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ARTE

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

LOUIS ARAGON (1897-1982) - BALADA DOS SUPLÍCIOS






- «Pudesse eu recomeçar
e este caminho seguia...»
Uma voz fala das grades
sobre a futura alegria.

Na sua cela, dois homens
por essa noite comprida,
murmuravam-lhe: «Confessa.
Ou estás cansado da vida?

Podes viver como nós,
viver, viver anos vastos...
Uma só palavra, és livre...
e podes viver de rastos...»

- «Pudesse eu recomeçar
e este caminho seguia...»
A voz que sobe das grades
canta a futura alegria.

«Apenas uma palavra,
abre-se a porta e tu sais:
já o carrasco se some,
já acabaram teus ais!

Apenas uma mentira
para mudares o destino...
sonha, sonha, sonha
o claro sol matutino!»

«Disse o que tinha a dizer,
como o Rei Henrique falo:
uma missa por Paris...
p´lo meu reino, um cavalo...

Nada a fazer.» E partiram!
Cobre-o já seu sangue quente!
Era o seu único triunfo:
saber morrer inocente!

Pudesse ele recomeçar
ia esta sorte escolher?
Diz a voz que vem das grades:
- «Torná-lo-ia a fazer.

Eu morro e tu, França, ficas,
meu refúgio e minha fé.
Ó meus amigos, se morro,
vós sabeis pelo que é!»

Vieram para o prender,
falavam em alemão.
Disse-lhe um: - «Queres-te render?»
Respondeu com decisão:

- «Pudesse eu recomeçar
queria esta sorte seguir...»
A voz que sobe das grades
fala aos homens do porvir.

- «Pudesse eu recomeçar
queria esta sorte seguir.
Mesmo carregado de ferros,
que cante em mim o porvir!»

E cantava sob as balas:
«... sangrento se levantou...»
Até que nova rajada
veio por fim e o tombou.

Mas outra canção francesa
já dos seus lábios se evade
acabando a Marselhesa
para toda a Humanidade!

Tradução de Carlos de Oliveira



«Pudesse eu recomeçar e este caminho seguia...»
Que mundo este. Que país. Que moral, que justiça. Que homens sem nobreza. Tanta falsidade-sem-vergonha, calúnia, aleivosia. Espíritos de miséria e de pobreza.
Um homem insincero não vive: está morto.
Uma nação dissimulada cai no abismo monstruoso da indignidade e estilhaça-se no Hades.
Um homem morto não é um homem: é uma “coisa” corrompida e nauseosa, sem palavra.
Uma nação adulterina é o jazigo do Imundo.
Perder a palavra; antes perder a vida. A nossa vida pela honra. Viver de rastos; antes fenecer inocente. Voltaria a nascer para morrer pelos meus ideais. É preciso saber morrer pela Verdade. É urgente!
Em quem podemos nós confiar? Nos mortos-vivos? Nas “coisas” que apodrecem e fedem em vida? Em quem poderemos nós confiar?
«Pudesse eu recomeçar e este caminho seguia...»
Viver de Amor não é deste mundo. Oferecer-se em vida sem recusa não é desta Terra.
Viver de Amor, talvez seja,
«Subir com Jesus ao Calvário»,
ou
descer às chagas de nossos Irmãos que padecem e
amar gratuitamente sem olhar a quem.
«Pudesse eu recomeçar e este caminho seguia...»

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