Gente coitada, não pagou a renda
E a tralha para a rua lhes deitaram:
Roupas de pobre – só trapos rasgados...
Esta mudança parece agonia.
E a chuva molha com seu ar de troça
Velhos farrapos, móveis roídos
Pelo caruncho, nus, desvergonhados.
Há dentro deles uma alma que chora.
E a cama ainda pensa nas carícias
Que amparou e que à dor deitaram
Dois magrizelas com as mãos de cera...
Oh, malditos amores de pobreza!
E grita ao vento: Mas por que direito
A mulher fraca, esfomeada, atira
Nova vida ao inferno – por um beijo?
Entre os pobres o amor é crime.
Chia a carroça à chuva: sua ruína
Devagar vai seguindo um operário,
Cabeça baixa, seco, de dor mudo,
E os olhos tristes para trás nem vira.
Ao lado, a mulher, cansada, leva
Dois miúdos pela mão. E em silêncio
Vão sem parar – nem eles sabem onde,
E a chuva os açoita sem piedade.
Tormento horrível, quase ameaça
Oculta-se no monte de farrapos,
No carro velho que a gemer estala,
Nos quatro vagabundos macilentos.
Essa miséria que os caminhos trava,
Os móveis desengonçados, gastos,
Que a lama cortam rumo ao futuro,
São como início de uma barricada.
Tradução de Doina Zugravescu
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