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ARTE

quinta-feira, 12 de março de 2009

O ÊXTASE DO JOÃO PESTINHA


A felicidade não é a satisfação de todas as nossas inclinações. Estas, ou os desejos são infinitas.
A beatitude é um estado de felicidade em que qualquer perturbação não é inquietante, em que a sensação do indeterminado não é angustiante.
No êxtase não patológico, não há imobilidade e aniquilação das funções de relação.
Lembro-me com constância de um episódio ocorrido na Serra da Estrela, onde vivi durante duas dezenas de anos.
O Sol matutino ainda doirava as pedras graníticas e resplandecia na vegetação rasteira salpicada de orvalho. Conduzia com lentidão o veículo todo o terreno por um caminho de terra, a cerca de 1500 metros de altitude, dirigindo-me para a “Santinha”. A atmosfera estava extraordinariamente límpida, como consequência do pequeno nevão da noite anterior. A Nascente, sucediam-se até ao horizonte longínquas montanhas e serranias, num espectáculo deslumbrante, enquanto que a Poente, a terra chã se estendia languidamente até ao mar, oculto pela lonjura. Chegámos ao Malhão e o João Pestinha agitou-se, fez menção de sair do jipe. Parei o veículo e o meu amigo de quatro patas saltou imediatamente, começando a correr em linha recta, mas sem destino ou objectivo. As suas patas pareciam não tocar o solo, e os movimentos do seu corpo em harmonia perfeita com o meio envolvente, não eram deste mundo. Havia beleza e unidade, um sentimento de vastidão e plenitude que transcendia todo o conhecido. O êxtase foi-me comunicado, e com ele, uma viva e energizante percepção da realidade que parecia infindável.

JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org

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