Os aldeãos plantam e colhem o arroz,
o mandarim destila-o
para fabricar o vinho,
e deixa apodrecer o sarro.
Ele vende o vinho muito caro.
Os aldeãos que plantam e colhem o arroz
têm a panela vazia
Compram ao mandarim o sarro
e comem-no.
O mandarim diz:
«Eu bebo o vinho,
vocês, o sarro.»
Foi isto a que assisti enquanto criança. Criança que apenas devia brincar...
Foi o que assisti na “minha” pobre aldeia beirã. Lembrança que não se desvanece, que não desaparece.
Foi isto que me fez Homem e revolucionário. Revolucionário de uma revolução sem partido, ideologia, crença. Apenas revolucionário de uma revolução interior. Candeia que não ilumina a floresta, mas que a quer incendiar... Gota de orvalho que molha os lábios do naufrago na sua desesperança...
E, volto sempre à “minha” aldeia. A essa aldeia tão pequena, que tem a grandeza do padecimento do mundo.
Volto para que o desassossego aí não cesse, para que o fogo da revolta se não extinga, para que não se deslembre o sofrimento dos desvalidos.
Volto sempre.
Voltarei sempre.
Vivo ou morto voltarei.
E mesmo morto estarei à mesa dos mendigos comendo do seu pão e bebendo o seu vinho azedo. Mesmo morto estarei no leito dos agonizantes sofrendo as suas dores.
E amarei, nunca deixarei de amar, a serra, o rio, a nuvem, o mar. Amar-te-ei a ti e à minha gente. Essa gente que amargava e amarga sem pão, sem paz, sem instrução.
Essa, a verdadeira revolução. A única.
Túnica aconchegante dos que padecem.
E volto... volto contigo amigo, para que sejas o exemplo vivo das minhas palavras.
JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org
Haverá um dia em que um crime contra um animal será um crime contra a humanidade.
LEONARDO DA VINCI
7 comentários:
Muita humanidade no seu relato, Zé-Maria!
Muita Intensidade.
E...
'Haverá um dia em que um crime contra um animal será um crime contra a humanidade.'
Quando? Quando?
Um abraço sincero da Coruja
ALÉM DA TERRA, ALÉM DO CÉU
Além da Terra, além do Céu,
no trampolim do sem-fim das estrelas,
no rastro dos astros,
na magnólia das nebulosas.
Além, muito além do sistema solar,
até onde alcançam o pensamento e o coração,
vamos!
vamos conjugar
o verbo fundamental essencial,
o verbo transcendente, acima das gramáticas
e do medo e da moeda e da política,
o verbo sempreamar,
o verbo pluriamar,
razão de ser e de viver.
Carlos Drummond de Andrade
Abraços...
Boa tarde "Coruja"
Leonardo fez a mesma pergunta a si mesmo.
Eu faço-a a mim próprio, tão consciente quanto ele, de que a natureza humana não sofreu alterações substanciais nos últimos dez mil anos de "civilização".
Quando, quando, pergunta a comentadora...
Para quando, para quando, quando os "mandarins" são os mesmos?...
Um dia, que já não será o nosso. Mas, para nós já é um crime, como muitos outros permitidos por esta sociedade de criminosos e cúmplices encartados, alguns com mestrado, outros doutorados (estou a sorrir; poderá alguma coisa ser séria se ninguém dela se rir?!).
Um abraço para si do
Zé Maria e do João Pestinha, meu amigo de 4 patas.
Olá Maria Helena
Se Amor houvesse, não teríamos "mandarins".
Se na Terra, no Céu, no casamento eterno das galáxias, o homem fosse um-ser-para-o-Amor, um-ser-para-Amar, não saberíamos o que são "mandarins".
Não havendo mandarins, inexistiriam outrossim os seus "lacaios", bastas vezes mais monstruosos que seus "donos".
Um abraço
Zé Maria
Não podemos nunca desistir de pregar o Amor.
"Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria"...
Boa tarde Helena
Paulo... Paulo, o apóstolo por vocação.
Por vezes, o seu "amor" parece-nos estranho, como se consequência de um profundo sentimento de culpa - quem sabe se da morte de Santo Estevão.
Paulo, é uma figura tão controversa, mas tão "poderosa", que nos levou em determinado momento a denominar Paulinismo o que deveríamos apelidar de Cristanismo. Coisas da Crítica da Razão Crítica... (estou a sorrir)
Mas, essa é a verdade - julgo eu -: sem Amor nada seremos e não valerá a pena viver; aliás já estaremos mortos em vida.
Um abraço
Zé Maria Alves
DOutor, definitivamente eu não sou Páreo, para o senhor(estou a sorrir), vou me recolher a minha insignificancia . Abraços Helena*
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