No monte do Sul o velho carvoeiro
serra a madeira, faz carvão.
O rosto cor de fogo, coberto de fuligem,
cinzentas as têmporas, negras as mãos.
Ganha tão pouco dinheiro, e para quê?
Roupa para o corpo, comida para a boca,
mas tão pobre, vestido de andrajos.
Tem frio e deseja o frio, por causa do negócio.
Esta noite um palmo de neve sobre a cidade.
De madrugada, conduz a carroça, rasgando o gelo,
ao meio-dia, o boi fatigado, o homem com fome.
Na Porta Sul descansam ambos na lama gelada.
Ah, quem são esses fogosos cavaleiros?
Um oficial vestido de amarelo, um rapaz de branco,
na mão um documento «Por ordem imperial».
Puxam o boi, levam a carroça para norte.
Uma carrada, trinta arrobas de carvão,
confiscadas pelos comissários do Palácio.
De nada servem protestos e lamentos.
Um pedaço de tecido em gaze,
umas tiras de seda florida,
tudo atado nos cornos do boi,
eis a paga do labor do carvoeiro.
Tradução António Graça de Abreu
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