Quase todas as hipóteses e questões da filosofia moderna foram pensadas pelos gregos.
Os PRÉ-SOCRÁTICOS são audazes e espontâneos. Com eles, o pensamento organiza-se e pressagia-se uma nova era na história da humanidade. Procuraram explicar o mundo utilizando um método que qualificaremos ainda que com alguma imprecisão científico, por oposição à explicação mítica da realidade. Daí a sua imensa importância no panorama do pensamento.
Conhecemos os seus pensamentos, quer por fragmentos das suas obras – alguns recolhidos e transcritos por autores que lhes aditaram indevidamente interpretações meramente pessoais – quer fundamentalmente pelos escritos de filósofos posteriores, que vão de Platão – século IV a.C. – e Aristóteles, a Simplício – século VI d.C. –, realçando-se para além dos citados, Teofrasto, Plutarco, Sexto Empírico, Clemente de Alexandria, Hipólito e Diógenes Laércio – historiador da filosofia grega, viveu no século III d.C., e escreveu “Vida, Doutrinas e Sentenças dos Filósofos Ilustres”. Atente-se, que da filosofia grega, apenas Platão, Aristóteles e Plotino têm as suas obras preservadas quase que integralmente.
No período anterior a Sócrates, a palavra Deus não tem uma conotação religiosa idêntica à dos períodos subsequentes – deus como objecto de culto. Os filósofos pré-socráticos poderiam ter desenvolvido a teologia natural, até aos seus fins últimos, mas como ensina Étienne Gilson, não o fizeram porque não queriam perder os seus deuses.
Nas tradições religiosas em que abundam muitos deuses, cada ente divinizado representa uma energia positiva ou negativa, criativa ou destrutiva. Os deuses gregos são dinâmicos, verdadeiras entidades viventes, tal como o homem. No entanto, não são atingidos pela morte – por isso, também eram denominados Imortais – e influenciam o destino dos mortais, dependendo estes da sua graça ou da sua desestima. Mas, com o nascimento da filosofia, o homem religioso que também é filósofo, haveria de considerar que a causa primeira, ou se quisermos “princípio”, é a explicação válida para a existência do todo, ou seja, do que existiu, do que existe e do que existirá no porvir. Como bem anota Hobbes – Da Natureza Humana –, “O Ser que existe com o poder de produzir, se não fosse eterno, deveria ter sido produzido por algum Ser anterior a ele e este por um outro Ser que o tivesse precedido. É assim, que remontando de causas em causas, chegamos a um poder eterno, ou seja, anterior a tudo, que é o poder de todos os poderes e a causa de todas as causas. É isso que todos os homens concebem pelo nome de Deus, que encerra eternidade, incompreensibilidade, omnipotência”.
Tales e os que se lhe seguiram eram filósofos e procuraram o primeiro princípio, independentemente da existência de múltiplos deuses, que também dominavam o panorama religioso ao tempo de Sócrates, Platão e Aristóteles. No Timeu, Platão concede à divindade um carácter politeísta, dela participando vários deuses, cada um com funções e domínios específicos – o demiurgo é apenas o seu superior hierárquico.
E quer queiramos quer não, também o nosso mundo está repleto de deuses...
Anote-se, apesar de tudo, que enquanto os filósofos gregos se debatiam com a questão dos seus deuses e do seu lugar no mundo, o povo judeu já havia encontrado a resposta às suas inquietações: o seu Deus e Senhor era único e apresentara-se a Moisés como Javé, “Eu sou o que sou”.
Segundo Simplício, alguns filósofos, nomeadamente Anaximandro, Demócrito, Leucipo e no período tardio da filosofia grega, Epicuro, imaginaram mundos incontáveis que nasciam e morriam ad infinitum, alguns nascendo sempre e outros morrendo.
Muito antes das descobertas científicas iniciadas com Galileu e Copérnico, já os gregos expunham hipóteses absolutamente verosímeis: Enópides, que viveu no tempo de Anaxágoras, descobriu a obliquidade da elíptica; Heraclides do Ponto, nascido em 388 a.C., descobriu que os planetas Vénus e Mercúrio giram em torno do Sol e que a Terra gira sobre o seu próprio eixo, com uma rotação completa a cada 24 horas; Aristarco de Samos, nascido em 310 a.C., afirmou que todos os planetas giram à volta do Sol, incluindo a Terra, que tem um movimento de rotação de 24 horas; Arquimedes afirmou, por seu turno, que quer as estrelas fixas quer o Sol não se movem e que a Terra gira em volta deste. A hipótese de Aristarco apenas foi defendida na Antiguidade, por Seleuco, que floresceu por volta do ano 150 a.C, e tida por errónea até Copérnico – custa-nos a acreditar que este a desconhecia.
SÓCRATES, foi mestre de Platão e nas palavras de Cícero trouxe a filosofia do céu para a terra. Filosofa sobre o homem e o mundo que com ele interage, tendo adoptado a divisa délfica “Conhece-te a ti mesmo”.
Devemos o conhecimento dos seus ensinamentos a Platão.
É justo afirmar, que quer Platão quer o seu discípulo Aristóteles foram os filósofos mais influentes de todo o período filosófico até à idade moderna. Talvez Platão, tenha exercido uma maior influência do que o seu discípulo Aristóteles, já que a filosofia cristã até ao século XIII foi essencialmente platónica.
PLATÃO pensa tudo o que é pensável. Segundo Karl Jaspers – Iniciação Filosófica –, “atingiu uma culminância tal, que parece, ninguém poder subir mais alto nos domínios do pensamento. É dele que dimanam até hoje os mais profundos impulsos para a filosofia”. O mesmo filósofo afirma “que o futuro pensador assinala-se pela maneira como compreende Platão”.
Pode dizer-se que foi tão longe quanto possível. Não há nada que lhe seja indiferente. Quis que a pesquisa filosófica incidisse sobre “as figuras rectas ou circulares, as cores, o bem, o belo e o justo, todo o corpo artificial ou natural, o fogo, a água e todas as coisas do mesmo género, toda a espécie de seres vivos, a conduta da alma, as acções e as paixões de toda a espécie”.
Para Platão, o Universo foi arquitectado por um demiurgo que teve como imagem ou padrão o Bem.
ARISTÓTELES, discípulo de Platão, é indubitavelmente um dos fundadores da filosofia ocidental. Os seus ensinamentos tiveram uma fama imensa, quase “ditatorial” durante a Idade Média.
Em Aristóteles o Bem é imutável e o Universo tem uma tendência irresistível à sua imitação.
A ESCOLA PERIPATÉTICA nada trouxe de inovador aos ensinamentos do mestre Aristóteles. Destacam-se Teofrasto, que defendeu a teoria aristotélica da eternidade do mundo e Estratão, que não se socorre da divindade para explicar a criação do mundo.
As três grandes escolas pós-aristotélicas, que dominaram o panorama filosófico da antiguidade, são: o ESTOICISMO, o EPICURISMO e o CEPTICISMO. Evidentemente, que as mencionadas escolas não podem estar de acordo quanto aos seus pressupostos teóricos, mas nos fins a atingir ao nível prático, denotam uma curiosa concordância: prosseguem todas elas a felicidade do homem, que se obtém essencialmente pelo fim da inquietude e ausência de desejos e paixões.
O estoicismo desbravou o caminho para o cristianismo.
A época clássica da filosofia grega, reconheceu na pesquisa o seu valor fundamental. A investigação filosófica alicerça-se na razão, e não na tradição e na revelação, como ocorre com a teologia.
Com os filósofos tardios – contando-se entre eles os eclécticos – e o seu profundo interesse religioso, muito especialmente com os do denominado período romano – Séneca, Epicteto, Marco Aurélio –, quer a tradição quer a revelação tomam assento nas especulações, quase que pressagiando o aparecimento da filosofia cristã.
A filosofia antiga, termina com a figura ímpar de Plotino.
Estudo temático. Para um maior desenvolvimento e conhecimento de outros filósofos sobre os temas versados, ver no site,
Os PRÉ-SOCRÁTICOS são audazes e espontâneos. Com eles, o pensamento organiza-se e pressagia-se uma nova era na história da humanidade. Procuraram explicar o mundo utilizando um método que qualificaremos ainda que com alguma imprecisão científico, por oposição à explicação mítica da realidade. Daí a sua imensa importância no panorama do pensamento.
Conhecemos os seus pensamentos, quer por fragmentos das suas obras – alguns recolhidos e transcritos por autores que lhes aditaram indevidamente interpretações meramente pessoais – quer fundamentalmente pelos escritos de filósofos posteriores, que vão de Platão – século IV a.C. – e Aristóteles, a Simplício – século VI d.C. –, realçando-se para além dos citados, Teofrasto, Plutarco, Sexto Empírico, Clemente de Alexandria, Hipólito e Diógenes Laércio – historiador da filosofia grega, viveu no século III d.C., e escreveu “Vida, Doutrinas e Sentenças dos Filósofos Ilustres”. Atente-se, que da filosofia grega, apenas Platão, Aristóteles e Plotino têm as suas obras preservadas quase que integralmente.
No período anterior a Sócrates, a palavra Deus não tem uma conotação religiosa idêntica à dos períodos subsequentes – deus como objecto de culto. Os filósofos pré-socráticos poderiam ter desenvolvido a teologia natural, até aos seus fins últimos, mas como ensina Étienne Gilson, não o fizeram porque não queriam perder os seus deuses.
Nas tradições religiosas em que abundam muitos deuses, cada ente divinizado representa uma energia positiva ou negativa, criativa ou destrutiva. Os deuses gregos são dinâmicos, verdadeiras entidades viventes, tal como o homem. No entanto, não são atingidos pela morte – por isso, também eram denominados Imortais – e influenciam o destino dos mortais, dependendo estes da sua graça ou da sua desestima. Mas, com o nascimento da filosofia, o homem religioso que também é filósofo, haveria de considerar que a causa primeira, ou se quisermos “princípio”, é a explicação válida para a existência do todo, ou seja, do que existiu, do que existe e do que existirá no porvir. Como bem anota Hobbes – Da Natureza Humana –, “O Ser que existe com o poder de produzir, se não fosse eterno, deveria ter sido produzido por algum Ser anterior a ele e este por um outro Ser que o tivesse precedido. É assim, que remontando de causas em causas, chegamos a um poder eterno, ou seja, anterior a tudo, que é o poder de todos os poderes e a causa de todas as causas. É isso que todos os homens concebem pelo nome de Deus, que encerra eternidade, incompreensibilidade, omnipotência”.
Tales e os que se lhe seguiram eram filósofos e procuraram o primeiro princípio, independentemente da existência de múltiplos deuses, que também dominavam o panorama religioso ao tempo de Sócrates, Platão e Aristóteles. No Timeu, Platão concede à divindade um carácter politeísta, dela participando vários deuses, cada um com funções e domínios específicos – o demiurgo é apenas o seu superior hierárquico.
E quer queiramos quer não, também o nosso mundo está repleto de deuses...
Anote-se, apesar de tudo, que enquanto os filósofos gregos se debatiam com a questão dos seus deuses e do seu lugar no mundo, o povo judeu já havia encontrado a resposta às suas inquietações: o seu Deus e Senhor era único e apresentara-se a Moisés como Javé, “Eu sou o que sou”.
Segundo Simplício, alguns filósofos, nomeadamente Anaximandro, Demócrito, Leucipo e no período tardio da filosofia grega, Epicuro, imaginaram mundos incontáveis que nasciam e morriam ad infinitum, alguns nascendo sempre e outros morrendo.
Muito antes das descobertas científicas iniciadas com Galileu e Copérnico, já os gregos expunham hipóteses absolutamente verosímeis: Enópides, que viveu no tempo de Anaxágoras, descobriu a obliquidade da elíptica; Heraclides do Ponto, nascido em 388 a.C., descobriu que os planetas Vénus e Mercúrio giram em torno do Sol e que a Terra gira sobre o seu próprio eixo, com uma rotação completa a cada 24 horas; Aristarco de Samos, nascido em 310 a.C., afirmou que todos os planetas giram à volta do Sol, incluindo a Terra, que tem um movimento de rotação de 24 horas; Arquimedes afirmou, por seu turno, que quer as estrelas fixas quer o Sol não se movem e que a Terra gira em volta deste. A hipótese de Aristarco apenas foi defendida na Antiguidade, por Seleuco, que floresceu por volta do ano 150 a.C, e tida por errónea até Copérnico – custa-nos a acreditar que este a desconhecia.
SÓCRATES, foi mestre de Platão e nas palavras de Cícero trouxe a filosofia do céu para a terra. Filosofa sobre o homem e o mundo que com ele interage, tendo adoptado a divisa délfica “Conhece-te a ti mesmo”.
Devemos o conhecimento dos seus ensinamentos a Platão.
É justo afirmar, que quer Platão quer o seu discípulo Aristóteles foram os filósofos mais influentes de todo o período filosófico até à idade moderna. Talvez Platão, tenha exercido uma maior influência do que o seu discípulo Aristóteles, já que a filosofia cristã até ao século XIII foi essencialmente platónica.
PLATÃO pensa tudo o que é pensável. Segundo Karl Jaspers – Iniciação Filosófica –, “atingiu uma culminância tal, que parece, ninguém poder subir mais alto nos domínios do pensamento. É dele que dimanam até hoje os mais profundos impulsos para a filosofia”. O mesmo filósofo afirma “que o futuro pensador assinala-se pela maneira como compreende Platão”.
Pode dizer-se que foi tão longe quanto possível. Não há nada que lhe seja indiferente. Quis que a pesquisa filosófica incidisse sobre “as figuras rectas ou circulares, as cores, o bem, o belo e o justo, todo o corpo artificial ou natural, o fogo, a água e todas as coisas do mesmo género, toda a espécie de seres vivos, a conduta da alma, as acções e as paixões de toda a espécie”.
Para Platão, o Universo foi arquitectado por um demiurgo que teve como imagem ou padrão o Bem.
ARISTÓTELES, discípulo de Platão, é indubitavelmente um dos fundadores da filosofia ocidental. Os seus ensinamentos tiveram uma fama imensa, quase “ditatorial” durante a Idade Média.
Em Aristóteles o Bem é imutável e o Universo tem uma tendência irresistível à sua imitação.
A ESCOLA PERIPATÉTICA nada trouxe de inovador aos ensinamentos do mestre Aristóteles. Destacam-se Teofrasto, que defendeu a teoria aristotélica da eternidade do mundo e Estratão, que não se socorre da divindade para explicar a criação do mundo.
As três grandes escolas pós-aristotélicas, que dominaram o panorama filosófico da antiguidade, são: o ESTOICISMO, o EPICURISMO e o CEPTICISMO. Evidentemente, que as mencionadas escolas não podem estar de acordo quanto aos seus pressupostos teóricos, mas nos fins a atingir ao nível prático, denotam uma curiosa concordância: prosseguem todas elas a felicidade do homem, que se obtém essencialmente pelo fim da inquietude e ausência de desejos e paixões.
O estoicismo desbravou o caminho para o cristianismo.
A época clássica da filosofia grega, reconheceu na pesquisa o seu valor fundamental. A investigação filosófica alicerça-se na razão, e não na tradição e na revelação, como ocorre com a teologia.
Com os filósofos tardios – contando-se entre eles os eclécticos – e o seu profundo interesse religioso, muito especialmente com os do denominado período romano – Séneca, Epicteto, Marco Aurélio –, quer a tradição quer a revelação tomam assento nas especulações, quase que pressagiando o aparecimento da filosofia cristã.
A filosofia antiga, termina com a figura ímpar de Plotino.
Estudo temático. Para um maior desenvolvimento e conhecimento de outros filósofos sobre os temas versados, ver no site,
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