Download dos textos de ANTIPOESIA ou a insustentável arte da falsa erudição em –
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as nuvens estão a chover
chovem nuvens
choram nuvens
paradas
quinze luas são as que faltam
gases fatídicos nas estepes ardem as tundras
movimento-me
as nuvens chovem
as lágrimas dos famintos
no meu movimento
há quietação
nuvens choram
chovem ácidos
metano
paro
rodopio como um pião
remoinho da pacificação
hélices de avião
guerreiros suicidas
a guerra sempre a guerra
para além dela a vingança
age a natureza pela paciência
dragões voadores planam nos céus por cima dos hortos
os que voarem
para alturas inóspitas e desconhecidas
renegando a prudência
perderão a constância
e
cairão no vale-dos-mortos
o mais profundo do abismo
é cavado e negro
mortífero
nas profundezas da escuridão ficam os desprevenidos encarcerados
beligerantes incógnitos
a terra fecunda
está receptiva
recebe o alimento do céu
na montanha longínqua a minha imobilidade inibe a sementeira e a vindima do coração
por vezes
brilha em mim
a gentileza
a docilidade
a humildade
ser humilde
não é ser humilhado
a força da alma embarga-mo
cerrei o alforge não entram nem saem pensamentos e a mente está serena na doçura da inércia
geada no vale
batalha no campo
o meu sangue
é amarelo-escuro
aguardo o combate dos leões
para repousar
no dorso da égua casta
trovões nascem das nuvens
rolando pelas encostas do céu –
as minhas lágrimas são de sangue
entrei na floresta perseguindo o veado real
a montada estancou
imóvel ficou sem pestanejar
não prossigo –
estou abatido e exausto
mesmo na inacção
da montanha dos dias azuis brotam as águas de dois nascentes
num só –
águas diferentes
águas inocentes
que não as mesmas
o rio é vasto –
suas águas extensas
e caudalosas
a corrente barra-me o caminho
volto à margem
ao lodo
do lodo
à areia de sangue
onde os convocados disformes me aguardam
os céus límpidos
rejeitam a água ascendente
escondo-me na obscuridade
na profundidade da fossa abissal
bolhas mortíferas no oceano
o veio de águas límpidas trespassa o coração da terra
e a sua superfície violentada
por um exército em debandada
três vezes o general o instruiu
três vezes ordenou ordem
seis vezes ordenou a retirada
e nada
há desordem vaivém
demasiadas baixas
desdém
da humildade nasce a harmonia
em equilíbrio
perfeito é o acordo das entranhas
com o mundo
de ocidente chegam nuvens carregadas de negro-pérola
sem chuva
arrastadas pelos ventos
viajo num carro sem rodados
os meus olhos no horizonte
longe dos teus
luzentes de lágrimas –
já choveu
um céu
um lago
a floresta densa
do tigre
que repousa
estou sozinho
na longa caminhada
em que o espezinhei
sem ser atacado
a minha intenção é firme
natural e boa
como as águas passadas –
o soldado continua o seu caminho
sem comandante
ou a quem comandar
curvou-se o céu
beijando a terra virgem -
o alto e o baixo tranquilizam-se
à beira das águas
arrancámos os juncos
e amámos os desafortunados
amando-nos a nós
nos muros graníticos
da fortificação imaculada
os céus longínquos
alhearam-se
da terra fecunda
o que vem fica
o que vai não volta
ambos choram e riem
na servidão do espaço
o muro da perdição
não se desmorona
depois do muro em pedra solta
o contentamento alegre –
finda a obstrução a realização
atravessando
o rio grande
encontrámo-nos
no deserto
e acendemos
o fogo do amor
na noite fria de estrelas ocultas
da cooperação nasce o equilíbrio
da integridade a sabedoria
fogo intenso que sobe aos céus
extinguindo o mal
a insignificância humana
é desfavorável e perniciosa
e deve ser repudiada –
a inocência produz o bem
da
minha
mente
saem
palavras
a verdade
a gerar confiança
a alimentar a maldade
de perversos
e culpados
um pequeno carro carregado
é o nosso engano
nossa falsidade
morte na tundra explosão infernal
o espírito fere o farto
e enobrece o humilde
na sua grandeza surda e muda
o cume da montanha é humilde e modesto –
cultivar a humildade é hipocrisia
ser humilde é auspicioso
o sol e a lua percorrem as suas órbitas
as estações sucedem-se
primavera em floração
estio de fogo outono rubro
inverno de recolhimento
há uma suave e secreta harmonia no mais íntimo do meu ser
com a luz vem a sombra
o cavalo branco alado
não deixa rasto
nem na terra nem nos céus
o cavalo preto da retaguarda
não afecta a terra em movimento –
estou feliz
o poente está no horizonte
belo como nunca
inocente como sempre
o sol fecha os olhos vagarosamente
e eu repouso com ele
no seio de luz
que com leveza se apaga
aguardando o novo dia
desejo do desejo –
ansiedade
sinceridade e caminho –
clareza
há uma brisa
no sopé da montanha
a acariciar a rocha inerte
sublime e suave detém-se
no seu próprio movimento
retornando ao centro
como quem começa de novo
sem começar
tal rio que esmorece no verão
sem secar
- mas os rios vão secar -
o cavalo branco
debate-se no pântano
com esforço liberta-se –
a salvação tem a sua origem
na pureza e na rectidão
o vento
subtil
varre a terra
observa-se
e contempla-a
que doce e gentil visão –
há paz na contemplação
paz e morte
mordo apenas
apenas com intenção de morder
assim supero barreiras
e inutilizo a canga que me oprime
que impede o ouvir e o ver
a fogueira dos deuses
ilumina o cume áspero
a luz das labaredas
invade as veredas
no caminho há alegria
e simplicidade
não há ódio
não há rancor
nada que cegue a límpida visão
da realidade
dos jardins imponentes
tecidos momento a momento
àquele que tem
dar-se-lhe-á
ao que não tem
retirar-se-á
a perdiz fraca queda-se no ninho
o boi doente não vai ao verde pasto
fruto que não está maduro é rejeitado
quem não tiver onde reclinar a cabeça
mantenha-se imóvel
regresso ao coração do universo
onde aguardo paciente
que me seja apresentado
o mistério da criação
retorno
à eternidade
sem começo
há relâmpagos na noite
e trovões cortantes
inundando o silêncio das trevas –
os tambores celestes são fiéis ao todo
o carro não tem eixos
o cavalo persegue
o boi novo tem madeira nos chifres
as presas do cerdo capado
estão na encruzilhada do céu
segura é a edificação
o corpo alimenta-se
o espírito nutre-se
o excesso de discursos
e a mesa repleta
destroem –
ambos são assento
de estultos
a pedra angular desgastou-se
a viga mestra
vergou-se
hora
de recolhimento
no encalce da paz
da tranquilidade
da gratuita serenidade
não há medo na solidão
nem ansiedade no afastamento
mas alegria e congratulação
a água
corre
silenciosa
em veios
visíveis
mas
inaudíveis
as armadilhas
sucedem-se
na sua arrojada
acção
quem cai no abismo é sepultado no fundo do tempo
ergue a tua taça num brinde ao mundo imenso
e do fosso verás a claridade –
não abandones a sinceridade
fogo
é paixão
e luz
união
e clareza
estranha é a beleza
da destruição
no verdadeiro é vantagem
estar à mesa e ter
a candeia acesa
mesmo que o mundo finde
quem se senta no lago da montanha enxerga com sentimento favorável o que em baixo está
derramando em sussurro as suas palavras na partilha da afeição
trovão e vento harmonizam-se
o sol e a lua têm o céu
o verdadeiro persiste
em estável equilíbrio
há hipócritas vigaristas
corruptos mentirosos
ignorantes incompetentes
gente descomposta
afasta-te deles
retiro-me reservo-me
protejo-me –
com sucesso afasto a indecência
não deixo que
me firam a verdade
antes a espada
à fraqueza
para que o poder
da grandeza me persiga
o trovão purifica os céus
a verdade a alma
não sou complacente
até à exaustão
à perda da energia
os cavalos brancos
correm na planície
inundados de luz
tudo é incandescência
directa e por reflexão
caminhando no progresso
até à evidência do fim
até se exaurir a íntegra plenitude
o sábio mergulha
nas profundezas
da noite escura
sofrendo privações
dores erráticas –
perseverando
verá brilhar a luz
da fogueira saem línguas de vento
está no interior o que do interior é
e no exterior o que é do exterior
no sossego e docilidade do lar
está a harmonia do mundo
quando os pais são pais
e os filhos filhos
a maior perda é a da fidelidade
o fogo
sobe
aos céus
enquanto o húmido
desce à terra
o céu
opõe-se à terra
mas os seus esforços
conjugam-se
e os seus desejos
conciliam-se
os contrários
identificam-se
sem se humilharem
foge o cavalo branco pela encosta
desaparecendo nas ravinas ocultas
a canoa vazia
amontoa-se de espectros horríveis
mas chove
e a alma aquieta-se
sopram
ventos
de nordeste
contra as torres
de metal
a água cobre
as montanhas
sendo inútil
a ascensão
retorna a ti
ao teu centro
inabalável
só ou acompanhado
promovendo o justo equilíbrio
da inevitabilidade
sopram ventos de sudoeste
extinto o nordeste
com chuva e trovões
caçadas as três raposas
há harmonia na caminhada
uma taça vazia
outra plena
a plena esvazia-se
a vazia enche-se
assim findando avareza e ódio
o vento sopra
o trovão ensurdece
o aumento supera-nos
o mais alto fica mais baixo
e o mais baixo mais alto
com o tempo
atravessa-se o rio
na direcção dos céus
não há fraqueza na vontade
nem hesitação na sabedoria
quando a água ascende aos céus
no estado de completa atenção
os salteadores da noite serão repelidos
mesmo que sós viajemos não havendo carne nas nádegas é o andar vacilante e ouvir as palavras de sonhos sem acreditar designa que a audição não é clara ainda
o vento
está por baixo do céu
e o encontro é inevitável
suavidade e dureza confrontam-se
o poderoso é inconciliável com a fraqueza
será necessário que algo desça dos céus
para que o porco magro desapareça
os sábios defendem-se
são múltiplas suas armas
tantas quantos os inimigos
adequadas a cada acção
defendendo-se da contenda
antes da execução
não haverá lamento nem choro
e perda de alimento
se nada restar para além do combate
erguei a adaga mortal
sós
ou tendo por aliado um general
em guerras experimentado
na terra crescem árvores e erguem-se torres
em constante ascensão o vento transporta com leveza a ave que plana receptiva no caminho sinuoso para o reino do vazio e o ser que os degraus sobe verá a harmonia
o justo equilíbrio
quando o lago está seco
perde-se o ânimo
fica-se exausto
nada se obtém de terra seca
e gretada
o vale escuro do coração degrada-se
o quarto está vazio
o nariz e pés decepados
no lento trilhar da felicidade
que não admite abatimento
o vento sopra na base da água que sobe na estreita fenda da terra
mergulha nas tuas profundezas como o peixe pequeno do fundo do poço
sozinho sem que o balde se despedace ou o cântaro se quebre
alguns mudam como tigres
outros como leopardos –
é justo usar a pele do boi amarelo
água e fogo extinguem-se
em contínuas mudanças
os arquitectos da ponte
não a querem armar no mesmo local
os edificadores do templo
divergem no material
reuni madeira e vento e ateei o fogo –
é seguro o resultado
o alimento aí cozinhado
chegou
o trovão
com seu ribombar
ecoando
nos céus dormentes
o medo acompanha-o
por momentos
fazendo tremer
a terra inocente
depois da tempestade a bonança
na subida dos nove montes
há um tempo de quietude
na montanha inerte e sóbria
também eu me quedo
em perfeita imobilidade
aguardando o tempo próspero da acção
o momento que não apresso
da súbita iluminação
não tenho pressa não estou impaciente
cresço como a árvore lenta
na cumeeira da montanha
em partilha com o céu
comungando a terra
o trovão estremece o lago
tudo está como é e deve ficar como está –
satisfaz-te com o presente
o trovão e a luz iluminam as ameias do castelo e o banquete é lauto
enchem-se as mesas luminosas e de alegria os corações
mesmo os dos incautos
quando a estrela do norte
não é de dia divisada
acendemos a fogueira na cimeira da montanha
interrompida a viagem
no repouso e silêncio do alto não há contenda
mesmo perdendo a seta que sacrificou o faisão
cavalgo no vento
seja qual for
a sua direcção
com gentileza
acolho-me no seu seio
trilhando sem exaustão
os caminhos do céu
a água límpida purifica
o prazer e a alegria –
extingue-se o medo da morte
o vento sopra lento
na água calma da barragem
o sangue está disperso
na multidão que se agita em viajem
recolhe-te no pátio interior
mas não abandones o exterior
se o não fizeres
a quem poderás culpar
há vento no lago e uma embarcação ao largo sem timoneiro
sem passageiro
um grou grasna na sombra da margem
ao longe o rufar de um tambor
e o choro de uma criança –
apenas a justa dança
que acontece no meu interior
um pássaro voa para o alto e o seu grito desce
o pequeno não fenece
deixa-se arrastar pelo refluxo da maré
com reverência e frugalidade
contenção e prudência
a consumação opera no pequeno
e estriba-se na correcção
como quem arrasta rodas
tudo muda
a impermanência viceja
crimes hediondos contra a natura
o metano siberiano
o árctico arde
os rios morrem
o arroto do metano a fúria da natureza
o massacre dos inocentes
a raposa atravessou o rio
molhando a cabeça –
desprezou a experiência
destruição
devastação
aniquilação
o fim anunciado da humanidade
***
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