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ARTE

sábado, 15 de maio de 2010

MARCELO GAMA (1878-1915) - TAEDIUM VITAE





Dias de tédio, amargurados dias,
Estes os que arrasto à espera de melhores,
Estes de sol, então, são os piores:
Mais me abatem as lassas energias.

Porque este sol que me ilumina e aquece,
Embora luz, calor e vida seja
- lascivo sol que a natureza beija
lubricamente, e os seios lhe intumesce –

é o mesmo sol que me amesquinha e oprime,
o alvissareiro da maledicência,
que põe, perfidamente, em evidência,
esta pobreza vil, que é quase um crime.

Por isso à lua, mal o sol se esconde,
Horas fico a cismar, contemplativo...
Abominável terra, esta onde vivo!...
Vêm-me vontades de partir... Mas onde?...

Mas onde achar a paz que est´alma aspira?
Se em toda a parte os homens são iguais!
Se aqui na terra são convencionais
Honra e virtude, e o mais – tudo mentira.

Lá onde eu fosse chegaria o tédio.
Que à vida é necessário o sofrimento,
E bem sei, para meu maior tormento,
Que esta dor só na morte tem remédio!

Todo este mal, toda esta desventura,
Vem do sentir e amar em demasia,
E ver que é sempre simulada ou fria
Toda afeição que eu supusera pura.

Conto os meus anos pelas minhas dores,
E são mais minhas dores que os meus anos;
E não bastando os próprios desenganos,
Comovem-me os alheios dissabores.

Que uma só vez não há, que eu não vacile,
Quando a desgraça os outros arremete!
Já chego a duvidar como Stecchetti:
- Sono un poeta o sono um imbecile?

Tu, que os meus versos lês e que os condenas,
Quando não és de todo indiferente,
Como és feliz! Como é feliz a gente
Que insensível assiste a alheias penas!

Bendita aspiração, ditosa sorte:
- extinguir-me, ou vencer estes espaços!
Por que nos teus escanifrados braços
Não me estrangulas, redentora morte?

Ontem levaste, aqui da vizinhança,
A pobre mãe de três loiros filhinhos,
E entregaste-os à dor! Beijos, carinhos,
Mudaram-se em cruel desesperança.

E deixaste-me entanto, atormentado,
Escravo destes miseráveis nervos!
Meus dias, que penoso é maldizer-vos,
Sendo até pela morte desprezado!

Morrer!... Antes morrer! Que só existe
No renunciar à vida a paz perfeita.
Tornar-se a gente em pó, na cova estreita,
É deixar, finalmente, de ser triste.

E se algum dia for desenterrada
Minha carcaça, hão-de me ver sorrindo...
Porque as caveiras riem, assistindo
Deste mundo à infinita mascarada.


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