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ARTE

quinta-feira, 12 de março de 2009

FANTASIA E REALIDADE


A fantasia é ilusão; deturpa a realidade. Queremos ter prestígio, ser conhecidos e reconhecidos em vida e na morte. Procuramos o poder em todas as esquinas que cruzamos, em todos os locais que frequentamos. Sonhamos ser isto ou aquilo, um maestro famoso, político eminente, guerreiro valoroso, artista ou santo. Sonhamos que o mundo se prostra aos nossos pés, tanto, que as estrelas se curvam para nos beijarem e o Sol nasce por nossa secreta vontade. Quem é que não quer ser Deus?! Quem é que não sonhou com a absoluta liberdade?! Quem é que no seu pranto não iludiu o sono para imaginar a ascensão do ser à imortalidade?! O imaginário é-nos caro, é o sopro de alívio do sofrimento, o último reduto do pensamento. Sonhamos para amenizar a dor que gira, parte e retorna, tal fiel animal, que espoliado dum sentir próprio, maltratado e subjugado não abandona seu dono. Somos os mestres do sofrimento psicológico, mestres e aprendizes, locadores e locatários, administradores e administrados. Somos pensamento, somos sofrimento, defuntos numa vida de morte anunciada.
Queremos sempre prolongar o prazer, fazer cessar a dor, encetar uma fuga ao tormento. A fuga do que é, do que ocorre, é um lamento de que ninguém se compadece, somente nós, nessa autocompaixão destrutiva e grito de solidão que não fenece. Mas, estamos vivos nas células que se comprimem num universo imaginário, que dia após dia, tece e é tecido por fio ensarilhado. Estamos vivos numa vida encenada, interpretada e comparada. Estamos vivos na morte, que em crianças e com o “eu”, connosco nasceu.
As águas correm cristalinas na pequena queda junto à barragem, as nuvens são sempre diferentes no céu azul, e os pássaros cantam diferenças ao sabor da aragem. A truta grande e velha do bloco de granito submerso está hoje quieta, tão imóvel quanto a corrente o permite. Mais tarde, cansar-se-á da imobilidade, já que o descanso nem sempre dá tranquilidade, e virá à superfície colher o alimento móvel, sempre com gestos rápidos e fugazes, novos, não estudados. E eu? Faço projectos, conjecturo feitos, iludo os sentidos.

JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org

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