
Esforça-te, ó homem santo!
Corta o fluxo da avidez e descarta os desejos sensuais.
Conhecendo a destruição de todas as coisas condicionadas,
torna-te, ó homem santo, o conhecedor do nirvana.

384.
Quando um homem santo atingiu o vértice do caminho da concentração meditativa e da compreensão introspectiva,
todas as suas preocupações desaparecem e a sua visão torna-se clara e atinge a verdade.

385.
Aquele para quem não existe nem esta nem a outra margem,
para quem esta vida e a vida do além se encontram desveladas,
que está livre de preocupações e sem apegos,
esse é o homem santo.

386. 
Aquele que medita, pacífico e sem mácula, que cumpriu a sua missão,
tendo alcançado o objectivo mais elevado,
esse é o homem santo.

387.
O Sol brilha durante o dia, a Lua brilha à noite.
O guerreiro brilha na armadura
e o homem santo brilha ao meditar.
Mas só o Buda brilha resplandecente dia e noite.

388.
O espírito do santo desembaraçou-se do mal.
Aquele que vive sozinho é um eremita e o que renuncia a todo o mal é o liberto.

389.
Não se deve ofender ou atacar um homem santo,
nem deve um homem santo, quando ofendido ou atacado, dar lugar à raiva. 
Maldito é aquele que ofende ou atinge um santo homem,
e maldito o santo que responder à ofensa ou à agressão.

390.
Nada melhor para um homem santo do que subjugar a mente às suas tendências.
À medida que a intenção de fazer o mal desaparece,
também o sofrimento desaparece.

391.
Aquele que nenhum mal faz
em acção, em palavra e em pensamento,
que é prudente nestes três princípios,
esse é o homem santo.

392. 
Assim como um brâmane reverencia o fogo sacrificial,
da mesma forma se deve reverenciar a pessoa
de quem se aprendeu o ensinamento de Buda.

393.
Nem pelo cabelo entrançado, nem pela linhagem, nem pelo nascimento, 
alguém se transforma num homem santo. 
Mas aquele que segue a doutrina verdadeira,
esse é um homem santo.

394.
De que serve o teu cabelo entrançado, ó homem insensato?
E a vestimenta de pele de antílope?
Só te preocupas com a tua aparência exterior?
Limpo por fora e corrompido por dentro.

395.
Aquele que usa um hábito feito de trapos, magro, pálido,
mostrando as veias sobre todo o seu corpo,
que medita sozinho na floresta,
esse merece o nome de santo. 

396.
Eu não chamo a um homem santo
só por ter nascido brâmane.
Se ele está repleto de apegos,
é apenas um homem arrogante.
Mas aquele que é livre de oposições e apego,
a esse chamo de homem santo.

397.
Aquele que, depois de ter cortado todos os grilhões com a existência
e que nunca sentiu qualquer espécie de temor,
que superou todos os apegos, liberto de toda a preocupação,
a esse chamo de homem santo.

398.
Aquele que cortou o fio do ódio, o laço da cobiça, e a corda da ilusão,
liberto de toda a preocupação, desperto,
a esse chamo homem santo. 

399.
Aquele que sem ressentimento suporta injúrias, calúnias, agressões, prisão e morte,
cujo verdadeiro poder é a paciência e a serenidade,
a esse chamo de homem santo.

400.
Aquele que está livre da cólera e com humildade tudo suporta,
vivendo serenamente a sua última vida,
a esse chamo de homem santo.

401.
Como uma gota de orvalho sobre uma folha de lótus,
ou um grão de mostarda cai da ponta de uma agulha,
é aquele que não tem desejos.
A esse chamo de homem santo.

402.
Aquele que ainda durante esta vida
compreende por si mesmo o fim do sofrimento,
liberto de qualquer fardo e livre de toda a preocupação,
a esse chamo de homem santo.

403.
Aquele que tem um conhecimento profundo, que é sábio,
que faz uma distinção correcta entre o caminho certo e o errado, 
que vê claramente o caminho da libertação, que atingiu o mais alto objectivo da doutrina,
a esse chamo de homem santo.

404.
Aquele que se mantém distante tanto de chefes de família como dos ascetas,
que foge das relações com o mundo,
não se ligando a ninguém,
sem tecto e caminhando sem qualquer desejo e sem preocupações,
que de pouco precisa,
a esse chamo de homem santo.

405.
Aquele que renunciou à violência para com todos os
seres vivos,
que não mata nem faz com que os outros matem,
a esse chamo de homem santo.

406.
Sem cólera, sem hostilidade neste mundo de cólera,
sem defesa neste mundo de guerra permanente,
sem desejo e apego neste mundo de desejos,
a esse chamo de homem santo.

407.
Aquele cuja lascívia e vaidade, ódio e impostura caíram,
como uma semente de mostarda cai da ponta de uma agulha,
a esse chamo de homem santo.

408.
Aquele que profere palavras claras de verdade
e que não ofende ninguém,
a esse chamo de homem santo.

409.
Aquele que neste mundo não se apodera de nada que não lhe tenha sido oferecido,
a esse chamo de homem santo.

410.
Aquele que nada quer,
tanto deste mundo como do mundo do além,
livre de cobiça e de preocupações,
a esse chamo de homem santo.

411.
Aquele que sem apego,
que através do conhecimento perfeito está liberto de todas as dúvidas 
e chegou à outra margem,
a esse chamo de homem santo.

412.
Aquele que neste mundo se afastou do mérito e do demérito,
que não tem inquietação, puro e cristalino,
a esse chamo de homem santo.

413. 
Aquele, que esplende como a Lua cheia,
límpido, puro e sereno,
que se libertou dos desejos,
a esse chamo de homem santo.

414.
Aquele que, depois de ter atravessado o pântano, escapou aos erros,
à roda dos nascimentos, que atravessou e chegou à outra margem,
que medita, calmo, desprendido de dúvidas, que não se apegou a nada,
que se livrou de todas as preocupações mundanas,
que alcançou o nirvana.
A esse chamo um homem santo.

415.
Aquele que, tendo abandonado os prazeres do amor,
que renunciou à vida no lar e aos desejos,
tornando-se um mendicante,
a esse chamo de homem santo.

416.
Aquele que, tendo abandonado o desejo,
renunciou à vida do lar, tornando-se um mendicante,
destruindo toda a avidez,
a esse chamo um homem santo.

417.
Aquele que fugiu dos reinos humanos,
que escapou aos mundos dos deuses,
totalmente livre de todas os cativeiros,
a esse chamo de homem santo.

418.
Aquele que se afastou de todos os prazeres e desgostos,
que se tornou tranquilo, livre dos substratos da existência
e como um herói conquistou todos os mundos,
a esse chamo de homem santo.

419.
Aquele que separado de tudo,
feliz e desperto, abençoado e luminoso,
conhece a morte e o renascimento de todos os seres,
a esse chamo de homem santo.

420.
Aquele de quem deuses, anjos e humanos não conseguem encontrar rasto,
conhecedor da verdade da extinção,
a esse chamo de homem santo.

421. 
Todo aquele para quem o passado, o presente e o futuro nada são,
que nada deseja,
que a nada se apega, 
e de nada se apossa,
esse é o homem santo. 

422. 
O indizível, o excelente, o sublime, o vencedor de todo o sofrimento,
o conhecedor da verdade, o puro, mestre dos deuses e dos homens, desperto,
a esse chamo de homem santo.

423.
Aquele que conhece as suas vidas anteriores,
que vê o céu e o mundo dos abismos,
que se libertou da roda dos nascimentos,
que atingiu a perfeição da doutrina,
o sábio que alcançou o auge da sublimidade espiritual,
a esse chamo de homem santo.


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