Como cantar o amado?
Quem ama
fica cheio de não-saber
não pára de procurar
Entrevendo o fulgor do êxtase
percorre o rio do sangue
conhece os horrores da guerra íntima
toda vermelha e crua
fértil em rupturas
incessante nos ataques
Não
nenhum rosto materno sobre o nosso debruçado
nos consolaria
se houvesse esse rosto
essa ternura impossível de entender
Nada nos pode consolar
do excessivo peso do amor
que oprime como a noite
cheia de não-saber
como tudo o que é divino
e inventado
De facto
não amamos como as flores
totalmente simples na sua entrega
Quando amamos
deixamos de ser o que somos
transfigurados pelo desejo
que mata
destrói
violenta tudo
E perscrutando a noite
que a si própria se escava e aplaina
amando
fitamos a intermitência das estrelas
deslumbrados por um brilho extinto
que fere com lentidão sideral
o ermo íntimo do nosso coração
Inatingível sempre
e como tal desejado
o verdadeiro amado
(Rilkeana)
Sem comentários:
Enviar um comentário