Era já noite cerrada,
Diz o filho «Ó minha mãe,
Debaixo daquela arcada
Passava-se a noite bem!»
A cega, que todo o dia
Tinha levado a andar,
A tais palavras do guia
Sentiu-se reanimar.
Mas saltam dois cães de gado,
Que eram como dois leões:
Tinha-os à porta o morgado
Para o guardar dos ladrões.
Tornam os pobres à estrada,
E onde haviam de ir dar?
Ao palácio da tapada
Onde el-rei ia caçar.
À ceguinha meio morta
Torna o filho: «Ó minha mãe,
Ali no vão de uma porta
Passava-se a noite bem!»
- Se os cães deixarem (diz ela,
A triste num riso amargo).
Com efeito a sentinela:
- «Quem vem lá?... Passe de largo!»
Então ceguinha e filhinho,
Vendo a sua esperança vã,
Deitaram-se ao caminho
Até romper a manhã!...
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