O artista é a origem da obra de arte. A obra de arte é também a origem do artista (Heidegger) – a origem de uma coisa é a proveniência da sua essência, que é o que uma coisa é como é.
No entanto, quer artista quer a sua obra dependem da arte.
Se com Kandinsky – Do Espiritual na Arte -, podemos concluir que a obra de arte é filha do seu tempo e por vezes mãe dos nossos sentimentos, já não estamos certos de que a arte seja uma forma de projectar a luz, nas profundezas do coração humano (Schumann). De uma forma simples e convencional, a arte apresenta-se-nos como a procura do belo – se optarmos pela definição de belo, entraremos no círculo vicioso a que nos procurávamos eximir – e aí terá uma forte componente decorativa. Uma obra bela será aquela para a qual não nos cansamos de olhar ou que podemos escutar sem enfadamento.
A obra de arte – referimo-nos agora à pintura – deverá suscitar emoções que não sejam traduzíveis por palavras ou por quaisquer outros símbolos, não relevando aqui as opiniões dos obsoletos críticos, mas a forma como é vivenciada na generalidade.
Heidegger afirma, que as considerações por si tecidas na obra A Origem da Arte, concernem ao próprio enigma da arte, o enigma que ela é em si mesma. E, não o desvendando, limita-se a constatá-lo.
Um quadro meu é uma improvisação e uma meditação inconsciente do infinito. Não tem outro intento que não seja o plasmado no espaço pictórico, sem princípio ou fim, dominado em regra, pela cor que conduz pela sua profundidade o nosso olhar para a infinitude. E, antes de ser verdadeiramente espiritual, deverá ser decorativo e agradável aos sentidos.
JOSÉ MARIA ALVES
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